CALEIDOSCÓPIO

Parte 32 – Epílogo.


O lugar parecia ser construído em mármore branco e vidros: um salão circular sem paredes, apenas colunas gregas que sustentavam um teto abobadado com uma bela clarabóia em vitral colorido. Havia poucas mobílias, apenas cadeiras e uma pequena escrivaninha. A luz que adentrava o recinto era mais pura, mais fluídica e as cores eram vistas como se estivessem em alto contraste. O céu azul, os prados verdes, arbustos e árvores que se via pelos grandes espaços entre as colunas eram de cores profundas e brilhantes. Bandos de aves brancas em formação cortavam o céu e delas emanava auras que deixavam rastros por alguns instantes. A sensação térmica era invariável e sempre agradável, não havia calor nem frio.

O rapaz de cabelos claros e calça e túnica em algodão branco foi trazido até aquela antecâmara aberta por outro de aparência mais madura. O homem que estava sentado atrás da escrivaninha e a mulher que estava sentada na cadeira próxima levantaram-se e lhe sorriram afetuosamente.

O sorriso foi retribuído, mas um pouco vacilante. Ele estava diante de Willian Crookes, um dos grandes Mentores daquela Colônia. A mulher de longos cabelos negros e sedosos ele não sabia quem era, embora tenha sentido imediata simpatia por ela e foi mais fácil lhe retribuir um sorriso caloroso.

O homem saiu de trás de sua escrivaninha ao encontro do rapaz, com os braços abertos. Seus cabelos e barba crespos e muito brancos se contrastavam com sua pele negra, e o seu sorriso de dentes igualmente muito brancos era mesmo luminoso e o rapaz ficou menos tímido com esse tratamento. O outro homem que o trouxe até ali, um Instrutor, permanecia ao seu lado, já sabendo do que se tratava aquela convocação.

Willian Crookes, já bastante próximo do rapaz, lhe falou; sua voz era retumbante, porém cordial: — Filho, temos uma proposta para você, mas poderá declinar se assim quiser, se sentir-se despreparado ainda para tal empreitada.

— Q-qual empreitada?

— A do Retorno...

O rapaz silenciou-se por momentos, digerindo e cogitando o que acabava de ouvir. Piscou algumas vezes, talvez não crendo na oportunidade que lhe era apresentada. O pouco que havia aprendido sobre esse processo, desde que chegara ali há alguns meses, o levava a crer que isso era impossível, neste determinado tempo. Mas, ele mal conhecia o bê-a-bá da Grande Lei.

— Seria possível o meu retorno tão logo, Sr Crookes? Pelo que eu entendi, a média de espera é de, no mínimo, trinta anos e só estou aqui a menos de um...

— Sim, você compreendeu certo. Basicamente, entre uma Vinda e o Retorno, há uma média de trinta anos... Porém, isso não é uma regra rígida, afinal, tudo é muito mais complexo do que nosso curto entendimento ainda alcança e cada caso é um caso... No seu caso, você retornou muito antes do previsto; sua existência foi interrompida e não completada conforme o seu último Plano. No momento, conversamos entre nós e concordamos que o seu Retorno será de grande valia para você e para aqueles com que conviverá, meio que continuando do ponto em que foi interrompido. Retornará com uma missão de perdão, renegação e um possível resgate. E não estará só...

Instintivamente, o rapaz olhou para a mulher ao seu lado, que mantinha um sorriso singelo que transmitia bondade e confiança. O Mentor acompanhou o olhar do garoto e sorriu: — Eillen o acompanhará, sete anos após seu Retorno. Ela lhe auxiliará naquilo onde seus olhos e seus ouvidos não alcançarão... Como falei no início, é apenas uma proposta, você não será obrigado a isso. Poderá permanecer na Colônia em aprendizado e sair a campo em serviço após isso, permanecendo dessa forma por algumas décadas, até que seu novo Retorno não possa mais ser adiado. E tem, também, todo o direito de analisar nossa oferta... Sente-se, filho, e ouça o Plano que traçamos para você e, se concordar e se quiser seguí-lo, começaremos os preparativos necessários.

Não sabia dizer se achava maravilhoso ou não tal oportunidade, mas com certeza ouviria o que o Mentor Willian Crookes tinha a mais para lhe dizer.


15 anos depois...


Hermione estava sentada na beirada da cama de casal, tentando desesperadamente fazer com que um laço de fita permanecesse nos cabelos longos, extremamente lisos e sedosos de Kathleen, que ficava quietinha, segurando um sorriso matreiro por conta da tentativa frustrada da mãe. Seu cabelo era fino e liso demais para que qualquer adorno se mantivesse mais que alguns segundos presos aos fios. Uma trança conseguia sobreviver por uma hora, mais ou menos, e uma faixa de cabelo um pouco mais, mas isso incomodava a garotinha e ela é que não deixava a coisa no lugar.

— Nunca imaginei que houvesse um cabelo tão fino e liso assim naturalmente! Eu teria sido muito mais feliz se os meus tivessem metade dessa facilidade em aceitar um pente, mas o seu já um exagero, Kat!

A menininha riu, olhando travessa para a mãe: — Então já tá terminado, né? Posso ir?

— Não, senhora! Você não vai sair por aí com esse cabelão solto nesse calor horrível que está fazendo! Faremos, então, uma trança!

— Mãe.. estamos ficando atrasados... Papai mandou avisar que está ficando impaciente... – Joahn parou à porta do quarto, as mãos enfiadas nos bolsos e um pé cruzado a frente do outro. Olhava para a mãe e a irmã de forma imparcial, estando ali apenas para passar um recado. Era um rapazinho de quatorze anos e feições delicadas como as de Hermione. Não tinha a tez pálida como a irmã e o pai, nem os cabelos escorridos, embora fossem igualmente negros... um anjo de cachos negros e olhos castanho-esverdeados.

Hermione bufou, estava empenhada em fazer uma trança firme e perfeita nos cabelos de Kathleen: — Para o seu pai sempre estamos atrasados! Lembre-o que iremos aparatar em St. Mungus e não ir de carro, como algumas vezes!

Heroicamente, Hermione conseguiu terminar a trança e prender um elástico colorido à ponta. Kat pulou feliz ao ver-se livre da mãe e correu até o irmão, abraçando-o pela cintura – que se desequilibrou – e o olhando com o pescoço todo esticado, pois ele tinha quase o dobro de seu tamanho.

— É verdade que vamos conhecer o Vovô Dumbledore, Joh?

— Nós já o conhecemos, Kat! Vamos visitá-lo, é diferente! Papai falou que ele está numa boa fase e podemos ir vê-lo desta vez...

— Eu não lembro de ter conhecido ele...

— Porque você era ainda menor do que é quando fomos visitá-lo pela primeira vez, boba!

A menininha deitou a cabeça no estomago do irmão, um pouco entristecida: — Eu lembro de tantas coisas... porque não posso lembrar do Vovô Dumbledore? Eu sei que conheço ele, mas não lembro...

