Nome: Freedom, please?

Autor: Doomsday

Tipo: Long

Gênero: Drama/Romance

Classificação: NC17 - M

Personagens/Casais: Draco/Hermione

Itens: Contagem de Dias, Primeiro Beijo

N.A.: Olá, essa fic é para o IV Challenge de SongFics do fórum Marauder's Map. A idéia surgiu enquanto estava sentada no mêtro e simplesmente implorou para deixar minha mente. Sim, como sempre, é insana, pode ser considerada UA, pode ser considerada absurda, mas é minha e eu amei escrevê-la. Se esperava ver aquele romance cheio de coisas, sorry, vou ficar na dívida. Aqui trata-se de problemas psicológicos, sexo e vingança, entre outras coisas. E sim, vai demorar um pouco para se ter ação Draco/Hermione por assim dizer.

Uso várias músicas, e várias partes. Traduções e nomes de música e banda no fim de cada capítulo. Muitas das músicas não estão na ordem, são pedaços soltos para formarem o capítulo, e a tradução de cada parte está na ordem em que elas foram colocadas no capítulo, preste atenção.

A Just fez a capa, perfeita. E a Ninica (Cora) está betando essa fic, adoro-te por isso, gata!

Bom, se gosta, aproveite.

Se não gosta, boa sorte e clique em Voltar ou X.

Se vai se arriscar, valeu!

Não ganho nada com essa fanfic e por escrever com essas personagens. Nenhum deles me pertence, pois se me pertencessem tudo seria muito diferente.

Boa Leitura.


Freedom, please?

por Doomsday

tell me, we both matter, don't we?

Dia 01 - Abril, 22, 2006

"Eu vou perder minha licença, é fato." Murmurou enquanto andava pelos corredores quase sem iluminação, a mão livre correndo os cabelos presos, abaixando qualquer fio que estivesse solto. Ajeitou o jaleco nervosa, puxando-o para baixo, cobrindo mais o corpo. Sorriu forçadamente para um dos guardas parado no corredor, apertando a bolsa no ombro esquerdo contra o corpo. "Eu vou perder minha licença. Já estou sentindo os Aurores respirando na minha nuca."

Passou por mais um guarda, os saltos de seu sapato batendo contra as pedras no chão antecipavam sua chegada e os guardas sorriam para ela, fazendo-a ter que sorrir, mesmo que forçado. Observou como as celas estavam em silêncio, talvez pela hora. Olhou no relógio, eram quase seis e três da manhã. Sabia que boa parte dos presos estavam dormindo, e só seriam acordados em vinte e sete minutos; era o tempo que tinha. Apertou ainda mais a bolsa e o jaleco no corpo ao passar pela cela de número 29, e parou na frente da cela 30, olhando o guarda ali. Passou a mão pelo cabelo novamente, sentindo pequenas e esparsas gotas de suor escorrerem por suas costas.

"Bom dia, Malakil."

"Bom dia, Doutora." O guarda aproximou-se, segurando a maçaneta e abrindo a porta devagar, deixando a médica entrar após a maçaneta identificar a única pessoa que poderia abrir aquela porta, sem ser o novo dono do presídio. "Qualquer perigo, chame. E por favor, não use a varinha."

"Sem problemas, Malakil." Respondeu sorrindo forçadamente outra vez e entrou na cela, observando como a luz era fraca sem o sol entrando pela pequena janela no alto da cela.

Passou a mão pelos cabelos, dessa vez soltando-os e correndo os dedos pelos fios. Ouviu a porta atrás de si fechar-se e os passos de Malakil afastarem-se; olhou no relógio de pulso outra vez. 6:07. Tinha vinte e três minutos. Viu movimento no fundo da cela e prendeu a respiração, observando como a aparência mudava a pessoa.

"Sabe que vou perder minha licença por isso, não?" Não recebeu resposta e respirou fundo. Tirou a bolsa de couro negro do ombro esquerdo, abrindo o zíper e puxando uma pasta lacrada com magia. Fechou a bolsa e deixou-a no chão perto da porta, aproximando-se da cama desarrumada e sentando-se em uma ponta. "Provavelmente o próprio Harry virá arrancar a licença da minha parede e me conceder a cela aqui ao lado." Não obteve resposta novamente. Balançou a cabeça e segurou a pasta no colo, passando a mão por cima da abertura da pasta, sentindo o calor e vendo o brilho da magia que abria a pasta apenas por ela e por mais duas pessoas. Logo, a capa da pasta tinha outra cor, já não era bege como todas, era vermelha. As pastas eram separadas por cores devido aos casos. Olhou novamente no relógio: 6:10. Tinha vinte minutos.

