Nota: (1) – Harry Potter e seus personagens não me pertencem. E sim a J.K. Rowling.
(2) – Essa é uma história Slash, ou seja, relacionamento Homem x Homem, e PseudoIncest, ou seja, o casal principal possui uma relação de pseudo (falso) parentesco. Se não gosta ou se sente ofendido, é muito simples: Não leia.
(3) – Entre "..." pensamentos.
Entre - ... – diálogos.
Itálico: Parsel (língua das cobras).

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"Como é misterioso o tempo. Poderoso, e quando interferimos, perigoso".
– Dumbledore, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban.

DESTINOS ENTRELAÇADOS

Caos.

Sangue.

Destruição.

E o inebriante cheiro de morte que emergia da famosa Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts forjavam o cenário da tão esperada batalha final. De um lado, os debilitados estudantes usavam suas últimas forças para proteger sua escola, assim como os poucos membros da Ordem da Fênix que ainda restavam e um pequeno grupo de Aurores que ainda conseguia se sustentar em pé. Do outro lado, em óbvia vantagem numérica, os Comensais da Morte, mercenários e criaturas obscuras que serviam cegamente ao Lord das Trevas usavam todas as suas forças e sede de sangue para ganhar aquela batalha e inaugurar uma nova era: uma era de trevas. Assim, nos arredores do Salgueiro Lutador, logo às margens da Floresta Proibida, seguindo pelo caminho que dava acesso aos portões principais do castelo em meio ao gramado verde que agora estava tingido de sangue, aqueles que lutavam bravamente pelo bando da luz iam caindo um a um.

Era uma guerra perdida.

E qualquer um que observasse a batalha travada entre Harry Potter e Lord Voldemort poderia afirmar isso.

O menino-que-sobreviveu mais uma vez fizera jus ao seu título. Ele havia seguido para a Floresta Proibida como Voldemort mandara e havia recebido o Avada Kedrava de boa vontade para destruir a última Horcrux que residia em seu corpo e com a oportuna ajuda de ninguém menos que Narcisa Malfoy, Voldemort não desconfiara de sua suposta morte, o que lhe havia permitido acordar a poucas horas para iniciar aquela decisiva batalha pegando o Senhor Obscuro de surpresa.

Todas as Horcrux haviam sido destruídas.

Era uma batalha de igual para igual agora.

Pelo menos foi isso o que Harry Potter pensou de início...

...Até ele se deparar com a magnitude do poder do Lord das Trevas.

- Crucio!

E mais gritos deixaram os seus lábios.

- Está vendo, Harry Potter? – a divertida voz de Voldemort ecoou em meio ao desolador cenário da batalha. Com um sorriso de escárnio em seu rosto ofídico, ele contemplava o ensangüentado menino aos seus pés – É evidente a diferença de poder entre o Lord das Trevas e um reles moleque de dezessete anos cujo único talento fora ter sorte na vida.

Harry não respondeu.

Seu corpo permanecia imóvel apenas reagindo mecanicamente aos espasmos de dor. Sua varinha jazia aos pedaços no chão. E com as lágrimas deslizando sutilmente pelo rosto sujo de sangue, Harry sabia que havia perdido.

Com o sorriso cruel ainda dançando no rosto ofídico, Voldemort se colocou sob um joelho para ficar na altura de Harry, agarrando os cabelos revoltos do menino com uma mão enquanto pressionava a varinha dolorosamente em seu pescoço com a outra. Ele obrigou Harry a encará-lo. E assim, verde e vermelho se cruzaram intensamente.

- Onde está Dumbledore, Harry? Onde está o seu precioso diretor para salvá-lo?

- Ele vai aparecer... – respondeu com a voz fraca.

- Oh, mas então você já estará morto, pequeno.

- Não importa... E-Ele irá derrotá-lo...

- Você ainda não entendeu? – seus olhos brilharam com um prazer doentio – Não há ninguém que possa me derrotar.

- E-Ele irá... E-Ele...

- Agora, Harry, chegou à hora de você reencontrar os seus pais – sussurrou, acariciando o rosto umedecido pelo sangue e pelas lágrimas – Diga olá a eles por mim, sim?

