# Bakuten Shoot Beyblade não me pertence.
# A fanfic não possui fins lucrativos.
# Miha, Ianov e Suzuya me pertencem.
(Um pequeno esclarecimento: Tanto Jin quanto Miha eram Ocs que eu pretendia usar apenas por conveniência e que ganharam força com o tempo, portanto, algumas coisas a respeito deles podem ser modificadas, mas nada muito mirabolante).
# Aqui vamos ter um Kai um pouco mais rebelde, fazendo um pouco de jus ao mangá *risos*.
# Essa fanfic contém mais açúcar que o normal (?!). Estão avisados.
Boa leitura.
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Kai estava sentado no tapete da sala, tecleando o celular enquanto o som da TV preenchia o cômodo. Umedeceu os lábios novamente, sentindo o coração bater mais rápido, as palavras do velho Dickinson martelando sua cabeça. Olhou novamente a tela do aparelho, a agenda aberta, dezenas de números de agências, corretores, assessores...
- Já fiz isso dezenas de vezes... Não consigo mais não me importar com esse tipo de coisa?
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Stanley havia ligado no meio da madrugada – o velho nunca havia sido bom com fuso-horários. O terreno da antiga casa havia sido comprado e sendo franco, Kai não estava nem um pouco preocupado, não com o rumo das antigas propriedades do avô desaparecido. Ianov ficara a cargo da papelada e isso era tudo, embora Dickinson sempre se preocupasse em manter o russo informado por ele mesmo.
"Você pode dar uma olhada se quiser, antes da demolição."
O comentário veio sem aviso, para início de assunto, a própria ligação parecia um pouco fora de lugar. Maldita ALB e sua papelada, não havia nada que o velho não soubesse. Aquele sexto sentido continuava afiado.
"Está tudo bem. Eu estou na Rússia e ainda tenho coisas a fazer."
"Tem seis meses ainda até o pessoal chegar, há bastante tempo."
Kai recordava ter respirado fundo e bufado. Stanley com certeza havia ouvido – bom, era essa a intenção. Ele ponderou por mais algum tempo – a linha ficou suspensa por mais tempo do que ele gostaria. No fim das contas, o bicolor sabia que não podia retaliar com Dickinson, não com aquela atitude de bom velhinho que na visão dura do garoto, além de perspicaz, podia ser algo perigoso – além de irritante.
"Me dê algumas semanas."
"É claro. Se cuide rapaz."
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As passagens estavam em suas mãos e as malas estavam prontas. Kai havia recebido um bom e caloroso abraço antes de partir. O bicolor sabia que ela não viria junto e, sendo honesto, assim estava bom, aquilo realmente não iria lhe fazer nenhum bem.
Kai passou a viagem inteira em claro, com uma Dranzer impaciente em seus dedos, ele não poderia estar mais incômodo sabendo que iria desenterrar mais coisas do que gostaria, mas Dickinson estava certo, ele precisava desse último momento. Foram horas extenuantes, o russo apenas observava a paisagem cinzenta pela janela, pensando ainda nas implicações que aquela viajem lhe levaria. Muito tempo sem voltar ao lar.
Quando o avião aterrissou, o bicolor se permitiu ficar mais um pouco até o rebuliço cessar. Dranzer ainda estava quentinha em sua mão, mansa e quieta como um gatinho. Acomodou-se um pouco, o cachecol roçando a ponta de seu nariz levemente rosado pelo frio. Era início do inverno no Japão, o dia estava apenas um pouco nublado.
Procurou por um hotel e apenas deixou as malas em algum lugar do quarto, saindo quase imediatamente. Ele não tinha muito que fazer ali, dormir era sua última preocupação.
O frio do lado de fora o abraçou como um amigo, o clima gélido o deixava bem disposto e ele tinha muito tempo para correr essa cidade de cima a baixo. Ele percorreu algumas vielas estreitas do distrito. Tudo continuava movimentado e abarrotado e barulhento. Em alguns momentos ele conseguia se ver correndo entre as lojas, às vezes sozinho, outras com os amigos da escola. Com exceção de Miha, ele não se lembrava de nenhum rosto. Kai admitia, nunca havia sido bom com esse tipo de coisa.
