Desculpa a demora! Mas aqui está =)

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Espada


No dia seguinte,enquanto Magritte ainda dormia por ser muito cedo, eu segui Aeric até sua oficina.

"Está vendo? Esta é a forja. É aqui que aqueço o metal para que ele fique temperado."

Neste momento fiquei imaginando o metal das estrelas salgado demais, Aeric notou minha expressão estranha e se apressou em me explicar o que temperar o metal era, esperar que o metal líquido esfriasse lentamente e se tornasse maleável, para poder ser moldado, porém com ligas mais resistentes , mas só após ter terminado de rir de minha tolice. "Você é tão boba,Clara."

Não me incomodava com isso, ele falava de um modo que me parecia terno e eu gostava tanto de ouvir seu riso cristalino que valia qualquer coisa para fazê-lo rir, mesmo que fosse as minhas custas.


Então todos os dias eu ia visitar Awdrina e ela me recebia como se fossemos amigas o que era novidade pra mim. Nunca tinha tido uma amiga.

Magritte ficava lá, pois Awdrina tinha uma cadela chamada Stein com a qual Apfel logo se entrosou e minha filha também. Se Wilhelm visse sua filha rolando no chão ficaria horrorizado e foi esse pensamento, por mais mesquinho que possa parecer, que me fazia deixá-la lá brincando.

Quando voltava para a cabana de Aeric ele prontamente me levava para sua oficina onde ficávamos conversando enquanto ele trabalhava.

Isso se repetiu por mais ou menos um mês. Todo dia de manhã eu levava Magritte até a casa de Awdrina, onde com o passar do tempo passei a aprender sobre ervas curativas, e depois eu ia até a oficina.

"Preciso testar essa espada."Aeric comentou um dia comigo após termos conversado horas sobre, bem , sobre tudo. Conversa na qual ele havia ficado sabendo um pouco mais sobre mim, sem querer. Coisas que dizia a esmo eram o suficiente para ele delinear todo um panorama sobre a minha vida prévia, mas ele ainda não sabia que eu era a rainha do reino vizinho. E eu nem queria que soubesse. Tinha medo de que resolvesse que era melhor eu voltar para meu marido.

"Quer que chame Awdrina?" Perguntei me levantando prontamente, mesmo porque já estava perto da hora de eu ir buscar Magritte.

"Não." Ele sorria e eu imediatamente senti minhas pernas amolecerem, era bastante patético o efeito que seu sorriso tinha sobre mim. "Quero que você me ajude."

Antes que eu pudesse me negar ele me jogou uma pequena espada de mão e veio em minha direção em posição de ataque.

"Ma-mas eu não sei lutar!" Balbuciei nervosa enquanto me afastava dele.

"Por isso te ensinar. Se quer viver sozinha tem que saber se defender." Ele ficou sério subitamente e sua voz áspera, metálica. " O mundo é um lugar perigoso, principalmente para as mulheres."

Seus golpes eram lentos , porém precisos. Sua longa trança voava de um lado para o outro e eu, estabanada e assustada mal conseguia me defender.

"Por que você tem tanto medo de reagir?' Aeric perguntou enquanto movia sua espada de modo a me desarmar. Minha espada caiu com estrépito e foi com muita força de vontade que consegui não me jogar no chão. Ele colocou a espada que usava sob a bigorna e depois se virou pra mim me encarando muito sério.

Por eu não ter respondido ele deixou pra lá, nunca me pressionava a responder ou fazer qualquer coisa. Me deixava extremamente nervosa no começo essa liberdade excessiva , mas com o passar do tempo eu me acostumei.

"Vou buscar Magritte." Murmurei enquanto ele limava um pedaço de metal. Aeric sorriu pra mim e eu perdi o fôlego, o que me fez ficar rubra de vergonha e sair correndo de sua oficina.

No caminho cheguei a conclusão de que não reagia ou me defendia por força do hábito. Por mais que eu tivesse fugido da minha gaiola dourada eu ainda estava presa num padrão de comportamento com poucos laivos de, não tanto de rebeldia, mas como ele havia dito, de reação.

