Contei até dez novamente. Respirei fundo e soltei o ar bem devagar. Eu não agüentava mais ter que repetir a mesma coisa.
-Sabe quantas coisas estão faltando aqui? Era uma lista simples, Inuyasha. E você simplesmente me esquece o item mais importante de todos.
-Desde quando cerejas em calda são importantes? Quem é que gosta daquele troço? – ele disse, tirando um pedaço de doce da geladeira.
-Seu afilhado gosta. E eu não posso fazer um bolo de aniversário para ele e não colocar cerejas em calda no topo.
-Ponha qualquer outra coisa, ele vai gostar, não é exigente.
-Eu não sei porque você acha que consegue memorizar a lista de compras. Eu não tenho tempo pra ficar indo com você ao supermercado! Bolos não se preparam sozinhos!
-E eu não tenho tempo para ficar escolhendo cerejas em calda! Balões não se enchem e se pregam na parede sozinhos! – ele respondeu, de costas pra mim.
E eu respirei fundo de novo.
-Esqueça. Eu vou até o supermercado. Mas não toque no doce de leite, já está pronto para a festa.
Ele largou o bombom que estivera comendo.
-Não! Não, fique aqui, eu vou ao supermercado! Não posso correr o risco de você gastar mais em qualquer outra coisa.
-Eu não vou gastar em nada! Só vou lá, compro as cerejas e o leito condensado e volto.
-É, certo. E eu me chamo Ernie. Eu te conheço, Kagome, hoje é dia de liquidação de eletrodomésticos, você não vai sozinha ao supermercado. E além do mais, aquela caixa que teve neném está de volta, não posso correr o risco de você pedir pra ver fotos e atrasar a festa do Júnior, Miroku me mata dessa vez.
E fomos os dois para o supermercado. Discutimos o caminho todo.
Já faz parte da rotina. Sempre é assim, e desta vez não era diferente.
Estávamos organizando a festa de aniversário de dez anos do Júnior, filho mais velho de Miroku e Sango.
Era mais ou menos uma festa surpresa, porque neste momento ele, os irmãos Jess, Katie, Tom e Jordan estavam passando um dia maravilhoso na colônia de férias com os primos Nicole, Mitch (meus filhos com Inuyasha), Angie, Joe e Penny, de Rin e Sesshoumaru. Todas as crianças já sabiam, menos ele. Estavam dando conta da missão de mantê-lo distraído e entretido demais para fazer perguntas. Angie, a mais velha de todas, se encarregava de criar as situações mais divertidas, e o resto dava um jeito de mantê-lo concentrado.
Chegando ao supermercado, aconteceu exatamente o que ele previra: eu argumentava que simplesmente não podia perder a promoção de dois secadores de cabelo por 50 dólares, e ele argumentava, que tínhamos que voltar cedo para terminarmos de preparar a festa de acordo com o horário estipulado por Miroku. Eu me encarregava de colocar no carrinho os itens que ele esquecia, e ele se encarregava de tirar os itens que eu colocava em demasia.
No caixa, ele me deu a chave para que eu tirasse o carro, mas eu não poderia sair sem dar uma olhada na tatuagem nova da caixa nº17, isso não seria educado.
Como ele previra um dia, nós nos equilibramos. Sempre que um fazia supermercado sem o outro, tínhamos que voltar juntos, para fazer a compra certa.
Eu e ele éramos padrinhos do Júnior e de Katie, sua irmã mais nova. Tom e Jordam era afilhados e Rin e Sesshoumaru. Miroku e Sango eram padrinhos de Nicole, a minha filha mais velha, e Sesshoumaru e Rin apadrinharam Mitch, meu mais novo. Angie também era nossa afilhada, Joe tinha por padrinhos Miroku e Sango, e Penny era afilhada de Jakotsu e o marido, não se sabe quem é madrinha e quem é padrinho.
A festa estava sendo organizada por Miroku. Era uma data importante: o mais velho de seus filhos iria atingir a primeira idade com dois dígitos: 10! E ele fazia questão de fazer com que o evento fosse inesquecível.
Todos já estavam na casa de Izaioy, onde comemoraríamos a data. Inutaisho já estava se arrumando para ir pegar os pequenos e levá-los até um tribunal de verdade. Além de ser uma vontade inexplicada de Júnior, era uma desculpa para que ele se arrumasse bem, para logo depois receber a surpresa de todos os seus amigos reunidos na casa dos "avós", em uma festa com direito à show da sua banda favorita, jogos com a animadora do programa infantil mais popular da Disney, corrida com carros de verdade (os pais acompanhariam essa atividade), comidas e bebidas fartas e, no fim, quando todas as mães (Rin, Sango e eu) já estivessem dormindo, surfe de colchão na escada com Sesshoumaru, Miroku e Inuyasha. Surfe de colchão agora era uma atividade proibida para as mães. As únicas mulheres que podiam participar eram Katie, Nicole, Angie e Penny, e todas as vezes era realizado "escondido" de nós e de Izaioy.
