Oi gente.

Está aí o capítulo final e o epílogo de Reminiscências. Eu demorei um pouquinho para postar porque acabei escrevendo demais! Foram 24 páginas do word, o negócio ficou meio grandinho! XD

Espero que vocês gostem, e me deixem review dizendo o que acharam, hã? Não só desse capítulo, mas do conjunto da obra. *o*

Reviews que ficaram sem resposta:
Temaa-chan: que bom que vc gostou! Espero que esse capítulo tbm te agrade e tire aquele peso do seu coração =). Obrigada por ler, querida.
jAna: O que será que vai acontecer? Uhm, acho que você vai descobrir agora mesmo! XD. Ah, tudo bem ser Sasukeana, mas espero que não fique brava comigo pela Sakura =). obrigada por ler!
Juh Hyuuga: Amora minha, desculpa estar te respondendo por aqui! Eu me perco nesse FF u.u. Enfim, não sei se as coisas ficaram mais fáceis, mas você pode julgar se sim ou não ^^. E eu concordo, quem recusaria um pedido do Shika? Nem eu recusaria! ehehe. Muito obrigada pelas suas reviews sempre!!

Sem mais delongas, boa leitura ^^


Final - I Remember You

Suna,
01:45 AM

Kankuro observou atentamente enquanto a figura adormecida se mexia nervosamente na cama. A janela estava aberta, trazendo a brisa fresca do deserto e a luz da lua iluminava o quarto palidamente, permitindo-lhe ver as gotículas de suor se formando na testa da irmã.

Desencostou-se do batente da porta e aproximou-se dela, secando sua face delicadamente e afastando os cabelos da testa da kunoichi, checando rapidamente sua temperatura. Febril.

- Droga, Temmy ... – ele sussurrou.

Temari voltou a se agitar e começou a virar a cabeça no travesseiro, murmurando coisas desconexas que agora começavam a fazer sentido para ele.

Nunca havia visto a irmã daquele jeito. Até achava que ela fosse imune a aquele tipo de coisa, pois também não conhecia alguém tão forte quanto ela. Mas desde que ela havia chegado de Konoha em menos da metade do tempo normal, havia sucumbido à exaustão e alguma coisa que o médico chamou de "crise nervosa aguda". Desde então ele passava as noites no apartamento dela, raramente dormindo, velando pela irmã. Tinha a obrigado a tirar uma licença e ficava sempre de olho na Sabaku mais velha, tentando evitar que ela fizesse alguma besteira. Passou a mão pela testa dela novamente e suspirou desanimado quando viu que ela continuava febril. Bem, febril era bom, uma febre severa seria pior e ele teria que levá-la para o hospital, e sabia que a irmã detestava hospitais.

Então ela murmurou aquele nome e Kankuro praguejou baixinho, apertando um dos punhos contra o colchão numa tentativa de controlar sua ira. Era o nome do culpado por ela estar daquele jeito.

- Shika... Shikamaru...

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Konoha,
08:32 AM

- Você conseguiu falar com ela?

Ino encostou a porta do quarto e olhou para a expressão ansiosa de Shikamaru. Balançou a cabeça.

- Ninguém atende na casa dela.

- Choukso... Faz uma semana que eu estou nesse maldito hospital! – o Nara apertou o lençol branco nos punhos e fechou os olhos, visivelmente contrariado. – Até quando vão me manter aqui?

- Como você se sente? – a Yamanaka perguntou, ignorando a pergunta do amigo e olhando-o atentamente.

- Ótimo!

- Alguma tontura?

- Não.

- Dores de cabeça?

- Não.

- Pontadas?

- Não. – o tom do Nara ficava cada vez mais entediado.

- Sente dormência em algum membro?

- Não.

- Uhm... – ela rabiscou algo rapidamente na prancheta que segurava e olhou para ele, esboçando um sorriso. – Acho que você pode ter alta hoje.

- Finalmente – ele grunhiu mal humorado.

Uma batida curta na porta e Sakura entrou, caminhando em passos rápidos até Ino.

- Como ele está hoje? – o tom da médica nin era animado.

- Bem. – Ino lhe mostrou as anotações da prancheta e elas trocaram um olhar de entendimento mudo.

- Shikamaru, vim te dar alta. Seu pai está aí fora para te levar para casa. – A kunoichi de cabelos rosa informou – Mas qualquer coisa fora do comum acontecer, volte para cá imediatamente!

- Yare, yare.

O Nara foi para o banheiro e se trocou. Quando voltou viu o pai no quarto, conversando com Ino e Sakura, provavelmente ouvindo um monte de recomendações.

- Vamos, velho.

- Shikamaru, não vá fazer nenhuma besteira. – Sakura ralhou um tom preocupado. – E você sabe sobre o que estou falando!

- Feh, que saco. Não vou fazer nada errado. Podemos ir?

Shikaku fez que sim com a cabeça e abriu a porta. Antes de sair, Shikamaru dirigiu um olhar para Ino, que sorriu e lhe piscou um olho, disfarçando antes que a Haruno a visse.

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Escritório do Kazekage, Suna
12:00 PM

Temari remexeu os sushis no prato e lançou um olhar para os irmãos, sentados diante dela do outro lado da mesa. Revirou os olhos.

- Eu não estou doente.

- Não está comento – observou Gaara, num tom que não permitia discussões.

- Eu não estou exatamente com fome.

- Você vai comer de qualquer jeito. – Kankuro completou.

- Mas que droga, vocês não mandam em mim! Não ouviram o médico dizer que eu estou bem? Que não tem nada errado comigo?

- Bem, você teve um sono agitado e ficou meio febril.

- Eu sempre tive sono agitado. Já disse para pararem de se preocupar.

O silêncio reinou por um momento enquanto Temari comia um dos shushis, mas ela logo voltou a perguntar.

- Quando vou voltar ao trabalho?

- Você está oficialmente de licença, depois acho que vou te dar férias.

- E quanto ao cargo no País do Fogo? – a voz dela saiu baixa e quase desprovida de nenhuma emoção.

- Ainda não pensei nisso – Gaara respondeu seco – Você também não deveria pensar.

Silêncio novamente. Então um dos conselheiros bateu na porta e entrou depois do consentimento do Kazekage, murmurou algo para Gaara e desapareceu em seguida.

- Bem, eu tenho uma reunião agora – O mais novo dos irmãos se levantou e andou lentamente até a porta. – Kankuro, me avise depois como ela está.

- Hai.

Quando o ruivo saiu, Temari se levantou também.

- Vou pra casa.

- Eu vou com você.

- Não precisa, o médico e eu já dissemos que estou bem!

- Eu vou com você – teimou o moreno com uma expressão despreocupada no rosto.

- Mas não precisa dormir mais lá. Já estou bem grandinha para precisar de babá.

