Disclaimer: Como sempre, Sailor Moon não me pertence pq se pertencesse 'cês só iam ver SilMil.

Essa fic. é a décima pra quinzena VK 2017 (e eu tô postando em 2018, mas ninguém liga).


Tema 10: Caça

"...I can't love you in the dark. It feels like we're oceans apart there is so much space between us, maybe we're already defeated..."

(Love In the Dark - Adele)

Venus não deveria ser tão imprudente, mas ela estava lá.

Desde que havia assumido seu posto enquanto protetora da princesa, ela jamais havia voltado ao reino Magellan novamente, mas ela sabia que precisava pisar novamente ali para fazer aquilo.

Cobriu a cabeça com o manto vermelho - para que os cidadãos não a reconhecessem e fizessem alarde - e caminhou por toda a extensão da praça dourada, passando por feirantes, tendas e músicos locais. Era uma sensação nostálgica e cheia de acalento, era estar na segurança do lar, embora, aquele lugar não fosse mais o seu.

Venus encarou o templo que ficava ao fim do caminho da praça com o punho fechado em frente ao peito. Nunca aquelas colunas douradas pareceram tão grandes e ameçadoras a ponto de fazerem o coração palpitar. Cada degrau fazia com que ela tivesse a sensação de que suas sandálias pesavam como chumbo e a medida em que se aproximava da entrada, conseguia sentir o cheiro adocicado que emanava lá de dentro, o que não tornava as coisas mais fáceis.

Diante da grande abertura arredondada, fechada por uma pesada cortina acetinada em tom de areia, ela estendeu, devagar, os dedos trêmulos para abrir sua passagem. Lá dentro, o cheiro era ainda mais forte, de cada lado do templo, haviam dezenas de degraus onde incontáveis velas ardiam, escorrendo cera dourada para dentro de fontes de água corrente que desapareciam no chão como mágica. No meio, o corredor que revelava a grande estátua da Deusa do amor e, aos seus pés, incontáveis oferendas, pedidos e uma porta pequena. A porta era de metal, nela havia o alto relevo de uma pessoa de olhos fechados, a pessoa - andrógena demais para descrever como homem ou mulher - parecia descansar tranquilamente e trazia consigo a palavra "Fortuna" forjada em venusiano em seu peito. Venus reconhecia a figura como Oráculo.

Oráculo havia sido deixado ali como presente da Deusa do amor ao reino de Magellan. Era o guia espiritual dos venusianos, o sinal da aliança entre ela e seu povo: o único capaz de revelar a quem quisesse seu destino no amor.

Venus fechou os olhos e respirou aliviada por encontrar o templo vazio, seu verdadeiro desafio ainda estava por vir: empurrar aquela porta aos pés da deusa.

Caminhou como se sua vida dependesse disso e parou em frente a porta, encarando a palavra "fortuna". Tocou o rosto de metal forjado ali, balbuciou algumas palavras em venusiano e observou o Oráculo sair de seu sono profundo, abrindo os olhos de metal incandescente e líquido para olhar para ela.

- É você, descendente de Vênus e Vulcano, que vem buscar sua fortuna hoje? - a voz era doce, como a de uma mãe.

- Caro oráculo, apenas busco por respostas que acalmem meu coração.

- No amor não há calmaria - advertiu.

- Eu tenho sonhos com essa, não posso vê-la perfeitamente, mas sei que está lá. Sinto o seu cheiro, me perco em seus braços, padeço sob seu toque…. Está acabando comigo, eu vou enlouquecer...

- Aqueles que amam são, realmente, tolos - o Oráculo sorriu, estendeu os braços e segurou o rosto de Venus com as mãos de metal, puxando-a para si. Em um movimento delicado pousou os lábios sobre os da princesa.

Venus fechou os olhos e sentiu como se o metal derretido contido no interior dos olhos da estátua estivesse fluindo por seu lábios e invadindo cada centímetro seu corpo, em segundos ela sentia-se envolvida totalmente pelo calor que o beijo lhe oferecia, embora no início fosse incômodo, aos poucos ela apreciou o calor oferecido, como se fosse uma amante antiga daquele ser.

