Espero que depois de toda essa demora ainda tenha alguém aqui para ler... especialmente porque não se recebe mais os alertas de atualização (eu ao menos não recebo...)

Mil perdões e espero que gostem.

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CAPÍTULO DEZENOVE

Dean já havia avisado ao comandante Singer sobre a mudança e foi dispensado para que pudesse arrumar suas coisas e tomar outras providências. Faltava ainda falar com Sam, o que não havia conseguido no dia anterior, pois o rapaz não atendeu ao telefone. Deveria estar estudando para alguma prova difícil na faculdade e não queria ser perturbado.

Também faltava avisar os pais. Decidiu que faria o anúncio durante o almoço de domingo. Lisa, mais uma vez, estaria ao seu lado e isso lhe dava confiança e até um certo conforto. Para os pais eles ainda estavam juntos e isso tornaria o processo de aceitação mais fácil, em especial para Mary, que certamente sofreria por se afastar de mais um filho.

O loiro resolveu passar a tarde de sexta-feira em seu apartamento encaixotando seus poucos pertences. Ao menos pareciam poucos antes de começar sua tarefa. Se viu obrigado a sair duas vezes para ir até o mercadinho próximo pedir caixas de papelão. Parou no início da noite para uma cerveja e para entrar no MSN onde esperava falar com o irmão. Já passava das 2 horas da madrugada quando Dean desistiu de esperar e, cansado de trabalhar, resolveu dormir. Não quis ligar para o celular de Sam, pois se o rapaz não tinha sequer entrado no MSN certamente estava muito ocupado para bater papo.

O sábado transcorreu da mesma forma: em meio a caixas e à espera de que Sam o chamasse pelo computador. Até que, por volta das 20 horas, Dean cansou e resolveu ligar.

- Que se dane, isso também é importante.

O telefone tocou até que a chamada caísse na caixa de mensagens. E foi o que aconteceu nas cinco vezes seguintes. Dean já estava angustiado. Ligou para Lisa.

- Oi, Dean. Tudo pronto para a viagem? – perguntou a morena, assim que atendeu.

- Hei, Lis... Não consigo falar com o Sam, estou preocupado.

- Ele deve estar cheio de trabalhos e provas da faculdade, querido, não fique aflito por nada.

- Lis, ele não atende sequer o celular. Não sei o que pensar disso...

- Desde que não pense besteiras...

- Mas e se... e se ele tiver mudado de ideia? E se ele se arrependeu de ter aceitado nossa proposta?

- Dean, querido, não fique imaginando coisas, se torturando assim. – A jovem pôde ouvir um suspiro cansado partir do outro lado da linha. – Então, já está com tudo pronto para a mudança?

- Quase. Tenho mais coisas do que imaginava... e você? – perguntou, aderindo ao plano de não se preocupar antes da hora.

- Nem me fale. Como a gente guarda tanta porcaria ao longo da vida!

Depois de alguns minutos de conversa o loiro já estava mais relaxado. Era um dos poderes que Lisa exercia sobre ele. Quando se despediram ele estava até sorrindo, tranquilo. Não demorou muito para que o celular tocasse. Era Sam, para um alívio ainda maior do mais velho.

- Hei, cara, liguei pra você feito um louco. Por onde você andou?

- Calma, Dean, eu estava no banho. E depois o seu telefone só dava ocupado.

O mais velho sorriu. Mais uma vez Lisa estava com a razão. Ele se preocupava demais.

- Eu estava conversando com a Lisa sobre os últimos detalhes da mudança – admitiu. O que deixou o caçula com uma ponta de ciúmes involuntário e, ao mesmo tempo, quando a ficha caiu, cheio de dúvidas sobre que diabos de mudança era essa.

- Sam? – chamou Dean, diante do silêncio do mais novo.

Enfrentando um receio inexplicável, Sam perguntou:

- Mudança?

- Sim, Sam, era isso que eu queria te contar. A Lisa foi transferida para uma clínica de recuperação em Hartford, coisa grande. E me convidou para ir junto, parte daquele nosso plano, sabe? Eles até emprestam casa e tal. Vou na frente e já procuro um cantinho pra gente, um emprego pra mim e vejo como se faz para te transferir de faculdade. O que você prefere? Harvard ou Yale? – Dean contava tudo com rapidez de um adolescente cheio de planos.

- Dean, espera... você vai para Hartford? Com a Lisa?

