CIRCLE

O Fogo alto crepitava no silêncio da noite.

Nenhuma lágrima.

Estava tudo acabado e Sam não conseguia derramar uma lágrima.

Dean se fora.

Sam fez de tudo para salvá-lo.

Procurou em todos os livros, em todos os feitiços, todas as pessoas.

Ofereceu sua própria alma...

Agora ele estava sozinho.

Agora o único que sempre esteve ao seu lado se fora.

Ele ainda podia ouvir a voz de Dean, pedindo para que ele seguisse em frente. Pedindo para que Sam fizesse seu sacrifício valer a pena.

Podia ouvi-lo pedindo três sobrinhos.

Podia ouvi-lo ameaçando assombrá-lo se arranhasse o carro.

Podia ouvir sua risada. Queria rir com ele, mas não conseguia.

Queria chorar por ele, mas as lágrimas se recusavam a cair.

Segurou o amuleto de Dean que agora estava em seu pescoço. Sentiu um nó na garganta. Olhou para o anel em seu dedo. Jamais conseguiria desfazer-se deles. Dean odiava que pegassem suas coisas, mas com certeza ia querer que Sam ficasse com aquilo. Sam sabia disso.

No fundo, Sam não conseguia acreditar. Sabia que era o corpo de Dean sendo queimado à sua frente, mas era como um pesadelo.

Estava esperando acordar.

Não ia acontecer. Ele não tinha mais vontade de seguir em frente. E mesmo que quisesse, não conseguia se mexer.

Nem um passo. Nem uma palavra. Nem um choro.

Sam não sabia dizer quanto tempo se passou desde que encontrou o corpo do irmão.

Tudo que conseguiu fazer foi ligar para Bobby. Depois disso as lembranças tornaram-se borrões.

Sabia que o amigo havia preparado a pira para a cremação, que havia feito tudo para poupá-lo de mais essa dor.

Sabia que pela primeira vez em toda sua vida viu Bobby chorar. Viu Bobby chorar por horas e horas.

E ele não conseguia derramar uma lágrima.

Não sabia quanto tempo estivera parado em frente ao fogo.

Não sabia ao certo como estava finalmente sentado no banco do motorista do Impala. Agora era sua garota. Cuidaria desse carro como se fosse Dean.

"Ela" fazia parte da história de suas vidas. Sam nunca havia entendido isso, mas depois de Dean, o Impala era o que mais se aproximava do significado da palavra lar que ele poderia conhecer.

Alisou o volante. Olhou para a caixa no banco traseiro. A caixa que nunca saía de dentro do carro, desde que lhes foi devolvida em Lawrence.

Pegou algumas fotos. Ligou o rádio. Pensou em sua vida. Respirou fundo ao ouvir a música.

Cada palavra entrava por seus poros, contando-lhe uma história.

Uma história que ele conhecia bem.

A história de sua vida.

Give me the dust of my father
Stand on the face of the ancients
Bare the secret flesh of time itself

Follow me... I've come so far, I'm behind again
Follow me... I Wish so hard, I'm there again
Follow me...

Pensou em John. Pensou em Mary.

All that I wanted were things I had before
All that I needed, I never needed more
All of my questions are answers to my sins
And all of my endings are waiting to begin

I know the way, but I falter
I can't be afraid of my patience
There's a sacred place Razel keeps safe

Pensou em Jess.

Follow me... I've seen so much I'm blind again
Follow me... I feel so bad I'm alive again
Follow me...

Finalmente pensou em Dean.

Finalmente sorriu.

Finalmente as lágrimas se permitiram cair.

Finalmente sentiu o nó em sua garganta se desfazer aos poucos, à medida em que o sal molhava e apagava seu sorriso.

All that I wanted were things I had before
All that I needed, I never needed more
All of my questions are answers to my sins
And all of my endings are waiting to begin

Finalmente sentiu-se inundar pelo pranto, pela dor.

Finalmente sentiu-se afogar no vazio.

E sentiu que seu fim estava esperando para começar...


Special thanks pra minha querida Dara, amore mio que me apresentou essa música e me inspirou a escrever esta história...