Capítulo XV: INDULGÊNCIA
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- Onde ele está? - gritou Renji, fora de si, enquanto entrava na sala da amiga de infância.
Há alguns minutos havia sentido a reiatsu de Kurosaki Ichigo, a quem decidira jogar a culpa pela tristeza da morena.
Porém não o encontrou, e nem a Rukia, mas sim às integrantes da A.M.S. e sua namorada, todas amontoadas em frente à janela. O que estariam tentando ver?
- Renji-kun…- disse Keiko.
- Onde está aquele imbecil? Quando o encontrar eu vou…
- Tsk... Isso já não é mais necessário - disse Matsumoto – Conseguimos com que Kia-chan aceitasse escutar o que Ichigo tem a dizer.
- O que? Então realmente foi Ichigo. Ele é o culpado! Eu…
- Você não fará nada, Renji – ameaçou Matsumoto, as mulheres lhe dedicaram um olhar assassino – A associação de mulheres shinigamis já se encarregou de tudo. Dentro de um instante eles voltarão aqui como se nada tivesse acontecido.
Renji a olhou com ceticismo, porém percebeu que não havia nada que ele pudesse fazer; em primeiro lugar, porque se tentasse algo, essas loucas seriam capazes de queimá-lo vivo; e em segundo, porque talvez essa fosse a única forma de resolver a situação. Ah! Mas se o contrário ocorresse, Ichigo iria desejar jamais ter nascido.
- Acha mesmo que tudo ficará bem? - perguntou Nanao a Matsumoto, em voz baixa.
- Claro. O que poderia dar errado? – respondeu.
- Às vezes, teu otimismo me assusta.
Ichigo seguiu Rukia durante um bom tempo. Saíram da Sereitei e adentraram ao bosque por um caminho; após alguns passos, o garoto se deu conta de que era o mesmo lugar do seu sonho... Por acaso...? Chegaram ao final da trilha e ele, instintivamente, colocou a mão sobre a empunhadura de Zangetsu.
A pequena Kuchiki não percebeu esse detalhe e se sentou à beira do penhasco. Dali podia se ver facilmente quase todo o Rukongai, era uma vista espetacular.
Ele a observou, parecia muito concentrada olhando para algum ponto entre os distritos. Kurosaki suspirou mentalmente, pelo jeito ele teria que ser o primeiro a falar.
- Vejo… que você ainda gosta de lugares altos... – comentou o ruivo. Ela não lhe deu atenção. Ele, distraidamente, coçou a cabeça - Etto… Kon está sentindo muito a sua falta, sabia? E também Yuzu… agora que me lembro, um dia desses me pergun...
- Pare …- cortou a morena, girando o rosto e o olhando-o nos olhos – Foi por isso que me chamou?
- Eh…não… eu…- Ichigo desviou o olhar, arrependido. Uma voz em sua mente lhe dizia que deveria ter planejado melhor o que fazer, nem que fosse um Chappy deveria ter trazido, ao menos isso ajudaria a amolecer seu coração. Abriu a boca para falar algo, pensou melhor, a fechou, voltou a abrir, porém nada disse.
Rukia perdeu a paciência e ameaçou se levantar, mas o garoto, desesperado, a segurou pela mão.
-Não vá, Rukia – suplicou o Morango. A garota se surpreendeu. Ele pedindo? Deixando de lado o seu orgulho? Suspirou e voltou a se sentar, ainda com a face inexpressiva (ainda que uma parte dela estivesse adorando isso...). Dirigiu o olhar para sua mão e ergueu uma das sobrancelhas, o garoto, ao se dar conta, a soltou imediatamente.
- Rukia… o que eu posso fazer? - a shinigami o olhou sem acreditar no que ouvia. Esse era seu modo de pedir desculpas!? Esse cara não tinha nada em sua mente que lhe dissesse como agir?! Supôs que a consciência do garoto andava de férias ou algo assim... Franziu o entrecenho, já tinha perdido a pouca paciência que lhe restava. Não estava ali pra isso. Já não conseguia suportar mais a vontade de reclamar e de gritar com ele.
- Não sei por que pergunta, segundo entendi, o que eu tenha a dizer não te importa – comentou a morena, afinal, isso sim, Ichigo havia falado (a A.M.S deixou escapar esse "detalhe"...).
- Bem … a verdade… é que eu não sei o que você queria me dizer… Me confundi… - murmurou Ichigo.
Rukia, então, voltou sua atenção para ele. Não sabia? Então, o que ele pensava que...?
- E se pode saber o que você achava que era?
