A Morte

"Por que não era só saudade, era a vida dela que não fazia mais sentido."

Meu rosto já marcado pela velhice era exposto pelo espelho de minha penteadeira. Meus olhos tinham olheiras, meu rosto era deformado a cada ano por rugas, mas eu não me importava com isso... Na verdade, nunca me importei com a aparência – os livros eram mais importantes; e talvez seja por isso que hoje sinto o final dessa minha vida, sozinha, sem qualquer braço para me amparar.

Lá fora a vida continuava alegre, e é claro que eu ainda tinha toda àquela minha vontade de viver, mas talvez depois de todos esses anos sozinha – comandando uma escola, enfrentando problemas – àquela mesma vontade se esvaíra pelo chão que piso – hoje já com certa dificuldade.

Encaro minhas mãos enrugadas, vendo toda minha vida de trabalho pelos dedos longos e atrofiados. Quantas guerras, quantos problemas, e quantas felicidades... Oh sim, as felicidades sobrepunham tudo de mal que tinha me acontecido; talvez nem tudo, mas ainda era mais forte.

Mais uma vez encaro o espelho, e sinto as memórias confundirem minha mente cansada. A vista já está embaçada pelas lágrimas que hoje não sei mais controlar, sinto meu fim cada vez mais próximo.

Olhando meus cabelos mal penteados, com certa nostalgia, lembro-me da época em que sequer um fio de cabelo se atrevia a ficar fora do coque que demonstrava uma postura firme. Naquela época eu era verdadeiramente Minerva McGonagall, e não os restos que vejo refletido no espelho.

Levanto-me com certa dificuldade, sentindo uma indisposição horrível. Novamente não estarei presente se quer no café da manhã. Segurando na penteadeira, vou e direção à cama, sentando-me de forma devagar, para não ter nenhuma tontura. Deito-me e mais lembranças vêm à minha mente, deixando-me como uma criança sozinha, sentindo saudade da época em que eu ainda servia para algo.

Suspiro, vendo o dia continuar, enquanto limpo as lágrimas que começam a secar no meu rosto frio. O suspiro é longo, enquanto fico a imaginar que fim eu tenho... O coração dói, e tudo que eu quero é dar realmente um fim a tudo isso.

Uma grande sonolência me toma, enquanto sinto a visão ficar turva. Fecho meus olhos e deixo a escuridão tomar conta do meu ser, completando todo aquele sentimento de vazio, de saudade. Era a morte que me convidava para seguir numa nova estrada, dessa vez com a ajuda de seu braço firme, que me seguraria se minhas pernas fraquejassem.

Seu sorriso amarelo foi retribuído por uma carícia minha em sua mão cadavérica, coberta por uma emenda da capa. Eu havia aceitado acompanhar-lhe e ser acompanhada por ela, nessa mais nova rota de minha vida... Quem poderia saber o que me aguardava?

Aceito o convite para irmos até o fim dessa estrada, deixando todas minhas memórias para trás, mas deixando o mais importante: a saudade dos tempos austeros e passados, por daqui para frente, eu apenas tinha que me importar com a minha mais nova companheira: a Morte.