James foi o primeiro a descer do carro quando avistou o primeiro barco, seguido por Hilarie que estava desconfiada que algo estava errado. Justin procurou Beaver rapidamente com os olhos, mas não o encontrou.

Justin igualmente estranhou a falta de Katie que não havia dado as caras, assim como Chad. Ele pensou em dizer a Morgan para abortar a missão já que, definitivamente, algo não estava certo.

James apontou a arma para um dos barqueiros. O homem, claramente colombiano pela fisionomia latina, apenas ergueu os braços em sinal de rendição. Ele calmamente tirou a capa que cobria a mercadoria e James sorriu para Hilarie ao ver que realmente se tratava de heroína.

Justin suspirou e sorriu calmo. Ele, que estava atrás de Hilarie e James, calmamente puxou a arma do lado direito da cintura e apontou, satisfeito, pra cabeça de James.

James que sentiu o cano tocar sua cabeça e virou-se para Justin com um olhar debochado.

- Vai se virar contra nós, agora? – O moreno disse desdenhoso. – Vai roubar a carga da gente?

Justin apenas sorriu e, de canto olhou para Hilarie que tentava sacar a própria arma.

- Um movimento seu e eu estouro os miolos do seu maridinho aqui, sua vadia. – Ele disse com a voz firme e a loira apenas desistiu de afrontá-lo.

- Qual é, Hartley, podemos resolver isso. – James insistiu. – Você pode ficar com a metade e...

- FBI. Vocês estão presos. – Justin interrompeu a tentativa de negociação de James.

Tanto o moreno quanto Hilarie perderam as cores de seus rostos e as vozes, principalmente porque agora podiam ouvir as sirenes dos carros do FBI se aproximando, com luzes vermelhas e azuis iluminando o píer escuro.

Dois policiais apareceram ao lado de Justin algemando Hilarie e James, peritos da Narcóticos também estavam presentes cuidando das embarcações e dos barqueiros.

- Hartley. – Morgan apareceu ao longe e Justin sorriu orgulhoso em seguida.

- Chefe. – Ele cumprimentou Morgan que, apesar de estar feliz, parecia que não estava com uma cara muito boa. – Algum problema?

- Jensen fugiu. – Morgan disse enquanto o píer era tomado por federais.

- O QUE? – Justin disse assustado e incrédulo. – E Jared?

- Está no hospital. – Jeffrey respondeu. – Ouvimos a conversa no telefone de Jensen com Murray. Eles descobriram tudo.

- Mas... Como? – Justin questionou.

- Não temos certeza. – Morgan continuava, agora andando na direção dos carros ao lado do loiro. – Só sabemos que ele já está voando pra fora do país...

- Então vamos pegá-lo quando ele pousar e...

- Não podemos... – Morgan interrompeu. – Ele não veio aqui, não temos flagrante, não temos testemunhas, não temos provas, Justin... Voltamos à estaca zero com Ackles... – Ele bateu de leve no ombro de Justin, como se quisesse confortá-lo.

Justin ficou parado por alguns segundos, imóvel. Aquela história não estava bem contada e ele tinha quase certeza que isso se tratava da relação dele com Jared.

O jato de Jensen sobrevoava os céus com destino certo: Paris.

Jim estava ao celular falando com Kristin, que recebeu o aviso de Chad e igualmente não foi ao píer, ela já estava preparando-se para embarcar para Madri.

Jensen estava na parte da pequena sala montada dentro do avião e olhava pela janela. Triste, magoado, traído, enganado. Sem cor, sem coração... Sem vida.

- Jen... – Chad sentou-se ao lado dele. Ele não encarou o loiro, permaneceu imóvel. – Sinto muito pelo que aconteceu...

- Obrigado Chad. – Ele respondeu sem tirar os olhos da janela. – Por descobrir tudo.

- Eu sei que deve ter sido um choque pra você, sei que amava aquele g-man... Você não sabia.

- Fui um idiota. – Ele sorriu triste. – Coloquei tudo a perder, até mesmo vocês... Arrisquei a vida de vocês todos por causa de um... de um qualquer...

- Não é sua culpa, Jensen... – Chad tentou acalmá-lo.

