Título: Unkiss me
Sinopse:
Sirius Black era um ciclo, e Remus Lupin odiava ciclos. Songfic com a música Unkiss me, do Maroon 5.
Avisos:
Essa fic foi escrita ao som da música Unkiss me, do Maroon 5. É fortemente recomendado que seja lida ao som da mesma, porque sua melodia é lindíssima, sua letra é incrível e passa toda a angústia com a qual escrevi. Tem algumas alterações propositais na letra, que eu explico no final, para quem se interessar.


If you respect me
(Se você me respeita)
Don't protect me
(Não me proteja)
You can tell me
(Pode falar)
I can handle it
(Eu aguento)
Stop pretending, 'cause we're going down
(Pare de fingir, porque estamos afundando)

Ele não conseguia acreditar. Não conseguia assimilar. E não tinha nada a ver com a confusão sensorial e cognitiva pós-lua-cheia. Pelo contrário, ele estava ciente demais, lúcido demais. Ele simplesmente não conseguia lidar com a traição de Sirius. Seus olhos iam de um garoto para o outro, e ele não sabia mais o que dizer.

— Moony, eu sinto muito.

Ele repetia isso o tempo todo, como se fosse o suficiente. Na verdade, Remus sabia que aquele dia chegaria. Sabia que a inconsequência de Sirius Black era autodestrutiva. Seus olhos corriam até James, que parecia igualmente assustado. Havia terra em suas vestes, um corte raso em sua bochecha, e seus cabelos pareciam ter saído da guerra. Mas era o assombro em seus olhos, normalmente tão cheios de si, que apertavam o coração de Remus.

— Pelo quê? — ele finalmente falou, depois de um dia inteiro de introspecção — Por quase ter me transformado em um assassino? Por ter me traído? Por quase ter matado James também? Pelo quê, Sirius?

James parecia incapaz de se posicionar. Sirius era seu fiel escudeiro, mas daquela vez, a coisa toda havia ido longe demais. Peter parecia em igual sofrimento, impressionado demais para se interpor e, além do mais, todos sabiam que aquele era um assunto de Remus e Sirius. Não havia como interferirem.

— Se o Snape espalhar isso pela escola... — havia tanta amargura na voz lupina, que Sirius sentiu algo ácido em sua garganta. Não podia lidar com a dor nos olhos dele.

— Ele não vai! — logo rebateu, porque pensar que Remus podia ser expulso por sua causa era muito mais do que podia suportar — Snivellus não vai. Dumbledore foi bem claro quanto a isso.

Não o chame assim, Sirius! — ele explodiu, sobressaltando os outros três — por Merlin, você quase o matou! Ou melhor, eu quase o matei!

Agora havia exasperação em sua voz, e ele andava de um lado para o outro no dormitório, absolutamente transtornado. Não conseguia mais olhar para Sirius. Porque quando olhava, via nele aquele olhar de comiseração, de pena, e sentia ainda mais raiva. A personalidade de Sirius sempre havia sido um mistério, e Remus tinha medo dela, ao mesmo tempo em que a achava fascinante.

— Você não é diferente dele, Sirius — Remus recomeçou, sentando-se na beira da cama — você deu a ele a arma que ele queria. É legal, não é? Ter um amigo lobisomem. É legal impressionar os outros com isso. Eu devia saber.

Sirius arregalou os olhos, e buscou os outros dois que assistiam a discussão. James se adiantou.

— Moony... — ele começou, a voz vacilante — você não pode estar falando sério. Nunca pensamos em tirar proveito disso. Como pode pensar isso? Se fosse porque achamos divertido, já teríamos espalhado para a escola inteira que você é um lobisomem.

— Não duvido que Sirius já não tenha feito isso.

— Ah, por Merlin! — James ergueu as mãos, começando a se desesperar — Sirius é um idiota! Sabemos disso! Mas ele não seria capaz...

James buscou o amigo com os olhos, como se buscasse auxílio. Sirius suspirou audivelmente, porque não conseguia culpar as acusações que recebia. Sabia que suas palavras nunca tinham sido suficientes, sabia que seus atos nunca haviam sido dignos de confiança. Mas, acima de tudo, sabia que Remus confiara nele.

James entendeu o silêncio do animago. Puxando Peter pelas vestes, correram ambos para fora do dormitório, e, embora lhe doesse extremamente reconhecer aquilo, James não poderia culpar Moony se ele decidisse que Sirius não era digno de perdão.