Kankuro considerou por alguns minutos e bem, ela tinha razão e o médico realmente tinha dito que ela estava recuperada e bem.

- Ta bem, mas ainda vou te levar para casa.

- Arigato, irmãozinho.

- Já disse que odeio quando me chama assim.

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Residência dos Nara, Konoha
14: 58 PM

Shikamaru olhou para o telefone como se fosse um objeto de outro planeta. Ele queria muito falar com ela, mas não sabia por que estava tão inseguro em relação a isso. Era a namorada dele, e há muito tempo, não? Então qual era o problema? E ele tinha uma boa notícia, que talvez fizesse as coisas entre eles voltarem ao normal...

Fechou os olhos por alguns segundos, se concentrando. Então tirou o fone do gancho e discou o número que havia decorado há tanto tempo, torcendo para ouvir a voz dela do outro lado da linha.

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Apartamento da Temari, Suna
14:59 PM

Kankuro estava confortavelmente esticado no sofá da irmã enquanto ela tomava banho. Iam fazer uma visita à Academia Ninja, pois Temari quase o havia enlouquecido pedindo para que ela pudesse olhar uns papéis dela.

Sobressaltou-se um pouco quando o telefone tocou. Franziu o cenho e estendeu a mão para o aparelho.

- Moshi moshi?

- Quem fala? – a voz de homem perguntou do outro lado.

- Kankuro – ele engrossou a própria voz imediatamente, desconfiando de quem seria.

- Kankuro, é o Shikamaru...

- Eu sabia que era você. A Temari está ocupada.

- Bem, posso ligar mais tarde então?

- Ela vai estar ocupada por um bom tempo.

- Quanto tempo?- A voz agora denotava cautela.

- Para sempre está bom para você? – replicou num tom azedo. Muito maduro, Kankuro! pensou ainda mais azedo.

Shikamaru suspirou do outro lado da linha. Sabia que os irmãos dela não eram fáceis, mas o mais complicado era o do meio. Ainda assim, se ele tinha motivos para estar daquele jeito era provavelmente porque Temari não estava bem.

- Kankuro não seja problemático, eu preciso falar com ela!

­- Uh, acho que não.

- Eu recuperei a memória.

O mestre de marionetes ficou sem ter o que dizer por algum tempo. Isso não resolvia tudo? A tristeza da irmã, a conseqüente preocupação dele, os delírios, a febre? Rangeu os dentes, pensando no que devia fazer.

- Eu sei que a fiz sofrer nesses últimos tempos, mas agora eu quero compensá-la por isso. Eu amo a sua irmã mais do que a qualquer outra pessoa no mundo e você sabe disso. – Shikamaru continuou.

- E como você planeja consertar as coisas, gênio? Se magoar a Temari de novo, eu juro que...

- Não vou magoá-la nunca mais, eu juro pela minha vida! – Shikamaru cortou apressado, antes que ouvisse a ameaça de morte – Eu vou pedi-la em casamento. Ia pedir antes do acidente, foi quando vi o anel que a minha memória voltou...

Kankuro sorriu levemente contra sua própria vontade. Mesmo estando irado com o Nara, sabia que ele a amava e todo aquele bla bla bla meloso. E mais importante que isso, sabia que a irmã era louca pelo ninja das sombras. Sempre fora.

- Ela está tomando banho agora – respondeu ainda contrariado.

- Como ela está?

- Agora, bem. Mas teve uma pequena crise de exaustão e um tal de colapso nervoso.

- Droga. Eu sou um idiota mesmo.

­- Isso é bem verdade – Kankuro replicou, agora se divertindo.

- Eu já sei o que vou fazer. Amanhã vou pra Suna e quando chegar converso com ela pessoalmente. – Shikamaru sorriu, explicando o plano rapidamente.

- Bom, você que sabe. Se tomar uma surra a responsabilidade é só sua.

- Eu sei. Não diga que eu liguei e nem que recuperei a memória, por favor. Quero que ela saiba da notícia por mim.

­- Tá bom.

- Arigato, Kankuro. Te vejo em alguns dias.

­- Sem problemas. Até.

Colocou o fone no gancho tentando conter uma risadinha. Ele se divertiria muito mais se Temari desse uma surra no Nara.

- Quem era? – a irmã o surpreendeu, surgindo logo atrás do sofá secando o cabelo com uma felpuda toalha amarela.

- Matsuri – ele respondeu o primeiro nome que lhe veio á cabeça – Queria saber como você estava.

- Engraçado, eu falei com ela quando estávamos no escritório do Gaara há o que, duas horas atrás?

- Ela é muito preocupada, você sabe.

- Uhm... vou prender o cabelo e então a gente pode sair.

- Fique à vontade, a casa é sua. – o Sabaku do meio respondeu rindo.

Temari arremessou a toalha nele e riu debochada. Era a primeira vez em dias que ele a via sorrindo e sentiu outra pontada de raiva.

Era melhor para o preguiçoso consertar as coisas mesmo.

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Residência dos Nara, Konoha
19:32

Shikaku e Yoshino estavam mudos, assimilando o que ele tinha acabado de dizer, e Shikamaru olhava de um para o outro, esperando alguma reação. Sua mãe tinha a caixinha do anel aberta nas mãos e uma expressão entre espantada e admirada no rosto.

- Mas você acabou de sair do Hospital! – Yoshino disse por fim.

- Kaa-chan, eu nunca me senti melhor. E esse tempo no hospital só serviu para que eu dormisse muito e pensasse ainda mais nisso. E é o que eu quero. Ela é o que eu quero e eu não posso esperar mais.

Yoshino abaixou a cabeça para o anel e depois voltou a olhar para Shikamaru.

- Mas você é tão novo, meu filho!

Shikamaru não pode deixar de sorrir.

- Kaa-chan, você e o velho já eram casados quando tinham a minha idade. E eu não vou deixar de ser seu filho só porque me casei.

- Ele está certo – Shikaku acariciou o braço da esposa – Deixe de ser problemática mulher, o Shikamaru vai se casar com uma kunoichi de quem você gosta. Ela é tão ou mais problemática que você e vai colocá-lo na linha, sabe disso. E pense em netos, você não queria a casa cheia de crianças?

Yoshino olhou para o marido e sorriu, fechando a caixinha com o anel antes de se virar para Shikamaru.

- Bom, se você vai acordar cedo amanhã é melhor ir descansar. E não se esqueça disso. – ela estendeu a mão com a caixinha para o filho.

Shikamaru sorriu e se levantou, caminhando até a mãe. Pegou a caixinha de veludo e deu um beijo na testa dela.

- Arigato, okaachan.

Eles observaram enquanto Shikamaru subia as escadas em direção ao seu quarto, ainda sentados no sofá. O silêncio se prolongou por alguns momentos, até que Yoshino encostou a cabeça levemente no ombro do marido.

