Aviso 1. Jared, Jensen, Misha, etc., são atores; não têm nada a ver com o que escrevo aqui!

Aviso 2. Conteúdo adulto! Lemon e etc., não gosta, por favor não leia.

Capítulo 1 – Chegada

A noite chuvosa caía devagar. Apesar de não ser forte, era o suficiente para molhar a rua e dificultar quem se atrevesse a andar de moto. E, infelizmente, era o caso dele. Não que gostasse desse tipo de veículo, ao contrário, o considerava perigoso ao extremo. Mas o que poderia fazer? Se o objetivo a seguir era deixar a terra natal para trás, tinha de começar logo.

O pai, Arthur Collins, visivelmente desgostoso da decisão radical do filho, lhe dera a moto com o ar mais desaprovador que podia lhe lançar. Misha, porém, não pensou um instante sequer; somente queria partir o mais rápido possível. Os inúmeros apelos do pai e do irmão não surtiram efeito algum, embora sentisse muito por deixá-los.

Flashback on:

– Cuide do coroa pra mim, falô? – recomendou. Um meio sorriso lhe surgiu nos lábios. Sasha fez uma careta de contrariedade ao vê-lo colocar uma pequena mala no banco de trás da motocicleta. Não imaginava como seriam as coisas depois que o mais velho partisse. – Eu preciso ir, mano. O que houve aqui é demais pra eu agüentar.

– É só que... – parou a fala e olhou o outro nos olhos por míseros segundos. Não enxergava uma faísca de vida naquele olhar atordoado.

– "É só que..." O quê? – Misha o encarou sério. – Sei que é cedo, você tem apenas dezenove anos. Mas preciso que faça isso pra mim. Tome conta dele, certo?

– Tudo bem, ok. Eu só queria que ficasse um pouco mais conosco – disse, desconfortável com a situação.

– Eu também, acredite... Mas não posso – lágrimas lhe vieram aos olhos. No entanto, se segurou para não chorar; o pai entrara no pátio da residência, e Misha queria parecer ser forte.

– Você não é tão experiente assim para sair correndo pelo mundo afora, filho. Pense melhor, ninguém o culpou pelo que aconteceu semana passada.

– Não preciso de que vocês me culpem, eu faço isso por todos nós – a voz do rapaz soou firme. Sentou-se no banco e ligou o veículo. – Darei notícias, não se preocupem. E voltarei antes do que imaginam.

Resignados, Arthur e Sasha não tiveram escolha. Os dois observavam, com imensa tristeza, o jovem se distanciar sem dizer sequer um adeus. Porque, no fundo, nenhum dos três tinha coragem para proferir algo do tipo.

Flashback off.

– Dallas, Texas. Não pode ser pior do que as lembranças... – pensava, enquanto manobrava para estacioná-la.

Parou em frente a um hotel barato e desceu. Não tinha mais do que trinta dólares no bolso, então ele necessitava de um emprego o mais urgente possível. Deu uma rápida olhada na moto e pegou a mala. Caminhava em direção ao local para reservar um quarto, quando foi abordado por um homem branco, todo esfarrapado.

– Ei, passa a grana aí! – exclamou, após encostar o cano do revólver na testa do rapaz.

– Que ótimo – refletiu. – Bom modo de iniciar vida nova – completou, ainda em pensamento.

– Não me ouviu, é, filho da mãe? – o bandido engatilhou a arma, mas foi surpreendido com a chegada de um policial.

Alto, loiro, olhos verdes. Foi o pouco que Misha percebeu. Ele portava uma pistola e estava fardado. Sem ter muitas opções, deu um tiro para cima, o que assustou o marginal, que em seguida saiu correndo. Mas não foi muito longe; o parceiro e melhor amigo do loiro, um moreno ainda mais alto – Jared Padalecki –, prendeu o ladrão na esquina seguinte.

– Tudo bem com o senhor? – perguntou, enquanto baixava a arma. O homem tinha um tom preocupado.

– S-sim, obrigado. Sou Misha Collins – estendeu a mão para o policial.

– Prazer em conhecê-lo. Meu nome é Jensen Ackles – apertou a mão do outro. – Está a passeio por aqui?

– Não. Vim para ficar – explicou. – Como não tenho muito dinheiro, vou procurar um... – fez uma pausa e disse: – Bem, me desculpe; estou tomando o seu tempo...

– De forma nenhuma – o loiro não entendia bem o porquê, mas se interessou pelo jovem. – Prossiga, por favor.

– Vou atrás de um emprego amanhã mesmo. Preciso dar um jeito de me manter nessa cidade – comentou.

– Bem, eu posso ajudar... Se quiser... Eu acho. Vamos fazer o seguinte... – iniciou, depois de consultar o relógio. – Faltam duas horas para eu fechar o meu horário de trabalho. E posso conversar com meus pais. Eles têm uma lanchonete. E precisam de alguém para auxiliar no atendimento ao público. Já tem uma garota lá, mas eles querem um menino também – Collins sorriu ao escutar a palavra "menino", a qual Jensen pôs ênfase. – E você pode ir conversar com eles amanhã, se quiser.

