Sailor Moon e Codename Wa Sailor-V não me pertencem.


I Still Remember – Parte II

"Siento que me desnudas la mente

Cuando me besas en la frente

Dime si trago marcas de ayer

Sólo con tocar tus manos

Puedo revelarte mi alma

Dime si reconoces mi voz"

O luar invadia o quarto por entre as claras cortinas translúcidas, lançando seus raios azulados no ambiente engolido pela penumbra, atravessando o rosto fantasmagórico do amante de vidas atrás.

Um suspiro inaudível escapuliu por entre os lábios da mulher sentada na cama, meses haviam passado desde aquele dia no escritório de Mamoru. Ela nunca contara nada às outras, não sabia explicar bem o motivo, nem para si mesma. Não costumava ser irresponsável com seus deveres como senshi, sem saber como responder às suas perguntas internas, tentava acreditar tê-lo feito para poupar Usagi das medidas exageradas de Mars e Jupiter.

Como se hipnotizada, ela ergueu a mão para tocá-lo, Kunzite franziu o cenho, os olhos cheios de dor, ele recuou, sabia que ela jamais poderia tocá-lo outra vez.

- Isso é um sonho? – perguntou, mas já sabia a terrível resposta.

- Eu temo que não, milady – a voz grave e o tratamento arcaico com o qual lhe dirigia pareciam transportá-la no tempo – ou não haveria tanta dor em seu olhar... – ele disse as ultimas palavras muito baixo, e desviou o olhar, havia algo que lembrava desespero nos olhos de Kunzite.

Ela se levantou da cama e ele observou de soslaio a seda laranja da camisola que ela usava, ondular pelo corpo esguio conforme ela se movia.

- Como?

- Creio que estou certo em pensar que isto seja vontade de meu mestre, Lady Venus, afinal, sem que ele assim deseje, nada posso fazer.

A senshi dentro de dela não deixou de assimilar a informação, então Usagi estava definitivamente a salvo de qualquer mal que o Shitennou poderia lhe infligir, não enquanto Mamoru a amasse e zelasse por ela, não contar às meninas não fora um erro tão grande, afinal.

Era estranho, mas ela não sentia desconforto ao ser chamada de "Lady", lembrou-se saudosamente que costumava gostar de toda pompa da corte do Silver Millenium, o que sentia, na verdade, era uma tristeza muito grande, pois ainda podia ouvir os ecos longínquos de sua própria voz risonhamente exigindo que ele a tratasse menos formalmente.

Sem perceber em quão mecânico aquele ato se tornara, Minako transformou sua tristeza em raiva.

- Não me chame assim! Não ouse fugir de meu toque! – havia também desespero em sua voz, talvez mais do que aquela raiva postiça – Já fomos castigados com distância por tanto, tanto tempo...

Ele pareceu surpreso com a demonstração dúbia de raiva e fragilidade, seus olhos cinzentos se arregalaram. Minako buscou o prata nas íris que uma vez amara fitar, mas notou que todo ele era cinzento, uma figura opaca e desbotada de qual todas as cores fora roubadas.

- Achei que me odiasse. – ele disse.

Ela baixou o olhar, fitando as próprias mãos.

- Eu? Odiar você? Já muito o desejei, mas nunca o consegui de fato, outra de minhas falhas... – e riu sem humor – Uma vida depois de sua primeira traição e eu continuo colocando a vida de minha princesa em risco por culpa de meus sentimentos por você... – a tristeza desaparecia enquanto o desespero e a raiva avassaladora lhe tomavam o lugar – Eu não contei as meninas sobre vocês, só agora fiquei sabendo que não eram perigo real, e isso da fonte mais inconfiável que eu poderia arrumar, eu deveria chamar a Rei esse exato instante! – ela ergueu os olhos para ele outra vez, eram azuis claros, os olhos dela, muito brilhantes pelas lágrimas não derramadas.

- Milady...

- NÃO ME CHAME ASSIM! – explodiu, mas não havia aura de deusa ou poder em sua voz. As lágrimas caiam agora livremente, mais de mil anos de lágrimas contidas. – Porque Mamoru fez isso? Porque me mandou você? Será que não acha que eu já sofri o bastante?

Pela primeira vez ele se sentiu incomodado pelas reações dela.

- Não penso que ele desejava causar-lhe dor mil... Minako – ele parecia desconfortável em chama-la por seu novo nome, embora pra ela, o som nunca houvesse parecido mais bonito – Acredito que suas intenções eram as melhores.

Ignorando o arrepio que percorreu seu corpo e rezando para que ele não notasse o estranho colorido em seu rosto provocado pela voz grave e rouca dele pronunciando seu nome, respondeu amarga:

- Dela o inferno está cheio, não é o que dizem?