- O anel que ele vai dar para a Temari é bem mais bonito do que o que você me deu – ela comentou em um tom divertido.

Shikaku ergueu as sobrancelhas e fez ar de pouco caso.

- Ele teve mais tempo para escolher o anel, e um companheiro de time do sexo feminino para ajudar. Eu não tive tempo nem ajuda.

- Mentiroso – Yoshino riu – Você teve foi preguiça de procurar.

- Não – ele puxou a esposa para o colo, enlaçando-a pela cintura. – Eu tive que me apressar porque não queria que você saísse da minha vida. Não podia te perder, mulher.

- Você achou que eu ia sumir mesmo? – Yoshino riu baixinho enquanto Shikaku beijava a linha de seu pescoço.

- Fiquei com medo de você não aceitar.

- Baka – ela passou os braços pelo pescoço do Nara – Não tinha jeito de eu recusar o seu pedido. Nunca.

Eles se encararam por um instante e Shikaku se inclinou para beijá-la, mas Yoshino voltou a falar.

- Não estamos jovens demais para sermos avós?

Ele revirou os olhos ante o tom preocupado dela e fez uma pequena careta antes de sorrir divertido.

- Você vai ser minha vovó favorita. Eu sabia que você ia aceitar o casamento do Shikamaru. – Yoshino ia protestar, mas ele colocou um dedo sobre os lábios dela, impedindo-a de falar – Quietinha agora.

E antes que a mulher tentasse brigar com ele, calou-a com um beijo.

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Apartamento da Temari, Suna
20:04

Temari parou em frente à janela aberta, observando o céu tormentoso. Nuvens avermelhadas encobriam o céu escuro e ao longe ela já podia ouvir a tempestade que se aproximava.

Finalmente ela havia chego, a época de chuva no deserto. Apertou os braços ao redor do corpo com mais força, tentando não estremecer com o vento frio. Não gostava de frio ou de chuva, mas estava feliz com o mau tempo; de alguma forma, sentia que sua alma estava tão ressequida quanto o chão árido.

Fechou a janela e deitou-se em sua cama, sem antes ficar por um bom tempo fitando a foto no grande porta-retrato que estava sobre seu criado mudo. Sabia que ele era para ela como a chuva era para o deserto, e que não gostaria de saber o que seria dela se a memória dele nunca mais voltasse. Se bem que fazia uma idéia: sem a chuva não haveria vida no deserto e o mesmo aconteceria com ela. Uma casca oca e sem vida, isso é o que se tornaria.

Puxou o edredom sobre si e ajeitou-se melhor nos travesseiros, sentindo-se terrivelmente sozinha no meio daquela cama tão grande. Fechando os olhos, recitou mentalmente o pedido mudo que estava sempre espelhado em seus olhos, mas que não tinha mais forças ou coragem de dizer em voz alta.

Volta pra mim, meu preguiçoso. Volta pra mim.

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O dia estava raiando lentamente e Shikamaru olhou para o horizonte mais uma vez antes de se virar para Ino, que monologava incansavelmente.

- ...Se o seu nariz começar a sangrar novamente, você vai ter que parar, recostar a cabeça...

- Tsc, meu nariz não vai sangrar uma outra vez – ele cortou apressando.

A Yamanaka riu e lhe estendeu um pergaminho.

- Essa é sua autorização para sair de Konoha. Um pergaminho de qualquer assunto sobre o próximo Chuunin Shiken que você vai entregar para o Gaara.

O Nara pegou o papel e olhou para a antiga companheira de time, arqueando uma das sobrancelhas.

- Uma missão, gênio. Ou você achou que fosse sair daqui fugido?

Ele sorriu e abraçou a loira.

- Arigato, Ino. Por tudo.

- Ah, não foi nada. Vocês são o meu casal favorito e eu quero que vocês sejam felizes. Só espero que um dia eu encontre alguém que me ame tanto quanto você ama aquela mulher problemática.

Ainda sorrindo, Shikamaru se afastou da amiga e secou uma lágrima que escorria silenciosamente pela bochecha dela com o polegar.

- Se mantiver seu coração aberto, essa pessoa vai aparecer logo.

Virando-se para o lado, ele abraçou Chouji, que havia se mantido quieto até então.

- Até, Chouji.

- Vai com cuidado, Shikamaru.

Antes de se afastar totalmente, o Nara dirigiu um significativo olhar para o amigo e revirando os olhos para sua esquerda, apontou discretamente com a cabeça para onde estava Ino. Chouji ficou levemente rosado e Shikamaru ajeitou a mochila nas costas, dirigindo-se aos portões da Vila.

Os dois ex-companheiros de time 10 continuaram observando enquanto Shikamaru desaparecia na estrada. O Akimichi começou a olhar para os lados, observando discretamente enquanto Ino torcia as mãos. Acabou perguntando totalmente sem jeito.

- Ino... quer... tomar café... da manhã?

A Yamanaka levantou os olhos para Chouji, estranhando o tom dele. Sorriu levemente, subitamente se lembrando das palavras do Nara.

- Claro Chouji.

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Shikamaru sabia que a viagem normalmente duraria três dias e que ele não deveria exigir muito de si mesmo, já que andava passando mais tempo no hospital do que em qualquer outro lugar; mas não pode deixar de sentir-se aliviado quando avistou os grandes portões escuros da Vila Oculta da Areia no final do segundo dia de viagem.

Ficou surpreso quando se deparou com chuva forte; não conseguia se lembrar de nenhuma vez em que estivesse lá e houvesse chovido. Fechou mais o colete e voltou a ajeitar a mochila nas costas, se dirigindo à sentinela do portão.

Em poucos minutos estava dentro de Suna, consumido por um sentimento nostálgico. Parecia que não ia para lá há uma eternidade. Esboçou um leve sorriso quando se lembrou do motivo que o levava de volta para o País do Vento e apressou o passo, dirigindo-se ao local onde pretendia hospedar-se durante aquela noite, pois só colocaria seu plano em prática no dia seguinte.

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Kankuro ouviu uma batida rápida na porta e levantou-se relutantemente do sofá, colocando a garrafa de cerveja na mesa de centro. Coçou a cabeça incomodado, quem seria numa hora daquelas?

- Você!?

- Yo cunhadinho. É bom vê-lo também – Shikamaru sorriu debochado ante a surpresa do Sabaku.

- Mas você só chegava amanhã! – Kankuro exclamou enquanto se recostava no batente da porta, permitindo que o Nara entrasse.

- Me adiantei um pouco... Tem algum problema?

- Não, não. É que eu simplesmente detesto ser pego de surpresa. – o mestre das marionetes fechou a porta e trancou-a em seguida.

- Eu disse que vou fazer o possível para não te incomodar, na verdade acho que só preciso de um banho e dormir durante um longo tempo.

- E depois, se o seu plano der certo, vai dormir com a minha irmã. Quer dizer, dormir é modo de dizer...

