Título: Sorte de Herói -Capítulo 1 - Impressões, sonhos e desilusões

Autora: Amy Lupin

Beta: Lunnafe

Par: Harry/Draco

Classificação: por enquanto, pg-13

Avisos: Fic escrita para o Projeto Sectumsempra de Amor não Dói III.

Razão utilizada: 62. Para um jovem tão refinado, ocupado, superior e sangue-puro, Draco se interessa demais por um amante de trouxas mestiço de testa rachada.

Disclaimer: Essa história é baseada nos personagens e situações criadas e pertencentes a J.K. Rowling, várias editoras e Warner Bros. Não há nenhum lucro, nem violação de direitos autorais ou marca registrada.

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Se Draco dissesse para si mesmo que tudo havia começado depois da morte de Dumbledore, estaria mentindo. Já fazia muito tempo que tentava negar o que sentia.

Tinha passado toda a infância ouvindo comentários sobre Harry Potter. O que um garoto alguns meses mais novo que ele poderia ter de tão especial para derrotar um Bruxo das Trevas tão poderoso quanto aquele a quem seu pai se juntara?

As especulações eram muitas. Uns diziam que não passava de um golpe de sorte. Outros diziam que o garoto Potter seria um rival à altura do Lord das Trevas, predestinado a derrotá-lo como um pupilo dos seguidores de Dumbledore. Outros ainda acreditavam que o garoto estava predestinado a ser mais forte do que o Lord das Trevas, um bruxo com poderes sem igual que conseguisse ter maiores adeptos às suas idéias e destinado a limpar o Mundo Bruxo de sua escória com maior eficiência – este, afinal, havia sido o motivo do Lord ter procurado matá-lo antes que o garoto pudesse virar uma ameaça real. Tal perspectiva atiçava a curiosidade dos ex-Comensais da Morte. Eles ansiavam pelo dia em que conseguiriam dar uma boa olhada no menino para tirar suas próprias conclusões.

"Mas ninguém nunca o viu, papai?" perguntava Draco com os olhos arregalados de curiosidade. Sentado ao lado do pai com seus seis anos de idade, Draco olhava para o alto com admiração, bebendo cada palavra do que o homem mais velho dizia.

"Ninguém do nosso lado, filho" Lucius pousou sua xícara de chá na mesa de centro. "Ele foi protegido por um Feitiço Fidelius desde antes de nascer, feitiço este que só foi quebrado no dia em que o Lord das Trevas o confrontou, quando o garoto tinha pouco mais de um ano".

A boca de Draco se abriu em muda admiração. Porém Lucius não reparou, continuando seu relato.

"Logo depois do ataque o garoto Potter foi levado por Dumbledore. Dizem que está vivendo com alguns parentes trouxas".

Draco já reparara desde cedo o desprezo com que seu pai tocava no nome do diretor de Hogwarts.

"Mas se isso não é segredo, como ninguém nunca conseguiu encontrá-lo?" o garoto perguntou, franzindo o cenho.

"Ah, nós já tentamos de várias maneiras. Mas Dumbledore fez um trabalho bem feito. Dizem que nem mesmo os seguidores do próprio Velho Babão sabem onde encontrá-lo. Mas algum dia ele terá de ir para a escola, então nós teremos notícias dele".

"Ele vai para a escola junto comigo? Nós temos a mesma idade, não temos?" Draco perguntou, tentando não parecer tão ansioso quanto de fato se sentia.

"Claro que vai, meu bem" Narcissa havia se aproximado sem que ambos percebessem e se sentou do outro lado do filho, passando as mãos esguias por entre os cabelos do garoto.

Como Draco não tinha desgrudado os olhos do pai, não pode deixar de perceber a maneira como ele estreitou os olhos para a esposa. Draco voltou-se então para a mãe, que enfrentava o olhar do esposo com uma ousadia que o garoto não estava acostumado a ver ou identificar.

"Nós ainda estamos pensando a respeito, Draco" Lucius falou depois de alguns instantes de silêncio. "Desde que você nasceu, meu amigo Igor Karkaroff reservou um lugar para você em Durmstrang, uma escola de princípios que não aceita a escória".

"Mas Durmstrang não fica em outro país?" Draco lembrou-se do que sua mãe já havia lhe falado sobre aquela escola. "Vou ter que ficar longe de vocês? E se algo acontecer comigo? Vocês podem aparatar até lá?"