"Eu não sei porque eu realmente estou fazendo isso." Abriu a pasta, vendo uma foto do lado superior direito mover-se ao lado do nome completo, idade e nome do médico responsável pelo caso. "Na verdade, eu sei." Passou a mão pelo cabelo ao fechar a pasta e colocá-la na cama, esperando que esses vinte minutos passassem devagar o suficiente. "É porque te amo. Mas só por isso estou arriscando tudo que já consegui até agora. E que, acredite, não foi fácil."

Calça preta. Camisa branca. Encardida.

Puxou a pasta para seu colo, arrastando-se na cama, para ter mais luminosidade que entrava pela janela da porta. Olhou-a nos olhos, aqueles olhos que sempre a fitavam de forma alegre, apesar do local onde estavam. Sorriu enquanto a viu passar as mãos pelos cabelos outra vez; sabia que era algo que ela fazia quando estava nervosa. A viu olhando novamente o relógio no pulso de pele clara, as mãos com unhas não tão longas, mas perfeitamente feitas e pintadas de rosa claro.

"Vá logo, temos apenas quinze minutos." Levantou uma sobrancelha. "Quero sair daqui antes que..."

Ela não precisava terminar a frase, sabia o porque dela querer sair ali antes das seis e meia. Era quando a nova Azkaban começava a funcionar, quando voltava a vida, após uma longa noite de sono. Virou os olhos para a pasta, abrindo-a e observando a foto e o nome da pessoa. Levantou a primeira folha da pasta onde só haviam coisas como: peso, altura, aparência, possíveis cicatrizes e tatuagens. Na folha de número dois estavam as especificações de remédios, tratamentos, dosagem, quem manipulara. Levantou mais essa e observou a terceira com atenção. Lá estavam as anotações dos médicos sobre os comportamentos do paciente.

"Acha mesmo que vai encontrar o que quer aí?" O olhar que recebeu pareceu gelar até sua alma, deu de ombros devagar. "Ok, espero que valha a pena. Já me será difícil o suficiente gravar a sessão e conseguir fazer com que o aparelho funcione aqui pra você escutar."

Voltou seus olhos para a pasta sem preocupar-se com o depois, apenas com o que lia na página três. Quatro médicos, dois psiquiatras, dois psicólogos, uma enfermeira. Os médicos tinham apenas uma idéia sobre os anos de conversa, sessões, medicações e observações: psicopata. Um sorriso de canto de boca surgiu em seus lábios, os dentes mordendo o lábio inferior devagar enquanto lia algumas medicações que administraram nos últimos meses; eram fortes e eram as mais erradas possíveis para aquele tipo de paciente.

"Quando é a próxima sessão?"

"Hoje. Amanhã acho que consigo trazer a gravação pra você." Olhou o relógio novamente, arrumando o jaleco nervosa, querendo sair dali, faltavam apenas quatro minutos para as seis e meia. Ajeitou o jaleco e passou a mão na saia, alisando-a sem precisar.

"Ok, então... até amanhã."

Levantou-se, segurando a pasta e passando a mão novamente pela abertura, lacrando-a e vendo-a voltar a cor bege. Andou até a porta da cela, pegando a bolsa de couro no chão, abrindo-a e colocando a pasta dentro. Virou-se novamente, o único barulho na cela sendo o salto de seus sapatos batendo no chão.

"Precisa de algo? Comida, pasta de dente...?" Sorriu quando recebeu uma pequena balançada de cabeça negativa. "Ok, então... até amanhã." Virou-se novamente começando a escutar conversas do lado de fora da cela. "Malakil."

A porta da cela abriu-se novamente após um pequeno brilho vir da maçaneta do lado de fora, e saiu rápido, agradecendo ao guarda e andando - quase correndo - pelo corredor de pedra, seus saltos fazendo ainda mais barulho do que antes. Chegou ao portão principal, os três guardas que ali ficavam sorriram da pressa dela ao querer sair dali.

and if I only could,

I'd make a deal with God

"Tenha uma bom dia, Doutora." Um dos guardas disse, e recebeu um aceno de cabeça e um sorriso forçado.
Duas portas de aço grosso fecharam-se às suas costas e respirou fundo, fechando os olhos e apertando novamente a bolsa contra o corpo. Abriu os olhos e caminhou pelo corredor mais iluminado, arrumando pela última vez o jaleco antes de sair para área livre da nova Azkaban.

