Capítulo um: Abandonando Konoha

Por Kami-chan

A noite já caíra, mas ela não se importava, permanecia sentada no banco de pedra próximo á saída da vila com os pensamentos muito longe dali. Aquele banco estava impregnado de memórias e ela costumava ir ali sempre que se sentia triste.

Há muito ela já desistira de ir atrás daquele que havia a abandonado ali há muitos anos atrás, pois percebera com a ausência dele que o amor que imaginava sentir por aquele garoto não passava de um amor infantil e passageiro. O primeiro amor de uma garota e que foi forte o bastante para fazê-la ir atrás dele no começo, mas não o suficiente para acompanhá-la por todos esses anos.

Não, Sakura não amava mais Sasuke. Tinha sim pena do ex-companheiro de equipe que tinha o coração tomado por uma vingança tão tola quanto ele. Afinal matar o Uchiha mais velho não o faria mais feliz nem o tornaria menos solitário, vingar o clã apenas o tornaria igual ao irmão que ele dizia desprezar tanto.

Aquele banco trazia à Sakura a memória de como já fora fraca um dia e superou-se. Esta era importância daquele lugar. Era a força para se superar mais uma vez que ela buscava no acento áspero de concreto.

Após anos de treinamento com Tsunade ela se tornou a melhor kunoichi da vila da folha, ultrapassando até mesmo os limites de sua mestra. Segundo os anciões esta conquista deveria lhe ser confortante, mas algo dentro de si não a permitia acreditar que era o bastante.

Ela não tinha mais o que aprender com a Godaime, era uma ninja de elite e ainda sim, seu papel em missões era ainda o mesmo: Sakura fique aqui e proteja "seja lá o que for que devemos manter em segurança" enquanto o resto da equipe faz o verdadeiro trabalho.

– Sempre me subestimam... – Desabafou para si própria num sussurro.

E era verdade, por mais forte que fosse, parecia que todos viam nela a mesma ninja que era quando tinha doze anos, e que nada que aprendera em mais de uma década depois tinha validade. Ela aguentou isso por muito tempo, sempre confiante que em algum momento isso poderia mudar, mas começava a ficar cansada disso tudo.

Sua cabeça vagava pela última missão que tivera, foi com Naruto e Kakashi. Eles deveriam fazer a segurança do líder de uma aldeia aliada que estava sob ameaça. É claro que tiveram problemas no caminho e apesar de toda força que possui, ela ficou de observadora da luta, protegendo um velho muito grosso que ficava olhando descaradamente para as pernas bem trabalhadas da médica. Sakura jurou que só não o repreendeu a base de agressividade, porque sua missão era o absoluto oposto. No fim se não fosse por alguns arranhões que Naruto adquirira na luta, ela não teria feito absolutamente nada.

– Hey, Sakura-chan, não está me ouvindo o testuda? – A loira precisou sacudir a amiga.

– Ahh.. – Ela estava tão longe que nem vira a loira chegar – Ino? Para de me sacudir, porca.

É, algumas coisas nunca mudam e o "amor" entre Ino e Sakura é uma dessas coisas. Mesmo assim, com o passar dos anos, elas cresceram muito e amadureceram muito e já não eram mais rivais, resolveram suas diferenças – ou a maioria delas – e voltaram a ser grandes amigas. Não havia nenhum segredo entre elas, mesmo porque eram tão parecidas que sabiam o que a outra sentia até em silêncio, por olhares.

A amizade delas estava ainda mais forte de uns meses pra cá, quando se tornaram as únicas solteiras do seu grupo de amigos. Isso não as incomodava, muito pelo contrario ficaram muito felizes ao ver cada casal se formando e seus amigos atingirem mais essa conquista. Também, as duas já tiveram um caso ou outro por aí em sua boa vida de solteira, gostavam de ter como maior companhia e compromisso a amizade forte que uma tinha pela outra.

– Eu sabia que ia te encontrar aqui – Sentou-se do lado da amiga, mas viu que algo estava errado – Esse banco já deve ter o formato da tua bunda, testuda – Tentou irritar a rosada pra ver se melhorava o ânimo da mesma, mas a Haruno nem parecia lhe ouvir. – Ainda bem que tua bunda é pequena, se fosse do tamanho da tua testa não ia ter banco que chega.

– Cala a boca Ino-porca – Foi só o que ela disse por fim.

– Hum.. Como imaginei, pode desembuchar Haruno Sakura – Falou em tom autoritário – O que há de errado com você?

– Quem disse que tem algo errado comigo? – Provocou em falso tom de animação, seguido de um sorriso amarelo.