Lucius lançou mais uma vez um olhar ameaçador para Narcissa, que mal tentava disfarçar um sorriso.

"Depois conversamos sobre isso, Draco" Lucius deu o assunto por encerrado por enquanto, voltando a bebericar seu chá.

"Mas e se eu for para Hogwarts? Então poderei tirar minhas próprias conclusões sobre Potter, não?"

"Claro, filho. Claro..." Narcissa falou, satisfeita. "Quem sabe você não se torne um grande amigo do garoto, hm?"

Draco sorriu sonhador.

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Durante toda sua infância Draco ansiou pelo momento em que conheceria o misterioso Harry Potter. Ele se imaginava como melhor amigo e confidente do garoto, que lhe contaria todos os seus segredos. Quando seus amigos Crabe e Goyle apareciam para brincar, Draco sempre assumia o papel do menino poderoso que derrotava um bruxo adulto muito malvado – que hora era Crabe, hora era Goyle – e se tornava ainda mais malvado que o primeiro. Ele sempre mudava o nome de seus personagens, mas a inspiração continuava sendo a mesma.

Mas nada superava a admiração que Draco tinha pelo pai. Draco sabia reconhecer o prestígio que seu pai tinha pelo cargo de Conselheiro de Hogwarts, pela influência que exercia no Ministério da Magia e cresceu escutando as idéias que Lucius discutia com os pais de seus amigos. Narcissa era sempre comedida nesses assuntos, mas Lucius dizia que não era papel dela, como mulher, discursar sobre política.

"Veja o que aconteceu com sua tia Bellatrix" Lucius sempre citava o exemplo a meia voz, para que a esposa não escutasse e se entristecesse com más lembranças. "Mas não se preocupe com isso por enquanto. Pelos anos que se seguirão, seus maiores deveres serão tirar boas notas. Afinal, foi desse modo – e com a influência do nome e das posses da nossa família – que alcancei a posição que tenho agora".

Cercado de mimos pela parte de sua mãe e de cobranças cada vez maiores pela parte de seu pai, Draco logo formou sua opinião a respeito das coisas. Opinião esta que não poderia ser diferente do que ouvia seu pai falando. Tratava os elfos domésticos com crueldade, por vezes lembrando-os de cumprir mais castigos do que de fato deviam e aprendera a valorizar coisas como dinheiro, status social e pureza do sangue. Ele gostava de parecer maduro aos olhos do pai. Porém quando no meio de um jantar de negócios Draco falou de peito estufado como o Mundo Bruxo estava indo de mal a pior com a crescente miscigenação – desde que ouvira o pai falar aquela palavra e procurara seu significado no dicionário Draco ansiara pelo momento de poder usá-la – um silêncio desconfortável caiu sobre os presentes antes de o visitante soltar uma sonora risada.

"Seu garoto vai longe, Lucius" disse Augustus Rookwood, fazendo com que a atmosfera voltasse ao normal.

Mas não sem antes Lucius lançar um olhar ao filho que prometia uma longa conversa. Draco afundou na cadeira e não disse mais nada, se perguntando o que teria feito de errado.

Mais tarde naquela noite Lucius lhe explicou que nem tudo o que ele escutava dentro de casa e pensava podia ser repetido a qualquer pessoa. Que certas idéias não eram aceitas por todos e poderiam acarretar sérios problemas para a família. E que a discrição sobre tais assuntos era fundamental, principalmente quando se tratasse de algum membro do Ministério da Magia. Draco aprendeu então a ser dissimulado.

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Enfim seus pais chegaram a um acordo, ainda que Lucius parecesse bastante contrariado: Draco iria para Hogwarts. Os argumentos de Narcissa haviam prevalecido, mas Lucius se comprometeu a utilizar toda sua influência para tentar fazer com que a escola não aceitasse nascidos trouxas, nem que para isso ele tivesse que desacreditar Dumbledore perante o Conselho de Hogwarts. A ansiedade de Draco em conhecer Harry Potter, que havia esfriado um pouco conforme crescia, voltou a arraigar dentro do peito do garoto.

Harry Potter se revelou uma figura um tanto intrigante. Pequeno e de aparência frágil, apesar de seus olhos firmes revelarem a grande determinação das pessoas que já conhecem o que é sofrimento e rejeição. A cicatriz era mesmo como todos tanto falavam. Mas qual não foi a decepção de Draco quando, não apenas o garoto se recusou a aceitar sua aliança, como também preferiu ser amigo de Pobretão Weasley. E de uma Sangue-Ruim.