Todavia, os dois magos permaneciam alheios a um singular expectador que desde o início havia contemplado todo o desenrolar da batalha da janela de seu escritório. Alvo Dumbledore naquele exato momento se encontrava estoicamente parado em frente à janela na torre do diretor, que lhe permitia uma visão precisa do sangrento campo de batalha. Seu coração apertava cada vez mais ao contemplar cada morte, cada tortura, cada evidência de que estavam prestes a perder aquela guerra. Mas nada era pior do que observar o seu precioso pupilo sucumbir lentamente ao assassino de seus pais.

Harry havia lutado tanto.

Harry havia e se esforçado tanto.

Harry havia se dedicado como nenhum outro.

Mas agora estava a um passo de uma morte prematura.

E por que Dumbledore não estava ao lado do seu pupilo naquele momento, duelando ao seu lado contra aquele mostro que um dia também fora um estudante alheio às maldades do mundo?

Sim, muitos poderiam se perguntar isso.

Muitos poderiam pensar que Dumbledore estava ganhando tempo para fugir. Muitos poderiam pensar que o famoso diretor de Hogwarts não passava de um covarde que deixava a responsabilidade nas mãos de seus alunos. Muitos poderiam pensar que aquele que um dia fora considerado um dos magos mais poderosos de todos os tempos não passava de um velho manipulador que ao contemplar a eminente derrota decidira se esconder em seu escritório para esperar pela morte certa.

Mesmo Minerva McGonagall, que havia acabado de ingressar em seu escritório com uma reluzente caixa dourada nas mãos, via-se ponderando a respeito disso.

- Ah, Minerva, fico feliz que você tenha conseguido ir e retornar em segurança do meu cofre em Gringotes.

- O que significa isso, Alvo? – sua voz era cansada e confusa – Por que você não está lá? Sem você o menino Potter não terá a mínima chance.

- Se eu estivesse lá, aí sim Harry não teria a mínima chance, minha cara Minerva. Aqui, no entanto, eu poderei usar isto – apontou para a pequena caixa que a professora havia deixado em sua mesa.

- O que há nessa caixa?

- Nossa última esperança – respondeu simplesmente. Em seguida, com um breve aceno, Dumbledore indicou que precisava ficar sozinho.

Finalmente, ao ver a porta de seu escritório ser abruptamente fechada por uma furiosa Minerva McGonagall, o diretor abriu a pequena caixa dourada e retirou de lá nada menos que um vira-tempo, mas não um vira-tempo qualquer. Este era do tamanho de sua mão, forjado em ouro puro e no lugar da areia, um misterioso pó prateado se encontrava na ampulheta. Era uma relíquia dos tempos de Merlin, um vira-tempo combinado com chaves de portais, que havia demandado meses e meses para encontrar e agora, representava a última esperança para acabar com aquela guerra, para salvar Harry e outras vidas inocentes, como a de Severus Snape, por exemplo, que no ano anterior havia se negado a matar seu mentor e sucumbido, assim, ao Voto Perpétuo.

- "Como é misterioso o tempo..." – lembrou-se de suas palavras para Hermione e Harry quando estes ainda cursavam o terceiro ano.

Se tudo seguisse conforme o planejado, inúmeras vidas seriam salvas e dois órfãos poderiam ter a chance de serem felizes.

"... Poderoso..."

Mas se um pequeno detalhe desse errado as conseqüências seriam terríveis.

"... E quando interferimos, perigoso".

- Nossa última esperança – repetiu para si mesmo, colocando uma carta que estava em cima da mesa dentro do bolso da reluzente túnica púrpura e o vira-tempo ao redor do pescoço. Em seguida, respirando fundo, Dumbledore deu sete voltas no vira-tempo e ao final da última volta, sentiu o mundo inteiro desaparecer, girando ao seu redor, ao mesmo tempo em que, no campo de batalha, o Avada Kedrava de Voldemort atingia o peito de Harry.

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Um vento frio soprava nos arredores de Londres fazendo as poucas pessoas que circulavam pelas ruas desertas naquele final de tarde se encolherem dentro de seus casacos. Uma pálida mulher, porém, via-se exposta ao vento gelado que cortava sua face usando apenas um vestido cinza esfarrapado, o xale azul-marinho velho e comido pelas traças enrolava um pequeno embrulho em seus trêmulos braços. Era um bebê, um recém nascido que chorava com toda a força de seus pequenos pulmões devido ao frio e a forme certa, pois sua mãe, a pálida mulher que o carregava, estava usando suas últimas forças para levá-lo a um orfanato onde sabia que iriam cuidar bem de seu filho.