- Tsc, problemático.

Kankuro gargalhou sonoramente ao ver o tom rosado nas bochechas do Nara, mas parou subitamente e encarou o outro Shinobi de maneira séria.

- Você já sabe...

- Yare, não precisa me ameaçar de morte de novo – Shikamaru resmungou preguiçoso – Você também já sabe por que eu estou fazendo isso.

O manipulador de marionetes suspirou e voltou a sorrir levemente. Apesar de ameaçar constantemente o Nara, gostava da companhia dele. E apesar de fazer piada com o relacionamento dele com Temari, não gostava muito de pensar no que eles faziam quando estavam sozinhos... lhe causava certo ódio e vontade de esquartejar o preguiçoso.

- Vou te mostrar o seu quarto.

Shikamaru seguiu o jounnin pelo apartamento e colocou sua mochila no chão quando entraram no quarto de hóspedes, que estava impecavelmente arrumado em comparação com o resto da casa.

- Como está a Temari? – perguntou enquanto Kankuro abria as cortinas, permitindo que a cinzenta claridade da tempestade entrasse pela janela.

- Melhorando. Hoje passei uma parte do dia com ela, Matsuri e Gaara também foram, almoçamos e vimos alguns filmes. Depois ela acabou dormindo e desconfio que continue assim até amanhã. Ela anda um pouco sonolenta.

Shikamaru abriu a mochila e começou a guardar seus pertences na gaveta da cômoda, refletindo sobre o que havia acabado de ouvir. Suspirou cansado.

- Ela não sabe que estou aqui?

- Não – Kankuro sorriu – Minhas habilidades ninja envolvem talento para dissimulação, ela nem desconfia que tenho falado com você recentemente.

- Amanhã eu falo com ela.

O Sabaku fez que sim com a cabeça e foi saindo do quarto.

- Bom, você deve estar cansado. Vou voltar para o meu jogo e vou deixá-lo à vontade para tomar banho e descansar. As toalhas estão no banheiro.

- Arigato.

Antes de fechar a porta, Kankuro parou e voltou a ficar sério.

- Shikamaru?

O Nara olhou-o com cautela. Não era sempre que o irmão de Temari o chamava por seu primeiro nome.

- Eu realmente espero que você volte a ser acertar com a Tema. – O manipulador de marionetes sorriu levemente, fazendo com que Shikamaru relaxasse.

- Eu também, Kankuro.

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Temari acordou e se recusou a olhar o relógio, limitando-se a observar a vidraça sendo furiosamente chicoteada pela tempestade. Sabia que havia dormido durante muito tempo, e se dependesse dela dormiria pelo resto da vida. Pelo menos em seus sonhos Shikamaru ainda era o mesmo e tudo voltava a ser como era antes.

Levantou-se da cama com certa relutância quando ouviu seu estômago protestar a falta de comida. Andou lentamente até a cozinha e devorou alguns bolinhos com chá, tentando fazer um cronograma mental para o dia de hoje.

Os trovões ribombavam pelo apartamento, mas a Sabaku mais velha não se importava mais com o barulho. Foi para o banheiro e abriu a torneira de sua banheira para enchê-la com água bem quente, já que tinha decidido que a melhor coisa para fazer naquela tarde seria nada.

Voltou para a cozinha e encheu um copo com alguns morangos, açúcar e sake, amassando as frutas e agitando a mistura. Ao voltar para o banheiro, passou pela sala e viu o telefone de relance; dirigiu-se até o aparelho e puxou o fio da tomada. Não queria falar com ninguém.

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Shikamaru sentiu o coração acelerar ao avistar o prédio em que Temari morava, e concentrando mais chakra nos pés pulou decidido naquela direção. Utilizando-se de suas habilidades ninja passou despercebido pela portaria e subiu as escadas lentamente até o quinto andar, secando-se com uma toalha que tinha conseguido guardar em sua bolsa ninja.

Quando parou em frente á porta branca do apartamento 52, respirou fundo e fechou os olhos por alguns instantes, se concentrando. Aquela era definitivamente uma das coisas mais importantes que faria na vida e queria que tudo saísse perfeito.

Fez selamentos rápidos com as mãos e logo sua sombra se estendeu até o outro lado da porta, destrancando-a. Temari tinha mania de deixar a chave na fechadura e ele sentiu-se subitamente confortável ao ver que aquilo não tinha mudado. Abriu a porta lentamente, espiando para dentro do apartamento, que estava escuro. Mais confiante ao ver que ela não estava por perto, entrou e trancou a porta, colocando a chave no aparador logo ao lado.

Andou silenciosamente pelo carpete e percebeu que ela estava no banho. Começou a sentir gotas geladas de suor brotarem em sua testa, apesar do tempo frio. Entrou no quarto e agachou-se rapidamente ao lado de uma poltrona, escondendo-se com perfeição nas sombras. Juntou as mãos como sempre fazia quando queria refletir, suplantou seu chakra o máximo que conseguia, e esperou.

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Temari saiu do banho vestida com um kimono azul marinho bordado com carpas brancas e douradas. Tinha secado os cabelos com o secador que ganhou de presente de Ino e sentia cada músculo de seu corpo relaxado pela água quente.

O quarto estava escuro e ela andou até a janela e fechou as cortinas, escurecendo de vez o local. Sentou-se na ponta da cama e ligou o rádio com o controle remoto, fechando os olhos quando ouviu os primeiros acordes da música.

Woke up to the sound of pouring rain
(Acordei com o som de chuva forte caindo)

The wind would whisper and I'd think of you

(O vento sussurraria e eu pensaria em você)

And all the tears you cried, they called my name

(E todas as lágrimas que você chorou chamaram meu nome)

And when you needed me, I came through

(E quando você precisou de mim, eu correspondi)

Shikamaru estava a observando desde que ela havia saído do banheiro, seu coração batendo tão descontroladamente no peito que ele teve medo que Temari pudesse ouvi-lo. Kami-sama, ela estava linda e parecia tão vulnerável e delicada que teve ímpetos de correr e tomá-la nos braços. Quando ouviu a música percebeu que era perfeita para a situação, ele estava ali agora, as lágrimas dela realmente tinham chamado por ele.

I paint a picture of the days gone by
(Eu pinto uma imagem dos dias passados)
When love went blind and you would make me see
(Quando o amor ficaria cego e você me faria enxergar)
I'd stare a lifetime into your eyes
(Eu poderia ver minha vida dentro dos seus olhos)
So that I knew that you were there for me
(Então eu sabia que você estava lá por mim)
Time after time, you were there for me
(Vez por vez, você estaria lá por mim)

Ela ainda estava de olhos fechados e ele se levantou; tinha chegado a hora. Apoiou-se no encosto da poltrona e fixou os olhos já acostumados à escuridão nela.