If you let go
(Se você tem que ir)
Then just let go
(Então apenas vá)
It's disrespectful
(É desrespeitoso)
How you've handled this
(Como você lidou com isso)
Never ending, kinda run around
(Nunca terminamos, como em um ciclo¹)

— Sabe, Sirius, eu estou cansado — ele se pronunciou assim que a porta se fechou, deixando os dois a sós. Havia algo na voz do lupino que o fez pensar que não devia interrompê-lo — de tudo isso. É tudo tão repetitivo. Sempre a mesma coisa. Estou cansado da lua-cheia, estou cansado de ser quem eu sou, estou cansado de ter que, além de tudo, lidar com as suas idiotices. É um ciclo vicioso, Padfoot, e eu não aguento mais.

Um suspiro cansado. A figura judiada e decadente que era Remus Lupin naquele momento, e as palavras de desconsolo que ele proferia, foram como um feitiço estuporante no peito de Sirius. Não havia nada o que pudesse fazer, além de pedir perdão um milhão de vezes, mas já estava quase chegando naquele número e Moony não parecia nem perto de perdoá-lo.

— Claro que isso inclui James e Peter também — ele acrescentou após um minuto de silêncio — mas se eu tivesse que adivinhar quem de vocês teria feito o que você fez, você seria minha última opção. Não porque não acho que você não seria capaz de fazer, mas porque eu não seria capaz de suportar.

Seus olhos se ergueram e eles se fitaram de modo que tornou o desabafo de Remus desnecessário.

— Moony... — ele se aproximou, sentando-se ao lado do licantropo, e continuou quando não houve sinal de afastamento — o que eu posso fazer, além de pedir desculpas? Você sabe que estou arrependido.

Remus o olhou, e sua determinação ruiu. Sirius era a pessoa mais inconsequente, impulsiva, egoísta e idiota que ele já conhecera na vida inteira. Queria por tudo no mundo dizer-lhe para esquecer aquilo, mas sabia que não podia.

— Sirius, você não demonstra arrependimento por Snape quase ter morrido — ele pontuou depois de um minuto de reflexão — está arrependido porque quase cometi um crime. Está arrependido porque colocou James em perigo. Está arrependido porque não quer ser expulso de Hogwarts.

— Moony, você sabe muito bem o que Snape vem tentanto fazer! Ele quer qualquer motivo para nos ver expulsos. Ele nos segue, ele teria corrido para espalhar o boato se soubesse que você é um lobisomem!

— E então você achou sensato mostrar a ele que suas suspeitas estavam corretas? Sirius, o que diabos você estava pensando?!

— Eu não sei! Achei que ele merecia um susto, Moony! Para que parasse de se intrometer nas nossas vidas.

— Sirius Black, vocês infernizam a vida desse menino tanto quanto ele inferniza a de vocês! E eu sou igualmente idiota por ver isso acontecer e não fazer nada a respeito.

Sirius parou ao ver a culpa nos olhos de Lupin, e ele definitivamente não conseguia entender o que se passava na cabeça dele.

— Moony, a culpa não é sua — ele se aproximou, tocando os ombros do garoto, e quando Lupin se desvencilhou, seu coração se achatou no fundo do peito.

— Será que não? Sabe, era questão de tempo até algo dar terrivelmente errado, Sirius, sempre é assim. Eu sou um perigo para mim mesmo, e para vocês. Nunca devia ter deixado vocês se tornarem animagos, nunca deveria ter colocado o pé em Hogwarts. Meu lugar não é aqui.

Sirius não conseguia acreditar no que estava ouvindo. De todas as pessoas que conhecia, Remus era a que menos tinha culpa de tudo. Ele não tinha culpa de sua condição. Não tinha culpa por nada do que lhe acontecia. Merecia muito mais do que ele ou James estar em Hogwarts.

— Mas de todas as minhas pretensões desde que cheguei aqui, você foi a pior delas. Merlin, onde eu estava com a cabeça?

I lied to my heart 'cause I thought you felt it
(Eu menti para o meu coração, pois achei que você sentia algo)
You can't light a fire, if the candle's melted
(Você não pode acender o fogo, se a vela já derreteu)
No, you don't have to love me
(Não, você não tem que me amar)
If you don't wanna
(Se você não quiser)
Don't act like I mean nothing
(Não haja como se eu não significasse nada)
But if you're gonna
(Mas se vai fazer isso)
Well, then you better
(Bom, então é melhor)

— O que está querendo dizer?