"Eu tenho certeza de que vou perder minha licença." Murmurou uma última vez antes de entrar por uma porta e sair em um corredor extremamente iluminado, ouvindo pessoas conversarem. Caminhou calma apenas pensando nos feitiços que teria que fazer para que um aparelho muggle funcionasse dentro de uma cela em Azkaban. Balançou a cabeça e olhou o relógio de pulso: 6:40. Teria vinte minutos para deixar sua nova sala pronta e preparar-se para a primeira consulta do dia, que acompanharia com o médico geral. Sorriu ao olhar o nome na placa na frente da porta. Doutora. era a primeira palavra. Sorriu ainda mais com isso, lembrando-se de tudo que passara para conseguir esse título; porém assim que entrou na sala e viu o médico geral sentado na cadeira oposta a sua, atrás da mesa, deixou o sorriso morrer aos poucos.

"Bom dia, Doutora."

"Bom dia, Doutor." Fechou a porta atrás de si, suor brotando em suas costas novamente. "O que faz aqui tão cedo?"

"Apenas vim ter certeza de que realmente está preparada para esse caso." Sentou-se em sua cadeira, olhando séria o médico à sua frente. "Afinal, quando se há envolvimento..."

"Eu aceitei esse caso porque realmente sei que posso lidar com ele." Cortou-o, sabendo que era falta de educação; porém, nada a afastaria desse caso. Nada. "Estou pronta."

"Ótimo!" O médico levantou-se da cadeira, satisfeito e sorrindo, saindo da sala e fechando a porta atrás de si. Segundos se passaram e então o barulho da testa contra o tampo de madeira grossa ecoou pela sala silenciosa. Fechou os olhos e murmurou. "Certeza que Hermione vai me fazer perder a licença."

"Doutora Weasley? Doutora Weasley? Paciente 325 aguarda para consulta supervisionada."

Levantou a cabeça da mesa olhando o formulário verde claro que falava consigo, vendo-o sair pela fresta da porta. Respirou fundo e puxou a bolsa para perto, abriu-a e tirando a pasta, puxou a varinha e levantou-se, arrumando o jaleco branco. Antes de sair, abriu a última gaveta de sua mesa, levantando algumas folhas e tirando um gravador muggle debaixo. Observou o aparelho e lembrou do que Charlie havia falado sobre como o aparelho funcionava: era apenas apertar o botão com um círculo vermelho e pronto, tudo que fosse dito seria gravado. Apertou o botão, vendo a fita dentro do aparelho começar a rodar devagar, bem no começo. Aproveitou que aquilo gravava tudo que seria dito e disse bem baixo e bem perto do aparelho escuro:

"Hermione, se eu for presa, expulsa ou perder minha licença por você, pode ter certeza de que serei presa também por um homicídio. O seu!" Sorriu devagar de suas próprias e colocou o aparelho no bolso do jaleco, saindo da sala e seguindo pelo corredor. Respirou fundo e sorriu para o médico geral que a aguardava, junto com o paciente e um guarda; que Merlin a protegesse e que nada desse errado.


do you want to know that it doesn't hurt me?

"O que achou, Ginny?" Um silêncio seguiu-se à pergunta, e o médico desviou os olhos da folha onde estava fazendo anotações sobre o paciente, e observou a ruiva escrevendo furiosamente em um bloco de notas. "Ginny?"

"Perdão." Respondeu parando de escrever e olhando nos olhos do médico. "Achei fascinante."

"Apenas isso?" O médico levantou uma sobrancelha desconfiado.

"É clara a falta de remorso, o distúrbio de realidade, e a latente vontade de mostrar claramente que finge tudo isso e que sabe que temos plena noção de tal fingimento." Ginny disse e voltou a olhar seu bloco de notas, as coisas que realmente achava estavam ali.

"Acha que devemos aumentar alguma dose de algum dos medicamentos já administrados?"

"Não. Na verdade, devemos privá-lo de alguns." Viu-o levantar a sobrancelha novamente sem entender. "É claro o vício que ele adquiriu por algumas das poções. As unhas estão roxas nas pontas, a pele está ainda mais pálida e os olhos extremamente fundos. Já está com certo grau avançado de dependência."