O rapazinho curvou-se para falar à irmã de forma que somente ela ouvisse, alisando-lhe os cabelos negros: — Nem tudo tem necessidade de lembrança, Kat.

Snape apareceu à porta, com ares impacientes: — É pedir muito para vocês duas já estarem prontas para irmos? Por Merlim, vamos apenas a um hospital, não num baile de Inverno!

Kathleen se desvencilhou do irmão, pulando para cima do pai, quase escalando para chegar aos seus ombros. Snape a agarrou e colocou atravessada ao ombro, deixando-a de ponta cabeça, rindo de se acabar.

— Severus! Vai estragar o penteado da menina!

Snape apenas arqueou desdenhosamente as sobrancelhas em resposta à Hermione, desaparatando logo em seguida com a filha dependurada em seu ombro. A mulher revirou os olhos, agarrando sua bolsa de mão e indo até o filho.

— Se eu lhe contasse como seu pai era antigamente, você não acreditaria, Joahn!

O garoto riu: — Pelo que já ouvi de alguns dos meus professores que foram alunos dele, acho que acreditaria sim, mãe!


Ala da Geriatria

Quarto 13 – Alvo Dumbledore


Alvo Dumbledore contava, agora, com 142 anos e padecia de doenças geriátricas degenerativas. Viveu cem anos como fossem mil, por isso se supunha que não fosse tão longe. Mas foi. Aposentou-se há alguns anos, quando já não conseguia mais distinguir coisas banais, sendo levado a viver numa casa de campo para repouso, até que as complicações da saúde o levaram a ser instalado definitivamente em Saint Mungus.

Recordava-se muito do passado, principalmente de sua época áurea de juventude. Passava horas falando sobre suas glórias juvenis e outras horas chorando feito criança por erros passados em que não conseguiu se auto-perdoar. Mesmo a Medicina Bruxa não era capaz de amenizar muito os efeitos da doença degenerativa.

Esteve presente na cerimônia íntima do casamento de Hermione e Severus, e esteve muito próximo nos primeiros cinco anos de vida de Joahn, que acabou por tomá-lo por neto. Isso fora nos primeiros anos de sua aposentadoria, antes da necessidade de isolamento para tratamento em local adequado.

Neste atual estágio da doença, não tinha mais a noção de tempo e espaço, nem era capaz de lembrar que já havia tomado seu café, embora a xícara estivesse usada e vazia a sua frente. Há três anos, desde que Joahn entrou para Hogwarts, que o casal Snape não levava os filhos para visitarem o 'Vovô Dumbledore', mesmo sob os protestos de Joahn. Mas, há alguns dias, Snape fora informado de uma súbita melhora no quadro clínico de seu Mentor que pedia, inclusive, a presença dos 'netos' Kathleen e Joahn.

Snape parou à porta do quarto de Dumbledore e, cauteloso, dá batidinhas na moldura para despertar a atenção do velho mago que estava semi-deitado, recostado aos travesseiros e distraído vendo a televisão (! – presente de Hermione).

Levou uns instantes para que Dumbledore conseguisse focalizar sua visita e a reconhecesse. Quando o conseguiu, sorriu seu habitual sorriso bondoso, única coisa que não mudara com a doença.

— Entre! Entre! – Meneou com a mão longa e descarnada, em movimentos lentos e pesados.

Snape foi o primeiro a entrar. Kathleen estava agarrada a sua mão, mas se desvencilhou, empacando à entrada. Hermione se deteve sem entender de imediato a atitude da filha; o irmão apenas esperou pacientemente, sabendo o porque de tal atitude.

— Está com vergonha de falar com o Vovô Dumbledore, querida?

A menina, com os braços cruzados e uma expressão bravia, respondeu com um meneio de cabeça, negando a pergunta. — Não é? Então, o que é? Está com medo do Vovô? Ele não é bonito, mas é muito bonzinho... já conversamos sobre isso, lembra?

Novamente, a menina apenas respondeu com meneios. Joahn intercedeu.

— Deixa que eu a convença, mãe! Vá lá falar com o Vovô que logo iremos também...

Hermione não gostou daquilo, mas não discutiu. Ela e Snape foram filhos únicos, crianças solitárias que cresceram sem a companhia de outras crianças, então ambos não podiam avaliar o comportamento dos dois filhos, apenas supunham que tal cumplicidade fosse algo comum entre irmãos.

Quando viu que a mãe estava o suficiente longe e distraída falando com Dumbledore, Joahn se abaixou, ficando ao mesmo nível dos olhos de Kathleen. Diante do irmão, a menina ficou mais tranqüila, descruzando os braços e respirando mais livremente.

— Por que não quer entrar, Kat?

Katheen olhou por sobre o ombro do irmão, para dentro do quarto; voltou seus olhos de ônix para o garoto que aguardava pacientemente pela resposta.

— Acho que não devíamos estar aqui, Joh... É uma reunião de família! Nós não somos da família do Vovô...

O garoto ponderou antes de responder: — Não.. não somos, mas é como se fôssemos! Papai sempre teve devoção pelo Prof Dumbledore, daria a vida por ele. Então é como se nós fôssemos, de verdade, os netos dele...

Kathleen agarrou o braço do irmão, fazendo-o virar-se para dentro do quarto e lhe sussurrou: — Veja...

A cena do quarto se tornou etérea, como se ficasse nublado por cerração. Em volta do leito de Dumbledore havia pessoas esbranquiçadas que emanavam auras de luz. Elas mantinham suas mãos etéreas sobrepostas a Dumbedore e delas jorravam raios finíssimos, como uma lâmpada acesa vista de uma vidraça molhada. Mais ao canto do quarto, próximo à janela, estavam pessoas que pareciam compreender uma família que aguardava o desembarque de um membro; era uma mulher muito bonita de mãos dadas a uma moça igualmente bela e, um pouco mais atrás, um homem alto e de ombros largos. Afastado da família, recostado à parede numa pose insolente, um rapaz esbelto, de cabelos louros e encacheados.

A garotinha soltou o braço do irmão, desviando sua atenção do quarto e se voltando a ele, que piscava em profusão, sentindo leve tontura. Quando se sentiu bem novamente, voltou para Kathleen:

— O-o que são? O que você acha...?

— Eles vão levar o Vovô embora essa noite...

O que Kathleen tinha mais a dizer sobre o que havia no quarto, onde os olhos e ouvidos dos outros não alcançavam além dos dela, não pode completar, pois o próprio Dumbledore chamava aos irmãos efusivamente, mostrando uma alegria e uma energia não condizentes com seu atual estado.

Joahn levantou-se e Kathleen se agarrou a sua cintura, olhando timidamente para o velho mago que lhe sorria com verdadeira alegria, não se atrevendo a desviar seu olhar para outras coisas. Dumbledore lhe falou numa voz embargada pela idade:

— Eillen, Eillen! Que bom revê-la! Está muito mais bonita desde a última vez que nos encontramos!