- Eh… eu… Achava que ia me contar… que estava tendo um caso com Renji…- ela arregalou os olhos pela surpresa.
- O que? O que? Por que pensou isso? - lhe perguntou.
O ruivo hesitou por um instante, mas logo percebeu que o melhor era dizer a verdade, contou tudo, porém omitiu o verdadeiro motivo pelo qual fora visitá-la naquela sexta-feira.
- IDIOTA!- gritou Rukia, ao mesmo tempo em que lhe batia na cabeça – Como pode pensar essas coisas de mim? Bastardo! - e voltou a golpeá-lo.
Ichigo não fez nada para se defender, pois sabia que merecia, mas também porque lhe alegrava o fato da garota estar deixando sua frieza de lado.
Rukia suspirou pesadamente, se sentou e olhou para o garoto, que agora massageava a cabeça dolorida. Peraí... Então... Ichigo se comportou assim… porque achou que ela estivesse namorando com Renji? Eram ciúmes? A pequena Kuchiki se irritou consigo mesma por considerar essa hipótese... Como poderiam ser ciúmes? Ele estava com Inoue!"
- Rukia… desculpa… por haver dito isso e por tudo mais.
- Tonto. Não foi você, foi o outro...
- Então… Acredita mesmo que não fui eu?
- Ah…- respondeu, com sinceridade – A culpa foi minha, deveria ter percebido que havia algo estranho nisso tudo ... Nem sequer me preocupei em analisar se era mesmo a sua reiatsu, eu...
- Não! – interrompeu Kurosaki – Não tome a responsabilidade para si, como sempre faz! É minha culpa, se você acreditou, foi porque abri a possibilidade para que pensasse isso. Porém, não é verdade Rukia, você jamais foi um estorvo pra mim... Pelo amor de Deus, Rukia! Sem você eu não estaria aqui... Sem ti eu não... Você... Pra mim... – ele bagunçou os próprios cabelos, sem saber o que deveria fazer.
Rukia o observou atentamente, sentiu que a mágoa passava, mesmo que não quisesse.
- Realmente, não concorda com nada do que "o outro Ichigo" me disse? – perguntou a morena.
- Claro que não, Rukia! Bem, é verdade que às vezes você é muito irritante, desenha mal e... - ela lhe deu um soco. Acaso esse homem não tinha mesmo voz interior?- Mas… também é alguém muito especial para mim e uma grande amiga.
"Amiga?"
- Me perdoa, Rukia?- a pequena shinigami fez pose de quem está pensando bem, o que deixou Kurosaki impaciente. Abaixou-se para reclamar e de repente ela levantou o rosto. O âmbar se encontrou com o violeta quando os olhares se cruzaram. Suas faces perigosamente próximas – Me perdoa? Voltou a perguntar. Seus lábios quase se tocando.
-Ah…- respondeu a morena. Ele sorriu. Não podia acreditar que por um momento, esteve a ponto de perdê-la. Seu cabelo negro azeviche, sedoso como o veludo; seus belos e enigmáticos olhos violetas com um tom azulado; sua branca pele como o leite, ainda que a ela mesma não agradasse; sua expressão hermética, que num abrir e fechar de olhos, poderia mudar para a de uma menina levada de 5 anos...
Se aproximaram ainda mais, ele fechou os olhos, ela também, e justo no momento em que iam se beijar, a consciência de Rukia lhe golpeou. Não podia fazer isso com Inoue (por mais que um lado seu estivesse gritando "que se dane!"). Ichigo agora era namorado de Orihime e não havia nada que pudesse fazer... Baixou o rosto, deixando o garoto desconsertado e decepcionado, até que instantes depois, ele compreendeu porque ela agira assim. Voltaram a se sentar, e a garota logo indicou com o dedo um ponto do Rukongai.
- Está vendo ali? - o shinigami assentiu - Naquele lugar, há uma enorme árvore de cerejeira, dizem que os casais que a visitam no dia em que se conheceram, tem... Ehmmm… o que poderia se chamar de boa sorte... Humm... Deveria levar Inoue ali algum dia – murmurou a garota com um sorriso triste.
Ichigo a olhou minuciosamente, não, ainda não podia lhe dizer a verdade…. Primeiro teria que esclarecer tudo com Inoue… e também descobrir quem foi o maldito responsável por essa armadilha.
Ambos permaneceram ali… sentados… sem falar mais nada… entre eles as palavras, às vezes, não eram necessárias… Porém, enquanto juntos observavam o belo crepúsculo que se apresentava... Não puderam evitar de sentir um quê de melancolia...