O bicolor parou na entrada de um beco. A memória estava fresca, ele quase conseguia sentir o calor da tenda e o cheiro de alho e pimenta. O cheiro temperado de Suzuya. Agora era apenas um espaço vazio, sujo e escuro. Kai às vezes se impressionava com o fato de ter enterrado memórias tão vivas, ele deveria estar muito drogado para ter chegado a esse ponto.
Soltou o ar com lentidão, Dranzer estava agitada. E ele nem havia chegado a casa.
Continuou o percurso, sem nenhuma pressa. A atmosfera da cidade era totalmente diferente e ele se sentiu realmente em casa. Quando começou a ouvir o som dos próprios passos afundando na neve, Kai se permitiu parar e observar a paisagem. Longe do centro caótico, a cidade reinava em um silêncio acolhedor, a ideia de parar por ali era realmente tentadora.
Parou finalmente quando chegou a uma vizinhança afastada. As casas alinhadas uma ao lado da outra. O terreno da família Hiwatari ficava a vista desde alguns metros, a muralha imponente com o sobrenome gravado na madeira, era agora apenas uma casca desgastada, coberta com a vegetação que havia crescido solta. A mansão era agora uma casa velha de paredes corroídas coberta de vinhas selvagens. A entrada estava aberta, dando acesso a qualquer um que conseguisse atravessar a neve que chegava até o início dos joelhos. O caminho até a porta foi no mínimo penoso. Retirou as chaves e destrancou a porta sem dificuldades, o portal se abriu com um rangido pesado e por um momento ele se viu correr para dentro da mansão e sumir entre os móveis inexistentes.
Estava tudo vazio e escuro. Caminhou com cuidado entre o assoalho sujo e abriu as janelas. O barulho sossegado de fora invadiu toda a casa com a fraca luz do dia. Ele caminhou pela casa até encontrar as escadas nuas. Subiu com cuidado, os passos provocando um ranger perigoso, vendo silhuetas em cada degrau. A casa nunca estava vazia, sempre haviam empregados em todos os lados, e dentre todos eles, o sorriso gentil de Alfred era a única recordação que mantinha viva na mente. Quanto passou pelo corredor, cessou na metade do caminho, observando onde deveria estar a sala desde lá de cima. Havia muitas memórias ali, sobretudo a imagem de Lilian e Suzuya e havia uma lembrança em particular, talvez a primeira que ele havia feito questão de soterrar no que eram agora retalhos sobre cinzas.
O cômodo por um momento pareceu cobrar vida enquanto passeava com o olhar em pontos inexistentes do assoalho. Era véspera de natal. Havia uma música baixa vindo da vitrola velha do tio, Suzuya simplesmente adorava tudo o que era velho e antiquado. Ele havia pedido uma dança à Lilian, Kai olhava do sofá, entediado demais para prestar demasiada atenção. O bicolor quase jurou ter ouvido o exato momento em que começou a ouvir passos desde o hall e junto com o mordomo, a figura pálida de Miha surgiu.
O russo fechou os olhos por um segundo e inspirou. O exalar escapou com uma nuvem quente de vapor. Quando encarou novamente o piso, tudo havia desaparecido. Afastou-se do suporte e continuou caminhando passando por incontáveis portas carcomidas e molduras quebradas sem figuras definidas espalhadas pelo chão.
Parou frente à porta do quarto e rodou a maçaneta, não estava trancada. Apenas a empurrou e ela rangeu até atingir o limite. O quarto estava vazio exceto pela cortina velha e encardida que tremulava com o vento que entrava pela janela aberta. Ali estava. A escuridão da noite e o tumulto e os chiados e os tiros...
Estavam os dois no quarto, conversando sobre algo no meio da noite após a ceia. Lilian e Suzuya estavam na parte baixa da mansão, junto dos empregados. E então o barulho na porta. Os dois olharam na mesma direção, Kai saiu do quarto em silêncio e desde acima pôde ver o avô, Kai sempre dizia que ele era assustador, Miha concordava, o velho era medonho. O bicolor não precisou entender a conversa para entender que aquilo tomava um rumo perigoso, com o tom de voz ficando mais alto e então veio o pânico ao notar o avô sacar uma arma na direção de Lilian e Suzuya, ele nem sequer havia tido tempo para tentar fazer algo a respeito, os disparos ecoaram de tal forma que seu corpo ficara paralisado, Miha não deveria estar muito melhor.