Snape sentiu-se incomodado, mas foi brando ao consertar o engano de Dumbledore: — É Kathleen, Alvo... a chamamos de Kat ou...

Dumbledore o interrompeu, alegremente: — ... ou fadinha! Uma pequena fada, como Morgana! Eu sempre soube que você tinha o sangue do povo antigo, Severus! Eillen, sua mãe, era uma perfeita fada! Kat é igual a ela!

Hermione olhou marotamente para Snape, segurando um riso, enquanto o marido girava os olhos com impaciência. Simplesmente não gostava dessa alusão e não gostaria de ouvir sua filha sendo chamada de 'fadinha'.

— E quanto a você, meu rapaz? Aposto que é o melhor aluno em Poções! Será o mais novo orgulho de Sonserina, garanto! Ou.. Grifinória? Não consigo me lembrar agora, Joh! Perdoe a falta de memória desse velho...

Joahn corou com a menção de ser o melhor aluno em Poções – o que era, de fato. Humildemente, refrescou a memória de Dumbledore, com Kathleen, agora menos retraída, sentada ao seu lado na cama:

— Sou da Corvinal, senhor.

Por uns instantes, Dumbledore ficou com uma expressão vazia, como se ainda não aceitasse sua falta de memória para as coisas, ele que sempre se lembrava das menores coisinhas.

A hora passou com conversas amenas, com Dumbledore alternando estados de alegria e prostração. Kathleen sabia, porque via e ouvia, que aquela era uma das últimas horas daquele que fora um grande mago de grandes feitos, embora tenha cometido alguns grandes erros também. Ela já não se sentia receosa com as presenças fluídicas no quarto e até ajudava a passar um pouquinho de sua vibração através de sua mãozinha que segurava todo o tempo a mão calejada do ex-diretor de Hogwarts. Quando a hora da visita terminou, uma enfermeira veio despedir a família, trazendo consigo uma bandeja com medicamentos.

Joahn e Kathleen saíram de mãos dadas e vislumbraram, pela última vez, o quadro extra-dimensional que se formava ao redor do mago, agora com movimentações mais intensas de Mentores que começavam a fazer o trabalho de desligamento.


A família saía da Ala Geriátrica, descendo as escadarias para outros andares, quando foi interrompida por conhecidos no segundo andar a que haviam descido. Snape e Hermione pararam para conversar e trocar informações, mas os irmãos se afastaram um pouco do grupo.

Kathleen, antes agarrada à mão do pai, foi para junto do irmão, olhando assustada para o corredor, que não tinha, aparentemente, nada de anormal, igual os demais corredores. Ela sentiu frio, embora a temperatura estivesse alta, e se agarrou ao braço de Joahn, que já conhecia por demais aquele gesto da irmã para ignorá-lo.

— O que é agora, Kat? – Sussurrou de modo que somente a menina ouvisse.

A menina não respondeu, apenas permaneceu agarrada ao braço do irmão, olhando fixamente para o fundo do corredor – que estava claro e arejado. Soltou uma das mãos e apontou debilmente para uma porta.

— Lá...

O garoto não compreendeu: — Lá? E.. o que tem ?

Esticando o pescoço, Kathleen mirou o irmão com seus penetrantes olhos negros: — Vamos até lá...?

Joahn riu: — Achei que estivesse com medo...

Dando de ombros, a menina respondeu desdenhosamente: — Medo? Assusta, mas não dá medo...

— Tá bom, então! – Joahn olhou de soslaio para os pais que ainda estavam entretidos com as pessoas que encontraram, pegando na mão de Kathleen e a puxando para o final do corredor. — Vamos ver o que é assustador, mas não dá medo...

Chegaram ate o final do corredor, dando de cara com uma grande porta branca de duas folhas, com uma placa que indicava ser ali a Ala Psiquiátrica. Sempre agarrada à mão do irmão e um pouco atrás dele, colada as suas costas, Kathleen apenas espiava. De manso, o garoto empurra uma das folhas da porta, deixando uma brecha grande o suficiente para ver dentro da Ala.

Kathleen conteve um suspiro de exaltação, passando para as costas do irmão, colando-se a ele de olhos fechados.

— Assustador que não dá medo? Sei... são só pessoas que sofrem de problemas mentais, Kat: autismo, demência, retardos, alguns sofreram danos mentais por acidentes com feitiços. Apesar disso, são boas pessoas, não precisa ter medo...

— Não são deles que tenho medo...

O garoto pareceu confuso: — Não?

Afastando-se do irmão, descruzando os braços e mirando-lhe nos olhos, Kathleen lhe fala baixinho: — São dos obsessores... lá dentro está repleto deles!

Obsessores?! Mas.. onde foi que você aprendeu essa palavra?! Ah, deixa pra lá! Se a coisa te assusta, é melhor voltarmos pra junto do pai e da mãe, que já devem estar nos procurando!

Joahn já pegava na mão da irmã pra levá-la embora quando a menina travou no lugar, não permitindo que eles saíssem dali. O garoto se voltou, já impaciente: — O que você quer, afinal, Kathleen? Vamos logo! Sou eu que vou levar a bronca da mamãe, não você!

— Não! Com você, eu não tenho medo... vamos lá dentro, vamos? É importante!

Como acontecia na maioria das vezes, o garoto não conseguia chegar a algum entendimento imediato sobre as atitudes – estranhas – de sua irmãzinha, e acabava apenas em concordar em fazer o que lhe pedia. Segurou-a novamente pela mão, empurrou com a outra a porta de folha dupla e entrou na Ala Psiquiátrica.

A princípio era uma Ala igual às outras: branca, asséptica, com divisórias em biombos de tecido igualmente branco. Era bastante iluminado e arejado devido às grandes janelas que deixavam a mostra o pátio envolta do hospital, repleto de verde. O dia ensolarado e alegre do Verão deixava o ambiente bastante leve, apesar de alguns internos fazerem coisas estranhas. Médicos e enfermeiras estavam ocupados em atender a alguns dos pacientes, então não prestaram a mínima atenção aos irmãos. Joahn andava calmamente, não vendo nada de assustador (mas se segurava para não rir de algumas coisas). Kathleen, ao contrário, estava agarrada à mão do irmão como se disso dependesse sua vida e sempre colada à lateral do corpo dele, evitando olhar para os lados e fechando (inutilmente) os olhos algumas vezes. Eles se conduziram – ou foram conduzidos – até o final da enfermaria, encontrando uma nova porta de folhas duplas, com uma placa que dizia "Hebetados".

— É aqui? – Joahn perguntou à irmã, já pronto para empurrar a porta.

Kathleen apenas respondeu com um meneio leve da cabeça, não se atrevendo a pronunciar nenhuma palavra, por isso seus lábios estavam tão comprimidos um ao outro. Joahn ainda a observou por mais alguns instantes, até resolver entrar. A menininha entrou, mas prostrou-se um passo após a porta. Ela não passaria daquele ponto.