- Sim, Sam... 'tá lento hoje, hein, maninho? Vamos fingindo que somos namorados, para que eu possa ficar com ela na tal casa emprestada até achar alguma coisa pra gente, vou adiantando o meu lado para que a gente possa se manter quando você vier e...

- Dean, calma... vai devagar, ok?

A interrupção pegou o loiro de surpresa. Esperava do irmão o mesmo entusiasmo que ele sentia, não este "freio" todo.

- O que foi, Sam? Não gostou da ideia? – sussurrou, frustrado.

- Não é isso, Dean...

- Então é o que, Sam? Eu estou aqui todo entusiasmado com a possibilidade de podermos ficar juntos, começar vida nova como vínhamos planejando, e agora que estamos perto de realizar esses planos você fica aí cheio de receio, até parece que está arrependido.

- Dean, é que me dá nos nervos essa sua mania de tomar decisões por mim. Eu sei que estávamos planejando nos mudar para uma outra cidade, mas não esperava que fosse assim, tão rápido... você por acaso pensou se eu quero ir para Hartford? Ou se eu não preferia terminar a faculdade em Stanford e só aí me mudar para outro lugar? E que esse lugar pudesse ser outro que não Hartford? – despejou Sam, irritado.

- Desculpe, Sammy, eu achei que era isso que você queria, que era disso que vínhamos falando nas últimas semanas. Mas, tudo bem. Não vou te incomodar mais com meus planos e sonhos e nem tomar decisão nenhuma por você.

- Dean... – mas já era tarde. O loiro havia desligado, o que deixou Sam arrasado, arrependido de ter matado o entusiasmo do irmão, por ter se deixado levar pelo medo de, finalmente, ser obrigado a tomar uma iniciativa, o primeiro passo em busca de uma nova vida que o assustava mais do que gostaria de admitir.

Tentou ligar de volta, mas Dean havia desligado o celular. Então se jogou na cama e começou a imaginar como seria se ele topasse essa ideia doida de ir para Hartford assim tão de repente. Como seria a burocracia de transferência de universidades? A adaptação em uma nova cidade? O que diria aos pais... todos aqueles aspectos que ele e Dean vinham discutindo e que ainda o deixavam com um pé atrás, com receio, medo de arriscar. Mas, principalmente, o que diria para Jéssica...

Quilômetros distante, Dean estava arrasado. Não era sua intenção fazer com que Sam se sentisse manipulado, mas a verdade é que ele sempre fora impulsivo e se deixava levar pelo entusiasmo com facilidade. Tanto que às vezes não entendia por que nem todos ao redor sentiam a mesma animação. Pensou em ligar para Lisa mais uma vez e contar o que havia acontecido. Sabia que ela teria palavras para devolver um pouco da sua alegria, mas não quis incomodar. Pegou uma garrafa de whisky no armário e foi para o quarto assistir qualquer lixo na televisão e beber. O resto dos problemas que o esperassem até o dia seguinte.

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O domingo chegou e desta vez quem estava preocupada era Lisa. Tentava ligar para Dean desde a noite anterior para saber se ele tinha conseguido falar com o irmão e o celular estava desligado. Como ainda tinha a chave do apartamento do loiro, resolveu ir até lá um pouco mais cedo do que o combinado para o almoço com a família Winchester.

- Dean? – chamou da porta, sem obter resposta. Olhou em volta e só viu um amontoado de caixas, sem identificação nenhuma, e sorriu. "Alguém vai ter muito trabalho para encontrar suas coisas na casa nova", pensou. – Dean? Você deveria escrever na caixa o que tem dentro de cada uma para se achar melhor depois.

Ainda nenhuma resposta. Então a morena percorreu o curto corredor que levava até o quarto que compartilharam até pouco tempo. À porta viu o loiro deitado de bruços, totalmente vestido, uma garrafa de whisky vazia jogada ao lado da cama e a televisão ligada e algum programa de vendas. "Certamente não lembrou de comer nada o dia todo na empolgação de empacotar as coisas e resolveu beber antes de dormir." Ela o conhecia bem demais.

Sentou na cama e chamou Dean com carinho, tocando de leve seu ombro.

- Dean? Querido, acorda.

Em resposta um resmungo incompreensível.

A morena resolveu fazer um café forte para despertar o "belo adormecido". Deu certo. Assim que ela chegou perto da cama o aroma pegou Dean de jeito e ele começou a acordar aos poucos. Se espreguiçou e abriu os olhos devagar. Quando se deu conta de que Lisa estava ao seu lado, ele sentou-se na cama e disse "bom dia" com a voz mais rouca que o habitual graças à bebida e ao sono.