Remus ergueu os olhos novamente, despejando sua angústia sobre Sirius de maneira quase cruel. Ele ergueu os dedos, um pouco trêmulos, e tocou o rosto do animago. Sirius fechou os olhos, e os dedos do licantropo eram ásperos e ao mesmo tempo suaves. Adorava seu toque.

— Você, Padfoot. Chamo você de impulsivo, mas olhe só para mim. Como se eu já não tivesse muito mais do que mereço. Como se você, Prongs e Wormtail já não fossem muito mais do que eu sempre imaginei que teria. Como se a bondade de Dumbledore em me manter aqui já não fosse demais. Ele coloca o emprego dele em jogo me mantendo aqui. Coloca em perigo seus alunos. E eu correspondo deixando que as coisas saiam de controle dessa forma — Sirius pareceu prestes a retrucar, mas ele não queria ouvir nada, então continuou —, a culpa é tão minha quanto sua, Padfoot. Nunca devia ter revelado nada a vocês. Nunca devia ter deixado que se juntassem à mim na Casa dos Gritos. Somos incompatíveis. Você já me deu muito mais do que eu merecia, Sirius. Pode parar agora.

Aquilo doeu muito mais do que qualquer transformação mal-sucedida em animago. Sirius segurou o pulso do lupino, afastando o toque corrosivo de seu rosto. Ele não tinha certeza se entendera exatamente o que Lupin queria dizer com aquele discurso desconexo. Mas não lhe importava, porque estava prestes a dar a Remus uma nova demonstração do que era realmente ser inconsequente, e, com um misto de raiva e culpa, esmagou a boca de Remus contra a sua. Em meio a toda a dor e confusão que sentia, nenhum freio social foi forte o suficiente para fazer o lupino se conter. Como se fosse a única maneira de apagar o que tinha acontecido, ele retribuiu, e o beijo de Sirius era tão quente quanto o toque de suas mãos.

Ele se afastou, muito bruscamente, quando as mãos de Sirius em seus cabelos tornaram-se demais. Ele tinha os lábios avermelhados, os cabelos negros desalinhados e era absolutamente estonteante, mas era a pessoa mais prepotente e arrogante que Remus já tinha encontrado na vida.

— O que foi isso, Sirius? — ele tremeu, levando a mão aos próprios lábios — se você acha que esse é o único jeito de resolver as coisas... Se acha que se aproveitar de mais isso vai consertar tudo...

— Me aproveitar? — o animago piscou, o furor de finalmente ter sentido os lábios de Lupin sobre os seus quase o cegando para o que tinha os levado até aquele ponto — me aproveitar de quê, Moony?

Remus revirou os olhos, e toda a frustração que sentia se convergiu em lágrimas, que transbordaram sem que ele permitisse. Se levantou da cama, como se Sirius fosse uma força que o repelisse, e de repente ele não podia mais suportar a presença do animago.

— Por que me beijou, Sirius?

Um silêncio. Sirius o fitou com intensa aflição, mas se fazia menção de se aproximar do lupino, este se afastava imediatamente. Ver a aversão de Remus à sua presença era algo que doía muito mais do que teria imaginado, e o desprezo e a decepção naqueles olhos dourados era excruciante, mas ele não conseguia se arrepender de tê-lo beijado. A ausência de uma resposta, no entanto, pareceu fomentar a ira de Remus.

— Talvez você não tenha pensado, não é? Talvez tenha te parecido divertido? — agora havia raiva em sua voz, o que era quase inédito — "o que será que acontece se eu beijar Remus?", porque afinal de contas tudo se resume a isso, não é? O entretenimento de Sirius Black.

Sirius piscou. Precisou de um segundo para assimilar o que ele estava dizendo. Ele se ergueu depressa, e não houve tempo para que Remus fugisse, porque ele empurrou o lupino contra uma parede, as mãos espalmadas uma de cada lado de seu pescoço, acuando-o. Cravou fundo os olhos nos dele, como se pudesse fazê-lo entender daquela forma o que realmente estava acontecendo, mas, como Lupin não parecia disposto a entender o que quer que fosse, Sirius apelou para o único recurso que dominava bem. Beijou-o.