O que se passava dentro daquela Ala apenas Kathleen via: havia um nevoeiro espesso, como se estivessem na praia no Inverno. Pontos de luz piscavam, movimentando-se pelo nevoeiro. Joahn nada via, ouvia ou sentia disso, mas uma força estranha o atraia para o final daquela sala, por onde ele passava por alguns leitos ocupados dos quais não se dava conta. Estava absorto, sequer percebia que Kat não o acompanhava mais, mas ela o observava de onde estava, estaticamente.

Havia uma brisa constante varrendo o lugar, fazendo torvelinhos no nevoeiro. Joahn não era mais um garoto de quatorze anos, de cabelos encaracolados negros e olhos esverdeados; também não trajava mais seu jeans e camiseta. Aos olhos de Kathleen, ele havia tomado a forma – embora inconsciente disso – de um jovem homem, de cabelos claros e finos e olhos azuis cintilantes; suas vestes eram em gaze de algodão cru, que se enovelava pela brisa, de calças largas e túnica longa, quase até os pés. Mansamente chegou ao último leito onde jazia um corpo inerte, vegetativo. A placa no leito indicava um nome...

Malfoy, Draco.

Um belíssimo Dragão-serpente em branco-perolado dava voltas em torno de si mesmo sobre o hebetado daquele leito, guardando e velando o infeliz que ali jazia numa verdadeira prisão sem muros. Draco Malfoy estava aguilhoado ao próprio corpo havia quinze anos. Ele era apenas uma vida vegetativa, presa entre dois mundos, incapaz de concluir ou encerrar a existência.

Luzes coloridas e de formas concêntricas movimentavam-se como se suas formas se engolissem e voltassem a serem regurgitadas, explodiam como bolhas de sabão entorno do leito de Draco. Não havia chão, nem parede, nem teto. Apenas formas de luz se moviam num espaço vazio.

Joahn levou lentamente as mãos à grade da cama, fechando-as na fria barra de ferro esmaltado. As pupilas retraídas estavam apenas como pontos negros em sua íris azulada e ele se fundia, pouco a pouco, àquele enorme caleidoscópio.

Seus olhos estavam fixos no rosto encovado do hebetado: um rosto extremamente pálido, quase transparente; os olhos afundados nas órbitas do crânio; o cabelo escasso, descolorado. Baixou a vista para o peito do rapaz que, mesmo sob o lençol branco, era possível ver o cadaverismo de seu corpo atrofiado. As ondulações do peito eram longas e lentas, mal se podia perceber que respirava.

O rapaz levou as mãos ao rosto e seus ombros começaram a se sacudir. E chorou dolorosamente lágrimas grossas e pesadas. Ali ele via o que podia ser pior do que a morte. Ele via um prisioneiro que não obtinha chances de redenção e evolução. Um hebetado estacionado no tempo. Aquilo ali era a verdadeira morte – o Espírito hibernado.

Não havia mais a mesma paisagem que os olhos de Kat e o Espírito de Joahn captaram. Havia apenas um leito comum e branco com uma pessoa que dormia profunda e pacificamente. Havia chão, havia parede, havia teto e até mesmo uma grande janela gradeada que permitia a entrada do calor e da claridade do Verão. E havia um rapazinho de cabelos negros e encaracolados que chorava profusamente, engasgando-se em seus soluços.

Hermione e Snape – com Kathleen em seu colo – correram até o filho sem entender absolutamente nada do que se passava. Hermione, apreensiva, segurou o garoto pelos ombros sem saber o que fazer para confortar o filho, cuja cena lhe partia o coração. Joahn se agarrou a ela num abraço apertado, escondendo o rosto no ombro da mãe, pois quase já lhe atingia a mesma altura. Hermione manteve-se muda, lançando um olhar indagador e dorido a Snape, que demonstrava alguma compreensão – se é que era possível compreender o porque de toda aquela cena.

O homem passou os olhos pela placa com o nome do interno e subiu seus olhos até encontrar o rosto inerte e cadavérico de Draco, e voltou-se para seu filho, levando a mão às costas do garoto, acariciando. Falou baixo e calmamente: — Vamos para casa...

Kathleen, que já estava agarrada ao pescoço do pai, mesmo receosa, lançou um olhar para Draco, e franziu o cenho numa expressão triste. Apertou-se ainda mais ao pescoço de Snape, deitando a cabeça em seu ombro e escondendo seu rosto. Hermione afastou o filho, agora mais calmo, enxugando-lhe o rosto com as mãos. Snape deixou que ambos passassem a sua frente, ajudando, em seguida, Hermione a guiar Joahn que estava desalentado.


Era noite, por volta das onze. Hermione andava de um lado para o outro, ora se distraindo com o exterior que avistava da janela da biblioteca particular, ora se perdendo em seus próprios pensamentos. Snape estava sentado em sua escrivaninha, o rosto apoiado em suas mãos cruzadas a sua frente. Ele, igualmente, parecia perdido em seus pensamentos.

— Ele já deve ter-nos ouvido falar sobre Draco.. é a única explicação... – Hermione quebrou aquele silêncio, por fim, e em sua voz transparecia exaustão.

— Joh sabe sobre Draco...

— Não tudo, nós nunca lhe contamos o que Draco fez a nós, nunca lhe contamos que ele era um louco, um homicida, que havia tentado nos matar e que agora vegeta em Saint Mungus, desde que Harry e os outros Aurores o capturaram naquela garagem!

— Ele sabe sobre a atual condição de Draco, Hermione. Já falei isso a ele quando me perguntou porque vou toda a semana ao hospital. Quanto ao resto... não creio nisso, ele teria demonstrado abalo no dia que tivesse descoberto, nos ouvindo falar sobre isso... não, não foi isso... nós não comentamos sobre o que acontecera desde que Joh era um bebê.

Hermione parou, levando as mãos ao rosto e, depois, aos cabelos: — Deus! Só gostaria, neste momento, que aquela febre dele baixasse. Já foi a segunda dose de poção e a temperatura continua na casa dos 39! Precisamos levá-lo para o hospital, Severus!

Snape se levantou, indo até Hermione e segurando-a pelos ombros: — A temperatura vai ceder, acalme-se. Se daqui uma hora permanecer da mesma forma, então iremos, está bem? É você quem deve relaxar, Hermione. Não adianta se exasperar, imaginando coisas que não são verdadeiras.

— Imaginando coisas? – Hermione tirou bruscamente as mãos de Snape de seus ombros, afastando-se dele. — O estado de Joahn não é nenhuma imaginação! Jamais o vi daquela forma, ele nunca foi uma criança chorona, cheia de frescuras! E ele estava lá, na frente de Draco, chorando desesperado! E agora está lá em cima, com 39 graus de febre!