– Se liga, eu te chamei de testuda e sem bunda na mesma frase e tudo que você disse foi "Cala boca Ino porca" – Falou fazendo uma imitação maldosa da forma como a amiga falava para justificar como sua conclusão era a coisa mais obvia do mundo, para ela pelo menos parecia ser – Vamos, desembucha.

– Minha missão foi um sucesso. – Falou sem emoção nenhuma, dando-se por vencida – E ao que dependesse do Kakashi-sensei, seria um sucesso sem mim também, de novo.

– Are are, parece que conheço bem esse filme – Ino não sabia identificar se voz da amiga soava mais a raiva ou a tristeza, então usou pouca emoção no que falara.

A situação de Ino como kunoichi de Konoha era semelhante a da amiga, se não pior. A loira também treinou com a Hokage, mas diferente da amiga, ela não era um gênio, não aprendera com a mesma rapidez, havia até alguns jutsus que ela não era capaz de fazer ainda, pois seu controle de chakra não era tão bom para tanto.

Se fossem as ninjas de antigamente Ino nunca admitiria este fato, jamais deixaria exposta a conclusão obvia de não foi capaz de fazer algo melhor que Sakura, mas elas haviam mudado. A loira agora entendia que a amiga tinha verdadeira vocação para medicina e até treinavam juntas.

Yamanaka Ino tinha outras qualidades, jutsus que a rosada também não conseguia fazer e isso equilibrava um pouco as coisas, no entanto, durante as missões ela também se sentia um peso morto. Inútil. Seu melhor jutsu só era realmente eficiente quando atacava acompanhada de Shikamaru e desde que o amigo entrou para ANBU, a qualidade das missões que Ino participava caíra muito e isso já estava lhe rendendo menos convocações e missões de níveis mais baixos, o que a deprimia muito.

– Não fique triste, Sa-chan – E colocou a mão no ombro da amiga.

– Ino, é estranho, mas não estou triste – Seu tom era baixo, porém determinado – Eu.. ahh – suspirou fundo – Apenas estou cansada, cansada de ter tanto para dar e ser sempre deixada de lado. – Falou olhando para os braços que estavam com punho fechado.

– Acho que entendo você – O desabafo foi sincero. – Às vezes sinto muita vontade de abandonar essa vila.

– Fugir? – Sakura pareceu ter voltado ao normal.

– Sakura-chan, você já ultrapassou a vovó, talvez não seja reconhecida como deseja, mas conquistou algo. Mas e eu. O que eu consegui aqui? Talvez em outra vila eu pudesse encontrar alguém que me treinasse, afinal, não sou tão mal assim, talvez medicina não seja pra mim, mas ainda assim meu controle de chakra é muito acima da média, deve haver algo em que sou realmente boa – Respirou fundo – Mas presa a esta vila talvez eu nunca venha descobrir isso.

– Você é realmente boa Ino, é uma kunoichi muito forte e inteligente. Essa gente é que não sabe reconhecer.

Houve um silêncio sepulcral entre as duas. Sakura era a melhor kunoichi da vila, mesmo assim era sempre subjugada e acabava dando pouco de si nas missões, e mais uma vez viu seus pensamentos irem para longe;

"Quão forte uma ninja deve ser para ser reconhecida?" – Perguntou-se e sentiu uma raiva crescente por todos que a subestimavam.

Ino era esforçada, fazia bem o seu trabalho e sabia como tirar o melhor de seu jutsu mesmo com as peculiaridades do mesmo, mas ainda estava longe dos níveis dos ninjas de Konoha. E sem perceber estava tão perdida me pensamentos quanto sua amiga;

"Eu sei que há algo em que posso ser a melhor" – Pensou, imaginando em o quanto queria ser reconhecida.

Ambas eram destemidas, não tinham medo do destino e não tinham mais nada a perder. E o que era apenas um dia de tristeza, se tornou o momento que marcou a maior mudança de suas vidas.

– Porquinha? – Sakura quebrou o silêncio, fazendo Ino olhar para ela.

– Fala testa de marquise.

– Se ainda quiser abandonar essa vila, terá uma companheira – Sua voz saiu calma, até mesmo doce, mas muito determinada – Pois se desistir saiba que não vou mais voltar para essa vila. – E levantou-se.

– Sakura-chan – Ela assumiu uma feição muita séria e determinada – Aqui eu não tenho nada a ganhar e lá fora nada a perder. Eu que quero um dia alguém possa dizer "essa era a técnica usada por Yamanaka Ino, ela foi a melhor no que fazia" com respeito ao pronunciar meu nome.

– E eu quero ver ninjas fortes serem subestimados pelos governantes de sua vila, quando souberem que deverão enfrentar Haruno Sakura pelo caminho. – Olhou para amiga loira, e sem falar nada saíram em direção aos portões.