A partir de então, toda a frustração de Draco foi convertida em desprezo, raiva e muitas vezes inveja. Draco estava decidido a fazer Potter pagar por tê-lo humilhado. Contou a seu pai sobre sua primeira impressão do garoto em uma carta repleta de rancor e aquela foi a primeira de muitas. Harry Potter era um fraco e um tolo, cuja fama lhe subira a cabeça. Cercado por indulgências o garoto gostava de roubar atenção para si e não demonstrara nenhuma habilidade absurda com magia. De fato, mostrava-se aquém do restante da turma. Draco poderia superá-lo de olhos fechados.

Desde então sua vida passara a girar em torno do garoto, apesar de não ser da forma que tanto planejara. Passava os dias – e por vezes as noites – remoendo palavras, pensando em maneiras de sobrepujá-lo, de humilhá-lo, de mostrar para todos o quão medíocre era o tão aclamado Menino-que-sobreviveu. Sentia-se injustiçado quando falhava e exultante quando vencia. Mas a satisfação nunca durava o bastante.

"Já me contou isso no mínimo dez vezes" censurou Lucius certo dia, enquanto Draco desabafava sobre como todo mundo achava tão sabido o Maravilhoso Potter com sua cicatriz e sua vassoura. "E gostaria de lembrar-lhe que não é prudente demonstrar que não gosta de Harry Potter, não quando a maioria do nosso povo acha que ele é o herói que fez o Lord das Trevas desaparecer..."

Aquilo deixara Draco muito aborrecido. Mas ele era jovem demais para admitir sua obsessão. Sequer compreendia ainda o real significado daquela palavra.

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Pelos anos que se seguiram, a vida de Draco se resumia a poucos tópicos: se esforçar ao máximo para superar a Sangue-Ruim nas notas e deixar seu pai orgulhoso; vencer Potter no quadribol; humilhar e ridicularizar Potter de todas as maneiras imagináveis; fazer Potter se arrepender amargamente do dia em que recusara sua amizade; mostrar para o mundo que Potter não passava de um bruxo medíocre e que o fato de ter sobrevivido até aquele momento não se devia a nada além de pura sorte. Mas por mais que se esforçasse Draco sempre falhava. E a cada derrota tornava-se mais frustrado e amargurado. Ver refletido nos olhos do Menino de Ouro de Dumbledore todo o desprezo que sentia não era tão consolador quanto poderia parecer.

Quando seu pai lhe contou que o Lord das Trevas havia voltado, Draco ficou tão satisfeito que o momento de sua vingança havia finalmente chegado que sequer notou a palidez anormal no rosto de seus pais ou a completa falta de entusiasmo com que Lucius trouxera as boas novas. Draco ficou cego pela oportunidade de desforra. Finalmente outros iriam fazer Potter pagar por ficar bancando o herói durante todo aquele tempo.

Mas o castigo de Potter não chegou rápido o suficiente. Não apenas Potter havia escapado das garras do Lord das Trevas mais uma vez como também fora responsável pela prisão de seu pai. Lucius Malfoy já não era mais ninguém tanto aos olhos do Ministério da Magia – havia sido convidado a se retirar do Conselho por causa de Potter anos atrás – quanto aos olhos do Lord das Trevas. A vergonha elevou a raiva de Draco a um nível perigosamente alto. Nem mesmo as súplicas de sua mãe foram suficientes para que o garoto abrisse os olhos a tempo. Draco acabou vendendo sua alma pelo tão esperado reconhecimento. Acreditava com todas as suas forças que conseguiria dar cabo de sua missão, salvaria o nome da família da lama e deixaria seu pai orgulhoso.

Draco teve orgulho de si mesmo, sentiu-se honrado. Achou ter amadurecido. De repente, sua vingança contra Potter já não tinha tanta importância. Ele tinha uma missão a cumprir e um mestre para quem prestar contas. Nem mesmo seu padrinho poderia roubar a glória que o esperava. E qual não foi a surpresa de Draco ao perceber que finalmente tinha chamado a atenção de Potter de maneira tão completa. Logo quando já não lhe importava mais. O que era Potter comparado com a grandeza do papel que Draco tinha a desempenhar? Certamente pouco mais que um cadáver, uma pessoa marcada para morrer. Nem mesmo a sorte do Menino-que-Sobreviveu lhe valeria de alguma coisa quando Dumbledore tivesse sido aniquilado por Draco Malfoy.

