1864 – Inglaterra
Jared já estava sem paciência naquela praça enquanto seguia seu pai. A temperatura não estava das mais amenas e a quantidade de pessoas que se aglomeravam pelas ruas, deixavam tudo mais apertado, quente e fedorento.
A higiene, com certeza, nessa época não era prioridade de ninguém e Jared tinha pavor daquela gente feia, pobre e fedida que passava por ele, esbarrando em seu corpo.
"Eu não entendo a razão da gente ter que vir pessoalmente escolher esses escravos pai!" Jared falou para o homem que andava na sua frente.
"Filho, aprendi desde cedo com o seu avô que esse tipo de trabalho deve ser feito pessoalmente pela gente. Nós delegamos a maioria das coisas, mas a escolha dos escravos dever ser feita dessa forma! Assim evitamos problemas." Gerald falou para seu filho e sorriu.
Jared bufou e revirou os olhos, continuando a seguir o pai. O moreno não entendia a razão de ter que ir até aquela cidade horrível, mas segundo Gerald, era importante que ele se interasse dos negócios, mas isso era uma coisa que Jared não estava nenhum pouco interessado.
Jared era extremamente mimado e seus pais faziam exatamente tudo que ele queria. O fato de ser o único filho e herdeiro da fortuna dos Padalecki o transformava numa pessoa insuportavelmente arrogante e prepotente.
A família Padalecki praticamente dominava a cidade e forneciam tudo para os moradores daquela pequena cidade da Inglaterra. E isso fazia com que Jared se sentisse a pessoa mais importante e em conseqüência disso, ele se aproveitava e abusava dos inúmeros escravos de sua casa, fazendo verdadeiras barbaridades que seu pai nem sonhava em saber.
"Chegaram!" Gerald falou para o filho, que ainda estava absorto em seus pensamentos e desviou o olhar para a enorme carroça que entrava pela rua principal da cidade.
"Vamos escolher e ir embora o mais rápido possível! Não agüento mais o cheiro dessa gente!" Jared falou colocando uma de suas mãos no rosto.
Gerald riu de seu filho e o puxou pelo braço até onde estava Mark Pellegrino, que era o mais famoso traficante de escravos da redondeza.
"Sr. Padalecki! Mas que honra!" Mark pulou da carroça assim que avistou o mais importante comprador de sua mercadoria.
"Sr. Pellegrino." Gerald apertou a mão do traficante e sorriu. "Estou vendo que hoje teremos muita mercadoria para escolher."
"Hoje eu trouxe mercadoria de primeira, Sr. Padalecki!" Mark abriu a carroça, onde mais de trinta pessoas se amontoavam umas por cima das outras.
Jared olhou para as pessoas sujas que estavam dentro da carroça e sentiu uma vontade muito forte de vomitar. Eles exalavam cheiro de podre e o moreno achou que provavelmente não estavam todos vivos.
"Estamos precisando de quatro homens fortes, que possam trabalhar pesado e duas mulheres que saibam cozinhar e fazer os serviços da casa." Gerald disse analisando a mercadoria, uma por uma.
"Eu acho que tenho exatamente o que o senhor precisa!" Mark sorriu, antevendo o dinheiro que ganharia se vendesse seis escravos para apenas uma pessoa. "Olhe esses homens, por favor... Eles estão um pouco sujos, mas o senhor sabe como é..."
"Deixe-me ver os dentes desses aqui." Gerald olhou para três homens que estavam ao lado da carroça e se aproximou, analisando a mercadoria. "Esses me parecem bem fortes!"
Jared olhava tudo com nojo. Aquelas pessoas, se é que aquilo podia ser chamado de gente, pareciam tão imundas, descabeladas, fedorentas que a vontade de Jared era de sair correndo dali, tomar um banho e deitar na sua cama enorme com lençóis de linho, macios, cheirosos e confortáveis.
"Aquele ali... o rapaz alto que parece ser loiro..." Gerald apontou para o rapaz que ainda se encontrava no fundo da carroça.
Mark puxou o rapaz pela corda que estava presa em seu pescoço, fazendo com que ele caísse de bruços no chão.
"Levanta seu animal!" Pellegrino subiu na carroça e puxou a corda para cima, fazendo com que o rapaz quase quebrasse o pescoço. "Agora sai e fica ali ao lado dos outros animais!"
Jared riu e olhou para o rapaz que se juntava aos outros escravos. O rapaz olhou e vendo que Jared ria, o olhou com ódio. O moreno riu com desdém quando viu que o rapaz o olhava daquela forma.
"Pai, eu posso te ajudar a escolher?" Jared perguntou sem desviar os olhos do rapaz.
"Claro que pode meu filho!" Gerald disse animado pelo interesse do filho em participar dos negócios da família. "Venha cá filho! Vou deixar você escolher dois."
Jared olhou e sorriu sarcasticamente para o rapaz e colocou a mão no queixo como se analisasse todos os escravos, mas o moreno já sabia quem escolheria.