- Da primeira vez que eu te vi, me senti extremamente intimidado. Nunca tinha visto uma mulher tão decidida ou independente, tão diferente das meninas que eu conhecia.

Temari abriu os olhos de repente, a respiração presa na garganta. Kami-sama, aquela voz... Virou a cabeça na direção de onde veio o som e apertou o edredon que cobria a cama nas mãos, paralisada. Ela só podia estar ficando louca.

E então a voz voltou a soar alta, clara e deliciosamente preguiçosa.

- Eu desisti da nossa luta no Chuunin Shiken de propósito. Sei que disse que estava sem chakra, mas era mentira o tempo todo. Eu percebi o quanto você gostava de ganhar e não queria tirar aquele brilho dos seus olhos ou apagar aquele seu sorriso debochado.

Temari levantou-se num salto e deu um passo incerto na direção em que aquela voz vinha. Ela não estava ficando louca, aquela voz que mexia tanto com ela só podia pertencer a uma pessoa no mundo.

- Shikamaru?

Sua voz saiu trêmula e sussurrada, e no instante seguinte percebeu certa movimentação ao seu redor. A voz voltou a soar, mas dessa vez no canto oposto do quarto.

- Eu fiquei com vergonha quando você me salvou daquela ninja do som, e com raiva por perder pra uma mulher. Mas você me desconsertou e eu me apaixonei pelo seu sorriso naquele dia.

Temari virou-se naquela direção, sentindo-se ansiosa. Qualquer pessoa que se movesse daquele jeito só poderia ser um ninja, e qualquer um que citasse aqueles fatos só poderia te-los vivido, e então quer dizer que... Aflita com o suspense, foi até a janela e abriu as cortinas, olhando em seguida para o canto de onde havia vindo a voz. Seu coração falhou uma batida quando reconheceu a silhueta tão característica: o cabelo amarrado no alto da cabeça, as mãos colocadas displicentemente no bolso. Apertou as próprias mãos trêmulas contra o peito quando um par de olhos castanhos a fitou.

- Quando eu te beijei pela primeira vez – Shikamaru continuou com a voz levemente embargada - Você estava brigando comigo por alguma coisa irrelevante. Você consegue ficar ainda mais bonita quando está com raiva e eu não consegui me controlar. Eu estava chupando uma bala de canela e esse gosto sempre me lembra você: doce e picante ao mesmo tempo...

Temari deu um passo para frente, lutando contra o turbilhão de emoções que sentia. Ele estava lá, ele estava lá!

- Shikamaru, você... como foi que...? – não conseguia formar nenhuma frase coerente. Ele estava lá, e falando de coisas que só poderia mencionar se tivesse recuperado a memória, pois eram fatos que eles não partilhavam com mais ninguém, coisas que só os dois sabiam.

Shikamaru caminhou lentamente até ela, parando a poucos centímetros de distância. Pode ver uma lágrima descendo silenciosamente pelo rosto abatido da kunoichi e sentiu os próprios olhos arderem. Mas não podia parar agora.

- Na primeira vez em que nós fizemos amor – ele sorriu levemente – Eu te perguntei tantas vezes se queria que eu parasse que fiquei com medo de que você realmente quisesse que eu parasse. E a última vez em que fiz amor com você foi dois dias antes de sair naquela missão problemática que quase me matou... Você foi e sempre vai ser a única mulher na minha vida, minha Kumo.

Ela arregalou os olhos quando ouviu o apelido e deixou um soluço escapar junto com outras lágrimas grossas. O Nara estendeu as mãos e secou o rosto dela, descendo-as lentamente até o pescoço da kunoichi e pegando a delicada corrente de prata que ela sempre trazia consigo.

- Eu te dei esse relicário no dia dos namorados do ano passado. Eu até tinha pensado que era muita pretensão minha te dar um pingente com uma foto minha e outra sua, mas você gostou tanto que não tira desde então.

Temari sorria e fungava, lutando contra as lágrimas insistentes. O manipulador de sombras desceu as mãos pelos braços da Sabaku e entrelaçou os dedos nos dela.

- Quando estava em coma me lembro vagamente de ouvir você dizer que tinha comprado um tabuleiro de shogi novo.

- Eu comprei... A gente vai... vai jogar... – ela respondeu, se controlando melhor.

Temari encarou Shikamaru, incapaz de acreditar em seus olhos. Ele estava lá, sorrindo para ela, e tinha recuperado a memória!

- Quando você se lembrou? – ela perguntou já quase sem chorar, agradecendo mentalmente a Kami-Sama por aquele milagre e pedindo perdão por todas as vezes em que havia o importunado com suas orações insistentes.

Shikamaru sorriu de lado antes de responder, pois aquele era o momento que esteve esperando. A oportunidade perfeita para que ele consertasse um eventual erro e finalmente parar de protelar uma coisa que nunca deveria ter sido esquecida.

Temari percebeu que ele fez um movimento rápido com as mãos e logo sentiu algo gelado em seu dedo anelar da mão esquerda. Olhou instintivamente para baixo e arregalou os olhos ao ver o grande anel de brilhantes colocado em seu dedo. Ainda surpresa, ergueu a mão na frente do rosto para que pudesse ver a peça melhor: um único diamante, grande e imponente, se elevava do grosso círculo dourado e se destacava dos outros diamantes incrustados no metal, que iam diminuindo decrescentemente de tamanho enquanto circundavam boa parte do anel. Aquilo deve ter custado uma fortuna! Ela desviou os olhos para Shikamaru numa interrogação muda e o Nara voltou a falar.

- Antes de sair para aquela missão, eu comprei esse anel para te fazer um pedido que eu venho guardando há algum tempo. Mas aquilo tudo aconteceu e esse anel ficou esquecido na minha gaveta. Quando coloquei meus olhos nele, há alguns dias atrás, a minha memória voltou.

A Sabaku o encarava perplexa, a mão ainda erguida no ar. A memória dele voltou por causa do anel? Então o significado era...

- Quero que se case comigo, Sabaku no Temari. É por esse motivo que eu estou te dando esse anel, e foi por esse motivo que eu recuperei a memória. Você me trouxe de volta, meu amor...

Ela ficou muda por uma fração de segundo, mas quando viu já tinha se atirado nos braços dele, chorando convulsivamente. Percebeu vagamente que Shikamaru também chorava, pois sentiu algumas lágrimas quentes molharem seu ombro, e a voz dele saiu embargada quando ele voltou a falar com o rosto enterrado em seu pescoço.

- Mas eu preciso que antes você me perdoe, Tema... Eu sei que fui um estúpido ultimamente, e sei que eu devia ter me lembrado de você antes de qualquer pessoa..

- Shh... – Temari segurou o rosto dele, sorrindo e balançando a cabeça. – Eu já esqueci, preguiçoso. Eu passaria por tudo de novo se você ainda voltasse pra mim. E a culpa não foi sua, eu não tenho porque te perdoar. Foi algo que a gente teve que superar. E você está aqui agora, não está?