O homem suspirou cansado, dando as costas à Hermione, rumando para fora da biblioteca: — Eu não nego que algo aconteceu, mas saberemos o quê, exatamente, quando conversarmos com Joh. Ele viu.. vivenciou algo que o assustou.. e se ele se sentir confortável para nos contar o quê, então saberemos, mas isso não será agora, Hermione... vamos dormir.

— Que.. que estória de 'ver', 'vivenciar', Severus?! Acho que você também está um pouco perturbado.

Snape sorriu com sarcasmo, voltando-se para a esposa: — Estou perfeitamente bem equilibrado, querida, obrigado por se preocupar. E essa 'estória'.. isso me leva a crer que talvez Joh seja como Kat.. e talvez esteja começando a desenvolver isso agora, já que não há uma idade certa para que esse dom aflore...

— Ah, mas você está perturbado, sim! De que dom fala? E o que tem Kathleen a ver com isso?!

— Você sabe muito bem, Hermione, embora faça de tudo para ignorar...

— O que sei é que Kathleen é uma menina com uma imaginação bastante fértil... se isso é dom? Bem, talvez seja! Mas Joh sempre foi um menino muito ponderado, muito racional!

Snape virou-se por completo para Hermione, a encarando muito seriamente: — Kathleen pode ser, sim, uma menina de muita imaginação, mas ela é, acima disso, uma Necromante, mesmo que você negue porque não encontrou, ainda, um livro que a convencesse, Hermione.


Era novamente o anfiteatro de mármore, com colunas gregas que sustentavam um teto abobadado com uma clarabóia decorada em vitral. Fora, a vegetação abundante farfalhava com a brisa forte que empurrava nuvens plumosas e alvas, contrastando com o céu de azul brilhante e profundo. As cores eram mais intensas e tudo parecia transpirar áureas de luz.

Sentado a sua frente havia o homem de aspecto feliz e tranqüilo, de cabelos e barbas brancos que se contrastavam com sua pele negra e ele lhe falava, com alegria, de planos traçados para ele e, que se ele quisesse assumir aquela responsabilidade, ganharia muito em experiência e redenção, corrigindo, em definitivo, os erros pretéritos de antigas existências, e galgaria planos superiores, onde não teria mais que expiar, mas apenas progredir em missões.

E o que aquele homem de aparência idosa lhe propunha era isso: uma missão.

— Você havia descido da última vez para corrigir equívocos passados e começar a caminhar para o progresso, iniciando missões e trazendo melhorias para nossos irmãos encarnados, ainda em esferas inferiores onde o ajuste de contas é o principal fator de suas existências. Porém, seu tempo fora interrompido por aquele que, há muito tempo atrás, fora uma vítima de seus equívocos. Longe de terem vocês perdido tempo ou as pequenas vitórias, vocês dois se ajustaram até muito bem nessa que foi a primeira tentativa de reconciliação e redenção...

— Então.. eu mereci morrer como morri, pelas mãos de Draco, é isso? – Perguntou o rapaz de cabelos claros e olhos azuis. O Mentor sorriu, reforçando sua negativa com um meneio.

— Não... o assassinato é uma escolha errada daquele que possui o Livre-arbítrio... ninguém é designado a se tornar assassino ou assassinado. O não-matar é um dos principais mandamentos da Lei Universal. Não-matar é um dever nosso... Desobedecê-lo é uma escolha. Os nossos erros passados são corrigidos em determinada época e nossos resgates vêm de outras formas que não aquelas que ferem as Leis. Mas não é sobre o que já passou que estamos aqui para falar, meu jovem... mas é sobre o que virá...

— E o que virá, Sr Crookes?

— Traçamos o Plano em que você continuará de onde havia parado em sua última existência: em sua pesquisa no campo da Ciência e da Saúde, buscando formas alternativas e menos agressivas de tratamentos, trazendo e levando de um mundo a outro o que ambos têm de melhor. Retornará no seio de uma nova família bruxa, tendo por mãe aquela que amou como mulher, desta forma refinando o verdadeiro Amor que jaz latente dentro de todos nós... e, principalmente, fará o resgate daquele que já lhe fora vítima e algoz... resgatando e dando nova chance a um Espírito de completar sua própria missão ainda nessa mesma existência e, com isso, ganhando muito em tempo e preparando-o, o que é ainda mais importante, para que ele siga o caminho certo na próxima vez, sem vacilar novamente. Ele tem muito a resgatar, agravou demais suas dívidas nessa atual existência, e isso poderá afastá-lo em muito de outros a quem, também, precisa resgatar dívidas. O dever de todos nós, filho, do mais jovem de nós até o mais velho, é nos entendermos como verdadeiros irmãos que somos.


Joahn abriu os olhos que brilharam como gemas à claridade do sol que invadia seu quarto pela janela aberta, fazendo dançar no assoalho de madeira as sombras das folhas do Cedro-rosa que crescia frondoso ao lado da casa.

Sentia-se leve, muito leve. Não havia em seu íntimo o mais remoto traço da perturbação e da febre que o acometeu no dia anterior. Sentou-se na cama, espreguiçou até ouvir alguns ossos estalarem, pôs-se de pé e foi para sua suíte, preparar-se para o café.

Dez minutos depois desceu para a copa-cozinha, ainda chacoalhando dos cabelos a água que jogara sobre eles para ajudar os cachos se assentarem, mas que ele não se atrevia a passar um pente; preferia-os naquele "emaranhado organizado" do que em ondas que deixava claro que se tratava de cachos que tentavam ser domados à força.

Hermione, quando o viu à porta, se precipitou até ele, levando suas mãos ao rosto do filho, olhando-o com voracidade e testando sua temperatura: — Como se sente, Joahn? Com dor, cansado, calafrios?

O garoto sorriu timidamente. Como ele sempre fora uma criança comportada e muito saudável, jamais havia despertado preocupações de sua mãe, então aquilo para ele era inédito, e gostou desse tipo de atenção. Lembrava-se de algumas coisas que ocorreram no dia anterior e lembrava-se de sua febre, mas sentia que algo dentro dele havia sido libertado: uma certeza, uma determinação, uma perspectiva? Ainda não sabia, só sabia que algo havia acontecido, por isso estava tão leve. Ainda sorria – timidamente, como lhe era costume – e se abraçou à mãe, sussurrando-lhe uma certeza que sabia existir há muito tempo, de todo o sempre, talvez: — Te amo, mãe...

Com um sorriso enviesado, Hermione afastou o filho, olhando-o inquiridora: — Isso por acaso é efeito colateral da febre? Afinal, você é tão despojado para expressar sentimentos quanto ao seu pai... – Joahn riu, indo para a mesa do café, junto ao pai e à irmã.

— Ora! Estamos casados, não estamos? – Troçou Snape, em resposta ao que Hermione dissera a Joahn.

— Sim, estamos, com dez anos a menos do que deveria.. só para constar... – Hermione rebateu enquanto servia leite na xícara do filho. Snape meneou as mãos num sinal de impaciência, tendo o apoio da filha, que apenas ria, mesmo que não entendesse a situação.