Mérope Riddle ia morrer.

E ela sabia disso.

Há poucas horas ela havia dado a luz num beco escuro e abandonado sem contar com nenhuma ajuda. O sangue seco ainda impregnava seu vestido e sua tez pálida evidenciava todo o sangue que havia pedido. Abandonada pelo muggle que havia amado tanto, sabendo que seu pai e irmão estavam presos em Azkaban, Mérope já não tinha forças para resistir. Ela sabia que o pequeno bebê, o fruto de um grande amor não correspondido e vivido a base de poções e mentiras, iria precisar dela, mas ela não podia agüentar mais tudo aquilo. Ela havia desistido. E agora, usando suas últimas forças, a descendente direta de Salazar Slytherin cambaleava para o orfanato muggle que se erguia naquele bairro sombrio de Londres.

Chegando aos portões de ferro que davam entrada ao orfanato, Mérope se deixou escorregar para o chão com um suspiro, aconchegando um pouco mais seu filho. Ela já não tinha mais forças para seguir adiante.

- A senhora precisa de ajuda?

Olhando para cima, a moribunda mulher se deparou com um homem idoso de barba longa e complacentes olhos azuis vestindo uma curiosa roupa púrpura. Mas ela estava cansada de mais para prestar atenção em qualquer outra coisa senão em entregar seu filho para um local seguro.

- Tom... – murmurou, estendendo as mãos para entregar ao desconhecido homem o pequeno embrulho – Tom para seu pai... Marvolo... para o seu avô... Riddle... Tom Marvolo... Riddle.

Sem dizer uma única palavra, o homem aceitou o pequeno embrulho e instantaneamente o recém nascido pareceu se acalmar sentindo a tranqüilizadora onda de magia que agora o rodeava. Mérope, então, ao ouvir o cessar do choro de seu filho deixou um pequeno sorriso adornar seus lábios ressecados e finalmente se entregou aos acolhedores braços da morte, murmurando suas últimas palavras ao partir:

- Espero que ele se pareça com seu pai.

Dumbledore, então, observou o corpo sem vida com um olhar triste:

- Não se preocupe Mérope, ele irá se parecer sim.

E aconchegando o bebê com cuidado, murmurou em seguida:

- Ele será um grande mago e agora poderá ter a chance de ser feliz.

No instante seguinte, Dumbledore pegou o vira-tempo e com mais cinco voltas ao contrário, sentiu o mundo inteiro desaparecer outra vez, com o cenário daquele frio entardecer em Londres muggle girando vertiginosamente ao seu redor. Em frente aos portões do orfanato, duas mulheres encontrariam logo em seguida apenas o corpo sem vida de Mérope Riddle.

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Quando Dumbledore chegou ao seu próximo destino, uma onda de nostalgia abateu em seu peito. O lugar consistia de uma vila pequena, que se centrava em uma praça bonita, cheia de árvores e rodeada por bancos de mármore e canteiros de flores, havia ainda uma pequena e antiga igreja forjada ao estilo barroco e um modesto cemitério familiar atrás da igreja, uma estação de correios, uma mercearia e algumas lojas de varejo. As ruas residenciais, por sua vez, eram alinhadas com casas pitorescas que ofereciam um ar cálido e familiar ao cenário.

- Godric's Hollow... – sussurrou para o adormecido bebê em seus braços – Este será o seu lar agora, Tom.

Dessa forma, andando calmamente sob o manto obscuro do anoitecer, Dumbledore seguiu pelas ruas de casas alinhadas com os pensamentos perdidos numa época em que ele e sua família haviam vivido naquele mesmo povoado tranqüilo. Ele havia se mudado com sua família depois da prisão de seu pai, detido em Azkaban por assassinar um muggle, e naquela pacata vila sua mãe Kendra, seu irmão Aberforth e principalmente sua irmã Ariana, haviam sido muito felizes. Isto é, pelo menos até a prematura morte de sua irmã. Dumbledore não se perdoava pelo ocorrido até hoje e talvez jamais chegasse a se perdoar um dia.

Suspirando, o diretor de Hogwarts achou melhor mudar o rumo de seus pensamentos.