Foi uma surpresa quando chegamos ao local da festa, encontrarmos uma área exclusiva para entretenimento feminino, com direito a profissionais para fazer maquiagem, unhas, penteados e afins. Aparentemente Júnior fazia um imenso sucesso entre as garotas da escola, aula de futebol, piano e natação, e tal fato enchia Miroku de orgulho.
Rn já estava lá, ela e Sango estavam arrumando as roupas femininas infantis das coleções passadas, para a "Girls Rulz", a área das meninas.
-Pegamos algumas da sua coleção de primavera passada, Kagome, espero que não se importe.
-Que nada! Iam ficar estocadas no almoxarifado, de qualquer maneira.
-Achamos que seria legal fazer um mini-desfile. As meninas sempre gostam quando eu faço isso nas festas de Penny. – Rin disse, ajustando uma saia.
-Acho uma excelente idéia.
Quando tudo estava pronto, e os convidados presentes (todos haviam comparecido, e inclusive havia fotógrafos na porta. As festas dos filhos e sobrinhos do "famoso organizador de eventos Miroku Houshi" sempre eram badaladas.), Izaioy ligou para Inutaisho avisando-o de que ele já podia trazer os pequenos.
Soubemos quando eles chegaram, porque o barulho dos paparazzi na porta e a luz dos flashes havia recomeçado. Estavam tirando fotos das crianças e de Inutaisho, que por sinal havia acabado de ganhar um caso importantíssimo.
-Todos nos seus lugares, rápido! – Sango falou, e todos os convidados, crianças, adultos, empregados, garçons, Dj's e os artistas presentes se esconderam nos lugares previamente combinados.
Ouvimos o barulho do portão se abrindo e o carro de Inutaisho entrando até o jardim. Dois minutos depois os passos apressados das crianças subindo o caminho de pedras até o quintal podiam ser ouvidos.
-... a mesma coisa. Ainda bem que ninguém pediu entrevista. Odeio dar entrevistas no meu aniversário! – Júnior comentava.
-Mas até que foi legal eles te darem parabéns! Geralmente eles nos perguntam como nos sentimos um ano mais velhos. É uma pergunta meio boba. – Mitch respondeu.
-É. Ei, porque está tudo escuro?
-Não sei. Vou procurar a mamãe. – Penny, que é a mais nova de todas, com cinco anos, correu até a parede onde Rin a esperava.
-Eu vou ver onde estão todos! - Tom correu até o lugar onde deveria se esconder, seguido pelo outros primos. Só ficaram Júnior e Mitch na entrada do quintal.
-Está escuro demais! É melhor acendermos a luz. – Júnior falou, e ia até a parede onde estava o palco que a banda ia se apresentar, que era onde ficava o interruptor das luzes do quintal.
-Não, deixa que eu vou. – Mitch correu até o interruptor e contou baixinho, para que os convidados ouvissem – Um, dois, três... Já.
Quando ele acendeu as luzes, todos pulamos e gritamos:
-SURPRESAAA!!
E os fogos de artifício que haviam no telhado explodiram, enquanto todos corríamos para um Júnior surpreso e com um enorme sorriso (igualzinho ao de Miroku) no rosto.
Foi uma festa animada. A banda favorita dele era realmente legal, e o vocalista chamou Júnior e os primos no palco para cantar com eles, e todas as crianças adoraram.
Quando a animadora da Disney chegou, Sesshoumaru, Inuyasha e Miroku se levantaram da mesa e foram lá, "supervisionar a diversão", mas nós sabíamos que eles queriam ser "animados" pela loira alta.
A corrida de carros fez sucesso entre os pais e os meninos. E o desfile foi super aplaudido pelas mães e pelas meninas.
E sabem o quê? A Jennifer Lopez estava lá! Segundo ela, ela "simplesmente precisava prestigiar o aniversário do filho do melhor organizador de festas do mundo!". Sango ficou aliviada quando ela foi embora.
A comida estava demais. A música entreteve até os adultos, e tudo foi o maior sucesso, a não ser pelo paparazzi que Cole teve que acudir, porque ele tentou pular o muro para tirar fotos da festa e acabou caindo sentado no canteiro de flores com espinhos. A retaguarda dele ficou meio dolorida, eu acho.