Misha analisou a proposta. O dia estava sendo tão agitado; o fim, porém, valia a pena; era, ao menos, um começo para ele. Após a tragédia ocorrida em Boston, antes de deixar o lar de sua infância, nada melhor do que novos ares.

– Ok, eu aceito – respondeu. – E agradeço por querer me ajudar – concluiu.

– De nada. Amanhã eu estarei de folga. Por isso virei aqui para dizer a você como foi a minha conversa com meus pais. E, quem sabe, não o levo à lanchonete, não é? – o outro assentiu. – Bem, vou indo. Boa noite. Cuide-se.

– Obrigado por tudo – o tom baixo denunciava constrangimento. Por mais que tivesse gostado do loiro, se sentia estranho perto dele.

Jensen se afastou do jovem. Antes, entretanto, deu uma rápida olhada nele. Era inegável: os olhos tinham uma beleza incomum. Depois que Misha entrou no hotel, Ackles permaneceu ali, olhando para o local no qual o jovem estivera. Mas teve sua atenção chamada por Jared, que balançou a mão em frente aos verdes olhos do companheiro.

– Ei, o que foi? Viu um passarinho verde? Ou eu deveria dizer... Azul?

– N-não... Que droga! O cara acabou de chegar à cidade, e você acha que eu tô...

– Eu não acho, tenho certeza – rebateu, o ar brincalhão. – Você ta encantado...

– Hum... N-não... É pra tanto... Eu acabei de conhecer o sujeito – o loiro gaguejava, demonstrava estar nervoso.

– Ei, qual é? Você sabe que não precisa esconder isso de mim... Somos amigos há tempos. E eu não desaprovo suas opções – o moreno pousou a mão no ombro do parceiro. – Só acho que sua família deveria ter conhecimento das preferências que faz...

– Por em quanto não. É melhor assim... Não é necessário – dirigiram-se ao carro. Jensen sentou no banco do motorista e deu a partida. – E o bandido, onde está?

– O Sr. Beaver o levou – explicou, se referindo a um dos policiais mais experientes da corporação.

– Ok. Menos um marginal pra incomodar – respirou fundo e mirou o céu escuro.

– É. E você salvou o recém-chegado. É o herói dele – comentou, o sorriso malicioso.

– Quer parar com as brincadeiras? – pediu, mas não pôde deixar de sorrir de canto com a observação.

– Ta... Eu não falo absolutamente nada, se é o que deseja. Só que tem uma coisa...

– O que foi agora? – Jensen o encarou sério.

– Tenho certeza de que você e ele vão se dar muito bem... Quer fazer uma aposta?

– Não precisa – respondeu depressa. – Eu vou contar a você tudo que disse ao rapaz, desde que pare com as gracinhas. – o moreno assentiu.

Enquanto que o loiro colocava o amigo a par do diálogo que ele e o recém-chegado tiveram há cerca de quinze minutos, Misha se jogava pesadamente na cama, após um quente banho. Não era das mais confortáveis, porém era o suficiente para dormir um pouco, se realmente conseguisse. Há dias que não tinha uma noite decente de sono, porque sempre lhe vinha à mente aquela porcaria toda. Recordava-se de Philipe adentrando a sua residência, nervoso, sem querer ouvir explicações de quem quer que fosse. Todos tentaram contê-lo, acalmá-lo de alguma forma; foi a versão que Arthur Collins dissera à polícia. Quando Misha escutou os gritos enlouquecidos do garoto, resolveu ir ao primeiro piso da moradia para conversar com ele. Porque, afinal de contas, Philipe era explosivo e às vezes violento – tinha esse temperamento difícil e nada iria mudá-lo. Quando desceu o último degrau, entretanto, ouviu o estampido... O tiro fatal. Não queria crer no que vislumbrara, mas era a mais pura verdade.

Ainda deitado, fechou os olhos com força; não desejava se lembrar de tais cenas agora. Isso, contudo, lhe era impossível. Ao menos o irresponsável do Philipe pagaria com uma prisão perpétua ou algo do tipo, já que, para piorar, fora pego em flagrante; nada o inocentaria. Isso, no entanto, não solucionaria a situação, não diminuiria a culpa que Misha julgava ter.

Balançou a cabeça para os lados; queria esquecer dos trágicos fatos. Recordou-se, então, de Jensen Ackles. Do olhar terno, das feições do loiro... Não, aquele não era um bom momento para se envolver com alguém que nem sabia se era homo ou heterossexual, ao menos era o que Collins pensava. Até porque, precisaria curar a ferida que Philipe – seu ex-namorado – abrira em seu peito ao matar uma pessoa muito importante para a família Collins.

Aquela seria, pelo jeito, uma noite insuportável, com as tristes recordações a persegui-lo até o dia clarear.