Ele ficou lívido.

- Vejo que está incomodada com a minha presença milady, creio que o príncipe cometeu um engano.

E como se nunca estivesse estado ali, desapareceu.

- Tão formal o tempo todo, mas continua com as atitudes de um menino mal educado! – reclamou entre os dentes.

Minako, ainda sob o controle da maré de emoções que ele lhe trouxera, nada pôde fazer além de desolada, encarar o vazio que ele deixara que ele sempre deixaria.
Depois do que pareceu muito tempo – outro milênio, talvez? – ela se levantou para procurar conforto em Arthemis.

Ele se transformaria no jovem pálido de olhos tão travessos quanto indulgentes, secaria suas lágrimas e tudo ficaria bem, talvez até lhe convencesse de que tudo aquilo não passara de um sonho, um pesadelo perverso de verão.

Mas Arthemis não estava lá, lembrou enquanto sua fantasia se despedaçava em mil pedaços afiados como cacos de vidro, estava com Luna.

O canto de sua boca tremia, e ela engoliu em seco, se recusando a chorar outra vez, se deitou na cama cobrindo a cabeça com as cobertas como uma menininha assustada e pressionando o rosto contra o travesseiro, sufocou o grito de desespero ao encarar sua assustadora solidão.

O início é tão inevitável quanto o fim, a luz fria do sol matutino invadiu seu quarto.

Era outro dia.

Arthemis dormia enrolado a seus pés, como se nunca tivesse dali saído, aquele cínico.

Empurrou as cobertas derrubando-o da cama e se levantou, decidida a fazer de conta que os acontecimentos da noite passada não passaram de um sonho.

Ela observou o sol terminar de nascer, não era um espetáculo que ela estava acostumada a ver, era dada a despertares tardios. Lembrou-se daqueles anos a muito passados, observando da lua o amanhecer na Terra. Cobrindo o planeta com sua luz quente. Tão diferente da luz sempre tão fria da lua.

Minako fechou os olhos podia sentir os lábios dele em sua testa, as mãos forte em seus ombros, deixou a lágrima teimosa escorrer e então, a sensação passou.

Secou a única lágrima com as costas da mão.

Não se sentiria mais triste, não derramaria lágrimas, simplesmente não combinava com ela.

- Hey Minako! Porque fez isso? – reclamou Arthemis conseguindo finalmente sair do embolado de lençóis.

O pelo dele estava bagunçado e as orelhas viradas de um modo que só ficavam quando ele estava bastante irritado, ela teve vontade de rir.

- Você sabe muito bem porque, seu gato cínico, o que você ficou fazendo até tão tarde ontem na casa da Usagi-chan? - não era da conta dela, mas ela não perderia a chance de encher-lhe a paciência.

Ele se espreguiçou, fazendo-se de desentendido.

- O que é essa pedra estranha debaixo da sua cama? Sinto um poder conhecido vindo dela...

- Não desconverse!

- Estou falando sério, olhe!

Ela deitou de barriga para baixo no tapete, obedecendo. Ele estava certo. Alguns centímetros de uma de suas bolsas que jazia tombada, uma que ela não usava há algum tempo, havia uma pedra rosada com um brilho estranho.

Ela reconheceu o objeto imediatamente e o apanhou.

Mamoru ou Usagi provavelmente a colocara em sua bolsa quando ela não estava olhando. Com que propósito não sabia bem e nem se importava.

- O que é isso Minako? Não é...?

Minako suspirou.

E então sorriu.

Apanhou uma fita em sua penteadeira prendeu a pedra nela com suas voltas e depois colocou-a no pescoço.

A pedra faiscou, estava morna entre os seios da jovem deusa. Era um bom lugar para um amante morto.

Sabia que ele não voltaria a falar com ela, não em breve, pelo menos, talvez nem mesmo naquele século, mas também não estava inclinada a devolver a pedra a Mamoru.

Ainda não confiava muito bem naquela história toda e com Kunzite sob seus olhos ela se sentia mais segura, talvez até, aquela, como adorno, descansando perto de seu coração, seria a única forma em que ambos jamais ficariam juntos.

"Siento que te conozco

Siento que me recuerdas

Dime si reconoces mi voz"

Adriana Mezzadri – Marcas de Ayer


N/A: Não gostei do fim dessa fic. Mas não consigo pensar em nada melhor, por isso que prefiro quando as ideias me chegam pelo fim e essa me chegou pelo início.

Ah, o vocabulário medieval de Kunzite é culpa de As Brumas de Avalon, Merlin e Game of Thrones, reclamem com eles.

Espero que tenham gostado.

Bom feriado para vocês.

Kisses.