"Deveríamos privá-lo, então?" O médico percebeu que Ginny estava pensativa sobre isso, parecendo não acreditar que ele estava a lhe perguntar sobre aquilo.

"Sim." Ela disse séria após alguns segundos de consideração.

"Ok. Vamos privá-lo e ver o que extraímos disso."

Ginny viu quando o médico escreveu na folha de número quatro - Observações e Novas Receitas - que deveriam retirar várias poções que o paciente recebia diariamente, e que o paciente, mesmo em cela, deveria ser constantemente vigiado pela nova médica do caso: Ginny Weasley. Sorriu disso. Tudo estava andando nos trilhos e como planejara há mais de quatro anos; agora encarregada do caso observaria os pedaços que restavam de Draco Malfoy caírem devagar e a frente de seus olhos.


but see how deep the bullet lies

Olhou para a porta à sua frente, escutando na parte de fora, no corredor, pessoas conversando. Sabia que em pouco tempo o guarda viria lhe buscar para o 'banho de sol'. Calça preta, camisa branca. Era o uniforme da nova Azkaban. Sorriu pelo canto da boca, aquele era só um nome, tudo estava praticamente igual. As celas ainda eram escuras e com pedras que pareciam eternamente molhadas. As pessoas ainda ficavam encarceradas e isoladas do mesmo modo, o que mudara fora a localização da prisão, que após destruída e com a fuga em massa de prisioneiros, fora necessário ser fechada. Azkaban agora era parte do St. Mungus, e as celas ficavam em um prédio separado. Outra diferença eram as consultas médicas de três em três dias, ou dependendo do caso, todos os dias. Haviam também esses banhos de sol. Não que gostasse, mas ao menos ainda tinha idéia de que o mundo lá fora era o mesmo. A mesma coisa de sempre.

"Levante-se, encoste-se na parede do fundo e levante as mãos acima da cabeça. Juntas." A voz do guarda fez-se ouvir na cela e levantou-se, encostou as costas na parede, levantando os braços. Sentia-se ridículo fazendo isso, mas após a manhã terrivelmente tediosa que tivera no consultório do médico geral, queria ver pessoas. Fosse quem fosse. Qualquer pessoa era melhor do que a Weasley anotando e sorrindo debochada de sua situação. E respondeu as perguntas que o médico fez, disse as coisas que eles queriam escutar e saiu da sala escoltado, voltando para sua cela. Respirou fundo e viu o guarda, Malakil, lançar um feitiço: duas fortes cordas prateadas enrolaram seus punhos, prendendo-os com força. "Pode vir, Malfoy."

Andou devagar até a porta da cela, saindo e sendo escoltado pelo corredor. Abaixou a cabeça, sem a mínima vontade de olhar em volta de si. Os cabelos caíram na frente de seu rosto, apenas um pouco, tivera que cortar o cabelo há duas semanas, deixando-os na altura dos ombros. Andou apenas mais um pouco e ouviu outra porta abrir-se devagar, a luz forte do sol entrando pelo corredor escuro. Respirou fundo, tentando não piscar mais do que já estava devido a luz forte, e atravessou a porta, saindo para um pátio extenso. A porta fechou-se atrás de si e percebeu que havia alguém diferente ali. E tal foi sua surpresa quando viu os olhos castanho de Hermione Granger olharem dentro dos seus.

you, it's you and me


what if I wanted to fight?

Dia 02 - Abril, 23, 2006

"Sou a encarregada do caso." Comentou sem conseguir impedir o sorriso que espalhou-se por seus lábios pintados de vermelho-claro. Hermione olhou-a nos olhos, surpresa. "Ora, não faça essa cara, Mione. Sabe bem que mais dia menos dia, eu conseguiria."

"Parabéns." Hermione disse sentando-se na cama e olhando Ginny com expectativa.

"Ai, tá bom. Tá aqui." Ginny abriu a bolsa de couro negro, puxando o gravador escuro do compartimento escondido e olhando-o bem antes de entregá-lo. "Sabia que tive que fazer quase cinco feitiços para que isso funcionasse aqui dentro?" Falou baixo, inclinando o corpo e deixando que um fio prata escorregasse por seu pescoço, mostrando um anel que ficou pendurado com o movimento. Hermione segurou o objeto entre os dedos da mão direita, olhando-o atentamente e subiu seus olhos para os olhos verdes de Ginny, que a miravam tristes. "Eu quis ficar com ele, pra quando você sair."