Unkiss me
(Não me beije)
Untouch me
(Não me toque)
Untake this heart
(Não pegue esse coração)
And I'm missing
(E eu estou sentindo falta)
Just one thing
(De apenas uma coisa)
A brand new star
(De uma nova estrela²)

A boca de Sirius era macia. Embora seus lábios fossem um pouco rachados. Sua língua compensava isso, sendo articulada e macia como era, e era habilidosa. Não havia possibilidade de argumento quando ela o tocava daquela forma. As pernas de Remus fraquejaram. Haviam mãos em sua nuca, empurrando seus fios castanho-claros para cima, expondo sua pele. Unhas afiadas em sua pele. Havia fios de barba muito finos arranhando seu queixo, e um carinho doce em seus cabelos. Havia entrega total no suspiro abafado em sua boca, na mordida suave em seu lábio inferior, no "Moony" murmurado quando pararam para respirar. Quado se deu conta, Remus tinha os dedos afundados nas vestes de Sirius, e os olhos chuvosos dele estavam a centímetros de distância.

A sinceridade, a culpa, o medo daqueles olhos. O desejo deles. As lágrimas de Remus voltaram a aflorar, agora em maior número, e Sirius colheu-as com os lábios, acariciando os cabelos de Remus enquanto não dizia para ele parar. Simplesmente deixou que chorasse, e continuou ali, apertando-o contra a parede, como se quisesse a ele se fundir. Beijou seus olhos, tolhendo as lágrimas volumosas presas em seus cílios longos e claros. Esperou que tudo passasse, sem mais nada dizer, e não saberia dizer quantos minutos haviam se passado até que se pronunciou novamente.

— Foi por isso que eu te beijei, Remus.

Ele abriu os olhos. A ponta de seu nariz tocou a de Sirius naturalmente, e o animago se moveu em um gesto carinhoso. Aliás, Remus nunca havia visto tanta ternura e tanto pesar em um par de olhos.

— Eu gosto de você.

— Você tem uma maneira estranha de demonstrar isso — e sua voz era amarga.

Can't erase this
(Não posso apagar isso)
Can't delete this
(Não posso deletar isso)
I don't need this
(Eu não preciso disso)
I can't handle it
(Eu não posso aguentar)
I just feel it that you're over us
(Eu apenas sinto isso, você já nos superou)

O estômago de Sirius gelou. Não era exatamente a reação que esperava. Ao mesmo tempo, não sabia como podia esperar outra reação depois do que havia acontecido. O simples fato de que Remus retribuíra ao beijo já devia ser motivo de assombro. E, mesmo que houvesse muita confusão e amargura em sua voz, Remus não tentou se afastar.

— Padfoot, eu não entendo você... — ele fungou, agora parecendo mais cansado do que nunca antes — a maior parte das pessoas espera flores, uma declaração. E você acha que é um bom momento se declarar para mim depois que eu quase matei alguém por sua causa? Depois de ter traído minha confiança? A sua cabeça definitivamente não funciona como as das pessoas normais.

Sirius franziu o cenho, sem saber se havia uma pitada de humor por trás.

— Eu é quem sou pretensioso demais, Remus — ele murmurou finalmente, quando as palavras anteriores do licantropo lhe voltaram a mente —, por achar que podia me tornar animago e estar com você. Por achar que assim você suportaria todos os meus defeitos, todas as minhas loucuras. E, de fato, você as suportou. E olhando agora, eu não sei porque. Eu complico muito a sua vida. Não é a primeira vez que te coloco em apuros, apesar de nenhuma das vezes ter chegado tão perto como esta. Se algo tivesse dado errado, eu me culparia pelo resto da vida, Remus. É pretensão minha achar que você sempre me perdoaria, porque eu fui bom para você. Não fiz mais do que a minha obrigação, Remus, porque me tornar animago foi só uma desculpa para estar sempre com você. E se eu estivesse sempre com você, você me perdoaria quando eu fosse idiota, não é? Porque eu sempre acabo sendo idiota.

Uma nova pausa.

— Sirius. — ele chamou, e agora havia seriedade em sua voz — Você, James e Peter foram a melhor coisa que já me aconteceu. Não seja estúpido.

— Estamos aqui nesse momento exatamente porque eu fui estúpido — Sirius riu, mas não havia diversão em sua risada.