- É sim. Confiei nele cedo demais... Me entreguei a ele cedo demais... – E lá vinham as lágrimas mais uma vez.

- Atirou nele? – Chad perguntou preocupado.

- Não tive coragem.

- Você está de brincadeira! – Beaver esbravejou ao ouvir o que Jensen disse. – Ele vai nos entregar, Jensen!

- NÃO CONSEGUI, OK? – Jensen encarou Jim pela primeira vez, gritando. – Não consegui. Eu o amo, não tive coragem de puxar o gatilho. Eu o amo!

- Ele é um federal, Jensen... – Beaver dizia, tentando entender a mágoa de Jensen. – Ele te enganou! Nada do que aconteceu entre vocês foi real...

- Eu sei. – Jensen respondeu, voltando a chorar feito uma criança. – Ele me usou pra ganhar alguma promoção de cargo... Aquele desgraçado!

Todos, incluindo Katie que permanecia sem saber o que dizer, resolveram ficar em silêncio. Eles não sabiam sequer direito o que fazer, nunca antes viram Jensen daquele jeito. Nem quando o pai ou a mãe do loiro morreram , ele ficou naquele estado. Chad chegou a temer que Jensen pudesse atentar contra a própria vida e resolveu ficar por perto, tentando dar um jeito de monitorá-lo.

Jared estava deitado no leito do hospital do centro de Los Angeles. Ele olhava a lua bonita no céu pela janela meio aberta do quarto. Uma noite bonita. A pior noite da sua vida.

Encarava o céu imaginando onde Jensen poderia estar, se havia sido pego ou não. Ele tinha um curativo no sobre cílio e estava tomando soro. Ele percebeu o inchaço perto da boca, mas nada daquilo importava. Ele não sentia mais vida nas células de seu corpo.

- Como está? – Justin entrou no quarto, mas Jared não se moveu nem para encarar o amigo e, igualmente ficou em silêncio. – Sinto muito pelo que houve.

- Eu o avisei. – Jared finalmente disse, ainda sem encarar Hartley.

- O que? – Justin perguntou sem entender.

- Eu o avisei pra não ir. Eu ia contar quem eu era.

- Como é que é, Jared? – Justin perguntou incrédulo.

- Onde ele está? O prenderam?

- Ele fugiu. – Justin respondeu. – A essa altura deve estar bem longe, provavelmente em outro país.

Jared sorriu. Jensen estava bem. Tinha ido embora, isso acendeu uma chama em seu coração, pelo menos ele estava livre e vivo.

- Você se apaixonou por ele, não foi? – Justin disse um pouco irritado. – Como pode trair o Bureau, Jared?

- Eu o amo. – Foi a única resposta que Jared encontrou e certamente achou a mais plausível.

- Ele é um traficante internacional desde que nasceu, como pode amar uma escória como ele?

- Pode reportar. – Jared pela primeira vez encarou Justin. – Pode contar. Vou pedir afastamento do Bureau...

- Jared, não...

- Avise Jeffrey que ele é um pai pra mim, devo tudo a ele... Que é um exemplo de homem e de ser humano. Mas eu tenho que escolher um lado...

- Jared! Como pode estar me dizendo isso? Vai ficar ao lado de um traficante? – Justin chegou a achar que aqueles remédios estavam afetando o bom senso do moreno.

- Vou ficar ao lado do homem que eu amo e implorar pra que ele me perdoe... – Ele suspirou e voltou a olhar pela janela. Estava mais calmo agora de saber que Jensen também estava.

Justin mal podia crer no que ouvia. Achou que era coisa de momento, logo Jared recobraria a consciência.

- Tem idéia de onde ele pode ter ido? – O loiro perguntou.

Jared pensou por um segundo e lembrou-se da conversa que tivera no dia anterior. "Paris? O que você acha?"

- Não. – Mentiu Jared e Justin percebeu que era mentira.

- Foi bom trabalhar com você, Padalecki. – Justin dizia, triste e revoltado com a decisão do moreno alto.

Ele rumava até a porta, preparando-se para sair quando ouviu Jared o chamar.

- Hartley. – Ele virou-se novamente na direção de Justin, que parou abruptamente o encarando de longe, inexpressivo. – Espero que você me entenda e me perdoe um dia. – Jared pediu com sinceridade.