Draco se afastou de tudo e de todos. Nada era mais importante que sua missão. Enxergava em quem quer que tentasse se aproximar um potencial inimigo tentando roubar sua glória. Por isso restaram apenas Crabe e Goyle, que não tinham iniciativa suficiente para tanto. E nem mesmo a esses Draco contava sua missão. Assim como seu pai, Draco descobriu ter facilidade com a Maldição Imperius e logo conseguiu que Madame Rosmerta se tornasse sua informante.

Mas não demorou muito para que a convicção do garoto começasse a vacilar. Seus planos não estavam saindo conforme o esperado. Não conseguia completar nem a parte mais fácil de sua missão, quanto menos a mais difícil. Seu mestre começou a pressionar por resultados. E então o que antes era uma promessa de recompensa – que seu pai seria solto se ele obtivesse êxito – virou uma ameaça – se Draco falhasse, sua família morreria.

De repente a solidão começou a pesar nas costas de Draco, assim como a tarefa que lhe havia sido confiada. O garoto se viu assustado e carente. Para todo lugar que olhasse, parecia haver olhos acusadores a fitá-lo, como se soubessem de seu iminente fracasso. Desejava poder desabafar para alguém. Preferiu não pensar em sua própria humilhação quando finalmente encontrou uma confidente que não lhe fazia julgamento nenhum, bebia de suas palavras, apreciava sua companhia e ainda tentava consolá-lo, ainda que inutilmente.

Draco se sentia sufocado pela responsabilidade que carregava nos ombros. A vida de seus pais dependia de seu sucesso e Draco se achava completamente desacreditado de sua própria capacidade. Aquilo era tão injusto! Draco havia sonhado tanto com o dia em que teria a oportunidade de mostrar seu valor e o Lord lhe designara uma missão impossível de ser concretizada! Deixou-se afundar em autopiedade, derramando lágrimas com esperança de sentir um pouco de alívio pelo desabafo, mas de que adiantava? Aquilo não fazia Draco se sentir menos incapaz.

"Ninguém pode me ajudar" Draco repetia, ignorando a ajuda que a Murta que Geme lhe oferecia.

Foi num de seus momentos mais humilhantes, enquanto chorava pela sua falta de sorte, que Draco se viu sendo observado fixamente por Harry Potter. A raiva que tomou conta de seu ser foi tamanha que quando deu por si, Draco já o estava atacando. Queria quebrar a cara de Potter, expulsar para sempre o espanto mesclado com pena que enxergara nos olhos do que se autoaclamava herói do Mundo Bruxo. Draco sentiu desprezo por si mesmo, por se deixar ser surpreendido em tais circunstâncias. Mas de certa maneira, o duelo o revigorou. Chegou a desejar ser derrotado por um momento antes que um feitiço desconhecido lhe atingisse. A dor que sentiu foi bem-vinda, ainda que sentisse como se lhe houvessem fatiado em mil pedaços. Num momento de extremo egoísmo, Draco desejou que aquele fosse mesmo o fim. Seria então liberto de sua missão. Morreria pelas mãos daquele que um dia sonhara duelar ao seu lado.

Draco estava tão imerso em sua própria dor que não percebeu o que se passava ao seu redor, nem os lamentos de Potter nem os gritos da Murta nem a ladainha de Snape que tentava curá-lo. Sentiu-se pesado apesar de vazio quando Snape o arrastou até a enfermaria e mergulhou num sono sem sonhos depois de tomar várias poções.

Quando acordou, Draco ainda se sentia um peso morto. Demorou alguns instantes piscando para o teto para se dar conta de que estava na enfermaria e outros instantes ainda para se lembrar do por que. Draco passou a mão pelo rosto, porém não parecia haver marcas. Quando espiou por baixo dos lençóis, porém, soltou um suspiro quase aliviado quando viu as linhas avermelhadas das cicatrizes em seu peito. Dessa maneira ele poderia se lembrar de sua fraqueza toda vez que se olhasse no espelho. De certa forma, era irônico que tivesse acabado do outro lado da varinha de Potter depois de tanto fantasiar quando pequeno.