"Olá , bem na hora, Magritte estava perguntando por você." Fiquei mortalmente , aos poucos, estava se acostumando em me ter por perto.

"Mamãe!" Ela se jogou no meu colo e encheu meu rosto de beijos. " Você não sabe, hoje Apfel fez uma coisa muito feia!" E começou a desfiar toda a história de como o cachorrinho havia tido um ataque e tentado morder Stein e como ela havia ficado muito brava com ele e ficado de mal.

Awdrina se dirigiu para floresta como sempre fazia depois que eu e Magritte íamos embora. Observei seus longos cabelos louros balançando numa trança pesada o que me fez pensar em outra trança mais escura e senti meu coração pesar.

"Vamos apostar corrida,amor?" Perguntei pra menininha que pulava como um cabritinho. Eu me espantava com a energia dela cada dia mais. Parecia nunca ficar cansada ou triste, seu temperamento era uma benção para mim. O que me deixava triste ao pensar o quanto da pequena vida dela eu havia perdido. Mas não fazia mal, eu ia recompensá-la com meu amor incondicional agora.

"Apfel pode brincar também mamãe? Pode? Ele pode?" Ela perguntou esperançosa.

"Claro! Vamos lá! Quem chegar no riacho primeiro vence, está bem?" A época de chuvas havia voltado, embora este riacho , em particular, fosse alimentado por um rio do véu mágico e não tivesse secado, estava mais caudaloso. "Mas sem entrar na água, ouviu?"

"Está bem mamãe."

"Um, dois e já."

Saímos correndo em disparada. Apfel se enroscava nas nossas pernas e eu agarrava Magritte e a impedia de correr e ela ria e gritava. Ficamos nesta brincadeira até o ocaso. O céu tingido de laranja e púrpura e nós duas de marrom por causa da terra.

Quando voltamos pra casa ,depois de tomarmos um banho quente, pois o tempo já começava a esfriar, fiz uma sopa e coloquei Magritte na cama. Queria esperar Aeric acordada, mas ele não aparecia, quando comecei a me preocupar a porta se abriu e ele entrou.

"Onde você esteve?" Perguntei num ímpeto de irritação que foi mais rápido do que minha constante necessidade de me conter."

"Ora, ora quem costuma perguntar isso sou eu, não é mesmo?"

Ruborizei e não consegui responder. Gradualmente eu havia começado a dar passeios sozinha e esquecia de avisar, levava minha filha e Apfel comigo e sumia por horas inteiras nas tardes de Sol. Eram momentos em que minha submissão sumia e eu tinha que aproveitar, por isso não me ém porque Aeric dizia ser irritante minha mania de me desculpar. Estava, aos poucos, me livrando da antiga Clara.

" Estava provocando você, Clara. Não precisa ficar vermelha. Fui ao povoado entregar a espada para Aldebaran." Aeric se explicou sorrindo pra mim com uma expressão estranha em seus olhos cinzentos.

"Ah." Assenti ainda mais vermelha. "Eu fiz sopa."

"Está cheirando muito bem." Ele murmurou ao passar por mim e eu estremeci. A presença dele me fazia ter sentimentos estranhos. Ele havia sido muito bom pra mim, ainda era e eu não sabia como agradecer. "Onde arranjou os ingredientes?" Aeric perguntou. Pois Awdrina sempre fazia as refeições ou ele mesmo, eu não sabia onde arranjar os ingredientes e sempre me sentia uma inútil.

"Awdrina me mostrou alguns cogumelos na floresta." Expliquei enquanto assistis deliciada ele retirar o alforje das costas e se espreguiçar, esticando todos os seus músculos por baixo da camisa branca.

Aeric pegou uma tigela e encheu de sopa e sentando-se na mesa começou a comer. Ele possuía uma elegância inata que transformava todos os seus movimentos em gestos de imensa graça e leveza.

"Acho que está na hora de eu te ensinar algumas coisas." Aeric disse me olhando intensamente e eu em senti ruborizar. "A caçar." Ele explicou rindo e eu fiquei ainda mais envergonhada.

Assenti levemente e saí correndo em direção as escadas ansiosa pelo dia em que ele me daria as lições.