Eu e Rin tivemos que dar alguns autógrafos e prometer desenhar as roupas para algum evento para as mães, mas sacrifícios se fazem pelos filhos.
No final da festa, quando todos já tinham ido embora, as crianças começaram a despachar a mim, Sango e Rin para os quartos.
-Vocês já devem estar com sono, vão dormir! Trabalharam muito hoje!
-É! E tem de descansar, porque amanhã o vovô disse que vamos todos almoçar no quintal, porque ele e Cole vão fazer churrasco, então temos que acordar cedo!
-É, vão, vão dormir! – eles diziam.
Mas eles na verdade queriam é que nós deixássemos o caminho e a escada livre para o Surfe de Colchão.
-Oh, uau, tudo bem, nós já vamos dormir então. Boa noite!
E, depois que nós três abraçamos e beijamos Júnior por seu aniversário, nos retiramos para os próprios quartos.
-Ah, Inuyasha! – eu sussurrei para ele, enquanto as crianças, disfarçadamente, enrolavam o tapete da escada. – Não deixe o Mitch fazer o mortal, sim? Ele e Jess andam treinando , eu os vi na piscina ontem. E controle a Nic com as piruetas, ela aprendeu isso no ballet e agora acha que pode fazer nos colchões, eu a ouvi comentando com Angie.
-Pode deixar. – ele me respondeu, sorrindo. Eu sorri e virei-me para ir para o quarto que sempre ocupávamos na casa de Izaioy, o antigo quarto dele, bem ao lado daquele que eu ocupei no Brunch do Noivado (é como chamamos, porque Sango e Miroku noivaram naquele dia, dâ!), que agora as crianças ocupavam. Quando eu virei no corredor, senti-o puxar meu pulso e me encostar na parede.
-Sabe o que eu percebi?
-O quê? – eu tentei segurar o riso enquanto ele passava o nariz no meu pescoço. Ele estava usando a barba cerrada, e fazia cócegas.
-Que o pai daquele amigo de Mitch e Jess se estendeu muito quando cumprimentou você...
-É... Eu percebi também.
-Ah, foi?
-É. E não é a primeira vez, sabe? Semana passada eu fui buscar os meninos na escola, ele passou meia hora me falando do Porsh-Uh dele.
Ele sorriu e olhou para mim.
-Ele sabe que Posh-Uh é um carro de mulher, não sabe?
Eu fiz carinho nos braços dele.
-Bom, acho que não sabe. Se soubesse não ficaria se exibindo.
-E você disse a ele que eu te dei um Porsh-Uh de aniversário?
-Não, não mencionei... Ele estava se empenhando bastante para me impressionar, então eu deixei ele pensar que eu pensava que ele é bem macho.
-E o que você estava pensando de verdade?
-Bom... – beijei-lhe os lábios – Eu estava pensando que meu marido parece muito mais macho, com a Pick-up preta do que ele com o Porsh-Uh igual ao meu.
Ele sorriu antes de me beijar.
Depois de dez anos, eu ainda sinto as borboletas no estômago que senti naquela primeira vez que nos beijamos, no meu escritório.
-Pai? Pai? Paa-ai! Pai, onde você está? Tio Sesshoumaru disse que daqui a pouco nós... Ah, oi mãe! Ainda não foi dormir?
Mitch, com o cabelo preto como o meu, e os olhos dourados como os do pai, apareceu pelo corredor.
-Ainda não, meu bem. Estava conversando com o papai um pouco. Mas eu já vou. O que vocês vão ficar fazendo?
-Ah, nada, nada. Acho que o Tio Sesshoumaru vai preparar algumas pizzas e aí talvez a gente assista a algum filme.
-Ah... – eu fingi que acreditava nele. –Ok, não fiquem acordados até muito tarde. Boa noite, meu bem.
-Boa noite, mãe. – eu lhe dei um beijo na bochecha. – Vamos pai, tio Sesshy disse que podemos começar... Aquilo.
-Certo, só um segundo. – Inuyasha se virou pra mim, pegou meu queixo, beijou-me os lábios e sussurrou – Continuamos isso mais tarde, sim?
Eu pisquei e sorri. Ele devolveu o sorriso e virou-se para Mitch.
-Então, seu tio sabe que você o chama de Tio Sesshy?
-Não, mas tia Rin disse que nós podemos chamar ele assim quando ele não estiver olhando, porque ela sabe que Tio Sesshoumaru é muito um nome muito comprido.
-Ah, certo. E como seus primos me chamam?
-Tio Inu. Mamãe disse a eles que eles podiam chamar você assim, pelo mesmo motivo.
E os dois desapareceram quando viraram o corredor.