Uma resignada determinação tomou conta de Draco enquanto ele esperava que alguém aparecesse. O que havia dito para a Murta era verdade. Ninguém podia ajudá-lo. Draco havia trazido aquele fardo sobre si mesmo, teria que sair da enrascada sozinho. E daquela vez conseguiria.

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Finalmente Draco alcançaria seus objetivos. Salvaria sua família e recuperaria o prestígio de seu sobrenome para com o Lorde das Trevas! Tinha consertado o armário sumidouro e tinha Dumbledore bem na sua mira, desarmado e indefeso, aparentemente lutando para suportar o peso do próprio corpo pela maneira como os pés do diretor escorregavam a cada minuto. O velho gagá que Draco havia aprendido a desprezar desde quando era um garotinho. Faltava tão pouco...

E ainda assim, era tão mais difícil do que imaginara.

"Matar não é tão fácil quanto crêem os inocentes..." as palavras do diretor ecoavam na cabeça de Draco enquanto ele lutava consigo mesmo. Sabia que estava sendo enrolado pelo velho, que o estava fazendo falar sobre suas conquistas. E Draco repetia para si mesmo que tinha orgulho do que fizera até então. Ainda que ele tivesse sido responsável por trazer Fenrir para dentro do castelo. Aquela idéia o deixava apavorado, mas ele não tinha como saber, simplesmente fez seu trabalho...

"Meu caro rapaz, vamos parar de fingir" disse Dumbledore, por fim. "Se você fosse me matar, teria feito isso quando me desarmou, não teria parado para conversarmos amenamente sobre meios e modos".

"Não tenho opções!" desesperou-se Draco, sentindo o sangue lhe esvair da face. "Tenho que fazer isto. Ele me matará! Matará minha família toda!"

Mas o diretor não se deixou silenciar. Continuou falando, como se Draco tivesse mesmo outra escolha que não cumprir sua missão.

"Não houve mal algum... posso ajudá-lo, Draco... podemos escondê-lo... você não é assassino..."

As palavras de Dumbledore ecoaram em sua mente, ainda que Draco tentasse argumentar. Era tudo mentira, o diretor não conseguiria esconder a ele e a seus pais do Lord. Ninguém poderia vencer o seu mestre. O velho só estava dizendo aquilo para enrolá-lo, para ganhar tempo. Dumbledore era um homem morto. Ninguém podia ajudar Draco...

Porém, por mais que o garoto repetisse tais justificativas para si mesmo, já era tarde demais. Uma pontinha de dúvida começara a despontar em seu coração. E com ela veio a esperança. E se houvesse uma alternativa? E se Dumbledore conseguisse salvar sua família se tão somente Draco mudasse de lado? De qualquer forma, o destino de sua família estava novamente em suas mãos. A quem Draco queria enganar? Ele não sabia matar. Não era como lançar a Maldição Impérius. Jamais conseguiria...

E tão de repente quanto surgira a esperança, ela fora arrancada de suas mãos com brutalidade. Os outros Comensais haviam se juntado a Draco antes que ele pudesse tomar qualquer decisão.

"Agora, Draco, rápido!" alguém gritara com a raiva de quem já estava perdendo a paciência.

Draco estava aterrorizado. Era como se tivesse olhado para dentro de si mesmo pela primeira vez e o que encontrara era difícil de admitir. Fraqueza, rancor, remorso, impotência e um terror profundo. Medo por si mesmo, pela sua família e pelo homem indefeso sob a mira de sua varinha. Tudo aquilo foi substituído pelo choque quando Snape tomou as rédeas da situação e concretizou aquilo que Draco jamais seria capaz de fazer.

E Draco assistiu sua esperança despencar do alto da Torre.

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Draco tinha chorado ao reencontrar sua mãe, pela primeira vez se dando conta de que não tinha dado a devida atenção ao desespero de Narcissa quando recebera sua missão. Mas o que mais lhe surpreendera fora, não somente o fato de o Lord ter libertado seu pai, mas o abraço apertado que recebera de Lucius que dizia mais do que mil palavras. Draco descobriu que não importava mais para os Malfoy se Lucius não passava de um simples servo para seu mestre. O importante era que eles continuavam vivos e juntos. Poderiam suportar qualquer humilhação em troca daquilo.

E não foram poucas as situações em que eles foram humilhados. Primeiro tiveram que ceder a Mansão da família para quartel general dos Comensais da morte. Depois Lucius teve que ceder a varinha para seu mestre sem ganhar nenhuma outra para substituí-la. Quando Draco achava que não havia degradação maior para um bruxo que perder a varinha, o Lord das Trevas sempre os surpreendia, desmoralizando os Malfoy perante os demais comensais.