A sensação e o toque a deixaram, Venus abriu os olhos. Já não mais estava no templo. O lugar em que se encontrava era uma sala iluminada por poucas velas e correntes de metal abrasado. Nas paredes, espelhos mostravam a ela sua imagem - agora nua - refletida. O chão estava coberto por água quente que, como um sauna amena, emanava vapor floral fazendo os longos cabelos loiros grudarem em sua pele. O Oráculo estava lá, de frente para ela, não mais preso em uma porta, mas um ser por inteiro, oferecendo uma cálice com um líquido espesso e acobreado a ela.

- Amor e dever não andam juntos, princesa - encarou-a com o olhar de ouro derretido.

- Eu sei disso e já fiz a minha escolha, eu servirei a lua e somente a ela.

- Então veja o que tem para ver e esqueça. Do contrário, pode destruí-la - estendeu a bebida.

Venus encarou o olhar opressor do Oráculo e tomou o cálice de suas mãos, o líquido espesso desceu em sua boca com vários sabores: morangos frescos, chocolate derretido, maçã vermelha, toques de pimenta e entre tantos outros que ela não saberia explicar. Ela abriu os olhos, o Oráculo recolheu a taça e a encarou mais uma vez. A sala começou a girar, mudando o cenário completamente. O pequeno espaço agora era vasto, coberto pelo céu azul sem nuvens, a água no chão era areia quente fina, não havia mais correntes ou velas ou mesmo a umidade do vapor. Pelo contrário, o ar estava muito seco.

Na frente de Venus, onde deveria estar o Oráculo, ainda haviam olhos opressores, mas dessa vez não eram metal derretido, eram ainda de metal, mas de metal de uma espada recém forjada, prateada e brilhante. Venus tentou achar ar que lhe faltava quando os encarou.

O dono dos olhos prateados mirou alguns segundos e avançou alguns passos, passando por ela como um fantasma. A venusiana olhou ele afastar-se um pouco e o seguiu. Sua pele era morena, beijada pelo sol, seus cabelos prateados como o de sua princesa, ele era alto e, com certeza, algo nele emanava autoridade. Usava um traje de tecido amarelado que Venus jamais visto, em suas mãos haviam alguns anéis e, em uma delas, ele carregava uma espécie de espada. Na cintura ele trazia algumas cordas e coisas que ela também não sabia o que eram, mas deduziu serem armas. Por alguns segundos, Venus jurou que ele a havia encarado. O homem sorriu e apoiou-se sobre um de seus joelhos no chão, olhando na direção dela, Venus sentiu o coração pulsar mais rápido ao ver o sorriso dele, mas era impossível que este era direcionado a ela. Ela olhou para trás e, na imensidão das dunas do deserto, um enorme cão preto, esguio e de orelhas pontiagudas veio correndo para cumprimentar seu dono.

- Bom garoto! - acariciou o animal no topo da cabeça - está pronto para nossa caçada de hoje?

Sua voz era profunda e segura, e Venus desejou poder ouvi-lo sussurrando todas as juras e confissões que lhe eram proibidas ao seu ouvido. A princesa acompanhou seu amante durante a caçada, ele parecia se divertir. Era preciso, disciplinado e paciente, ele era tudo e ao mesmo tempo, nada. Era sua perdição e, ao mesmo tempo, o único caminho.

Venus contemplou o rosto dele mais uma vez antes de fechar os olhos, sabendo que ele era aquele que estava destinado a ser seu, mas não agora, não nessa vida. Então, fechou os olhos e orou ao Oráculo para que terminasse ali.

Ela sentiu uma brisa de vento forte, a sensação do deserto havia sumido, o doce cheiro do templo estava presente novamente, assim como as suas roupas. Venus abriu os olhos e estava novamente diante da porta do Oráculo, ele que voltara a sua posição inicial.

- Você sabe quem é ele agora - a entidade disse, antes de retornar ao seu sono eterno.

- Meu dever está acima de qualquer desejo, serei Sailor Venus, como me propus a ser - ela virou-se e foi embora sem olhar para trás.


N/A: Fui mordida pelo monstrinho da inspiração na madrugada de quinta. Paciência.
O cachorro do Kun-kun era um phraoh hound, joguem no google. :v
Um dia eu faço todos os temas. TEM CAÇADA aí (ou quase isso) -q