Depois que Hermione se afastou, Snape voltou a sua postura séria, observando o filho – que se ocupava do seu desjejum – enquanto bebericava de seu chá. Kathleen parece ter percebido algo, pois parou também de brincar à mesa e disfarçava estar distraída com sua tigela de cereais. Quando Hermione saiu da copa para outro cômodo da casa, Snape resolveu sondar Joahn, a fim de descobrir o que havia se passado com ele no dia anterior.

— Joh.. como você chegou à Ala dos Hebetados, ontem, em St Mungus? O acesso àquela Ala é restrito...

O garoto parou de mastigar, mas não se atrevia a erguer os olhos para o pai, pois ainda não tinha formulado uma resposta sensata para o que acontecera ontem. Ele fora levado até lá pela irmã, mas jamais poderia dizer isso, embora fosse verdade: ele, como irmão mais velho, quase um adulto, sendo influenciado pela irmãzinha de sete anos era irresponsável e soava inverossímil. E se dissesse toda a verdade? Ele entendia que a irmã via e ouvia coisas que a maioria das pessoas não via e nem ouvia, e isso era mal visto até mesmo na Comunidade Bruxa e tinha absoluta certeza de que os pais tinham a mesma opinião. Sabia o que a irmã era, graças a um amigo nascido muggle que lhe emprestara alguns livros sobre Mediunidade, o que não era nem Magia nem Ciência, mas um Campo a parte dos dois. Kathleen o atraíra para a Ala dos Hebetados e uma força o fez chegar até o leito desse tal Draco Malfoy, que o pai visitava toda semana. E o por que disso ter acontecido? É aí que reside a questão desse problema: ele não tinha uma resposta para isso, apenas um sentimento...

Como ele explicaria um sentimento que não entendia?

— Nós... fomos andando.. aproveitando a distração de vocês, para.. ver outras coisas do hospital... foi por acaso que chegamos até lá... poderia ter sido qualquer outra Ala... – Joahn respondeu vacilante, sem querer olhar para o pai e para a irmã.

Snape deixou sua xícara sobre a mesa e recostou-se à cadeira. Tinha o semblante tranqüilo, não estava bravo ou aborrecido com o filho (afinal, como poderia?) e respondeu-lhe com um leve sorriso:

— Sei que diz a verdade, Joahn... sim, vocês dois poderiam ter ido parar em qualquer outra Ala, mas... não deixa de ser curioso o fato de você ter chegado até o leito de Draco Malfoy...

Finalmente, Joahn ergueu os olhos para o pai, que o encarava placidamente. Ele precisaria encontrar uma forma de externar aquele sentimento, mas não sabia como fazê-lo.. sequer sabia o nome daquilo que ele sentia e o medo de ser escarnecido minava sua coragem de expor aqueles sentimentos truncados... Não, ele não tinha respostas para si mesmo, como poderia ter para outros?

— Algo me atraiu até lá... mas, eu juro, pai, que não sei o quê e porquê!

— Eu sei!

Kathleen largou a colher na tigela e exclamou alegre, com a boca ainda cheia de cereal. Joahn a olhou apreensivo: uma parte sua querendo saber o que o levou até o leito de Draco; outra parte temendo que o pai e a mãe rechaçassem a irmã. Ele sabia, pelo que já havia lido em livros de psiquiatria, que nessa idade tanto aquilo que era estimulado quanto era tolhido levavam a mudanças não programadas no caráter das pessoas; se Kat tinha o dom medianímico e fosse repelida por isso, poderia bloquear esse dom para sempre e ele, intimamente, não gostaria que isso acontecesse...

— Kat, você estava longe e estava com medo, lembra?

— Eu não estava com medo! Eu disse que era assustador, é diferente!

— O que era assustador? – Hermione reapareceu, se intrometendo na conversa. Tanto Joahn quanto Kathleen se encolheram na cadeira, olhando apreensivos para a mãe. A atitude dos irmãos não passou despercebido por Snape e achou que já era hora de colocar aquele assunto em pauta e não mais tapar o sol com a peneira como Hermione fazia, crendo veemente que a filha fosse apenas muito imaginativa.

— O conto dos Irmãos *Pewerell*... li para os dois um outro dia... – Snape veio em auxílio dos filhos. Joahn e Kathleen o olharam boquiabertos, não acreditando que ele mentia para a mãe.

— É.. bem, não deixa de ser assustador para alguém de apenas sete anos...

Snape levantou-se, espalmando as mãos sobre a mesa colonial de madeira: — Está tudo muito confortável por aqui, mas estamos todos de férias, não estamos? Vocês dois vão escovar os dentes que precisamos aproveitar esta linda manhã de Verão! Vamos até o parque!

Kathleen pulou e saiu correndo tão apressadamente da mesa que quase se podia dizer que ela havia desaparatado dali. Joahn, reconhecendo a sorte que tivera pelo pai tê-lo poupado de continuar falando sobre o ocorrido na presença da mãe, fez quase o mesmo que a irmã, deixando os pais a sós na copa. Hermione ficou olhando estranha para o marido e, quando as crianças se foram, ela foi até ele, pegou a sua xícara de chá e levou ao nariz.

— O que pensa que está fazendo? – Snape se indignou.

Hermione bufou: — Verificando se o que bebia era mesmo chá preto...

— E o que esperava que fosse? – Snape cruzou os braços, arqueando as sobrancelhas.

— Hum.. talvez fire-whisky ou, que eu realmente suspeitei... poção polissuco? Severus Snape jamais diria o que você acabou de dizer...

— Está duvidando da minha identidade? Bom, não me incomodo de prová-la a você...

Snape envolveu Hermione em seus braços, trazendo-a junto ao corpo dele. Quinze anos ainda não havia sido suficientes para abrandar o relacionamento deles. E beijaram-se. Porém, após quinze anos, a coisa ficava mais terna, mais madura, sem urgência e sem o medo de que aquilo fosse apenas uma única vez. Snape desviava para o rosto, descendo para o pescoço de Hermione e isso poderia progredir para muito além, não fosse por conta da platéia de dois espectadores... esse é o único lado negativo das férias.

— Atrapalhamos em algo?

— É! Se quiserem continuar, podemos ir sozinhos!

— Isso! Conhecemos o caminho! Podemos ir e voltar que não haverá nenhum problema!

— Só precisamos do dinheiro para os sorvetes! – E Kat estendia a mãozinha direita, dando um sorriso matreiro de dentes irregulares.

O pai se afastou da mãe a contragosto, olhando rancoroso para ela, que não conseguia suplantar o riso: — Não se aborreça.. só falta mais um mês para as aulas... passa logo.

— Desde que minha identidade não fique mais em dúvidas... um mês é longo demais para se tirar a prova.