Sua missão era deixar o pequeno Tom Riddle aos cuidados de uma amorosa família.

E nenhuma família seria tão amorosa quanto aquela...

"Família Potter".

Era o que estava gravado na caixa de correio em frente à bonita casa situada no final da rua. A casa da família Potter era a maior e a mais afastada em relação às outras casas do vilarejo, sendo uma casa grande e acolhedora, rodeada por um portão de ferro preto no qual se erguiam inúmeras flores mágicas e muggles. O recém casado matrimônio Potter havia acabado de se mudar e por insistência de Lily, escolheram o povoado de Godric's Hollow pela oportunidade de conviverem ao mesmo tempo com vizinhos magos e muggles. Contudo, a imponência da casa não negava a óbvia descendência sangue-pura do patriarca da família. O lugar, no entanto, conservava abertamente a beleza de um lar amoroso que abrigava um alegre mago e uma bela bruxa recém casados e muito felizes que não viam à hora de formar uma família.

Com um simples balançar de varinha, Dumbledore abriu o portão de ferro e se aproximou da entrada da casa. Em seguida, murmurando algumas palavras, o velho diretor de Hogwarts convocou um cesto e colocou a adormecida criança, ainda enrolada no xale da mãe, em seu interior. Com um sorriso triste ele pensava que esta era a segunda criança que ele colocava na porta de alguém. Contudo, ele sabia que nesta casa Tom seria amado e dessa forma, a criança que ele outrora havia deixado na porta do número quatro na Rua dos Alfeneiros não precisaria sofrer este destino.

- Bem vindo à sua família, Tom.

Com essas últimas palavras, num sussurro, o diretor colocou uma carta ao lado do adormecido rosto do bebê.

"Para o Sr. e a Sra. Potter"

Era o que estava escrito no envelope.

Em seguida, sentindo o vira-tempo estremecer em seu peito, Dumbledore desapareceu sabendo que o seu trabalho ali estava feito e que agora poderia voltar para o que ele esperava que fosse um novo futuro.

Nessa mesma hora, a porta da casa se abriu e uma bela mulher ruiva, ainda em choque, chamou seu marido.

"Chegará o dia em que este bebê será um poderoso mago. Mas agora, ele precisa de uma amorosa família que possa guiá-lo no caminho do amor e da bondade.
Ele já não possui mais ninguém neste mundo.
Por favor, cuidem dele.
Seu nome é Tom".

- Lily... – James, que havia acabado de ler a carta em voz alta, questionou sua mulher com um ar inseguro.

Eles haviam acabado de se casar.

Eram novos de mais e ainda imaturos.

Mas a bondosa Lily Potter não pensava assim...

- Olá, Tom, seja bem vindo – sussurrou com carinho, aconchegando em seus braços o sonolento bebê que agora arrulhava feliz – Esse homem com cara de bobo e cabelo engraçado é o seu pai, viu?

James, então, não pôde deixar de sorrir.

Ele agora contemplava a sua família.

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Dois anos se passaram desde que o pequeno Thomas Charlus Potter – sendo que Charlus fora atribuído em homenagem ao falecido pai de James – havia sido deixado na porta da família Potter e acolhido por James e Lily como um verdadeiro filho. Contudo, para surpresa e alegria do casal, depois desses dois anos, Lily se descobriu grávida e não poderia estar mais contente com a possibilidade de dar para Tom um irmãozinho ou uma irmãzinha.

Mas o pequeno Tom não estava nem um pouco animado com isso.

Há dois anos ele possuía a atenção integral de seus pais e agora chegava um novo bebê para roubar o que era seu por direito. Ele simplesmente não podia aceitar isso. Dessa forma, quando Tom observou o pequeno embrulho nos braços de sua mãe, que havia acabado de chegar de St. Mungus, ele rangeu os dentes e apertou os pequenos punhos imaginando como poderia se livrar daquele intruso. Obviamente, inúmeras foram as suas tentativas, chegando a oferecer o irmão recém nascido para o senhor Rufus da mercearia em troca de um tablete de chocolate e algumas balas, mas, infelizmente, o sorridente homem não aceitou, ganhando assim a fúria de Tom, que viu seus infalíveis planos fracassarem um a um.