Certa vez vários comensais aguardavam na sala de jantar enquanto o mestre fazia outro se seus longos e torturantes interrogatório ao Sr. Olivander, mantido prisioneiro no porão da Mansão. Ao terminar, o Lord estava possesso. Até os comensais tremiam de medo ao vê-lo naquele humor.

"Lucius, leve o que sobrou do nosso hóspede de volta para o porão" o mestre ordenou e Lucius se levantou rapidamente se curvando em seguida numa mesura.

Draco sentiu o estômago afundar em antecipação. Como o Lord esperava que seu pai executasse alguma tarefa sem uma varinha? Tudo naquela Mansão funcionava por magia. Não havia uma só tranca que possuísse uma chave comum.

"Imediatamente, Milord" Lucius falou em seu tom mais respeitoso e Draco percebeu que o pai tremia. "Mas entenda, Milord... as trancas do porão são acionadas magicamente. Se o senhor permitir que meu filho me acompanhe..."

"Eu não entregaria meia missão a dois incompetentes, Lucius!" o Lord interrompeu-o furioso e Draco ouviu o comensal a seu lado dar uma risadinha debochada que só Draco e sua mãe puderam ouvir. "Do jeito que vocês dois são inúteis, Olivander fugiria mesmo desacordado e debilitado do jeito que eu o deixei. Aliás, de que você me serve sem uma varinha, Lucius?"

"Milord, eu sinto..."

"Cale-se! Bellatrix acompanhe seu cunhado".

"Sim, mestre!" Bellatrix falou de pronto, se levantando.

"Não levite o prisioneiro, deixe que Lucius o carregue nos ombros para se lembrar de quando teve a chance de mostrar seu valor como bruxo e falhou".

Diante daquilo vários comensais riram maldosamente, ainda que em tom baixo em respeito à fúria de seu mestre. Porém o Lord parecia satisfeito com a reação de seus servos. Draco podia sentir o quanto o deboche dos demais para com os Malfoy satisfazia seu mestre.

"Quanto a Draco..." o Lord voltou-se para o garoto depois que Lucius e Bellatrix já haviam deixado o aposento. Draco desejou se fundir ao assento, mas como sempre seu desejo não foi atendido. "Você ainda deve ter alguma utilidade, embora eu não tenha descoberto ainda qual".

O Lord fez outra pausa para que os demais gargalhassem e Draco fechou os punhos. Então sentiu o aperto de uma mão firme em seu pulso sob a mesa.

"Abaixe a cabeça, querido. Não reaja. Ignore todos exceto o Lord das Trevas" sussurrou sua mãe.

Draco acenou afirmativamente e entrelaçou os dedos nos da mãe.

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Draco não tardou em descobrir o que o mestre reservava para ele. Quando Thorfinn Rowle falhou em capturar Potter em um café na Londres trouxa, o Lord mandou que Draco o torturasse. Draco não teve escolha, a menos que desejasse ser torturado também. Os gritos por piedade de Rowle e sua expressão de dor ficariam para sempre impressos na mente de Draco. Mas não apenas aquilo.

Por noites a fio Draco não conseguiu dormir tranquilamente. O horror daquilo que assistia todos os dias junto dos comensais tomava conta de seu ser e o deixava tremendo da cabeça aos pés. Draco já havia presenciado tantas atrocidades dentro de sua própria casa que começava a imaginar se um dia voltaria a dormir uma noite sequer sem ter pesadelos. Bastava fechar os olhos para reviver tudo com a mesma intensidade.

Foi então que Draco começou a sonhar acordado. Fantasiar com o dia que alguém o salvaria e à sua família daquele circo de horrores.

O irônico era que o herói de seus sonhos se parecia muito com Harry Potter.

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Continua...

N.A.: Esta fic está em andamento, pois cada vez que eu escolho uma das Razões Pinhonicas do Projeto Sectumsempra de Amor não Dói III tenho 15 dias para postar (e já estourei o prazo logo no primeiro capítulo O.o), então acaba não sobrando tempo para fazer estoque de capítulos. Muito menos pra escrever tudo antes de postar, como em Segunda Chance. Mas quem sabe não vire uma long... Vai depender de onde a inspiração me levar ;D