Capítulo Nove

Ainda eram cinco e cinquenta de uma madrugada morna de Athenas, com o sol mal começando a despontar ao longe e o breu dizimado pelos grandes holofotes frios da Universidade. Como ponto de encontro para a viagem até o XVI Congresso Nacional Científico de Salonica, o hall da entrada principal havia sido escolhido, abrigando já dezenas de estudantes inquietos e quatro ônibus que seguiriam lotados.

"Esses filhos da mãe não têm mesmo futuro, não"; reclamou Hakurei. "De milhares de alunos, nem duzentos se inscreveram! Malditos sejam: que bebam, peguem carros e se suicidem na volta de uma boate da vida!"; praguejou, irritado.

"Irmão, temos pais escutando essas sábias palavras"; Sage o recriminou. "Duzentos ainda são melhores do que noventa, a quantidade escrita de Mykonos".

"Mykonos é um ovo!"; e o vice-reitor levou as mãos aos céus. "Noventa, para eles, equivalem milhões".

"Sempre exagerado. Não é a toa que nossa mãe sempre disse que você fora o gêmeo chorão. Desde o nascimento fazendo alarde"; Sage revirou os olhos.

"Eu não era chorão! Nunca fui e nunca serei, seu maricas!"; e ele sentiu o rosto queimar de raiva com a provocação.

"Tá, tá, tá. Vamos, temos que ver a divisão dos professores nos ônibus".

Os ônibus fretados para a viagem tinham a capacidade para quarenta e oito leitos, completamente equipados para um percurso de cinco horas. Aquilo ia ser moleza, pensaram os motoristas.

"Não acredito que você trouxe ela!"; exclamou Melissa ao ver Aly acompanhada de uma enorme e peluda Golden, que vinha saltitante com a língua rosada de fora.

"Ela tinha que se despedir de mim"; falou ela, como se fosse a coisa mais óbvia. "Não é mesmo, Tequila? Cadê a lindona da mamãe?"; e afagou o focinho peludo.

"É mesmo uma fofa"; e Lilly já estava com as mãos enterradas sobre os pelos dourados da cadela, junto com Cherie, Mel e Alicia.

"Já viram os professores que vão nos acompanhar?"; Cherie obviamente não perdera tempo.

"Aham, e entre eles está o maldito"; Alicia carranqueou. "Só espero que não fique no meu ônibus".

"O Regulus é uma gracinha!"; Claudia se aproximou das amigas ao terminar de ter certeza que nenhuma baba chegaria perto de seu IPad. "Tanta implicância assim só pode ser amor".

"Que besteira!"; Aegla chegou, jogando a enorme mala no chão. "Às vezes, nossas implicâncias têm fundamentos"; e obviamente ele se referia à Afrodite. "Oi, gracinha!"; e ela sorriu para Tequila.

"Bom dia"; Karen chegara, apoiando delicadamente sua pequena mala e abaixando o puxador. Recebeu cumprimentos de todas, mas da neo-hippie somente um "...dia" curto e uma olhadela torta. "Já sabem os ônibus?".

"Acabei de checar. Bom dia, meninas"; Liana surgiu, os cabelos castanhos presos em um coque alto. 'Bonito penteado'; alguém dissera. "Obrigada."; e sentiu as bochechas corarem sutilmente. "Fomos divididos em três ônibus".

"A lista está aqui. E fiquem tranquilas que eu pessoalmente fui checar as condições de todos os sanitários"; Genbu se aproximou com um tablet em mãos e os nomes subdivididos em três grupos, conforme as numerações dos ônibus. "Claro, nada muito higiênico, e nem quero ver depois das primeiras utilizações, mas, né, fazer o quê?".

"Ai, deuses. Eu dizia que ia trazer maconha para Aegla, mas me enganei: vou trazer para você!"; Sahel cruzou os braços. "Você precisa relaxar, Genbu! Mostra logo a lista, que demora homem".

"Até que enfim achei vocês"; Manuella apareceu, em seu micro short jeans e havaianas brasileiríssimas nos pés. "Sério, vamos ver então essa lista que o negócio para botar as malas já está ficando um caos!".

"Será que você não vai sentir frio, Manu?"; Anna endireitou os óculos, observando a garota de cima a baixo. "Cinco horas dentro do ar-condicionado e nem sinal de um casaco seu".