O pequeno Harry James Potter agora possuía um aninho e seu irmão, Tom, aos três anos de idade, ainda o odiava com todas as suas forças por roubar seus pais. Lily Potter, porém, sempre havia sido uma mulher muito inteligente e ao observar a reação de seu filho mais velho se colocou a pensar numa maneira de fazê-lo aceitar o irmãozinho. Depois de pensar e pensar por semanas a fio observando a interação dos dois, a perspicaz mulher se aproximou de Tom naquela noite de Halloween e o sentou em seu colo no sofá da sala enquanto o pequeno Harry permanecia dormindo numa confortável almofada ao lado dos dois. Em algumas horas, ela e James sairiam para uma festa na mansão do Ministro da Magia deixando os meninos com a Sra. McPhee, a bondosa bruxa de idade avançada que morava há anos no vilarejo e sempre se dispunha a servir de babá para os dois anjinhos. Mas antes de sair, Lily achou melhor conversar com seu filho:

- O que foi, mamãe? – murmurou, olhando de soslaio e com irritação para o bebê adormecido na grande almofada.

- O que você acha do seu irmãozinho, Tom?

- Eu acho que ele é um intruso que roubou você e o papai de mim – respondeu abertamente, cruzando os braços, numa pose aborrecida.

- Oh, entendi... – sorriu com doçura – Mas você não deve pensar assim, sabe por quê?

- Por quê?

- Porque você é o irmão mais velho. Um dia, você irá ensiná-lo um monte de coisas, vocês irão brincar juntos e ele sempre contará com você para protegê-lo.

- E por que eu faria isso? – resmungou, ainda de braços cruzados.

- Por que ele é seu, oras.

- Meu?

- Sim, Tom, ele é seu.

Com um doce sorriso, Lily trouxe um sonolento Harry para colocá-lo nos braços de Tom. E o mais velho ficou a observar o menor insistentemente, o cenho franzido, como se ponderasse seriamente a respeito de alguma coisa.

- Lily, nós vamos nos atrasar!

- Estou indo, amor – com um beijo no topo da cabeça de Tom, Lily se levantou para colocar o pequeno Harry em seu quarto, no berço, e para dar as últimas instruções a Sra. McPhee.

Tom permaneceu no mesmo lugar e agora olhava para suas mãozinhas parecendo perdido em pensamentos.

"Harry era seu".

Estranhamente, ele havia gostado de como soava isto.

No final da noite, quando o relógio marcava meia noite e meia, Tom, em seu quarto, encontrava-se entregue aos braços de Morpheus, assim como Harry, no quarto ao lado, que dormia pacificamente em seu berço. Por sua vez, a Sra. McPhee dormira numa confortável poltrona da sala de estar com um livro de romance muggle aberto em seu colo, pois às dez horas ela havia colocado os dois anjinhos para dormir e resolvera submergir numa agradável leitura. Dessa forma, todos os habitantes da casa, naquele momento, estavam alheios a um homem de vestes negras e olhar enlouquecido que havia acabado de destrancar o portão de ferro com sua magia e ingressar na casa pelas portas do fundo.

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Peter Pettigrew não era uma pessoa má.

Inútil e covarde sim, mas não mau de verdade.

Contudo, desde o início dos tempos parece não haver nada melhor para fazer uma pessoa comum se tornar má e sem escrúpulos do que uma desilusão amorosa, uma rejeição e o descaso para com os seus sentimentos. Aos onze anos de idade, Peter conhecera o irreverente e deslumbrante James Potter e desde então, passou a segui-lo como um cachorrinho. Ele era apaixonado por James, mas este nunca chegou a tomar conhecimento disso, pois no quinto ano, quando estava prestes a revelar o que realmente sentia, Peter viu o amor de sua vida aos beijos com a irritante ruiva sabe-tudo. Seu mundo ruiu. E quando os dois se casaram, Peter viu a dor consumi-lo. E quando anunciaram a chegada de Tom à família, uma profunda onda de rancor o invadiu. E quando a gravidez e o nascimento do pequeno Harry foram anunciados, a loucura finalmente o consumiu

Loucura que se transformou em ódio.

E ódio que se transformou em sede de sangue e de vingança.