Era um anel de prata pura, com apenas uma pedra azul brilhante, e dentro uma inscrição que dizia: 'Para nossa filha. Nós te amamos.'

"Vai demorar um pouco ainda." Comentou soltando o objeto, vendo que Ginny endireitava o corpo e colocava o fio e o anel para dentro da blusa novamente, escondendo-os de olhares curiosos. Pegou o gravador que ela lhe entregava, vendo que Ginny ainda relutou em entregar e sorriu disso. Se aquele plano não tivesse surgido da mente da própria ruiva, apenas sendo aprimorado ao longo dos tempos por sua própria mente, teria realmente deixado que ela não lhe entregasse o gravador. Porém, Ginny concordara com aquilo há quatro anos, ela lhe procurara, lhe prometera ajudar.

Passou a ponta da língua devagar pelos lábios, sentindo o gosto do batom, e observou o relógio no pulso. 6:22. Tinha que sair dali. Não queria por momento algum encontrar os outros prisioneiros, já bastava ter que arcar com sua parte nesse plano e ter que ficar a observar Malfoy todos os dias, fazer anotações e pequenos exames referentes a abstinência das poções. Com esse pensamento sorriu outra fez, passando as mãos pelos cabelos longos e prendendo-os com a caneta que estava na ponta da bolsa.

"Hoje tenho que vigiá-lo." Comentou colocando a bolsa no ombro esquerdo, sentindo o couro raspar sobre a pele. Estava sem jaleco, o deixara na sala no dia anterior, e agora odiava os olhares que recebia dos guardas por seus ombros estarem à mostra com a blusa de alças que estava usando.

"As poções?" Viu Ginny assentir e sorriu fracamente. Malfoy estar dependente de alguns poções era óbvio. Pelo que vira no prontuário ontem, era um milagre o loiro ainda não ter morrido de overdose ou envenenamento. "Tomei banho de sol ontem."

Ginny estava virando-se para ir na direção da porta e parou no meio do passo, quase caindo de seu salto. Viu quando a ruiva virou-se, olhando-a séria, como se aquilo fosse proibido para ela. Quis sorrir, mas deteve-se. A viu olhando o relógio novamente, vendo que estava ficando sem tempo, mas sabia pelo modo como ela a fitava que essa conversa ainda não tinha acabado e que ela gostaria de saber o porque dessa mudança repentina de comportamento.

"Amanhã conversamos sobre isso." Ginny disse e virou-se, chamando Malakil e saindo da sala, andando rápida pelo corredor.

Hermione encostou-se na parede perto de sua cama, os olhos castanhos observando o objeto escuro em sua mão. Poderia começar a escutar agora, mas ainda estava tudo muito quieto. Precisava dos barulhos no corredor, dos outros presos acordados, dos guardas andando e conversando. Passou a mão pelos cabelos, sentindo-os sujos, os cachos com nós. Os prendeu com um lacinho preto que Ginny lhe dera uma vez e respirou fundo, agora observando as unhas. Curtas, limpas e sem esmalte. Deu de ombros, no momento unhas feitas era a última coisa que passava em sua mente. Não, na mente de Hermione passava o olhar cinza e surpreso de Malfoy ao vê-la no banho de sol. Passava as mãos dele presas - como as dela - pelas cordas prateadas, o modo como ele nunca esperaria vê-la ali. Sorriu disso.

laugh it all off in your face

Malfoy nunca esperou vê-la, mesmo que já estivessem presos juntos há mais de sete anos. Ele deveria achar que ela saíra impune pelo que fizera, que sendo a grande companheira de Harry, seus crimes - porque ela os considerava crimes - ficariam impunes e que seriam esquecidos. Entretanto, ela não esqueceu. Hermione nunca esqueceria o que fez. Nunca saía de sua cela, não gostava, não queria. Apenas saía quando era obrigada a ir nas consultas, e mesmo assim, odiava. Não queria sair, não queria ver ninguém, queria ficar sozinha; por isso sempre que outra pessoa, sem ser Ginny, queria lhe visitar, não deixava.