Kai nunca se lembrou de como conseguiram pular da janela, mas recordava o desastre. Havia uma árvore ao lado, mas os galhos não aguentaram o peso dos dois. Miha quebrou o braço e ele havia torcido o tornozelo, havia sido uma proeza os dois não terem feito muito estardalhaço e ainda conseguirem fugir até a entrada, entretanto havia sido apenas aquilo. Kai havia sido pego pelas escoltas de Voltaire e tudo passou a ser um frenesi constante. Não teve notícias de Miha desde então. As drogas da Biovolt fizeram cargo de todas as lembranças sobre o garoto por um largo tempo.
As surpresas vieram sete anos depois, quando encontrou Lilian em um hospital - um pouco fora de si. Haviam sido longos meses de recuperação, até ela lembrar que tinha um filho, que tinha uma família. Suzuya parecia não ter tido a mesma sorte.
Dois anos depois veio Miha. Jin havia o chamado para um campeonato local e disse que levaria um amigo. Kai não poderia estar mais surpreso e... Feliz? Miha continuava o mesmo. A expressão indiferente, os cabelos cinzentos, um pouco antissocial. Cortesia dos onze meses na Biovolt, até ter conseguido fugir. Aparte disso não sabia mais nada, não tinha coragem o suficiente para perguntar, e sendo honesto, estava bem do jeito que estava.
Fechou a janela, o barulho pareceu cortar todos os seus pensamentos.
Inspirou lentamente e soltou o ar devagar. Olhou através do vidro, ainda absorto. Essa fase já havia passado e as últimas lembranças físicas iriam ser enterradas. Doía um pouco, mas, era para melhor.
Ouviu um bater na porta atrás de si. Kai olhou de soslaio vendo a figura do velho amigo, os olhos cinza indolentes com os dizeres "imaginei que estava aqui.".
- Recebi uma chamada do Sr. Dickinson. – mostrou o celular.
- Hn.
O rapaz caminhou até ficar ao lado. Os dois encararam a paisagem esbranquiçada.
- O braço está melhor?
- Troquei por uma nova. – levantou o braço esquerdo e fez um movimento de abrir e fechar as mãos.
Kai se surpreendeu ao não ouvir os movimentos mecânicos.
- Tenho um pouco mais de liberdade agora, mas ainda dói um pouco, por causa do frio. – esticou o braço, alongando. - Mas tenho que te dizer, aquele Jin é incrível. – sorriu.
O russo comprimiu os lábios e apenas acenou. Miha olhou para o russo e fez uma expressão angustiada.
- Você está pensando em coisas ruins, não está?
- Se eu não tivesse insistido naquilo...
- Deixa disso. Sempre que você fala desse jeito, parece que eu morri. – deu um soco de leve em seu ombro.
Kai apenas riu, tentando não pensar muito no assunto, ele sempre dava voltas e terminava em lugar nenhum. Ele sabia que Miha não o culpava. Mas ainda assim era frustrante.
- Então ela não quis vir, uh? – se referiu a Lilian.
- Era melhor assim.
- É. Enfim... - Colocou as mãos nos bolsos, amuado. – Aproveitando que estamos aqui, porque não vamos até a tenda? Jin me pediu para te chamar, por que você ia estar todo tristinho.
- Não amola. – empurrou o outro com o ombro.
- Hoje é por sua conta. – riu antes de sair e sumir pelo corredor.
O bicolor rodou os olhos, não realmente irritado. Observou além da janela, tocando a superfície trincada do vidro da janela, e então se despediu.
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Remate.
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Terminei! Por Athenas, eu jurava que iria arquivar mais uma ideia, mas eu tinha que fofocar para a Ana sobre a fic, desse jeito não dá pra desistir assim, aliás, pense numa pessoinha que dá uma força *risos*.
Sei que essa fanfic está cheia de histórias não contadas, mas eu ia alargar muito e... Bom... Tudo acaba bem quando termina bem, não é assim? Vamos apenas nos contentar com um final feliz? Please?
Não sei bem se isso saiu legal, eu fiquei ouvindo a Ost de Bakuten no desenvolvimento inteiro da fanfic (começando por Happy Days, Everyday's fierce battle, lonely town, Fear of darkness e Silence), o ruim é que isso tira metade da minha concentração, mas me deu um clima, então ajudou, ou não, enfim...
Espero que tenham gostado.
Bey-jos e até.