Assim, imaginando que naquele feriado de Halloween a família Potter estaria reunida em casa como fazia todos os anos, Peter seguiu adiante com seu plano de dizimar todos aqueles que lhe fizeram sofrer. O que ele não sabia, porém, era que naquele preciso ano, devido à insistência de seu chefe no departamento de Aurores, James Potter havia aceitado o anual convide do Ministro da Magia, que fazia questão de convidar todas as famílias de sangues-puros de prestígio para suas festas luxuosas.

Por esse motivo, ao ingressar na casa de ar acolhedor cuja decoração desprendia todo o bom gosto de Lily, o obcecado homem franziu o cenho ao observar a adormecida senhora numa poltrona qualquer com um livro aberto pendendo de seu colo.

Ele não parou para pensar quem era aquela mulher.

Ele não se preocupou se era uma pessoa boa ou se possuía filhos, netos, família.

Ele apenas puxou a varinha e murmurou aquelas duas palavras decisivas:

- Avada Kedrava.

Em seguida, naquela confortável poltrona, jazia apenas um corpo sem vida.

Mas o homem de cabelos castanhos ralos e olhar nublado pela loucura não se deteve, sequer prestou atenção no fato de que acabara de usurpar uma vida, seguindo adiante pelas escadas de madeira polida que levavam ao andar de cima, aos quartos, aos responsáveis por todos os seus suplícios. Quando abriu a primeira porta, deixou escapar um grunhido, deparando-se com um pequeno lavabo para as visitas, seguindo para a próxima porta, viu-se contemplando um quarto de hóspedes vazio. Com os dentes amarelados cerrados de ódio, Peter seguiu adiante e finalmente, ao abrir a próxima porta, seu rosto se viu iluminado com um olhar satisfeito e doentio.

O bonito quarto decorado em cores azul-bebê, branco e bege possuía um feitiço que imitava o céu noturno do Salão Principal de Hogwarts e um espaçoso berço, ao centro, onde naquele momento, um inocente Harry Potter se encontrava adormecido. Aos olhos de Peter Pettigrew, porém, aquela criança não era inocente, mas a personificação do nojento amor de James e Lily e do descaso do patriarca da família Potter para com os seus sentimentos e suplícios.

Em seu quarto, naquele instante, Tom acordou de um sobressalto.

E sem saber por que, o nome de seu irmão saiu de seus lábios:

- Harry...

Mesmo com sentimentos conflitantes, isto é, ainda odiando o irmão caçula por aparecer em suas vidas, mas ao mesmo tempo relembrando as palavras de sua mãe que lhe diziam que Harry era seu, Tom se levantou e seguiu para o quarto ao lado do seu sabendo que alguma coisa estranha estava acontecendo.

Era como se Harry o chamasse.

Era como se precisasse dele.

Então, quando o menino de três anos ingressou silenciosamente no quarto do irmão e observou um homem estranho parado em frente ao berço, constatou que suas suspeitas estavam certas. E quando este mesmo homem içou a varinha, na qual uma poderosa luz verde-esmeralda brilhava, Tom sentiu uma impensada onda de desespero consumi-lo. E sem pensar duas vezes, guiado apenas pelo medo de perder o irmão, que era seu, Tom estendeu a mão e rugiu:

- NÃO! – sentindo uma poderosa onda de magia acidental invadi-lo no instante em que Harry abria os olhos e Peter lançava o feitiço.

Na mesma hora, o aposento inteiro se viu consumido pela poderosa luz verde.

Tom acabou sendo arremessado para trás.

Harry começou a chorar.

E o corpo de Peter caiu no chão com um baque mudo, sem vida.

Tudo aconteceu rápido de mais. Um fenômeno nunca antes testemunhado no mundo da magia havia ocorrido. A Maldição da Morte havia ricocheteado levando Peter Pettigrew à morte e deixando o pequeno Harry marcado apenas com uma cicatriz em forma de raio em sua testa. Uma cicatriz que seria famosa um dia. Uma cicatriz que além da indesejada fama lhe renderia uma grande surpresa e alegrias.

- Harry... – Tom imediatamente chamou pelo bebê, ao se levantar do chão e correr para o berço. Quando passou ao lado do cadáver daquele homem que havia tentado ferir seu irmão, seus olhos, agora estranhamente tingidos de vermelho, estreitaram-se de ódio. Um poderoso ódio que nenhuma criança de três anos seria capaz de sentir.