Sabiam que o que estavam fazendo talvez não seria compreendido por ninguém, mas elas sabiam que era exatamente o que deveriam fazer. Esse era o caminho certo para elas, o caminho que as levaria para a realização pessoal de cada um daqueles corações que, ao mesmo tempo em que eram destruídos por todos da vila, batiam forte com coragem, certeza e esperança.

– Sakura? – Ino resolveu quebrar o silêncio – Tem algum plano em mente?

– Não – Disse com simplicidade – E esse é exatamente o plano – sorriu.

– Como assim? Assim que sentirem nossa falta, terá um esquadrão ANBU atrás de nós – ela estava um pouco preocupada, esperava que a Haruno tivesse algum plano.

– Nós vamos continuar seguindo em frente, sem destino, sem compromisso, ser útil por onde passarmos, parar para ajudar a qualquer vila que realmente esteja precisando – ela nem pensava no falava, as palavras apenas iam se formando – Entende Ino? Vamos para onde nossas pernas nos levarem. Disse tirando sua bandana e guardando na mochila. Em algum destes lugares encontraremos o caminho certo.

– Hai, Sakura-chan. – Disse repetindo o ato da parceira.

E assim seguiram rumo a lugar nenhum, a mando de ninguém.

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– Você cego não me serve para nada! – O líder estava realmente incomodado com a repentina notícia.

– Eu sei disso, por isso vim falar com você antes de ficar cego. – Sua voz era baixa, calma e rouca, porém intimidadora – Mas se você me mantiver aqui, continuar a me mandar atrás de bijus, vou perder totalmente minha visão muito antes do que imaginas. – Disse de forma simples.

O líder deu uma bufada, ele estava furioso com o fato do Uchiha lhe esconder algo tão importante que poderia por em risco os planos da organização. Um Uchiha cego não lhe servia para nada, mesmo Itachi sendo o seu melhor homem.

– Me deixe ir atrás da médica-nin de Konoha – Ele sabia que seu pedido não seria bem vindo, poderia estar passando demais dos limites impostos entre líder/subordinado, mas era preciso, ele temia o poder do líder, entretanto temia muito mais perder o seu precioso e quase totalmente extinto poder.

– A Princesa Tsunade? – Seu tom soou cínico – Será que falta de visão está afetando teu cérebro também?

Itachi respirou de forma mais profunda, aquela era uma reação típica, mas ainda assim positiva. Sabia que Pain teria uma reação do tipo, esse era um dos motivos pelo qual ainda não havia contado a ele a real situação de sua saúde. Bem, Itachi ainda não havia sido morto por um ataque de fúria do ruivo do destino, então, continuou no mesmo nível.

– Você tem passado muito tempo trancado aqui mesmo, hum – Falou em tom de deboche – Ela treinou uma garota pelos últimos anos, os boatos são de que a garota é um gênio da medicina e até já ultrapassou o poder da Godaime de Konoha na arte da cura – Parou para decifrar a fisionomia do líder e acreditando que aparentava ter gostado do que ouviu, prosseguiu – Já tive a oportunidade de encontrá-la no passado, tem um controle de chakra quase perfeito e uma força sobre humana, você também já ouviu falar dela – Olhou profundamente para Pain. – Essa ninja matou Akasuna no Sasori dez anos atrás – Pain apenas balançou a cabeça afirmativamente.

– E você pretende sequestra-la, imagino.

– Hn.

– E acha que dá conta? – Usou tom de deboche – Levando em conta tua situação atual – Olhou com raiva – Não terás sharingan para ajudá-lo – Finalizou de cara fechada.

– Pode ser... Mas ela não sabe disso. – Permaneceu inexpressivo, mas parou para escolher as melhores palavras – Eu não pretendo ir sozinho, preciso de um companheiro – Odiava admitir que não estava em condições de ir sozinho.

– Leva o Tobi contigo.

O moreno de sangue frio teve que se controlar para não bufar o descontentamento. Era assim que o ruivo pretendia o castigar? Por maior que fosse seu respeito pelo rinnegan, odiava os momentos infantis do ninja da chuva. Sabia que Pain não fazia ideia dos verdadeiros dons daquele a quem chamava de Tobi, ainda assim, não queria os sermões do seu sensei neste momento há muito avisado pelo mesmo, precisava da companhia de outra pessoa.

– E os outros? – Não se preocupou em deixar o descontentamento transparecer na pergunta.

– Não devo satisfações dos planos que tenho para cada ninja daqui – falou autoritário – Estão todos fora.

– E Konan? – Perguntou o moreno atrevido, sabendo que tocara no ponto fraco do ruivo. Quase permitiu-se sorrir ao sentir como o clima da sala mudava.