- Eu espero que seu pai te perdoe. – O loiro não escondeu a mágoa na voz, dando as costas a Jared e deixando o quarto do hospital onde Jared estava.

Ele voltou a ter sombra que tinha antes de Justin chegar.

Em poucos dias, ele havia passado de agente promissor a fazer carreira do FBI a traidor da pátria.

- Jensen... – Chad novamente chamou pelo loiro, que permanecia em seu lugar no avião com a mesma expressão há quase duas horas. – Lobo disse que podemos ficar no apartamento dele em Paris e que, quando chegarmos, ele vai ligar pra você...

- Chad, eu não quero falar com ninguém...

- Ele está preocupado com você, já sabe o que houve. – Chad insistiu. – Vamos lá Jensen, você precisa reagir cara...

- Reagir? – Jensen retrucou. – Eu não sei nem por onde começar, Murray... – Ele tinha um olhar triste e perdido. – Eu não sei o que fazer...

- Vamos chegar na França e resolver, ok? – O hacker pegou carinhosamente em uma das mãos do chefe. – Não gosto de te ver assim...

Jensen olhou para a mão que Chad segurava por alguns segundos sem saber o que responder. Ele viu ali uma pessoa que, na concepção dele havia sido verdadeiro o tempo todo e agora praticamente o salvado, ser a mesma que ele magoou dias atrás por causa de Jared. O que o impressionava era a cumplicidade de Chad naquele momento.

- O que foi? – Chad perguntou ao perceber o silêncio de Jensen que o encarava profundamente nos olhos.

- Refletindo uma coisa que acabei de aprender. – Jensen respondeu finalmente após uma longa pausa.

- E o que seria? – Chad perguntou curioso, com um sorriso leve ao perceber que Jensen estava melhor.

- Que a pessoa que a gente espera que nos chute quando a gente cai... É uma das poucas que te ajudam a levantar... – O mais velho respondeu, apertando mais firme a mão de Chad e se deixando cair sob o ombro dele.

Chad o confortou, como amigo, como parceiro, cúmplice, e Jensen pode pelo menos naquele momento, ter algo no que se agarrar. E Chad, por sua vez, sabia que aquilo não tinha nenhuma segunda intenção. E sim, ele iria atrás de Jared. Com certeza iria.

- Não acredito que está sendo ingrato a esse ponto. – Morgan encarava atônito um Jared decidido na sala de interrogatório do FBI. – Depois de tudo Jared, como tem coragem?

- Eu não sei o que espera que eu diga, Jeff. – Jared disse sereno. – Estou dizendo a verdade. Estou sendo honesto justamente por sua causa.

- Jared. – Morgan tentava se acalmar, sentado na mesa em frente a Jared. – Podemos resolver, certo? Vamos deixar em arquivos confidenciais, você nos ajuda em outra missão... Até porque com Jensen fora do país, não há muita coisa que possamos fazer...

- Chefe, não me sinto digno de estar no Bureau. – Jared argumentou. – E isso prova o quão consciente estou das minhas recentes atitudes, e mais... Prova que não estou arrependido.

- Jared você tem noção de quanto tempo nos desperdiçou com isso? Essa operação tem anos, já custou a vida de outra agente...

- Jeff...

- Por isso eu repito, como tem coragem de fazer tudo isso e ainda dizer que não se arrepende?

- E eu repito, Jeff... É por isso que quero me afastar! Não posso estar aqui...

- Mas você precisa fazer algo para se redimir! – Morgan continha a vontade de gritar.

Jared ficou em silêncio. Não sabia mais o que dizer para não frustrar o amigo que considerava já da família. Jeffrey, por sua vez, tinha uma mescla de sentimentos que variava entre frustração e decepção.

- Tem, pelo menos, idéia de onde ele está agora? – Morgan perguntou após um longo suspiro para se acalmar.

- Não. – Jared mentiu novamente. Jeffrey, obviamente, o conhecia suficientemente para saber que seus olhos sempre o traíam quando ele mentia.

