Capitulo I - A Criança com Orelhas de Cachorro

Konoha sempre foi uma vila grande. E continuava sendo, mesmo depois do fim da guerra. O que, de certa forma era bom.

Já fazia oito anos que a guerra havia acabado. Já tinham oito anos que Naruto, a pessoa que salvou todos, estava desaparecido.

Com seu desaparecimento, varias coisas mudaram.

As pessoas passaram a pensar que ele era o culpado pelas mortes que vieram. E ele foi odiado. Sasuke voltou para a vila, e foi feito Hokage, e agora Konoha seguia com um regime militar. Sasuke havia feito todas as outras vilas de inimigas.

Mas nossa protagonista não é nem Sasuke nem Naruto dessa vez. Quer saber quem ela é? Então vamos dar uma espiada no que está acontecendo agora com ela.

–-Imunda... –falou um homem, segurando uma pequena criança com fortes traços de desnutrição pelo pescoço. –Não lhe matamos por que o Hokage Sasuke-sama não deixa... E temos que aturar sua presença imunda na nossa vila... Seu lixo, ser inferior!

Ele socou o estomago da criança, que, já fraca, vomitou um pouco de sangue no chão.

A criança tinha cabelos pretos, olhos verde-água, e o que mais chamava atenção nela eram suas orelhas de cachorro, com o mesmo tom de seus cabelos.

Ela estava suja, de terra, sangue e lixo. Fraca, pela falta de comida ou água. E tinha que aguentar aquele homem, e muitos outros aldeões, que a torturavam de varias formas, sem se importar que a criança não tivesse mais do que oito ou sete anos.

Ele soltou a garotinha, que caiu no chão, e foi chutada para dentro de um beco, bem nas costelas.

A menina se sentia se ar, e a dor em seu peito a estava matando. Seus olhos mortos, porém não demonstravam nada, além de uma dor profunda e sofrida.

A menina foi apedrejada e surrada por mais duas horas, antes que os aldeões finalmente se cansassem.

–-Lixo imundo. –falou o primeiro homem, pisando com força sobre a cabeça, o braço e, em seguida, cuspindo sobre o corpo quase inerte da menina.

Assim que eles estavam fora de vista, a criança tentou se levantar, cambaleando, e segurando o braço que estava dobrado uma posição estranha, cambaleou até o fundo do beco e jogou as costas contra o muro, uma vez que não conseguia segurar o próprio corpo e sentou-se, abraçando os joelhos e chorou.

Eu não pedi nada disso... Por que só comigo? Por que eu sou diferente? Eu nunca... Nunca fiz nada para eles, e eles me batem... Eu os odeio, queria que morressem!

Os pensamentos de ódio da garota formavam uma nuvem negra em sua mente, seus olhos ficaram vermelhos e um sorriso maldoso apareceu em seu rosto.

Com uma voz que não era dela, ela falou.

–-Quer mesmo saber, pequena criança? O que você é? Por que eles fazem essas coisas?

Eu quero!

–-Você é um monstro. Uma criação, meio humana meio demônio. Sua simples existência já é um motivo para te abominarem.

Sua mente ficou silenciosa, e seus olhos voltaram ao verde característico.

–-Um monstro, hã? –falou ela, com voz normal. –Então, eu sou um monstro?

Com os olhos em fogo, ela levantou, decidindo. Não ficaria ali, aonde todos achavam que ela era um monstro, lixo desprezível, imunda entre outros adjetivos que aguentara até agora.

Andou cambaleante pelas ruas já escuras de Konoha, até o muro. Esperou até os guardas tirarem a atenção do grande portão da vila e correu por ele.

Correu por muito tempo, não sabia exatamente quanto, mas correu. Quem a visse poderia pensar que ela estava sendo perseguida por cães do inferno, se não fosse pelas orelhas em sua cabeça e a cauda balançando.

Até que trombou com um homem, que a segurou para que ela não caísse para trás.

O homem parecia ter cerca de vinte e quatro anos. A pequena não podia ver seu rosto, tampado por uma mascara como as da Anbu, mas sabia que ele era loiro.

–-Ei, tudo bem, ojou-chan? –perguntou ele, segurando-a. Ela tremia, inconscientemente. Não sabia se aquele homem era como os Aldeões ou não, tinha medo que ele a machucasse mais do que já estava.

Não falou nada, não por que estivesse o ignorando, mas sim por que nunca havia falado com ninguém antes.

–-Nee, ojou-chan, está tudo bem? –perguntou o homem, um pouco impaciente, e visivelmente preocupado por causa da tremedeira e do silêncio.

–-V... Você... Está falando comigo? –perguntou ela, com a voz se quebrando.

O homem olhou para o estado da menina, o sangue que ainda escorria por suas roupas, os machucados existentes por toda a extensão do seu corpo, percebeu então o que deveria ter acontecido, e seu coração se quebrou. Ele sentiu um frio subir pelo seu peito, em quanto imaginava a situação que a menina deveria ter estado.

–-Sim. –falou ele, delicadamente, puxando-a para seu colo. –Você está machucada demais... Vou te levar a um médico.

Ela se encolheu ao ouvir a palavra médico, e algumas lagrimas surgiram em seus olhos, embora ela não soubesse por que.

Um espaço em branco. Pensou ela.

O homem não notou, ou se notou ignorou, a reação da garota, e seguiu com ela na direção oposta a que ela estava indo.

–-A... Aonde... Onde estamos indo, senhor? –perguntou ela.

–-Para Suna. A Vila da Areia. –falou ele. –Qual seu nome?

–-Eu não tenho um nome. –falou ela, tristemente.

–-Por quê? –perguntou o homem, agora confuso. –Seus pais não te deram um?

–-Eu não sei quem são meus pais... E ninguém nunca me chamou por um nome, por isso eu não sei qual o meu.

Ele sorriu.

–-Então, vou te chamar de... Hikari. –falou ele, sorrindo.

A menina, agora chamada Hikari pareceu surpresa.

–-Eu tenho um nome agora? –ela parecia confusa.

–-Sim! Um nome só seu.

Seu peito doía de tanta felicidade, a vontade de chorar era enorme, e Hikari mordeu os lábios, tentando evitar chorar.

Mas não conseguiu, e as lagrimas escaparam por seus olhos. O Homem, ao ver isso sorriu tristemente.

–-Se segure. Eu vou correr. –avisou.

Hikari fez o que lhe foi ordenado e fechou os olhos.

Logo em seguida eles desapareceram num relâmpago dourado.