Era uma típica manhã de Verão: céu claro, sol, calor, praça com crianças, pessoas se exercitando, aposentados jogando damas. No meio daquela normalidade alegre, como se não houvesse coisas ruins no mundo, nem divisões de classes, nem segregações de raças, qualquer um se podia passar por qualquer um. Para Kathleen, aquilo era como ser e estar como as outras pessoas que não viam nem ouviam nada além do que seus órgãos físicos captavam, não havia más vibrações que a fizessem temer e ver o que não era agradável de se ver e logo que chegou à praça junto do irmão e do pai, desvencilhou-se de ambos e correu para os balanços, para junto de outras crianças que também brincavam ali, sem saberem que ela lhes era muito diferente – e, talvez, mesmo que viessem saber, nem se daria importância demasiada a isso.

Joahn ficou olhando a irmã se enturmar com as outras crianças, algumas já conhecidas dali mesmo, e foi com alívio que percebeu que ela fora bem aceita – sempre tinha o receio de sua irmã ser rechaçada pelas outras crianças como se elas pudessem notar que Kat tinha poderes de magia. Snape não perdeu muito tempo olhando a filha, voltando-se para Joh, observando-o, avaliando-o. Por algumas vezes teve a repugnante vontade de usar de Legilimencia para com seus filhos: com Kat, para saber exatamente o que ela via e ouvia e com isso descobrir o quanto isso a afetava; com Joh, saber o que faz um menino da idade dele ter tanta madureza, ser tão estável e brando. A ele, certamente, o filho não puxou no temperamento; hoje ele admitia ter sido infantil por tempo demais em sua vida. À Hermione também não. Joh era seguro demais de si e odiava exibicionismo. Era o melhor aluno da Corvinal, excepcional em diversas matérias, mas se atinha de qualquer demonstração de conhecimento, embora fosse bondoso em ajudar os colegas nas matérias que eles não entendiam, mas jamais soube de uma aula sequer que o garoto se voluntariasse para responder uma pergunta que fosse...

Snape riu... Nisso o filho era completamente diferente da mãe. E em seu caráter benevolente e seguro de si mesmo, era a ele que Joh se diferenciava.

Levou a mão à cabeça do garoto, despenteando um pouco mais dos cachos emaranhados do filho. Então, se deu conta do quanto Joh havia espichado nesse último ano; mais dois anos e ele lhe ultrapassaria.

— Vai querer se juntar a sua irmã e aos amiguinhos dela ou prefere fazer outra coisa?

Joahn riu e se virou para o pai, despreocupando-se, momentaneamente, da irmãzinha.

— Se o senhor não tomou nenhuma poção polissuco e é mesmo o meu pai, suponho que tenhamos vindo aqui para outra coisa... – Joahn se virou por completo, encarando com seriedade o pai. — Sei que não vou poder me esquivar de alguma explicação para o que aconteceu ontem em Saint Mungus.. foi pra isso que me trouxe aqui, não foi?

A resposta foi um meio sorriso de Snape, acompanhado de um meneio leve de cabeça. — Se quiser, poderá me contar o que lhe aconteceu naquele momento... suponho que lembre de algo, não? E talvez eu até tenha uma resposta para algumas dúvidas que, possivelmente, tenha... vamos caminhar.

— E deixar Kat sozinha?! – Joahn se alarmou.

— Ela não está sozinha e nem ficará, e nós estaremos por perto. – Snape perpassou o braço sobre os ombros do filho, o conduzindo para a linha do arvoredo. — Você sempre se preocupa demais com todos...


À sombra de uma frondosa árvore, num ponto onde era possível avistar Kathleen sem nenhuma dificuldade, ainda brincando com algumas crianças, Snape mantinha-se postado ereto, como uma sentinela, esperando pacientemente que seu filho Joahn desse prosseguimento ao seu relato. Até então, o que ele havia lhe contado não havia nada de anormal, mas sabia que aquilo servia de confiança para que o garoto lhe contasse aquilo que foi diferente... achava que já tinham progredido muito; nenhum garoto na idade de Joh se abriria fácil para seu pai ou mãe, ainda mais quando o assunto era sobre um incidente delicado e estranho.

Joahn mantinha o rosto escondido sob as mãos espalmadas. Ele, mais que qualquer outro, queria entender o que havia se passado com ele e o porque dele ter-se comportado daquela forma ante um moribundo que ele nunca vira na vida - e ele vira outros tipos em St. Mungus e não havia se emocionado por nenhum deles, ao menos não a ponto de jazer em lágrimas e passar o resto da noite com uma febre que oscilava entre 39 e 40 graus.

Mas o que ele poderia dizer ao seu pai? Não lembrava de nenhuma imagem ou algum som que por ventura tivesse presenciado de estranho ou anormal. Apenas lembrava-se de sentimentos... lembrava-se, nitidamente, o que sentiu, como sentiu e, inclusive, como sentiu a si mesmo, mas qual nome dar a isso? Só poderia oferecer ao pai um relato de palavras soltas e truncadas.

Afastou um pouco as mãos do rosto e a claridade indireta inundou seus olhos e viu pequenos pontos de luz piscando a sua frente, mas o que era apenas uma reação orgânica. Não procurava mais imagens, nem palavras, nem sons; agora procura re-sentir aquilo que ainda se lembrava. E retomou seu relato numa voz baixa, inconvicta.

— Era como estar ao meio de uma neblina, daquelas que mal conseguimos enxergar cinco metros à frente, mas eu sentia que era iluminada.. não era uma neblina comum, mas parecia feita de luz... então eu senti... – E Joahn afastou ainda mais as mãos do rosto, olhando-as com afinco. — ...senti que, de repente, eu me tornava eu de verdade, como se esse aqui que vejo e estou todos os dias não fosse mesmo eu... como se esse aqui fosse algo temporário que está aqui só por empréstimo.

Snape descuidou-se da filha, agora prestando toda a sua atenção a Joahn. Mesmo estranhando o que ouvia, ateve-se de qualquer comentário e qualquer pergunta, mantendo apenas o vinco entre as sobrancelhas – ele se esforçava muito por compreender o filho, mas não conseguia evitar o teimoso sentimento de censura.

— Kat havia me dito que era importante ir até aquele lugar... ela falou em obsessores, mas nem faço idéia do que seja isso ou de onde ela tirou essa palavra, mas... no momento em que entramos no Ala, uma coisa, como fosse um... cordão invisível me puxou lá para dentro, para mais dentro, pra ir àquela Ala em que fomos parar... foi tão irresistível! Não sei se foi curiosidade, mas eu queria chegar até lá!

— E então? – Snape, não se contendo, tentou estimular mais a fluidez do relato de Joahn e aproximou-se do filho, parando frente a ele.

O garoto, ao ouvir a voz do pai e o movimento que ele fez, deu conta de si mesmo e de onde estava. E a vista antes turva pelas lembranças, tornou-se nítida e o local e o presente se tornaram concretos o suficiente para não poderem mais ser ignorados... suas lembranças se intimidaram por isso, afastando-se dele a vontade de externá-las. Mas não deixaria inconcluído o que havia começado.

