Epílogo:

Um estampido e tudo estava acabado.

Aquela coisa maldita se contorcia dentro de Sam, distribuindo faíscas e exalando um cheiro forte de enxofre.

Dean largou a pistola a tempo de amparar a queda do irmão.

Apoiou-o até que tocou o chão e ali permaneceu a seu lado, embalando-o, para frente e para trás, numa cadência lenta, como o fizera nos melhores e piores momentos de sua infância, por muito tempo.

FLASH BACK:

-Dean?

-O que é ?

-Dá pra desligar a Tv um momento? Precisamos conversar.

-O que é, Sammy ? Fala logo.

-Estive pensando.

-Ah, então é por isso que estou sentindo esse cheiro...

-Não brinque, é sério.

-Certo, Sam.Está desligado. Fala logo o que você quer.

-Eu sei que você prometeu ao pai e a mim, mas...

-Esse papo outra vez?! Sammy, esquece isso, ta? Eu tinha acabado de voltar de um coma e você estava chapado quando fiz aquelas promessas. Esquece!

-Não, Dean. Eu não vou esquecer e você vai jurar, vai jurar pela alma da mamãe, do pai, pela minha ou pelo raio que preferir, que vai fazer.

-Sam... pára com isso...

-Jure.

-Cara, eu não vou jurar nada, esta bem?! Não vou matar você e ponto final!!!

-Se eu não puder resistir e for,você sabe, pro lado...

-Meu Deus, isso não vai ter fim?!

-Me ouve, ta? Só uma vez, me ouve. Eu não quero ser um boneco nas mãos daquela coisa.

-Sam, você n...

-Dá pra me ouvir? Dean, você sempre cuidou de mim. Eu sou grato, cara. Você me ajudava com a lição, dava remédio, velava o meu sono...me ensinou a não ter medo de qualquer coisa e a temer o que era realmente perigoso...você me protegeu o quanto pôde, Dean.

-Olha, Sammy...

-Espera... Com a vida que a gente levava, não sei o que teria sido de mim, não mesmo. Mas se não houver outra saída, terá que fazê-lo,Dean.

-Você não está facilitando as coisas com essa conversa, Sam. Você sabe que eu não posso.

-Pode. Pode sim e o fará. Porque, se você me ama Dean, e disso eu não tenho nenhuma dúvida, vai me salvar. Vai me libertar.

-Como você pode me pedir uma coisa dessas? Não sabe que está me matando também?

-Estou pedindo porque confio em você. Confio cegamente que você vai mover o universo para me afastar do que quer que esteja me esperando e, se depois de tudo, não houver outra saída, você vai cuidar de mim, como sempre fez.

-E você pode me explicar como poderei viver depois disso? Como poderei me perdoar? Hum? Isso tudo é loucura, Sam...

-Se é de redenção que você precisa, eu o perdôo, Dean. Só espero que, um dia, você também possa me perdoar.

-Por Deus, Sammy, me deixa em paz...

(fim do flash back)

Chorou todas as lágrimas a que tinha direito e mais.

ooooo000ooooo

LAWRENCE – KANSAS:

Dean sentou-se no gramado diante da sepultura de sua mãe.

-Bem, Sam, aqui estamos, finalmente. -sorriu, passando a mão sobre a pequena caixa de madeira que trouxe consigo- Achei que você gostaria de ficar aqui, com a mamãe, então...

Depositou a caixinha sobre a grama e começou a cavar um buraco.

-Quando a gente esteve aqui da última vez, lembra? Você me disse que não importava se os restos da mamãe estavam realmente aqui, que o que importava era a lembrança.- colocou a caixa na pequena cova -Pensei em te dar um funeral de decente, mas depois desisti por que, na verdade, a gente nunca foi muito de cerimônia, não é?-falava pausadamente -Acho que você ia preferir uma coisa mais íntima, tipo só você e eu. A família. Estou errado?

Dean cobriu a caixa de madeira com terra e bateu a mão por cima para firmar. Limpou as mãos, batendo-as, uma contra a outra.

-Te falei que vou entregar o apartamento? Não ia dar certo, de qualquer jeito. Você sabe como eu sou. Em uma semana aquilo lá ia virar um chiqueiro.- olhou o céu azul ensolarado - Vou usar a grana que restou pra fazer uma lápide pra você e outra pro pai. O que acha? Hum? Não vai ficar chateado comigo, vai? É. Acho que não. Acho até que você vai gostar daquele monte de passarinhos fazendo coisas em cima de você.-sorriu com o canto do lábio - É a sua cara!

Após um breve silêncio, depositou uma rosa branca sobre o túmulo da mãe e dirigiu-se ao montinho de terra revirada no chão.

-Sinto a sua falta, Sammy... De todos vocês...-amparou as lágrimas que molhavam um sorriso forçado - Mas você, cara... ainda escuto a sua voz... toda vez que entro no carro, tenho a nítida sensação de que você vai entrar em seguida...fico esperando ver a sua cara amarrada, brigando comigo por qualquer idiotice...-puxou o ar com dificuldade- E tem esse buraco enorme aqui dentro de mim que dói pra cacete...-pausa-... dói tanto que,às vezes, nem sei mais quando não está doendo...

Dean coçou a cabeça, levantou-se, respirou profundamente e se permitiu chorar novamente.

-Mas alguém tem que cuidar dos negócios da família, certo? - esforçou-se para manter-se sobre as pernas e dar um passo atrás.- E não se preocupe comigo,Sammy.-limpou o rosto mais uma vez - Eu vou ficar bem .

Caminhou em direção ao Chevy e partiu.

FIM