"Qualquer coisa ela pede para algum gato a esquentar. Cheguei, meninas!"; era Sara, rindo do próprio comentário e logo depois empunhando a sacola que trazia em mãos. "Sorte para quem seguirá viagem comigo: trouxe dezenas de biscoitos!".

"Tem chocolate? Se tiver, espero que eu esteja junto"; e Hannah, por fim, chegou.

"Tá todo mundo aqui, então"; Alyssa levantou-se do chão, enquanto o gelado nariz de Tequila lhe fuçava as pernas, ainda em busca de carinho. "Seis e quinze. Tá tudo planejado para sairmos antes das sete, então, vamos logo com essa lista!".

"Genbu?"; pediu Melissa, ficando nas pontas dos pés para ver o tablet. "E como que está o negócio?".

"Raios, qual o problema de vocês?"; Hakurei já estava enfurecido. "São quinze para as sete, os malditos estudantes já estão dentro dos ônibus e só faltam os PROFESSORES pararem de mimimi e se resolverem!".

"Irmão, calma. É só fazer pares, cada dupla entra em um ônibus e pronto"; Sage, sempre paciente. "Com o que você está implicando? Eles estão só conversando".

"Heh"; crispou o vice-reitor, inquieto. "Blá, blá, blá. Entrem logo! Se tudo der certo, chegaremos a Salonica às 13H".

"Céus, Hakurei. Você precisa do seu Rivotril. Tá levando na bagagem?".

"Não irmão, eu não preciso de um tarja preta. Eu preciso humilhar, pisar e esfolar a cara e a honra do maldito reitor da Aristotélica"; e um brilho sádico surgiu. "Shion, ônibus um com a Hida; Sisyphos com seu pupilo no dois; Dohko e Dégel no três e o paspalho gêmeo vai comigo no quatro! Resolvido? MARCHEM!".


"CHERIE! OLHA, OLHA!"; Alyssa colou seu rosto junto à janela. "É o Dégel! Ai meu Deus, me segura amiga!"; e arrastou a outra na mesma direção.

"Ai, já tô sem air!"; a inglesa respondeu com o sotaque carregado. "Dohko? Mentira! É hoje que a gente vira a cabeça da perfeição!".

"Quem? O Dohko?"; Melissa apareceu da poltrona da frente. "Jesus! É o poder divino me guiando para pegar um professor"; e a baixinha também encostou a face ao vidro.

"Quem quer chá?"; Aegla mostrava uma garrafa térmica em tom pastel, o sorriso que lhe tinha fugido mais cedo agora brilhava no rosto novamente pacífico. "Trouxe bolo também, e biscoitos amanteigados. Fiz tudo ontem à noite".

"Falando assim, ela nem parece aquela tarada"; comentou Lia, sentada junto com Lillian.

"Aegla tem esse dom, né?"; e a amiga riu. "Parece ser uma caipira romântica, e quando menos esperamos... Se torna uma devastadora de homens".

"E o Aioros?"; a nissei piscou os olhos curiosa, reparando no olhar direcionado à Alone. "Você falou comigo, mas não tirou os olhos dele"; e apontou discretamente para o loiro.

"Tá tão óbvio assim?"; e Lilly teve certeza que suas bochechas haviam corado com o comentário.

"Aham"; todas as cinco responderam intrometidamente, em uníssono.


"Deus, você está de sacanagem comigo"; Alicia encolheu-se em seu lugar, em puro desgosto. Regulus acabara de subir para o ônibus, acomodando a mochila no porta-malas de cima.

"Lici, relaxa. Até parece que é uma tortura estar com ele"; Sahel fez pouco caso, levantando os olhos em busca do diretor acadêmico que acompanhava o professor. "Não pode ser assim tão ruim".

"Sério, o que ele tem de gracinha multiplica em quesito foco e você terá um workholic"; e a engenheira revirou os olhos.

"Hum"; retrucou a muçulmana, já completamente desfoque do assunto Regulus-gracinha-ou-chatildo. Sua atenção voltara-se à Sisyphos que havia descido novamente do ônibus a chamado de Sasha; do lado de fora, a gêmea Kido conversava sobre algo – obviamente, pensou – sem sentido, com sorrisos e olhares tímidos, e um brilho conhecidos à Sahel – muito parecido com o dela. ALERTA DE VAGABA, acendeu a placa iluminada em sua cabeça. "Que piriguete essa com cara de santinha...".