"Aquele ali..." Jared apontou para o rapaz loiro e Pellegrino o puxou pela corda.
"Esse aqui é alto, forte e quase não fala, o que é uma verdadeira dádiva!" Mark riu e puxou um pouco mais a corda, fazendo com que o rapaz quase perdesse o equilíbrio.
"Qual o seu nome?" Jared se aproximou do rapaz, que continuou em silêncio encarando o moreno com raiva.
"Responde animal!" Mark deu um tapa no rosto do escravo, que quase caiu com a força da agressão e colocou a mão na boca para secar o sangue que escorria.
"Então, vai me dizer o seu nome?" Jared perguntou novamente sem deixar de sorrir de forma arrogante.
O rapaz continuava em silêncio e baixou a cabeça, interrompendo o contato visual. Jared riu alto e assentiu para que o traficante, que levantou a cabeça do rapaz, o puxando pelos cabelos e forçou a corda que prendia seu pescoço.
"Responde agora!" Mark já estava perdendo a paciência, pois conhecia muito bem o gênio daquele filho mimado do Sr. Padalecki e principalmente que o pai fazia todas as vontades dele. Tudo que Mark não precisava era perder a venda de seis escravos por causa de um idiota que estava se fazendo de difícil. Realmente, ele precisava fazer alguma coisa e rápido. "Responde agora ou você vai se arrepender seu animal imundo!"
O rapaz não respondeu e dessa vez Jared ficou irritado.
"Qual o problema desse escravo? Acho melhor esperarmos aquele outro traficante e..." Jared começou a falar e viu pelo canto do olho que Mark Pellegrino ficou em pânico.
"Não! Olha, ele vai dizer o nome dele nem que eu precise matá-lo!" Mark se apressou em falar e bateu com um pedaço de madeira atrás dos dois joelhos do rapaz, que gemeu de dor e caiu no chão na mesma hora. Depois puxou a corda e o deixou pendurado pelo pescoço. O rapaz tentava segurar a corda para que ela não o enforcasse, mas era em vão, já que estava fraco e desnutrido.
"Anda seu idiota! Fala o seu nome!" Pellegrino deu outro tapa no rosto do rapaz e esperou mais um pouco.
Jared assistia a cena extasiado. Como um escravo ousava não responder a uma pergunta sua? Será que aquele homem realmente não falava? Será que ele era mudo?
"Sr. Padalecki? Ele vai falar agora." Mark falou tirando Jared se seus devaneios. "Vamos! Fala o seu nome!"
Jared olhou para o escravo e ele estava deitado no chão, encolhido e quando escutou o traficante falar, levantou a cabeça e cuspiu sangue no chão, enxugando a boca com as costas da mão. Mark o puxou pela corda até que ele finalmente conseguisse ficar de pé.
"Estamos esperando." Jared falou encarando o rapaz, que agora estava mais sujo de sangue do que de poeira.
"Jensen..." O rapaz disse baixo olhando para Jared.
"Não ouvi! Poderia repetir?"Jared estava se divertindo muito e já achava que ter ido até a cidade com o pai estava melhor do que ele imaginava.
"Meu nome é Jensen." O loiro falou entre os dentes e baixou a cabeça.
"Jensen? Que tipo de nome é esse?" Jared riu alto e olhou para o pai. "Eu quero ele pai!"
"Tem certeza Jared?" Gerald olhou para Jensen e não parecia que aquele rapaz seria muito fácil de domar.
"Certeza absoluta!" Jared se afastou dali e esperou seu pai acertar tudo com Pellegrino.
Gerald escolheu, além de Jensen, mais cinco escravos e pagou Mark, que olhava exultante para as notas separadas por Gerald.
Jared não conseguia parar de olhar para aquele escravo insolente e sorriu com as possibilidades que teria de se vingar do rapaz.
Gerald indicou para que Mark colocasse a mercadoria na carroça que estava presa à sua carruagem e se virou para chamar Jared.
"Vamos meu filho! Sua mãe vai nos matar se demorarmos demais e além disso, eu estou morrendo de fome." Gerald disse passando o braço pelos ombros do filho e eles se encaminharam para a carruagem da família, que era fechada e bem confortável.
Jensen e os outros escravos foram empurrados com certa violência pelos empregados do Sr. Padalecki e se amontoaram novamente naquele lugar apertado.
A viagem foi muito desconfortável e as pessoas eram severamente sacudidas dentro daquela gaiola de madeira.
Jensen gemia de dor toda vez que eles passavam por algum buraco mais fundo. Ele achava que o maldito Pellegrino tinha quebrado uma de suas costelas, mas se manteve calado, sem reclamar de nada.
Jensen olhou em volta e viu que estavam chegando numa enorme fazenda, que mais parecia um castelo e suspirou. O loiro não tinha um bom pressentimento, mas na verdade também não estava ligando muito. Queria que alguém o pegasse e o matasse de alguma forma. Só assim ele poderia estar junto de sua família novamente.
