IV

_Por favor, me explica de novo por que eu aceitei fazer isto?

_Provavelmente por que você quer impressionar a Samantha com seu jeito metrossexual de ser._Sam respondeu, olhando para Dean na porta do closet, vestido com uma calça de lycra azul piscina com listras amarelas e brancas na lateral, e um top combinando, que deixava toda a área abaixo do plexo solar à mostra. Era uma das roupas de ginástica de Jessica, e fazia parte das condições para ficar invisível para a Tecedeira. Já tinham discutido bastante sobre isto. De início, precisavam apenas invocar a tecedeira, esperá-la vir, e cortar o fio de prata que ela costumava arrastar atrás de si e que a faria fugir voando ao primeiro toque, com uma tesoura de prata. Depois bastava furá-la com uma agulha velha, o mesmo material usado para invocá-la. Isto a destruiria.

O problema é que como ela não viria se percebesse que seria observada, a Sra. Havasy explicou que o único modo de ficar invisível aos sentidos dela era vestir-se com as roupas de Jessica. A Tecedeira acreditaria que era apenas a presença de um fantasma, e ignoraria a presença de quem estivesse lá.

Samantha ofereceu-se para isto, mas os irmãos cavalheirescamente lhe disseram que seria arriscado demais. Se algo desse errado Samantha poderia se machucar seriamente, e mesmo que o pior não acontecesse, eles podiam perder a oportunidade de destruir a tecedeira.

Então, decidido que Samantha estava fora, havia um problema. Na verdade, dois. O primeiro surgiu quando foram pegar as roupas de Jessica. Sam começou a por empecilhos até mesmo para que Dean mexesse nas peças que escaparam do incêndio, e que estavam agora ali mesmo, na casa de Samantha.

_Ei, eu não quero você mexendo nas roupas intimas da minha namorada!_ele chegou a dizer, ao perceber que Dean era completamente insensível aos seus sentimentos.

_Ei, Sammy, ok. Eu não pensava em usá-las, mesmo! Então só um de nós veste as roupas dela. E já que você era mais... Intimo dela, você veste. Desta vez, eu fico com a parte fácil de destruí-la com uma agulha minúscula._Dean se fez de ofendido e saiu de perto, afinal de contas já estava ficando cansado deste apego absurdo de Sam por Jess. Que afinal de contas, era bem mais doidinha que eles dois. E Sam com medo dela saber a verdade sobre sua família, ha!

Sam corou ao perceber que talvez estivesse extrapolando. E ele bem que tentou, com as roupas mais folgadas que encontrou. Mas jess não usava roupas folgadas, e era bem menor que Sam. Todas rasgaram ou nem entraram. Antes que ficassem sem peças de roupa, Sam teve que procurar o irmão e admitir que as roupas de Jess não eram tão importantes quanto salvar Samantha.

Agora, ao ver o irmão naquela situação constrangedora, não conseguia deixar de rir e pensar que o irmão mais uma vez estava certo, havia alguns sacrifícios a serem feitos e se devia estar disposto a eles. Dean estava se sacrificando, bem o conhecia.

-Obrigado._falou.

_Obrigado? Por quê?_Dean estava com o humor tão suscetível quanto uma mulher na TPM.

_Por isto.

_Por parecer o Timberlake imitando a Beyoncee? Foi a única que serviu!

_Bom, aposto que Samantha até poderia chorar se ficasse observando seu abdômen definido nesta roupinha._Sam comentou, não resistindo em provocar o irmão. Era uma oportunidade rara de inversão nos papeis de cada um.

_Acho que vou desejar nunca mais ter que me sujeitar a nada tão constrangedor novamente.

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Perto da janela, o bordado com o nome de Sam e uma mancha de sangue esperava até que a tecedeira chegasse. Como temiam que Samantha ficasse sozinha, ela e Sam estavam do lado de fora da casa, em alerta, apenas aguardando a hora certa para Sam subir. Precisavam de distância. O mais velho aguardava no quarto, com a tesoura de prata, se sentindo péssimo e esperando que Samantha não precisasse vê-lo daquele jeito.

Sam foi quem percebeu ao longe, a porta da casa se abrindo. Samantha apenas abriu a boca numa expressão de pavor incrédulo, embora estivesse absolutamente convencida do que acontecia. Sam segurava o sua "Holy .12", por via das dúvidas, quando passou a mão na lapela do bolso, onde tinha espetado a agulha de 30 anos que a Sra. Havasy tinha dado. Mas ela não estava mais lá.

_Samantha. A agulha! Eu perdi!

_Oh meu Deus!_Olharam para o gramado onde estavam. Se ajoelharam desesperados, iniciando a procura. Estavam na terrível situação de quem procura uma agulha num palheiro.