"A Sasha? Ela até que é legalzinha"; Anna falou, ignorando a careta em resposta da amiga. "A irmã dela é bem pior".

"Quem?", Sara perguntou, só por falar. Seu azar fora tanto que nenhum dos seus interesses haviam parado no ônibus.

"Não queira saber. Saori Kido é o terror".

"E a irmã dela com essa carinha de mimimi também vai pelo mesmo caminho. Tá achando que me engana? Hãaam"; Sahel cruzou os braços, dando graças ao ver Sisyphus voltar.

"Hum. Nunca nem vi"; Sara respondeu, nem imaginando o que a esperava em breve. "Agora Anna, vem cá. Pega um chocolate e me responde: e aquela pegação sua com o Saga?"

"Como assim?".

"Não faz essa cara não, sonsa!"; Alicia riu, empoleirando-se como um gato curioso na poltrona. "O Saga fez questão de espalhar".

E a única coisa a fazer foi chama-lo de filho da puta. Como se isso fosse resolver alguma coisa...


"CHIIIII CLEEEEE TEEEE! OBA! OBA!"; Manu, já em posse de seu ipod, acompanhava animadamente a música de sua adolescência brasileira. "Chiclete pra grudar no seu ouvido; Chiclete pra tocar no coração! Chiclete na boca pra mim é vício; Chiclete pra ficar amarradão..."

Genbu mal conseguia olhar para aquilo, quanto mais escutar. Nunca fora muito amigo de mulheres, mas, desde que entrara para faculdade já havia tido uma overdose delas.

Senta e pode esperar pelo pior, pequeno gafanhoto...

"Ai gente, empolgação!"; Manu sacudiu os braços. "Desenterrei essa música porque ela traz sorte. Lá no Brasil era tema dos trios elétricos do meu carnaval. Já passei muito rodo com ela!"; riu, descontroladamente.

Hannah olhou para Genbu, que estava ao seu lado. O menino ainda aparentava estar bem assustado com a algazarra da amiga que o ignorava, cantando alegremente.

"Torce para ela nunca aprender regatone"; a mexicana achou graça.

"Imagina? Manu sensualizando em regatone!"; Claudia riu. "Tá falando com o Afrodite, Karen?".

"Aham. Ele ficou em outro ônibus"; a menina respondeu, enquanto terminava de mandar mensagem via whatsaap. "Vai entrar agora. Ele ficou no mesmo da Cherie, Alyssa, Mel, Aegla e tal".

Aegla. Afrodite. Karen. Senta, que a história só vai começar.

"HANNAH!"; gritou Seiya lá de trás. "Vem pra cá! A gente tá discutindo sobre o time misto".

"Já vou!"; respondeu, passando por Genbu. Quando entrou no corredor do ônibus, lá no final estava ele. Aquele rosto pequeno, os cabelos verdes caindo pelos ombros e o olhar infantil que tanto a atraía. Sentiu as bochechas queimarem e prendeu a respiração enquanto caminhava em direção ao grupo, mal notando um certo dragão que sorria, bobamente ao lado de Shun.

"EI! Hannah!"; Claudia a cutucou antes de a amiga ir. "O Julian é amigo deles?"; perguntou, curiosa. Os olhos faiscando como as de uma fuinha safada.


Eram onze e quarenta da manhã quando os ônibus finalmente fizeram a parada em Larissa, uma cidadela que ficava entre Salonica e Athenas. Quarenta minutos para lancharem e já estariam novamente de volta a estrada, com menos de uma hora separando-os da Aristotélica.

Ótimo lugar apara averiguar a maldita fumaça que teimava em escapar do ônibus número quatro.

"Então"; começou um motorista, limpando as mãos em um pano velho. "Temos um problema, senhor...".

"Que tipo de problema?"; Hakurei ergueu os olhos do enorme sanduíche de linguiça com queijo, não dando muita bola a informação.

"O ônibus quatro, senhor. O seu. Quebrou".

Hakurei interrompeu o processo de abocanhar seu pão, ficando uma linguiça inteira presa entre seus dentes. E ela ficou ali, balançando, com óleo gotejando sobre a mesa enquanto a informação era digerida.

"É O QUÊ?"; e, enfim, ela voou para longe. "COMO ASSIM QUEBROU? ERA SÓ UM VAPORZINHO!"; ele pôs-se de pé, a marcha apressada em direção ao ônibus com capô aberto. "UMA FUMACINHA!".