Contudo, não demorou muito e ao pegar o irmão no colo, todo o seu ódio se viu dissipado e seus olhos regressaram à cor natural.

Harry estava assustado.

E Tom sabia disso.

Ele apenas não parou para pensar como sabia.

- Eu estou aqui, Harry – sussurrou, pegando o bebê em seus braços e o aconchegando com uma voz suave e macia – Você está seguro, Harry, eu estou aqui... Eu não vou deixar ninguém machucá-lo, ouviu? Nunca...

Harry, de repente, parou de chorar.

Em vez disso, abriu um lindo sorriso para o menino.

E Tom, inconscientemente, viu-se correspondendo ao sorriso.

- Você é meu, sabia? E eu vou cuidar de você para sempre.

- T... To... Tom...

Harry havia falado sua primeira palavra. E Tom, contemplando aqueles belos olhos verdes-esmeraldas, mais bonitos que os de sua mãe, havia se derretido num orgulhoso sorriso.

Os dois não sabiam, mas naquele momento, suas almas acabavam de se conectar.

E uma nova profecia acabava de nascer.

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Na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Alvo Dumbledore estava entrevistando finalmente a última pessoa que havia se mostrado interessada pelo o cargo de Professora de Adivinhação. Era uma excêntrica mulher, que mais parecia uma charlatã, mas que ainda sim era tataraneta da famosa vidente Cassandra Trelawney.

De repente, porém, a mulher, Sibila, ficou com o olhar estático e fora de foco, o corpo trêmulo e começou a dizer com uma voz estranhamente rouca:

- "Aquele marcado com uma cicatriz ao realizar o impossível..."

Dumbledore franziu o cenho, mas permaneceu a escutar em silêncio.

Talvez a pobre mulher fosse capaz de contemplar profecias sem ao menos saber disso.

-... "Salvo pelo amor daquele que um dia o havia odiado. Unidos através do tempo, aqueles que um dia se enfrentaram como inimigos mortais irão garantir a paz do Mundo Mágico..."

O corpo de Dumbledore ficou tenso.

Para garantir a paz...

Isto significa que em algum momento o Mundo Mágico entraria em guerra.

-... "Partilhando de laços indissolúveis, ambos testemunharão um inimaginável amor nascer e consumi-los. Contudo, seu amor enfrentará inúmeros obstáculos e seus caminhos estarão cheio de armadilhas..."

Um casal seria a chave de tudo, Dumbledore ponderava.

-... "Mas seus destinos nasceram e estarão sempre entrelaçados e somente com o conhecimento escondido, ambos conseguirão a chave para superar os martírios a lhes afligir".

Um casal ao qual o mundo iria se opor.

Um casal que acabaria por salvar este mesmo mundo.

- Cof... Cof... Er... Desculpe, diretor... Eu disse alguma coisa?

- Oh, não – sorriu, olhando-a por cima de seus óculos em formato de meia lua – Na verdade a entrevista acabou. Bem vinda à Hogwarts, Sibila.

Continua...

Próximo Capítulo:

- Você parece uma menina! Haha... Seu nome é Harry? Deveria ser Harriet! - um dos meninos que brincava na pracinha comentou com maldade.

E as belas esmeraldas se encheram de lágrimas.

Ao mesmo tempo em que os olhos de Tom se estreitavam perigosamente.

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N/A: Hello, meus queridos! Como prometido, após o final de Estocolmo, cá estou eu com uma nova história para vocês. Dessa vez a temática é um pouco diferente, com Harry e Tom sendo criados como irmãos e explorando, assim, todos os tabus por detrás disso. Confesso que está sendo muito divertido escrever esta história, pois posso me focar em que tipo de pais seriam James e Lily, como Sirius e Remus irão agir como padrinhos e é claro, como eu poderei introduzir a nossa querida Nagini... Oh, porque ela irá aparecer num determinado momento, disso não tenham dúvidas.

Enfim, espero que vocês estejam gostando.

Eu sinceramente gostaria de saber da opinião de vocês.

Qualquer sugestão, questionamento ou dica oportuna será lido com muito interesse por mim. Dessa forma, peço encarecidamente para vocês deixarem suas REVIEWS me dizendo o que acharam desse primeiro momento e o que esperam do decorrer da fic.

Um grande beijo.
E até a próxima atualização de O Pequeno Lord que será em alguns dias.