Outra pausa. Remus deu-se conta de que ainda estavam na mesma posição. Uma das pernas de Sirius havia ido parar entre as suas, e ele havia se apoiado no animago quando achou que fosse desabar, e continuava assim até então. Suas mãos, aferradas na frente das vestes de Sirius, pareciam um pedido inconsciente para que ele não se afastasse. As mãos calosas e gentis dele ainda estavam em seus cabelos, e, Merlin, como seu afago era bom. Era ridículo como toda a idiotice de Sirius Black quase podia ser deixada de lado só pelo fato de que suas mãos eram quentes e seus olhos ardiam de culpa.

— Não sei se posso te perdoar, Padfoot. Talvez leve tempo.

— Eu espero.

If I wait here
(Se eu esperar aqui)
If I see you
(Se eu ver você)
It won't matter
(Não importará)
What's the point of this?
(Qual é o objetivo disso?)
We're in pieces because you're over us
(Estamos em pedaços, porque você já nos superou)

— E até lá, o que nós fazemos? — Remus fungou, e era adorável.

— Bom — ele começou, afastando alguns fios castanhos do rosto do licantropo carinhosamente —, nós continuamos assistindo as aulas juntos. Eu continuo copiando suas lições, e você continua indo assistir aos treinos de quadribol. Continuamos sentando na beira do lago nos finais de semana. Continuamos colocando Elixir Para Induzir Euforia no suco de abóbora do Peter. Você continuará me dizendo que sou um idiota quando eu pegar uma detenção, mas continuará me esperando na Sala Comunal até eu voltar, só para me dizer mais uma vez que eu sou idiota, e para perguntar se eu estou com fome. Eu continuarei te esperando na lua-cheia. Continuarei te esperando por quanto tempo você quiser, Moony, até que você confie em mim de novo.

Remus sorriu, muito a contra gosto, mas era impossível se conter. Não fazia ideia do que estava fazendo quando seu íntimo cedeu, e já sabia que perdoaria Sirius muito antes de que metade daquilo se cumprisse. Era um idiota. Tinha tudo para dar errado, e nada no mundo o garantiria que aquilo não voltaria a acontecer. Talvez não aquilo especificamente, mas viver com Sirius Black era como andar com uma bomba-relógio no bolso, esperando que tudo dê certo e ela não exploda a qualquer movimento. Ele fitou Sirius intensamente, e soube que talvez fosse exatamente aquilo que o fazia amá-lo acima de tudo. Merlin, como era idiota.

— Quero te beijar.

Sirius riu. Intensificou a carícia nos cabelos castanhos e macios, já completamente ciente de que o toque agradava ao licantropo.

— Ah, sim, isso é algo que podemos fazer também.

I lied to my heart 'cause I thought you felt it
(Eu menti para o meu coração, porque pensei que você sentia algo)
You can't light a fire, if the candle's melted
(Você não pode acender o fogo, se a vela já está derretida)
No, you don't have to love me
(Não, você não tem que me amar)
If you don't wanna
(Se você não quiser)
Don't act like I mean nothing
(Não haja como se eu não significasse nada)
But if you're gonna
(Mas se vai fazer isso)
Well, then you better
(Bom, então é melhor)

Remus não sabia o que estava fazendo quando sorriu, e quando o beijou. Não sabia o que estava fazendo quando permitiu que as mãos mornas finalmente abrissem espaço entre ambos, que retirassem suas vestes, que o possuíssem sem pedir licença.

Mas o beijo de Sirius era uma promessa muda de coisas que lhe pareciam muito boas. E ele sorria quando Remus suspirava, e gemia quando Remus se movia, e era absolutamente perfeito estar com ele daquele jeito, porque seu corpo era lindo, assim como todo o resto nele. Porque Sirius adquiriria o hábito adorável de percorrer suas cicatrizes com os dedos, e em poucos meses saberia seu trajeto de cor, e os dois se divertiriam com isso. Porque Sirius era leal, e estava lá quando a lua-cheia parecia demais, quando tudo parecia demais, e seu abraço era o único jeito de parar aquele ciclo vicioso.

Porque às vezes, durante a noite, o medo ainda o acometia, e ele pensava que era melhor se afastar e impedir que aquilo fosse adiante. Mas aquele medo sumia quando Sirius abria as cortinas de sua cama, silenciava o ambiente ao redor e fazia amor com ele como se ele fosse o último homem da Terra. Como se o mundo fosse acabar no dia seguinte — e logo esse sentimento se tornou real, porque fora de Hogwarts a guerra ganhava espaço em direção à eles.