Ele a abraçou de novo, sentindo o perfume que vinha dela, sabendo que era aquele o lugar a que ele pertencia no mundo e para onde ele tentou voltar mesmo sem lembrança nenhuma.

- É problemático, mas me apaixonei de novo por você enquanto eu estava sem memória – ele completou sorrindo enquanto brincava com uma mecha de cabelos dela.

Temari sorriu e Shikamaru e voltou a secar o rosto dela com as mãos. Temari fez o mesmo com o dele e o Nara pegou suas mãos e beijou-as delicadamente, ajeitando melhor o anel no dedo dela.

- E então? – ele sussurrou.

Ela sorriu. Sorriu com todo o coração, porque não se lembrava de que era possível se sentir tão feliz.

- Eu aceito...

Woke up to the sound of pouring rain
(Acordei com o som de chuva forte caindo)

Washed away a dream of you

(Lavou um sonho que tive com você)

But nothing else could ever take you away

(Mas nada mais pode te levar embora)

'Cuz you'll always be my dream come true
(Porque você vai ser sempre meu sonho realizado)

Oh my darling, I love you

(Ah minha querida, eu amo você)

Eles simplesmente se olharam por um longo momento, abraçados enquanto os últimos acordes da música soavam. Temari ainda se perguntava se tudo aquilo não era um sonho e se não ia acordar a qualquer momento de volta à sua vida vazia. E então ele a abraçou com mais força e tudo parecia perfeito, os braços dele ao redor dela, o cheiro dele, o calor que vinha dele, as batidas do coração dele soando nos ouvidos dela. Não, não era um sonho.

Remember yesterday, walking hand in hand
(Lembre-se de ontem, andando de mãos dadas)

Love letters in the sand, I remember you

(Cartas de amor na areia, eu me lembro de você)

Through the sleepless nights, through all the endless days

(Através de noites insones e de todos os dias intermináveis)

I wanna hear you say

(Quero ouvir você dizer)

I remember, I remember you

(Eu me lembro, eu me lembro de você)

Shikamaru sorriu quando a música terminou e abaixou a cabeça lentamente, roçando a ponta do nariz no dela, murmurando rouco.

- Há quanto tempo eu não toco você como deveria?

Temari se arrepiou com o tom dele e a resposta veio rápida.

- Tempo demais...

Ele a beijou e ela sentiu o estômago se contrair com milhares de borboletas brigando dentro dele. Correspondeu prontamente e logo o beijo que havia se iniciado calmo e cheio de saudade ficou possessivo e quente, carregado com desejo mal contido durante tanto tempo. Ela foi empurrando-o discretamente para cama enquanto sentia as mãos hábeis do Nara desamarrarem o obi branco que prendia seu kimono, jogando-o no chão em poucos segundos.

- Eu amo você minha Kumo, e quase morri de saudade. – Shikamaru murmurou enquanto beijava a orelha dela.

- Eu também te amo, Shikamaru. Eu te amo muito...

Logo ela sentiu as mãos quentes do shinobi livrarem-na do kimono enquanto ele beijava seu pescoço. Não querendo ficar muito atrás, ela se prontificou a tirar o colete e a camisa do Nara, subitamente percebendo que estava deitada na cama e quase sem nenhuma peça de roupa.

Shikamaru parou e olhou-a de cima a baixo com olhos famintos enquanto um sorriso brincava em seu rosto. Ele acariciava a pele arrepiada da Sabaku, satisfeito por ver que ainda causava aquele efeito nela.

- Eu já te disse o quanto você é linda? – ele murmurou rouco.

- Não recentemente – ela replicou com um sorriso distraído que ele logo calou com um beijo possessivo.

Enquanto Shikamaru estava em coma e depois com amnésia, Temari imaginou diversas vezes como seria estar nos braços dele de novo, mas nenhuma de suas fantasias haviam a preparado para aquilo. O ninja das sombras se lembrava, e bem, de todas as curvas do corpo dela, de todos os detalhes, do que ela gostava. A respiração dela ficou falha enquanto ele explorava sua garganta, depois seus ombros e seu colo, acariciando cada centímetro de sua pele sensível.

Shikamaru se lembrava de tê-la observado quando ela tentou enganá-lo dizendo que era sua ex-namorada, e chegado à conclusão de que ela tinha um belo corpo. Achava que sua memória não falharia naquele sentido, mas realmente tudo lhe parecia muito aquém da realidade. Ela era perfeita e o corpo havia sido esculpido especialmente para as mãos dele, que pareciam complementar cada detalhe: se ajustavam perfeitamente à curva dos seios fartos, no côncavo da cintura fina, no arredondado dos quadris. Cada toque dele causava uma reação nela, e ouvi-la murmurar novamente seu nome daquela maneira pesada pelo desejo ainda não saciado estava o enlouquecendo.

Sentir novamente a pele dele contra a dela era tão entorpecente que sua cabeça girava. Um gemido alto lhe escapou dos lábios quando eles se tornaram um só e ela não podia mais dizer onde Shikamaru começava e onde ela terminava. Encontraram um ritmo que era só deles e seus olhares se encontraram, cheios dos sentimentos que eles exteriorizavam agora e de todas as outras coisas que não eram ditas.

O mundo não existia mais, nem a chuva ou o frio; tudo o que importava eram os dois e o amor a que se entregavam. Juntos chegaram ao êxtase, Temari murmurando o nome dele repetidas vezes enquanto Shikamaru beijava a fronte molhada de suor da kunoichi antes de devorar aquela boca rosada uma outra vez e deitar-se ao lado dela, que por sua vez descansou a cabeça no peito dele enquanto ambos tentavam normalizar suas respirações.

Horas depois Temari abriu os olhos, deparando-se com escuridão quebrada apenas pela luz cinzenta que vinha da janela ocasionada por um relâmpago ou outro. Sentiu uma pontada de desespero quando se virou e percebeu que estava sozinha na cama. Tirou o cabelo dos olhos, se perguntando se tudo aquilo não teria sido uma ilusão estúpida que seu cérebro debilitado tinha criado. Mas aquilo não era possível... era?

Um trovão ressoou pelo quarto e ela se encolheu sob os lençóis, perto do pânico. Nos últimos dias tinha se esquecido do quanto não gostava de tempestades e de como não reagia bem a elas. Apertou os olhos com força, torcendo para adormecer de novo, mas já estava totalmente desperta. Então uma mão grande segurou-a pela cintura, trazendo-a de encontro a um peito largo.

- Foi só um trovão – a voz preguiçosa de Shikamaru soou com música nos ouvidos dela.

- Onde você estava? – a kunoichi perguntou abraçando-o fortemente.

