"Me desculpe."
Não havia o que responder. Não havia o que desculpar. Era como se um castelo de areia pedisse desculpas por se desfazer frente ao mar.
"Não foi sua culpa."
Os ombros largos e altivos estavam caídos. O cabelo estava em desordem. Cuspiu no chão um pouco do sangue que se acumulava na boca.
"Não foi?"
Não que o outro estivesse em melhor estado. Ainda sentia o peso dos cadáveres de seu exército e das botas do exército inimigo.
"Não, não foi."
A nação-península se sentou e estendeu as mãos. Limpou o encrustrado de sangue, fuligem, lágrimas e suor, asseou o cabelo, segurou a nuca, trouxe conforto.
"Talvez tenha sido melhor assim."
Não havia porque conter as lágrimas. Doía. Não há como explicar o quanto doía. Tantos planos, tanto tempo... tanto.
"..."
Já era difícil consigo mesmo, mas no fundo, sempre soube que era questão de tempo. Ele era o mais fraco, sempre fora. Sua única força era a vontade. E agora, mesmo ela havia falhado.
"Eu queria ter sido mais forte."
Havia lama também. Era difícil discerni-la no meio de todos os sangues, mas ela estava lá, presa às solas das botas e às lapelas.
"Eu queria que você não tivesse precisado sê-lo."
Japão ainda lutava. Ele era forte e sábio, mas toda a sabedoria do mundo não faria frente à imprudência enérgica do outro lado do Pacífico.
"Eles te machucaram muito?"
Era um galpão, não mais que um galpão abandonado, cheio de poeira e pragas. Vazio de tropas e de cor.
"Parece anestesiado agora."
É difícil acalmar alguém quando seu estado de nervos é igualmente deplorável. É difícil cuidar de alguém quando você mal tem forças para manter os olhos abertos.
"Acho que sonhamos alto demais."
Retalhos de pano são bons garrotes. O sal arde quando entra nas feridas, mas ajuda a cicatrizá-las mais rapidamente.
"Talvez devesse ter começado com algo mais simples."
No meio da sujeira, um sorriso triste, de uma tristeza doce. Mãos, lábios, uma cabeça abaixada com os olhos fechados.
"Como eu?"
Melancolia compartilhada num sorriso preso à pele.
"Seria simples o bastante."