Era interessante que Malfoy ficasse surpreso em vê-la, e mais interessante foi vê-lo afastar-se o máximo, sentando-se do outro lado do pátio, olhando-a de canto de olho pelos fios loiros e finos. Sabia que de algum modo, em uma hora em que ficaram exposto ao fraco sol, filtrado pela placa de vidro magicamente modificado para não queimar os detentos, ele a observara todos os sessenta minutos. E quando voltaram para suas celas, ele a fitou pela pequena abertura na parte superior da porta, vendo-a passar pelo corredor, escoltada pelo guarda e a ouviu ser colocada na cela ao lado. Sorriu novamente pensando em talvez falar com ele, apenas falar, mas não havia modo, não agora. Todas as celas tinham o feitiço Muffiato, ou seja, o que quer que fosse dito dentro da cela, não se ouvia do lado de fora, apenas quando se era dito o nome dos guardas às portas. Mas pensava nas coisas que poderia dizer, apenas para colocar para fora de seu sistema todas as palavras que tinha presa na garganta.

Balançou a cabeça, o barulho das pessoas começou a encher os corredores. Os presos do segundo andar começaram a acordar, as pessoas começaram a serem retiradas em grupos de cinco para irem ao banheiro e fazerem a higiene. Logo Malakil abriria a porta e daria seu café da manhã, ou aquilo que eles consideravam café da manhã. Após isso sim, seria realmente seguro começar a escutar a fita da sessão de Malfoy. Esperara anos por aquilo e agora que a tinha, estava ansiosa como se fosse o primeiro teste de poções com Snape. Snape. Cela 125, terceiro andar. Era onde os irrecuperáveis ficavam. Vários Death Eaters estavam lá, porém, havia vários Aurores e pessoas do lado da luz ali também. Balançou a cabeça, preferia não pensar nisso, preferia se lembrar segundo após segundo do motivo de estar ali, da razão de ter que viver atrás daquelas paredes. Era penitência suficiente, e não precisava da penitência dos outros para levá-la mais e mais para o fundo.

"Hermione?" Ouviu a voz de Malakil na porta, colocou o gravador na cama, debaixo da coberta cinza e levantou-se, indo para a parede do fundo, encostando as costas nas pedras frias e levantando as mãos acima da cabeça. "Obrigado." Hermione sorriu ao vê-lo entrar e agradecer, Malakil sempre fora um bruxo educado e nunca tratara nenhum preso com desrespeito; mesmo aqueles que mereciam o pior tratamento. "Hoje tem ovos. Coma!"

Hermione sorriu novamente balançando a cabeça e vendo o guarda sair da cela, trancando-a. Desencostou-se da parede, a camiseta branca parecendo molhada nas costas agora, incomodando. Olhou a bandeja, vendo um prato com ovos mexidos, uma torrada e um copo de suco. Não poderia reclamar, a comida na nova Azkaban era definitivamente melhor do que na antiga prisão, tinha certeza. Sentou-se, puxando a calça para cima, cruzando as pernas e começando a comer, calmamente. Sua mente vaga nas possíveis frases que escutaria na gravação. Sorriu enquanto mastigava um pedaço de torradas com ovos; tudo estava como planejado.


look in my eyes!

Olhou a bandeja com comida, os ovos e a torrada. Era uma boa refeição para um presídio, tinha que concordar, mas nem ao menos chegava a altura da comida que lembrava-se de ter nos cafés da manhã em sua casa, ou mesmo em Hogwarts. Respirou fundo, fechando os olhos e passando as mãos pelos cabelos, jogando-os para trás. Estava nostálgico desde ontem à tarde. E tinha um porque. Sorriu pelo canto da boca, mas logo o sorriso morreu, transformando sua boca de lábios finos em uma linha reta. Hermione Granger. Hermione Jane Granger. Tudo que lhe acontecera, todas as coisas que tivera que fazer, era culpa do sangue nojento dela. Draco olhou os ovos, pegando um pouco com as pontas dos dedos e colocando dentro da boca, sentindo o gosto do sal. Mastigou enquanto voltava as seus pensamentos anteriores; se pessoas como Granger não existissem, o Dark Lord nunca teria que ter exterminado pessoas, eles nunca teriam que ter matado bruxos e sangue-ruins como Granger, e ele não estaria preso pelo resto da vida. Ele não teria que saber que teria que pagar por algo que não era certo - em seu pensamento - pagar.

