como fosse um par

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"Como fosse um par que nessa valsa triste se desenvolvesse ao som dos bandolins."

Bandolins – Oswaldo Montenegro

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Nós nos movemos devagar, seguindo a melodia de um tempo encantado. Quase não consigo ouvir uma respiração, minha ou sua, mas nesse momento você é tangível, de ossos e carne novamente. É assim que teria sido caso sua história não tivesse terminado numa noite de inverno, Casper McFadden? Um rapaz de posses, talvez tornado por demais orgulhoso de suas qualidades, dançando com um sem-número de damas ciosas de suas atenções; um inventor como seu pai, tocando vidas e transformando seu tempo. Quantos outros invernos será que teria visto? Não posso, não devo pensar em coisas que não foram e nem poderão ser, e muito menos você deve fazê-lo. Esqueça, Casper.

Seus pensamentos são translúcidos como seu ectoplasma; matéria intangível e fria como as sombras. Não se volte para aqueles antigos recortes de jornais, não tente evocar sofrimento pelo fado de seu pai, não persiga a memória de seu último dia, do calor da sua felicidade e do frio da neve, não busque a imagem de seu trenó e a sensação de sua vida indo embora com a madrugada. Deixe ir.

Você realmente é um bom dançarino, ou foi, nunca sei que tempo utilizar. Na eternidade dessa dança incontáveis existências se passaram, e no beijo que trocamos eu senti seu candor, seu amor; já conhecia sua bondade, sua abnegação quando abriu mão de escapar das portas da morte para salvar meu pai, e viu o líquido rubro daquele frasco desaparecer com todos os seus sonhos breves. E quando o encanto se quebrou — à meia-noite, como em todas as histórias — e todos fugiram assustados você não se frustrou por haver terminado, pelo contrário, desfrutou daquele presente e foi grato. Foram tantos os meus sentimentos, como se um pedaço de você mesmo tivesse voado como uma borboleta para se abrigar meu peito. O guardarei o resto de meus dias.

Pode partir, Casper, você não possui assuntos pendentes, ao contrário. Lembre-se de seus momentos felizes, e vá. Nunca acreditei nos fantasmas que meu pai perseguia até conhecê-lo, e sua morte tão vívida despertou-me de minha vida morta. Então espere pelo nosso reencontro um dia, acredite como eu em tal milagre. Um rio não corre para trás, então não persiga um passado que jaz no pó e esquecimento. Siga a luz e suba, pois um dia lhe devolverei a parte que me deu.