Assim que a carroça parou, os empregados do Sr. Padalecki, imediatamente abriram a porta da gaiola e começaram a gritar para que eles saíssem.
Jared desceu de sua carruagem e ficou esperando Jensen sair da carroça. Quando o loiro passou por ele, Jared colocou o pé na frente e Jensen tropeçou, caindo de cara no chão, gemendo de dor.
"Levanta animal!" Um dos empregados gritou e puxou a corda no pescoço do loiro, que gemeu alto de dor. "Essa leva de escravos está muito mole! Anda cambada! Todo mundo pra fora agora!"
Jensen se levantou do chão com esforço e olhou para o rapaz que sorria para ele.
"Filho da puta..." Jensen falou baixo sem deixar que ninguém ouvisse e seguiu com os outros escravos pelo caminho indicado.
Depois que Jensen saiu de seu campo de vista, Jared entrou em casa, sendo recebido por sua mãe.
"Estou vendo pela sua cara que você está com fome!" Sharon disse para o filho, beijando seu rosto. "Por que você não toma um banho bem gostoso enquanto a mamãe vai ver alguma coisa bem gostosa pra você comer?"
"A senhora lê pensamentos, mãe?" Jared falou sorrindo. "Era exatamente isso que eu ia fazer agora!"
Jared deixou a sala e foi para o seu quarto se refrescar, mudar de roupa e ver se conseguia se livrar daquele cheiro que parecia impregnado em suas roupas e em seu corpo.
Jensen entrou em um tipo de galpão junto com os cinco escravos e um homem moreno de olhos azuis os aguardava.
"Misha! O Sr. Padalecki mandou você deixar esses lixos humanos apresentáveis!" Jim Beaver gritou para o moreno, que assentiu discretamente e olhou para aquelas pessoas que pareciam muito sofridas. "Ele quer todo mundo pronto antes do jantar e esse aqui..." Beaver apontou para Jensen. "É pra caprichar porque ele vai trabalhar para o Jared e você sabe como esse garoto é cheio de frescura!"
Misha continuava em silêncio e assentiu mais uma vez para Beaver, que rolou os olhos e se virou para sair daquele lugar.
"Idiota..." Misha falou baixo, mas Jensen ouviu e esboçou um sorriso, apesar da dor que sentia.
O que realmente preocupava o loiro naquele instante não era nem o fato de ter sido vendido como escravo, mas o que o velho havia dito. Ele trabalharia para aquele tal de Jared. O mesmo que o humilhara e colocara o pé na frente de propósito para que ele caísse de cara no chão.
Maldito Jared!
"Todo mundo tirando a roupa porque nós vamos tomar um banho agora! Vocês estão cheirando a merda!" Misha falou e viu que todos tiravam lentamente suas roupas e as jogavam num canto, menos o loiro que seria entregue a Jared. "Você também! Vamos!"
Jensen simpatizou de cara com aquele moreno de olhos claros e começou a tirar aqueles trapos imundos que cobriam seu corpo dolorido e cansado.
"Estou vendo que cuidaram muito bem de você... Como se chama?" Misha perguntou enquanto observava as feridas que pareciam recentes no corpo do loiro.
"Jensen." O loiro respondeu baixo e Misha deu a ordem para que os empregados cuidassem dos outros escravos e que ele mesmo cuidaria de Jensen, pois ele era especial e tinha que ficar perfeito e apresentável antes do jantar.
Misha mandou que Jensen o seguisse e eles entraram num depósito ao lado do galpão. O loiro estava só com uma calça, sem camisa e muito sujo. Mandou que o loiro entrasse numa tina cheia de água fria.
Jensen obedeceu e sentou ali, começando a esfregar a bucha por seus braços e pernas.
"Se você vai ser entregue ao Jared..." Misha fez uma careta discreta e depois olhou com pesar para Jensen, que o encarava. "Precisaremos caprichar, pois aquele garoto é o diabo na Terra e eu já estou com pena de você!"
Jensen fechou os olhos enquanto Misha jogava água na cabeça dele e fazia cara de dor, quando a bucha roçava em algum de seus machucados.
"Depois de te limpar, vou cuidar desses seus machucados..." Misha disse sentindo simpatia por aquele loiro.
Depois de dar roupas limpas para Jensen, cortar seu cabelo e fazer sua barba, Misha exclamou. "Está pronto! Agora siga um conselho meu, Jensen... não o contrarie e faça tudo o que ele mandar."
Jensen balançou a cabeça afirmativamente e foi levado por um empregado ao encontro de Jared que já estava impaciente.
Mas que demor..." Jared já ia brigar com o empregado e com Jensen, mas quando ele viu o loiro livre de toda a poeira e sangue, ele ficou sem fala. Jensen tinha uma beleza impressionante e o moreno sentiu seu coração acelerar.
Continua...