- Café. Bom pra acordar e curar a ressaca. Comemorou o que ontem à noite?

- Não... foi comemoração... O Sam desistiu... eu acho... não sei dizer – respondeu Dean entre um gole e outro do café.

- O quê?

- Foi estranho... eu liguei todo entusiasmado pra contar sobre Hartford e ele... ficou todo ofendido dizendo que eu não devia tomar decisões por ele... Lis... – Dean não conseguiria esconder as lágrimas em seus olhos mesmo se quisesse. – Este tempo todo eu achei que ele também queria isso... mas agora que está próximo de conseguir ele...

O bombeiro passou a mão livre pelo rosto enquanto dava um longo suspiro.

- Puxa, Dean... – respondeu a jovem, abraçando-o. – Ele deve estar um tanto assustado... uma coisa é conversar a respeito, mas é outra bem diferente quando se está perto de concretizar os planos; pode ser que ele tenha sentido receio, o que é totalmente compreensível. Afinal, ele é jovem, vai mudar toda a vida de uma hora para outra em nome desse amor.

- Eu também vou mudar toda a minha vida por isso, Lis...

- Mas ele é jovem, não tem a sua segurança...

- Estou começando a achar que estamos cometendo um grande erro...

- Não diga isso, Dean! Vai dar tudo certo, vocês vão se entender.

- Eu não sei... mas, para ser sincero, gostaria de ir com você mesmo se ele não quiser ir atrás... mudar de vida, de ambiente, me afastar daqui... você aceitaria, se fosse assim?

- Claro, Dean. Antes de tudo somos amigos e amigos se ajudam. Se você quiser seguir com os planos de mudar de vida, mesmo sem o Sam, eu vou estar ao seu lado.

- Eu te amo, Lisa... – completou o loiro, abraçando-a mais uma vez.

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Diante da estranha reação de Sam Dean começou a cogitar abrir mão desse amor e lutar por uma vida normal, talvez com a própria Lisa, se ela o aceitasse de volta, claro. Assim tudo seria mais tranquilo, sem segredos, sem preconceitos para enfrentar, sem culpa por estar cometendo um crime e/ou pecado, dependendo da situação. Estava pensando exatamente nisso a caminho do almoço com os pais. A jovem, sentada no banco do passageiro, leu com exatidão o silêncio do rapaz e sussurrou:

- Ele vai aceitar, Dean. Não deixe seu amor fraquejar agora.

O loiro desviou rapidamente os olhos da rua e encarou Lisa por um instante. Apesar de todos esses meses de convivência ele ainda se surpreendia ao perceber o quanto ela o conhecia bem. Em resposta apenas deu um sorriso discreto. Economizava forças para fingir felicidade na casa dos pais.

Foi exatamente o que fez. Chegou à casa dos pais fingindo aquela alegria típica das reuniões da família Winchester, mas aos poucos, cercado por aqueles que o amavam, essa alegria deixou de ser fingimento e isso o fez sentir-se leve. E – por que não? –, feliz. No meio do almoço ele olhou para Lisa e anunciou:

- Lisa e eu vamos nos mudar para Hartford semana que vem.

Diante da surpresa dos pais, o loiro pegou a mão da jovem fisioterapeuta e sorriu.

- Assim, de repente? – comentou Mary.

- Eu fui convidada para trabalhar em uma grande clínica na cidade. Uma proposta muito boa, não apenas para minha carreira, como também financeiramente.

- E eu não seria capaz de atrasar a vida da Lisa, por isso, vou junto. Deve haver grupo de combate a incêndios por lá... – continuou Dean. – Sem contar que, desde o acidente, eu sinto uma certa vontade de mudar de ambiente, sair de Lawrence, dessa notoriedade toda, levar uma vida mais anônima, entendem?

- Oh, querido, claro que entendemos, meu amor – respondeu Mary. A loira levantou-se e foi até o filho para abraçá-lo. Um misto de sentimentos tomou conta de seu coração de mãe: alegria por ver que seu primogênito estava apaixonado e feliz com a possibilidade de uma nova vida; tristeza por saber que iria viver longe de mais um de seus meninos; aliviada por ver que cada um deles estava seguindo seu caminho sem terem de enfrentar o preconceito e a culpa de um amor proibido.

- Um brinde à nova vida de Dean e sua namorada! – comemorou John, erguendo seu copo de cerveja. E a comemoração se prolongou por boa parte da tarde também.

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