Nem que eu tentasse muito dormir, não conseguiria nunca com a algazarra que eles estavam fazendo lá fora. Gritos de "Já!", "Ganhei!", "Não vale!", "Falta!", "Ei, não! Isso não pode!", "Pai! Isso pode?", "Tio Miroku está roubando!", "Não, não estou!", "Está sim, pai! Nós vimos!", "Admita que estava roubando, pai!", "Nunca!" e berros me mantinham acordada.
Eu sinto falta de surfar nos colchões. Mas desde que Rin engravidou, nós não surfamos mais, só os homens. Porque depois de Rin, sempre uma de nós estava grávida, e depois disso nós fomos oficialmente banidas desse jogo, pelas crianças. Agora esse é o momento que eles têm só com os pais. O momento com as mães é pegar o cartão de crédito do pai e gastar horrores nas lojas de brinquedos e parques pela cidade, e quando o cartão do pai atinge o limite (estipulado previamente pelos pais), nós usamos o cartão das mães mesmo.
É bem divertido.
Quando eu, finalmente consegui relaxar e comecei a entrar naquele estado onde o som da TV vai se distanciando cada vez mais, prestes a dormir, Inuyasha deita ao meu lado.
Abri meus olhos e o vi fechando os olhos e respirando fundo. Já havia até tomado banho.
-Cansado?
-Eles estão cada vez mais exigentes. Hoje eu e Sesshoumaru tivemos que fazer o mortal duplo.
Apoiei-me no meu cotovelo e afastei o cabelo dos olhos dele.
-Você esteve ótimo hoje na festa.
Ele me olhou e sorriu.
-Eu estava feliz por ter conseguido controlar você no supermercado. Hoje compramos só os itens da lista.
Eu desviei os olhos e me deitei de novo. Percebendo minha reação, ele se apoiou no cotovelo.
-Você comprou alguma coisa, não comprou?
-Não...
-Comprou sim. Ah, eu sabia.
-Ora... Entenda, Inuyasha. Dois secadores de cabelo por cinqüenta dólares! Eu e Nic estávamos precisando!
-Meu amor, Nic tem oito anos! E o cabelo dela bate nos ombros! Ela não precisa de secador.
-Ah, mas sabe como ela gosta de usá-los!
Ele deitou de novo.
-Ah, não. Não fique zangado comigo!
-Não estou zangado.
-Está sim. Eu conheço a sua cara de zangado.
Ele virou pra mim.
-Você não precisava de um secador novo. Comprou um no mês passado.
-É, mas esses custavam cinqüenta dólares... E veja pelo lado bom! Pelo menos foram só os secadores! Eu nem insisti no DVD! Eu tenho melhorado.
Ele não falou nada.
-Você ainda me ama?
Ele riu e me olhou.
-É claro que eu ainda amo você! Que pergunta horrível! – e aí deitou em cima de mim. Igualzinho naquela vez na França.
-Nós precisamos voltar a Paris. Faz dois anos que não vamos.
-É... Precisamos.
E me beijou. E eu senti as mesmas borboletas de sempre.
Acho que não importa quantas vezes aconteça, quantos anos passem, quantos filhos nasçam e quantos problemas existam, você sempre sente borboletas no estômago quando beija sua alma gêmea.
0o0o0
N.A.: Ok, desta vez eu confesso: não há desculpas para o atraso. Fui eu que dei uma de malvada e atrasei o capítulo de propósito.
Mas é só porque eu estou tão triste de ver que acabou! Vocês não têm nem idéia!
É, eu sei que esse epílogo foi curtinho, mas é como eu já disse: se aumentasse, estragaria, ficaria até um pouco maçante. Desculpem!
Mas chega de tristeza, não?!
Só queria agradecer a todas as meninas que leram e comentaram: vocês não sabem o incentivo e o bem que me fizeram. Principalmente uma review em particular, que me encheu o coração de alegria. Laura, novamente obrigada por suas palavras!
Obrigada a todos que me acompanharam desde o início, esperaram a infidável demora pelo segundo capítulo, e vibraram, choraram e riram comigo ao desenrolar da história. Agradeço a todas, do fundo do meu coração.
E àquelas que leram e não comentaram (é, e sei que vocês estão aí xD): obrigada mesmo assim. Só o fato de terem chegado ao final já é uma alegria, mesmo que não tenham comentado.
Não me abandonem, garotas! Porque eu, com certeza, não vou deixá-las tão cedo! Já estou com mais dois outros perjetos em andamento. Mas os meus planos são de termianr as minhas fics já em andamento, e depois postar as novas, e isso pode demorar um pouco!
Mas uma vez obrigada por terem me acompanhado até o final!
Mil beijos avassaladores,
Nat'