"Dá para concertar"; o outro motorista que cutucava as entranhas do veículo falou, o rosto já manchado de graxa. "Só vai demorar".

"A gente dá um jeito. Os outros podem seguir viagem, se quiser".

"VOCÊS ESTÃO DE SACANAGEM COM A MINHA CARA? COMO, ME RESPONDAM, COMO EU APARECEREI NA ARISTOTÉLICA COM O GRUPO INCOMPLETO?"; Hakurei já estava em chamas, a testada gotejada de suor. "ALIÁS, EU NÃO NÉ? OS OUTROS! DE JEITO NENHUM, SE EU FICO, TODOS FICAM!"; e ele brandiu os braços. "NEM QUE EU TENHA QUE QUEBRAR ÔNIBUS UM A UM, CHEGAREMOS JUNTOS NAQUELA PORRA DE FACULDADE METIDA DOS INFERNOS!".

E foi exatamente assim que aconteceu, tirando o fato do vice-reitor não ter precisado quebrar o restante dos veículos. Uma, duas, três horas de concerto para a simples "fumacinha" parar de sair do capô, ou, em outras palavras, para o motor não mais superaquecer e a infinidade de desastres que uma coisa levava a outra não fazer parte da macumba. Os quatro ônibus e todos seus integrantes tiveram que esperar o arrastar do relógio, enquanto Hakurei ameaçava surtar a cada instante não resolvido.

Estava prevista a chegada de Athenas às treze horas no Campus da Faculdade Aristóteles de Salonica. Tempo de sobra para todos os discentes e docentes estarem presentes à abertura do XVI Congresso Científico às quinze e trinta. Só que não foi assim.

O sol já estava baixo no horizonte quando, finalmente, o comboio deu entrada pelo enorme portão de ferro do Campus. E, quinze para as seis da tarde, foi o horário em que eles desceram dos ônibus, completamente acabados.

Não tinha mais abertura, mesa redonda ou palestra motivacional. Os holofotes já começavam a acender e apontar uma ou outra alma que vagava pelo jardim de entrada da faculdade. Àquela hora, todos já tinham pego suas chave dos dormitórios e era bem provável que estivessem se preparando.

Para o quê? Oras, Sage bem disse: confraternização na noite de sexta. Só que em uma faculdade, confraternização é, no mínimo, uma chopada. Misturando milhares de estudantes e álcool, quiçá um bacanal...

Continua...

Nota: Quem quer me matar levanta a mão! o/ Mas deixa só levantada, não me espanquem não! T.T Eu sei, todo mundo achou que eu tinha abandonado. Eu também sei que esse capítulo ficou uó e foi ele um dos motivos de eu ter travado na fic. Não gostei dele e não conseguia sair dessa porcaria, aí acabei deixando... E ficando sem tempo. Aí foi um abraço para acumular a rotina de faculdade e a falta de tempo para escrever. Então eu resolvi terminar o que já estrava escrito, ficando essa bosta mesmo porque aí o exú me larga e posso partir pros próximos!

Mas me desculpem, prometo fazer o próximo melhor! E não demorar milêeenios para sair! Até porque agora entrei em férias decentes, a última foi de uma semana para não atrasar muito o ano e nem respirar deu. Mas um mês vai ser bom e vocês me verão mais! Todas chora! HAHAHAHA

Agora, vamos falar de coisa boa: o próximo já chega com a confraternização para alegrar os ânimos jovens, e eu quero saber se alguém aqui está afim de um pente e rala! AHAHAHAHAHA

Vou explicar: Cavaleiros Deuses (Saga de Odin), Marinas, Deuses (vale de filmes, os que não apareceram aqui, etc, etc) ou algum outro ser que não deu as caras aqui na fic interessa a alguém? Se sim, me mandem na review para eu anotar os pedidos e começar a mexer os pauzinhos porque queremos ver pegar fogo! o/ Mas, aí vai ser paixão de uma noite só. Pegou, chutou e chama o próximo quando voltarmos para Athenas!

Para quem não quiser, sem problemas, porque tem muuuito homem gato que foi para essa viagem. Incluído alguns professores! ;)

Obrigada a quem ainda acompanhar a fic, eu estava morrendo de saudades desses loucos personagens!

Beijos, até o próximo!