"Vamos todos comer!"
"Não Milo"- Disse Camus secamente - "Hyoga não sairá daqui hoje, tem muito o que pensar" - a rigidez havia voltado.

Camus deu meia volta, fechou a porta de Hyoga que soluçava do choro, pegou uma cerveja gelada e se sentou no sofá – ou melhor, se jogou no
sofá como se pesasse uma tonelada. Milo mal piscava pela cena que
havia presenciado.

Camus, pela primeira vez, se sentiu como seu Mestre.

oOo

FLASHBACK – INFÂNCIA DE CAMUS

Ele voltava mancando, muito fraco pela fome e pelo clima gélido. Sabia o
que esperava, não havia conseguido caçar nada para ao jantar daquele homem com quem vivia.

Por muitas vezes ele se perguntava se aquele homem era seu pai, mas não sabia, não sabia nem seu nome. Apenas sabia que era obrigado a se
tornar forte aprendendo lutas e a sobreviver no gelo.

Camus estava perdido em seus pensamentos, quando avistou a casa simples em que morava com o fogo acesso. Ver algo aceso o confortou, sentia suas extremidades congelares, porém ao mesmo tempo estremeceu por chegar em casa de mãos vazias.

Ao abrir a porta, aquele homem sequer olhou para ele e disse:

– Vejo que não trouxe nada.
– Me perdoe, Senhor. Está frio demais lá fora, e nesses dois dias não
encontrei um animal sequer. Tudo que vi já estava morto e sem
possibilidade de consumo.
– CALADO! Não ordenei por explicações.

Aquele homem deu meia volta e pegou uma chibata utilizada em animais.

– Tire a roupa e vire-se.

Camus virou-se calado enquanto tirava sua calça, sabia que jamais podia
discutir essas ordens. Sua vida havia sido assim. Surras terríveis
em que não podia emitir um mísero som de dor ou reclamação.

FIM DO FLASHBACK

oOo

A voz de Milo o retirou de seu transe.

– Eu sou um monstro, Milo.
– Não fale isso! - Disse o namorado se derretendo ao lado dele – Você
só quer o bem do menino, o que ele fez hoje auxiliou colocou em
risco a própria vida, você apenas quis deixar uma lição clara.
– Eu nunca precisei bater em Hyoga... Quando era pequeno dei um ou outro tapinha, mas nada assim, ele já é um homem... Na verdade, sempre me gabei de não viver aos tapas com meu pupilo como a maioria dos cavaleiros...
– Ele é uma criança, meu amor...

Os dois se entreolharam com um sorriso no rosto, pareciam dois pais
discutindo sobre um filho. Era assim que eles se sentiam... Milo
animou o cavaleiro francês, que relaxou e se sentiu melhor com toda
aquela situação, Milo sabia dos abusos que sofreu na infância e
deixou claro que toda aquela situação era completamente diferente.

Camus aproveitava e não demonstrava que já estava bem, pois sabia o que se passava na cabeça de seu amante. Na verdade, sabia MUITO bem que em breve teria que enfrentar uma maratona de discussões sobre o casamento e queria evitar isso ao máximo.

Não podia dar carta branca ao seu companheiro porque sabia que isso
significava a falência de todas as suas próximas cinquenta gerações, na verdade tremia só de pensar em Milo com seu cartão de crédito... Seria uma festa digna da realeza inglesa.

Na verdade não, a realeza inglesa jamais faria algo que chegasse aos
pés de uma festa organizada por Milo. Jamais.

Em pouco tempo foram se deitar depois de muita insistência de Milo,
porém Camus não pregou os olhos, seus pensamentos oscilavam entre
seu filho querido, as lembranças daquele homem que o criou e em como
Milo se portaria com relação ao casamento.

oOo

Hyoga acordou e ao se mexer sentiu uma dor que o recordou de tudo que
acontecera na noite anterior. Tudo aquilo, apesar de lhe remeter a um
sonho, era real e bem dolorido. Levou sua mão direita à cabeça e
fechou os olhos se condenando por ter agido daquela maneira com seu
Mestre.

Ao mesmo tempo se recordou do "culpado": Milo. Hyoga levou os dedos
das duas mãos às suas têmporas pensou no casamento que Camus havia mencionado no meio da surra que levara...

Pensava que jamais afrontaria novamente Camus daquela maneira, mas tentaria a todo o custo ACABAR COM AQUELA IDEIA DE CASAMENTO.

FIM

(fim? Não, apenas o começo da próxima fic... obrigada meus queridos!)