- Vou providenciar os papéis de seu afastamento. – Morgan, agora conformado, apenas passou a olhar Jared daquele jeito frio, como se ele fosse um outro policial qualquer que ele mal conhecesse. – Dispensado, agente.

- Jeff, eu só queria dizer que...

- Eu acho que não precisa que ninguém o acompanhe, não é? – Jeffrey interrompeu sem encarar o moreno alto, começou a preencher alguns papéis. – Já sabe onde é a saída.

Doeu. Doeu de verdade em Jared aquilo, mas ele já havia feito sua escolha e não voltaria atrás.

- Quem sabe eu possa te ajudar. – Justin dizia com um sorriso de canto em um lado da mesa numa outra sala de interrogatório.

- Eu fodi com um agente do FBI... – James ria alto sentado de frente para Justin, com as mãos sob a mesa, algemado. – Hartley... se é que esse é seu nome... – Ele mantinha o sorriso pretensioso, mordendo o lábio inferior. – Você foi... muito especial...

- Cala a boca, Lafferty. – Justin dizia debochado. – Repito. Quem sabe eu possa te ajudar... Agora me responde: pra onde Jensen foi?

- Eu não sei. – James respondeu indiferente. – E nem quero saber...

- Lafferty, qual é! – Justin insistiu. – Vou dizer a promotoria que você colaborou...

- Olha só, Justin... – James voltou sorrir, apoiando os cotovelos na mesa, encarando as própria algemas. – Eu faria mesmo qualquer coisa para não ficar nesse antro, acredite, quero colaborar, não tenho motivos para proteger Ackles...

- Então...?

- Então que eu não sei mesmo. – James ainda mantinha a calma. – Não sei pra onde ele pode ter ido...

Justin suspirou conformado. Realmente ele podia ver que James não estava mentindo. Ele nem tinha como saber onde Jensen estava.

- Mas... – James recomeçou após uma longa pausa. – Hilarie é amiga de Kristin...

- Kristin... mulher de Lobo. – Justin complementou, acompanhando o raciocínio de James.

- Lobo certamente sabe onde Jensen está. Lobo sempre sabe...

Justin balançou a cabeça afirmativamente enquanto James voltava a olhar pra ele daquele jeito que ele odiava, mas dessa vez não estava incomodado, apenas achou graça. O loiro, rindo, deixou a sala de interrogatório. Lembrou-se de alguém em específico a quem pediria ajuda: Michael Rosenbaum.

Jared entrou em seu apartamento silencioso, um tanto quanto empoeirado e escuro. Ele jogou as chaves na mesinha de centro e jogou-se no sofá pegando o controle da televisão. Não que ele estivesse interessado em algo, apenas ligou para ter algum barulho por perto. O silêncio o fazia lembrar de Jensen.

Ele ligou o aparelho e parou de zapear em algum canal qualquer de esporte onde passava um jogo dos Knicks. Ele não prestou atenção, apesar de torcer pro time. Ele praticamente deitou no sofá encarando o teto da sala escura, apenas iluminada parcialmente pela luz que vinha da televisão.

"E, Deus, como eu amo quando você sorri!"

"Logo percebi que nunca conseguiria esconder um segredo de você."

"Você me encontra até quando tento desesperadamente me esconder do mundo."

Ele não ouvia a televisão por mais que ela estivesse ligada. Só ouvia a voz de Jensen na sua mente, no seu coração. Ele respirou fundo tentando fazer aquelas vozes cessarem. Ele queria ir atrás de Jensen, mas não tinha como, não sabia por onde começar, não tinha mais o reforço da agência, não tinha sequer uma arma caso precisasse.

Nem sequer tinha sua insígnia do FBI. E sim, aquilo abria muitas portas de informações.

Perdera seu futuro no Bureau, traiu seus amigos e seu país e agora, o pior de tudo, perdera Jensen. Ele achou que tinha tudo, apenas não lembrou-se que, quando temos tudo... Temos tudo a perder.

Mas agora ele não tinha mais nada a perder. Não sabia como e nem quando, mas um dia, iria atrás de Jensen Ackles, iria dar um jeito de fazer com que seus caminhos se cruzassem novamente.

Paris ele havia dito. Paris... E Jared sabia que havia sido por causa dele.

FIM.