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Dean viu a porta se abrir e uma criatura corcunda, baixa e com o rosto de uma velha horrenda e triste, apareceu. Era amarelada e deprimente, mas não era a coisa mais assustadora que Dean já tinha isto. Poderia dizer que até já tinha visto pessoas mais feias em sua vida. Fora o fato de deixar atrás de si um fino fio de brilho sobrenatural, e que ela tinha uma boca de enormes lábios pendentes e cortados em vários pontos, Dean achava que ela até daria uma boa fada madrinha.

Ela olhou fixamente para Dean, que não conteve o nervosismo da situação e lançou um sorriso amarelo de volta. Mas ela demonstrou que sequer o tinha visto, voltando sua atenção para o bordado. Mas os movimentos dela eram exasperadamente lentos, Dean sabia que era por causa do fio de prata, era como se ela fosse o produzindo conforme andava. Mas tinham sido alertados que assim que cortassem o fio, apesar de impossibilitá-la de fugir, ela não ficaria tão inofensiva. Dean teve que esperar ela se debruçar sobre o bordado para saltar atrás dela e passar a tesoura no fio de seda. Ela soltou um guincho horrível e Dean pensou pronto, agora é a hora em que eu apanho pra caramba até o Sam chegar. Ainda bem que estou com roupinhas de luta livre.

Dean era experiente demais para estar errado, o safanão que levou não foi plenamente absorvido, e algumas criaturas sobrenaturais tinham o péssimo hábito de serem extremamente fortes, rápidas, e de não sentirem dor. Dean bateu as costas na parede e ficou ligeiramente atordoado, mas não o suficiente para desistir da luta. Voltou a agarrar a Tecedeira. Tudo o que ele tinha que fazer era mantê-la ocupada até Sam enfiar a agulha, mas... Onde estava Sam?

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Foi Samantha quem achou a agulha, eles já ouviam os baques surdos dentro da casa, e assim que ela entregou a Sam , ele correu, passando por cima da linha prateada que subia a escada. Foi como se tivesse levado menos de um segundo para subir, e deparou-se com Jessica ao lado da porta onde estava Dean e a tecedeira. Ou melhor, com o espírito dela, que o encarou com expressão de surpresa e dor...

Ela queria falar alguma coisa, Sam sentiu o coração falha ruma batida. Seria um truque da tecedeira, ou realmente o espírito de Jessica?

Lá dentro, outro baque surdo contra a parede, os chiados da criatura eram assustadores._Sam?!_ A voz de Dean perguntava por ele, aquele tom de urgência que só o irmão sabia fazer.

Era uma decisão difícil, mas Sam já tinha escolhido uma vez: chutou a porta com força, e em duas passadas largas, alcançou as costas da tecedeira, que sufocava encurralado na parede. Cravou a agulha em sua espinha, até que sentisse que a própria mão tinha sido ferida pela extremidade rombuda da agulha.

A Tecedeira chacoalhou-se toda, girando sobre si mesma com um guincho agudo e horripilante. Enquanto Dean esfregava a própria garganta, aliviando o machucado, observavam a criatura encolher e encolher enquanto vibrava e chiava como um objeto no fogo, até tornar-se uma pequena aranha. Sam pisou com sua bota sobre ela, pondo um ponto final no assunto.

Epilogo

Os irmãos já estavam no Impala, saindo de Carmel, ambos pensativos com a aventura que viveram. Sam está ansioso para fazer algumas perguntas, mas imagina que Dean está irritido porque, enfim, Samantha o tinha visto vestido com a roupinha de lycra.

_Você acha que agora Jessica está bem? Quer dizer... Agora ela vai poder partir em paz?_foi Dean quem o surpreendeu com a pergunta mais inesperada que Sam poderia esperar hoje. Jamais imaginaria que o irmão estivesse pensando nisto.

_Costuma funcionar assim, não é? Gosto de pensar que sim._Não achava muito sábio comentar com Dean que tinha visto o espírito dela do lado de fora da porta. Dean ficaria metido, ou preocupado com ele.

-Eu também.

Um pequeno silêncio se interpôs entre eles, até que Sam o quebrou?

_Samantha tinha gostado de você. Eu vi vocês conversando antes da gente se despedir dela._Sam tinha percebido muito bem o interesse dela no irmão, depois de todo o apoio. E mesmo depois da roupinha.

Dean suspirou, depois passou a mão na barba por fazer, torcendo os lábios na velha expressão de desconforto que Sam conhecia muito bem.

_É... teria sido interessante.

_Teria sido... Interessante?! _Sam exaltou-se, incrédulo._Dean, você está com febre? Eu sei muito bem que ela é a sua musa! E ela... Bem, ela sabe que você é um caçador!

_E pode continuar sendo, não é?

Sam riu, balançando a cabeça. Às vezes Dean era mesmo demais.

Ainda tinha uma pergunta, mas não a faria hoje. O que Dean tinha desejado, afinal?