Detalhes

Sirius recostou-se mais confortavelmente contra a parede fria de pedra. Sua cela era fria, assim como o resto de Azkaban. Ele não tinha certeza se a temperatura era culpa do inverno ou dos dementadores, mas isso era apenas um detalhe. E, bem, Sirius Black não gostava de detalhes. Detalhes passam despercebidos e, sem que ninguém perceba antes que seja tarde demais, eles viram o mundo de alguém de cabeça para baixo em instantes.

Remus tinha sardas. Não muitas, mas eram evidentes em seu rosto demasiadamente pálido. Três em especial chamaram atenção de Sirius naquela tarde de verão, quando o sol bateu no rosto de Remus da maneira certa. Da maneira que fez os fios castanhos quase dourados. As três sardas, alinhadas impecavelmente na bochecha do licantropo atraíram a atenção do animago. Ele encarou Remus naquela tarde. O detalhe das sardas. O detalhe que o fez se apaixonar por Remus Lupin, e o primeiro detalhe que arruinaria sua vida.

James fechava os olhos quando ria. Sirius não sabia o motivo, mas era o indicativo de que seu melhor amigo realmente achara graça em alguma coisa. E a felicidade de James o contagiava, seu riso era fácil quando seguia o riso dele. A risada de James e seus olhos sinceros até quando fechados aqueciam Sirius por dentro. Aquele detalhe. A linha fina que os olhos escuros se tornavam. O indicativo da felicidade que, agora ausente, seria o segundo detalhe a destruir sua sanidade.

Peter mastigava de boa aberta. Walburga ficaria nauseada com a falta de classe do rapaz. Sirius se divertia com a ideia, e não ligava a mínima para a falta de etiqueta – ele desprezava etiquetas com a força ardente de um milhão de sóis. Por algum motivo idiota, o fato de Peter ser completamente alheio a noções básicas de etiqueta atraiu a simpatia de Sirius Black. Era um detalhe que desagradaria a maioria das pessoas, mas era o detalhe responsável por uma amizade que, no futuro, destruiria tudo o que ele mais prezava na vida.

Agora, com os sentidos atrofiados, Sirius não ligava mais para detalhes. Não se importava com o frio de sua cela, nem com o espaço diminuto no qual era obrigado a viver. Não se incomodava com a falta de contato humano, porque duvidava que ainda dispusesse de algo sofisticado como o tato. Não lhe importavam os detalhes, pois o quadro geral que se tornara sua vida era o que mais ocupava sua mente.

Sirius Black colocara os detalhes em uma caixa e a lacrara para sempre. Se um dia vivera para os detalhes, agora fugia deles para que pudesse continuar a viver. Melhor, continuar a sobreviver.

Não havia vida longe dos detalhes que fizeram de sua vida... Bem, sua vida.


NA: Não sei dormir cedo, e a consequência são fics relâmpago sem nenhum compromisso. Eu deveria estar escrevendo Blutz, mas eu não sei cumprir prazos. Impressões?