- Fui tomar água. Achou que eu tinha fugido, mulher? Ou talvez perdido a memória e esquecido como é que se voltava para o quarto? – ele deu uma risadinha enquanto beijava o alto da cabeça dela.

- Não tem graça, Nara.

- Tsc. Eu nunca vou deixar você, Temari. Muito menos sozinha em uma cama grande numa noite de tempestade, trajando algo tão convidativo.

Ela arqueou uma das sobrancelhas, consciente da diáfana camisolinha que havia vestido em algum momento antes de adormecer. Sorriu debochada.

- E como eu posso ter certeza disso?

- Uhm – ele puxou a mão dela e girou o anel em seu dedo – Isso ajuda?

Temari riu e puxou-o para si, roçando os lábios nos dele.

- Ajuda.

- E o plano que eu tenho de te sequestrar, te levar para Konoha e te fazer minha mulher hoje mesmo também conta? – ele murmurou rouco, com os lábios colados nos dela.

- Eu já sou sua mulher – ela respondeu mordiscando o lábio inferior dele – E o casamento vai ter que ser aqui em Suna, e provavelmente daqui a um mês, com todas as formalidades.

Ele revirou os olhos e ela passou a beijar a linha do maxilar dele.

- Quem mandou se engraçar com a irmã do Kazekage...

- Feh, coração problemático.

Shikamaru voltou a beijá-la profundamente, rolando por cima dela e tratando de tirar a camisola do caminho. Temari se perdeu de novo sob os toques dele, torcendo ao mesmo tempo para que o dia nunca mais amanhecesse e para que um mês passasse logo.

-xxxxx-

Epílogo.

Konoha, um ano depois.

Temari correu apressada pelos corredores do Hospital, com o coração apertado. Tinha saído do banho às pressas quando recebeu a notícia e agora procurava desesperadamente pela sala onde ele estava sendo atendido.

Parou em frente à porta branca e suspirou, tendo uma sensação de deja vu desagradável. Abriu a porta lentamente e entrou quase sem fazer ruído, deparando-se com o caos reinante no pronto-socorro: Ino limpava os ferimentos de Chouji, que agüentava a dor com algumas caretas; Izumo estava deitado numa maca com um dos braços engessados e Kotetsu deitado logo ao lado, com a perna engessada.

Shikamaru estava sentado numa cadeira e Sakura de pé logo atrás dele, enfaixando a cabeça do moreno. A Sabaku pôde ver a mancha de sangue que começava no ombro e se estendia pelo braço do Nara, sentindo seu estômago se contorcer desagradavelmente quando ele levantou os olhos para ela, observando-a com uma expressão vazia.

- Oe, Temari, você veio rápido! – Sakura exclamou ao vê-la.

- O que aconteceu?

- Uma armadilha – Chouji disse de maneira estrangulada. – O local que fomos investigar estava cheio de explosivos que foram detonados quando um de nós pisou numa lajota específica do chão.

Ela sentiu uma mistura de medo e alívio por eles estarem todos a salvo. Deu alguns passos na direção de Sakura, que explicou rapidamente.

- Acreditamos que Chouji tenha acionado a armadilha, pois ele sofreu mais lesões e queimaduras. Izumo e Kotetsu foram lançados a alguns metros devido à explosão, e então houve um desabamento – A médica nin olhou a kunoichi do vento cautelosamente. – E boa parte do telhado caiu sobre Shikamaru, acertando a cabeça dele em cheio...

Temari sentiu náuseas enquanto as palavras giravam loucamente em sua mente. Desabamento. Telhado. Cabeça. Shikamaru. Quase as mesmas que a enlouqueceram há pouco mais de um ano atrás.

- Nós fizemos uma tomografia, devido ao histórico dele – Sakura continuou num tom profissional e quase vago – Mas ainda não temos o resultado.

A kunoichi de Suna apoiou-se na cadeira logo à frente dela, apertando o encosto nas mãos até que a aliança machucou seu dedo anelar. Aquilo não poderia acontecer duas vezes, não poderia! Olhou de soslaio para Shikamaru, que olhava para algum ponto fixo no chão.

A porta voltou a se abrir e Shizune entrou rapidamente, dirigindo-se até Sakura e lhe entregando um grande envelope. A moça de cabelos rosa abriu-o rapidamente e Ino também se juntou a elas, todas estudando o conteúdo daquele envelope atentamente.

Temari soube desde logo que eram os exames de Shikamaru, e sentiu-se ficar ainda mais nervosa quando elas começaram a trocar olhares e falas quase sussurradas. Aproximou-se lentamente dele, pensando se ele reagiria bem à proximidade dela caso... Não queria pensar naquele caso.

As três médicas nins levantaram a cabeça, parecendo terem chegado a um acordo, e Shizune desapareceu da sala enquanto Sakura aproximava-se de Temari.

- Bem – começou ela num tom solene – Não houve nenhum sangramento interno, tampouco lesões graves.

A médica-nin de cabelos cor-de-rosa sorriu depois de uma pausa dramática que fez com que Temari franzisse ainda mais a testa.

- Ele está bem, provavelmente só com um pouco de dor de cabeça.

Temari suspirou e levou a mão ao peito, sentindo um alívio quase físico. Olhou para Shikamaru e ele retribuiu o olhar, sorrindo levemente e estendendo um dos braços para ela, que se atirou neles prontamente.

- Você cheira tão bem – ele murmurou distraído enquanto deslizava as mãos pelas costas dela.

- Eu saí do banho e corri pra cá – ela se afastou alguns centímetros para olhá-lo nos olhos. – Você está se sentindo bem, meu amor?

- Tenho dor de cabeça, mas pouca. E alguma dor no corpo...

Ela voltou a abraçá-lo, aliviada demais por ser só uma dor de cabeça. Ele poderia ter morrido, ou ter sofrido outra lesão no cérebro...

- Eu tive medo, Kumo – Shikamaru sussurrou no ouvido dela – Medo de te magoar de novo.

- Isso não iria acontecer – ela replicou confiante.

- Kankuro me ameaçou de morte algumas vezes naquela ocasião. Ele cumpriria dessa vez.

- Ele ia ter que passar por mim antes, e Kankuro não é páreo pra irmã mais velha dele – Temari sorriu docemente para o marido.

- Uh-hum – Sakura pigarreou alto, tentando ser notada pelos dois. Voltou a falar quando ambos a olharam. – Pode levá-lo para casa, Temari. Ele vai precisar de repouso, por precaução. E se qualquer coisa anormal acontecer...

- Não vai. – Shikamaru cortou-a rapidamente.

- Tudo bem. Você está de alta.

A loira de Suna ajudou o Nara a se levantar, e ambos iam saindo quando a voz da médica nin voltou a soar.

- Você está de repouso, certo Shikamaru? Isso quer dizer nenhum esforço desnecessário.