Pegou outro punhado de ovos entre as pontas dos dedos, colocando-o na torrada e mordendo, o barulho de seus dentes extremamente claros triturando a comida. Observou a porta sem realmente ver. Estar nostálgico dentro de uma prisão, era a pior coisa que se poderia fazer. Mas nada ali antes lhe remetia a raiva do passado, e agora tinha a Weasley, que achava que era médica, e a Granger que era prisioneira como ele. Mastigou mais um pouco de ovos com a torrada, sentindo na língua que aquele bocado de ovo mexido estava particularmente mais salgado que o resto. Respirou fundo enquanto mastigava, fechando os olhos e vendo perfeitamente os olhos castanhos e fundos da Granger. Não sabia que ela estava presa, não sabia que a morena estava pagando pelos crimes que cometera, assim como diziam dele.

A vigiou o tempo todo, vendo-a com o uniforme padrão de Azkaban, os cabelos presos no alto da cabeça, a pele ficando avermelhada por causa do sol fraco. Quis andar até ela, escorrer seus dedos pelo pescoço claro dela, apertar as mãos e sufocá-la, privá-la de ar e matá-la de uma vez. Porém, sabia que não teria chance de nem ao menos deixá-la sem ar, os guardas o impediriam antes. Por isso, apenas observou, apenas tramou contra ela, sabendo que nunca poderia concretizar nenhum dos planos. Quando foram recolhidos, apressou o passo, passando na frente dela, querendo entrar primeiro em sua cela, para observar pela porta para onde a levariam. E para sua surpresa a viu passar devagar e calma à frente de sua porta, parando na porta seguinte.

Abriu os olhos, mastigando o último pedaço de torrada com o último punhado de ovos mexidos - essa parte quase sem sal algum - e pensou no que poderia ter acontecido para que Granger fosse presa agora. Será que ela estava presa há tempos? Como nunca a tinha visto ali antes? Sua cabeça encheu-se de perguntas enquanto engolia o suco, para o qual fez careta e deixou metade no copo. Logo algum guarda viria buscar a bandeja e outro o levaria para sua higiene. Porém, sua mente estava longe, nem ao menos percebera que sua boca de lábios finos e molhados de suco de laranja artificial, repuxava-se para o lado esquerdo, um sorriso de deboche por saber que Granger ao menos estava pagando pelo que havia feito. E se pudesse, tornaria a vida dela ali dentro, um inferno.

what are you waiting for?

I'm not running from you


"O que acha da palavra remorso?"

"Super valorizada."

"Sabe o que remorso significa?"

"Arrependimento."

"Porque desse sorriso com essa palavra, Draco?"

"Pelo fato de que arrepender-se é perda de tempo."

Passou a língua nos lábios, apertando o 'stop' no aparelho e voltando. Virou-se na cama, deitando de lado, olhando a parede oposta a de sua cama, e fechando os olhos. Apertou o 'play' e colocou o aparelho ao lado de sua cabeça, no travesseiro.

"O que acha da palavra remorso?"

"Super valorizada."

"Sabe o que remorso significa?"

"Arrependimento."

"Por que desse sorriso com essa palavra, Draco?"

"Pelo fato de que arrepender-se é perda de tempo."

"Entendo. Você não arrepende-se de nada do que houve durante a Guerra?"

"Não teria motivos para arrependimento. Assim como não há motivos para essas sessões sobre coisas que sabe há mais de sete anos."

Hermione sorriu enquanto apertava o botão 'stop' e rebobinava toda a fita, voltando a escutar todas as perguntas e as respostas de Malfoy. Aquela sessão não era nada comparado ao que Ginny lhe traria das próximas sessões com ele em abstinência das poções. Aquelas sim, seriam fitas valiosas. Apertou o botão 'play' enquanto soltava os cabelos e virava-se, encarando o teto novamente e deixando o aparelho no travesseiro, escutando o começo da sessão e sorrindo. O dia seguinte seria ainda melhor que esse.

I know now, this is who I really am inside!


Traduções:

Placebo - Running Up That Hill

Me diga, nós dois somos importantes, não?

E se eu apenas pudesse, Fazer um trato com Deus.

Você quer saber que não me machuca?

Mas veja quão profundo as balas estão.

Você, eu e você.

30 Seconds To Mars - The Kill

E se eu quisesse lutar?

Rir de tudo na sua cara

Olhe nos meus olhos!

O que você está esperando? Não estou correndo de você

E eu sei agora, isto é o que eu realmente sou!