Unkiss me
(Não me beije)
Untouch me
(Não me toque)
Untake this heart
(Não pegueu esse coração)
And I'm missing this
(E eu estou sentindo falta)
Just one thing
(De apenas uma coisa)
A brand new star
(Uma nova estrela)

A raiva secou. O medo dissipou com o passar dos anos. Era apenas mais uma cicatriz, perdida no meio daquelas tantas outras em sua pele, que não importava mais. Remus achava que sabia tudo sobre marcas, sobre as dores, sobre a cicatrização. O que ele não sabia era que havia tipos e tipos de cicatrizes, e algumas delas não precisam de mais do que um sopro para reabrir com força total.

Se havia um traidor, a cicatriz se reabriu. Ele amava Sirius. Mas se afastou. Porque seus instintos eram aguçados. Ele se afastou, e Peter tomou a dianteira, Sirius tomou a decisão errada e o destino de todos eles se selou. E Remus Lupin descobriu, com amargor, que cicatrizes gravadas na carne se fechavam, mas aquelas feitas na alma, principalmente pela mão de quem se ama, não. Nunca.

So unkiss me
(Então não me beije)
So unkiss me
(Então não me beije)
So, baby, let go
(Então, baby, vá)
Gotta let go
(Deixe ir)
It's disrespectful
(É desrespeitoso)
I can handle this
(Eu posso aguentar)
Never ending, kinda run around
(Nunca terminamos, como em um ciclo)

Mas Sirius Black era um ciclo. Infalível como a lua-cheia. Insistente, pungente, irritante como ela. Talvez até mais. Quando, treze anos depois, a cena do dormitório se repetiu, Remus Lupin não tinha forças para viver tudo de novo. Sirius era inocente. E agora, era ele quem perdoava sua desconfiança. Era ele quem dizia que não importava. Era ele quem dizia, com a voz divertida, que era apenas mais um detalhe. Uma cicatriz, e Remus estava começando a tomar antipatia pelas cicatrizes, embora Sirius ainda as amasse por debaixo do edredom durante as noites solitárias no Largo Grimmauld.

Unkiss me
(Não me beije)
Untouch me
(Não me toque)
Untake this heart
(Não pegue esse coração)
And I miss this
(E eu sinto falta disso)
Just one thing
(De apenas uma coisa)
A brand new star
(Uma nova estrela)

Quando Sirius se foi, foi questão de tempo até Remus perceber. Eles eram um ciclo. Em breve, ele apareceria de novo em sua porta, dizendo que tinha coisas novas a contar, coisas novas a mostrar. Ele pediria perdão por ter ido cedo demais, e então, seria a vez de Remus dizer que não importava. Que o perdoava. Inclusive, ele é que pediria perdão por ter demorado tanto. E Sirius riria. E fariam amor. Porque eles eram um ciclo. De erros, de perdão, de aceitação. Porque quando parecia que não haveria mais saída, um deles se reinventava, e começavam tudo de novo. Para sempre.

So unkiss me
(Então não me beije)
So unkiss me
(Então não me beije)
Unkiss me
(Não me beije)


NA: A primeira vez que eu ouvi essa música, a primeira coisa que me veio na cabeça foi Wolfstar, pela mensagem como um todo que ela passa, mas também por alguns detalhes curiosos, pontuados a seguir.

Como em um ciclo¹: O primeiro pedaço da letra que me prendeu. Essa tradução livre me chamou atenção logo de cara. Ciclo. Moony. Lobisomem. Lua cheia. Preciso dizer mais?
Uma nova estrela²: Quando fui pesquisar a letra (a letra, não a tradução, vejam bem), descobri que muita gente entendia o trecho "a brand new start", que significaria algo como "um novo começo", como "a brand new star", que significaria "uma nova estrela". Apesar de eu entender que a compreensão estava errada, como isso poderia passar despercebido quando, na minha cabeça, essa música foi feita para Sirius e Remus? (Claro que estou me referindo à origem do nome Sirius, que é na verdade o nome de uma estrela, mas todos nós já sabemos disso). Devido à coincidência do fato, e no encaixe absolutamente perfeito, decidi manter assim, só pela licença poética.

Por fim, obrigada a quem leu!