Shikamaru revirou os olhos e Temari fez uma pequena careta antes dos dois saírem pela porta. Sakura voltou-se para lavar as mãos na pia.

- Yo Sakura – Ino chamou a amiga. – Você precisa tentar parecer menos mal amada! Aquela recomendação final vai ser completamente ignorada e você sabe disso. Eles não tem nem um ano de casados ainda...

A Haruno se virou quase em câmera lenta e as duas trocaram um olhar furioso que foi interrompido por um protesto de Chouji, que ainda estava sob os cuidados da antiga colega de time.

- Itaii Ino-chan, não precisa judiar!

- Gomen, meu bebê! – Ino desviou a atenção para Chouji, que agora fazia beicinho.

- Eu desculpo com um beijinho.

- Chantagista. – sorriu a Yamanaka, se abaixando para beijar o namorado rapidamente – E você está de regime à partir de amanhã!

Enquanto o casal discutia mais um pouco, Sakura suspirou e pensou amarga que talvez ela realmente parecesse tão mal amada quanto se sentia. Abriu a porta e saiu para o corredor, trombando violentamente com uma massa sólida que reclamou alguma coisa.

- Desculpe. – ela murmurou sem prestar muita atenção em quem era.

- Sem problemas, Sakura.

- O que faz aqui? – ela replicou, reconhecendo a voz e encarando o rapaz à sua frente.

- Vim ver como está o time que retornou daquela missão malsucedida. Não posso vir ao Hospital?

- Você faz o que quiser, Hokage-Sama.

- Ah Sakura-chan, já pedi para que não me chame assim!

Ela deu de ombros e se afastou em passos rápidos pelo corredor, enquanto o rapaz ainda a observava. Então se virou e sorriu.

- O que vai fazer depois disso, Naruto?

- Ãhn? Nada, na verdade. Já terminei o dia no escritório.

- Quer... comer um lámen comigo?

O loiro a encarou sorrindo. Há tantos anos ele esperava por uma abertura, e agora lá estava ela.

- Claro que sim, dattebayo!

-xxxxx-

Temari ajeitou os travesseiros debaixo de um adormecido Shikamaru e sentou-se na beirada da cama, observando o Nara e pensando novamente em tudo o que tinha acontecido. Ela sabia como era a sensação de perdê-lo, e não desejava sentir aquilo nunca mais.

Afastou uma mecha de cabelos escuros do rosto dele, percebendo que ainda estava meio úmido. Sorriu. Havia sido uma batalha enfiar o marido debaixo do chuveiro antes de ele querer dormir, mas como sempre ela havia conseguido, com jeitinho e alguns berros. Colocou o cabelo para trás, afastando-os do curativo que cobria os pontos da testa do Shinobi.

Ele se mexeu levemente e ela sentiu o coração apertado, voltando a imaginar o que teria acontecido se o acidente que ele havia sofrido tivesse conseqüências tão severas quanto aquele de um ano atrás. Ela suportaria se tudo acontecesse novamente, se ele abrisse os olhos e perguntasse quem era ela? Ou pior ainda, suportaria se ele morresse? Apertou os olhos por um momento, tentando afastar os pensamentos agourentos. Se Shikamaru morresse, ela morreria junto. Não tinha a força de Kurenai, que suportou a morte do marido e criava o filho sozinha, e por isso respeitava muito a kunoichi mais velha.

Já se ele perdesse a memória novamente... Voltou a abrir os olhos, observando as feições tranqüilas do ninja das sombras. Ela lutaria para trazê-lo de volta. Não desistiria, como fez uma vez, ficaria e o atormentaria até que ele lembrasse, e se contentaria se acabasse se tornando apenas reminiscência de uma vida da qual ele vagamente se lembraria, um simples fragmento na memória dele.

Ia se levantar quando uma mão a segurou pelo pulso, e fez cara de brava quando um par de olhos escuros se fixou nela.

- Você deveria estar dormindo. – ralhou sem muito convencimento.

- Tsc, eu estava.

- Vou buscar o analgésico que a Sakura receitou.

Antes que pudesse se levantar, Shikamaru puxou-a para si, fazendo com que ela caísse sobre ele; e antes que ela pudesse se mexer braços firmes a abraçaram fortemente.

- Shikamaru...

- Você não precisa ir buscar analgésico nenhum, problemática – ele murmurou – Você é o meu melhor remédio, não preciso de outra coisa.

Temari acabou sorrindo e o Nara segurou-a pela cabeça, beijando-a profundamente. Ela se viu correspondendo e logo ambos se separaram levemente ofegantes. A kunoichi franziu o cenho quando percebeu que seu kimono já estava meio aberto.

- Você sofreu um acidente... está de repouso... – disse sem muita convicção enquanto ele beijava sua orelha.

- Feh, eu estou ótimo. E tudo o que eu preciso agora é de você...

Ela sentiu sua pele se arrepiar e sorriu. Desistiu de discutir quando ele a beijou novamente, e levantou a camisa dele enquanto o manipulador de sombras puxava o obi que ela usava ao redor da cintura de maneira insistente, tentando se livrar dele. Se separaram por um instante, enquanto ele a ajudava a tirar sua camisa, e Temari sentou-se sobre ele, falando num tom que não permitia discussões.

- Ok, preguiçoso. Mas você continua de repouso e portanto não vai fazer muito esforço. – sorriu de maneira maliciosa.

Shikamaru entendeu o que ela quis dizer e retribuiu o sorriso, rendendo-se à mulher a sua frente. Temari era muito mais do que ele havia pedido a Kami-Sama, ele a amava com loucura e sabia que não importava quantos acidentes sofresse ou que o mundo conspirasse para que eles se afastassem, sua Kumo sempre o traria de volta.

Sempre.

FIM.


N/A: estou com uma senação estranha, é a primeira long fic que eu termino. Droga, acho que estou triste!

Queria agradecer todo mundo que esteve comigo durante esse tempo,e se deu ao trabalho de me deixar uma review: Tsutsu-Sama, Kuray Kiryu, Natii-chan, Dark Lien A.B. Niege, Carina-chan, Pussycat Greene Cullen, Juh Hyuuga, Srta. Kyuu, Rama Chan, jAna, thali-chan, Yue_Salles, Ryna-Higurashi, Artur, MasumiChan, Brum-chan,Temaa-chan, Lynna-chan e principalmente Sabaku no T., que foi pra quem eu dediquei essa fic. Sem vocês essa história não teria acontecido!

No mais peço que me perdoem qualquer coisa e espero que tenham gostado desse último capítulo,e também de toda a fic. Ah sim, os fragmentos de música que eu usei são "I remember you" do Skid Row, que é uma banda de Hard das antigas muito boa. ^^ (Tsutsu, Sebastian veio! XD)

T. amoura minha, espero do fundo do coração que você tenha gostado. ^^

Obrigada por tudo gente. =)

Beijos,

Coelha.