– Te liberei o Tobi – Porque todos naquele lugar sabiam que Pain nunca estava nem um pouco disposto em se quer em pensar na hipótese de mandar sua ninja em missões sem sua presença protetora.

"Sua ninja"

O pensamento intrometido cortou a linha de raciocínio do líder que desviou o olhar pela ampla mesa que se impunha entre ele e Itachi. Mas logo voltou a encará-lo sem perder mais o foco.

Do ponto de vista de Itachi, a linguagem corporal dos pequenos atos inconscientes do líder mostrava que aquela discussão estaria ganha assim que evocasse sua grande advogada. Nem um pouco preocupado em esconder o cinismo ao proceder do jeito como bem queria.

– Konan.. – Chamou olhando para a sombra no canto da sala onde ela costumava ficar fazendo seus origames, fazendo suas notas mentais sobre as observações mudas sobre tudo o que acontecia naquela sala.

– Pain-sama – Falou a voz feminina vinda das sombras – Deidara-kun deve chegar amanhã, talvez fosse melhor mandar ele com Itachi-kun.

O Uchiha estava rindo por dentro, ele sabia que a garota de cabelos azuis simpatizava com ele e Pain embora desse uma de machão, sempre fazia o que ela pedia. Itachi sabia desde quando cogitou o nome dela, que ela não aceitaria sair da sede se não fosse em missão com o amigo de infância, mas com certeza o deixaria com uma companhia melhor que Tobi.

– Líder-sama, gostaria que Tobi permanecesse aqui, pois tenho algumas missões pessoais para ele. – Mentiu. – Tenho certeza que Deidara não nos fará falta por alguns dias e será mais útil ao Uchiha, afinal já encontrou com a ninja de Konoha antes e Tobi não – Estava terminado, ela dera a ele uma razão para concordar com ela, sabia que sempre poderia contar com o bom senso de Konan.

– Pode ser – Disse Pain – Se Tobi já tem missões futuras e Deidara está por chegar, leve-o com você.

"Bem mandado você, hem líder-sama! Como é previsível." – Foi o que pensou, mas logo se levantou da cadeira em que estava sentado e se inclinou em uma mensura respeitosa.

– Hai – Foi tudo que disse em sua habitual falta de emoção.

Ele saiu pensando no que faria, trabalhar com Deidara seria algo novo e com certeza difícil, pois Itachi era amante do silêncio e das meditações. Apenas este pensamento foi capaz de fazê-lo suspirar, sabia que seus dias de "paz" e silêncio estavam no fim, podia não conhecer bem Deidara, mas sabia que obter silêncio era piada perto do loirinho explosivo da Akatsuki.

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– Você está preocupado – A bela kunoichi saiu finalmente das sombras.

– Uma vez que fique totalmente cego ele perde todo poder que tem, o que me importa ele ser tão poderoso se não for útil à organização.

– Tá – Ela sabia que era verdade, mas não era tudo, mesmo assim deu o assunto por encerrado.

– Por que fez isso? E para que precisa tanto do Tobi?

– O que foi que eu fiz? – Perguntou de forma retórica com um sorriso desordeiro no rosto.

Konan era a única pessoa próxima o suficiente para agir daquele jeito leviano com o ruivo respeitosamente temido. Eles discutiam naturalmente como dois irmãos, para ela ele não era o líder da Akatsuki, era apenas Nagato, o menino que encontrou na chuva quando era criança.

– Você sempre defende o Uchiha – A irritação era claramente notada, mas Konan não se intimidava por tão pouco.

– Simpatizo com ele... Assim como você também o faz – Ela disse com simplicidade – Sei que queria mandar o Tobi só para irritar Itachi, por ter deixado o problema chegar ao nível que chegou para pedir ajuda. Mas exatamente como você, ele apenas é orgulhoso e teimoso demais – E também porque seria imprudente mandar um cego e um caolho em uma missão como essa – Sua voz era sempre doce – Obrigada por atender ao meu pedido – Sorriu como só fazia para ele – Apenas preciso de Tobi aqui.

Aquilo foi tudo o que Konan se dignificou a dizer antes de se acomodar em uma das poltronas do local. Com delicadeza tirou um pedaço de papel de dentro das veste e começou a dobrar e redobrar o mesmo com cuidado e precisão.

Ele não estava satisfeito, queria saber o que ela queria com Tobi e não sabia bem o porquê, mas não gostava nem um pouco de ouvi-la dizer que simpatizava com Uchiha Itachi. Queria discutir, mas o sorriso sincero que ela lhe dava o calara, ele sempre se rendia àquele sorriso, e apenas o retribuiu deixo-a sozinha na sala com seus origames.