Abaixou as mãos, encostando-as ao tronco da árvore, sentido sua aspereza. Encarou os olhos negros do pai – tão iguais de sua irmã; tão diferentes dos seus.

— Esse homem.. Draco Malfoy... ele tem uma ligação conosco... alguma ligação! Eu sei.. eu sinto!

Snape baixou a cabeça, olhando para o chão de grama amarelada, sabendo que sua ansiedade havia quebrado a disposição do filho e sabendo, principalmente, que deveria contar uma parte da vida dele e de Hermione onde Draco se encaixa fatalmente. Onde isso tinha ligação com Joahn ele não fazia a mínima idéia (prática).

— Sim, você está certo, Joh... Draco tem uma ligação conosco; comigo e com sua mãe, mas não com você e com sua irmã. Mas posso lhe contar essa parte de nossa vida, se sua mãe concordar comigo, óbvio.

— Se ela concordar, eu quero a presença dela também, pai...


Dois dias haviam se passado até que Hermione concordasse em revelar essa parte trágica de sua vida e de Snape, mesmo que com ele tenha sido em menor escala. Ambos tentaram condensar e abrandar o máximo possível, não queriam sobrecarregar a mente do filho com fatos pesados, mas não conseguiram omitir que Draco Malfoy tentou matá-los. Para tornar o relato mais leve, Hermione buscou realçar as boas qualidades de seu quase-assassino, embora fazer isso lhe causasse asco: falar bem do cara que a fez sofrer tanto e que matou tantas pessoas? Era um sentimento horrível que sentia ao elogiar certos pontos daquele maníaco, mas isso, estranhamente, despertava nela alguma compaixão, aliviando-lhe, no íntimo, aquele eterno remoer doloroso que a vítima sofre por não conseguir perdoar.

Joahn levantou-se pensativo da poltrona onde estava na biblioteca particular de sua casa. Já era tarde da noite, pois esperaram Kathleen adormecer para poderem conversar com o filho. O garoto, ainda pensativo, andou até a larga janela do canto oposto da sala; afastou uma das abas da cortina e ficou distraído olhando os pingos grossos da chuva torrencial que caía pesada, batendo na vidraça e escorrendo até o batente, e milhares de gotinhas ainda presas ao vidro brilhavam por conta das luzes dos postes da rua. O garoto espalmou a mão sobre o vidro, sentindo o toque frio pela chuva, e falou numa voz baixa e distante:

— Vítima e algoz... ele cometeu erros e agora paga com isso... não morre e nem vive... e uma cabeça incrível como essa, capaz de criar feitiços, aprimorar outros... imagino... – Joahn se virou para os pais e sua expressão era terna, porém anímica. — ...imagino que para um intelecto como o dele, estar aprisionado como um morto-vivo seja uma punição terrível por esses erros! O pior é que nós também perdemos com isso!

— Como?! – Harmione se alarmou, não compreendendo o que seu filho queria dizer. Snape apenas a conteve, segurando-a levemente pelo braço.

— Perdemos, mãe! Esse Draco fez coisas erradas porque fez escolhas erradas! Não soube administrar sua raiva! Se deixou levar muito a fundo com essas idéias de pureza de raça! Entende? Não era pra ter sido dessa forma, só foi porque ele errou! Ele apenas errou! Fez as escolhas erradas!

Hermione ficou indignada, não conseguia acreditar que seu próprio filho defendia aquele que quase matou a ela e ao pai, que matou os avós dele e muitas outras pessoas, inclusive o médico que cuidou da vida de Draco. Ela ia protestar, já se esquecendo de que falava a um garoto de quatorze anos que era seu filho. Snape levantou-se e conteve a esposa segurando-a pelos ombros, respondendo no lugar dela:

— Cometer crimes não deixa de ser uma questão de escolha, concordo com o que diz, Joh, mas dizer que perdemos por Draco estar vegetando num hospital é mostrar que você não compreendeu muito bem a gravidade dos atos dele... para começar, você próprio não estaria aqui e agora se ele tivesse matado a nós dois.

— Ou não-matado mais alguém... se estou aqui e agora é porque eu deixei de estar algum tempo antes, não é?


10 anos depois.

O Salão Principal de Hogwarts estava festivo, barulhento e decorado com as cores das quatro Casas por conta da formatura dos alunos do sétimo ano que se despediam da escola. A beca era da cor principal da Casa do septanista, e aquele quase arco-íris – muito brega, diga-se de passagem - formava um carnaval aos olhos.

Todos os alunos com seus diplomas nas mãos, reuniram-se para a foto em conjunto; primeiro os da mesma Casa; depois todo o sétimo ano reunido.

Após ver-se livre, finalmente, dessas formalidades, Kathleen correu esvoaçando seus longos fios negros até a sua família que a observava de longe, feliz e orgulhosa. Como costumava fazer desde sempre, beijou a mãe, beijou o pai e pulou ao pescoço do irmão, que havia fugido de uma conferência de Neurociência apenas para assistir à formatura da irmã. Isso não passou despercebido por ela, o que a fez ainda mais feliz por estar com toda a sua família reunida.

— Eu entenderia se não viesse, Joh! Não esperava que fosse deixar algo tão importante de lado...

— Não mais importante do que você, boba!

Kathleen arrancou a beca amarela e preta da Lufa-lufa, entregando-a para Hermione, que não gostou de tal atitude; por baixo, ainda trajava o uniforme escolar, pela última vez.

— Kathleen! Você não pode sair arrancando a roupa assim, enlouqueceu?!

A moça riu, jogando os fios lisos do cabelo para trás, que escorriam feito uma cascata negra por seus ombros e costas. Ela era pálida como Snape, mas tinhas os traços delicados e a esgalguez de sua mãe.

— Essa é a única coisa que nunca gostei na Lufa-lufa: a combinação de cores! Sempre achei que parecíamos um bando de abelhas estando vestidos de preto e amarelo!

— A mesma imaginação fértil... – Comentou Snape.

— O que é bom deve permanecer pra sempre! – Joahn retrucou com um largo sorriso. — E então, já que acabamos por aqui, vamos comemorar?


Dois dias após a formatura de Kathleen, a família estava reunida na biblioteca da casa a pedido de Joahn. Ele havia se formado em Medicina há um ano e se especializava em Neuropsiquiatria. Tornou-se um rapaz muito bonito, de estatura mediana. Os cachos negros continuavam indomáveis e os olhos esverdeados se sobressaiam ainda mais em contraste com a pele agora bronzeada. Era tão inteligente e estudioso quanto aos seus pais e se dedicava horas, muitas vezes atravessando a noite, sobre livros e computadores, com estudos e infinitas pesquisas. Conseguiu residência em St. Mungus onde planejava fazer experiências com os pacientes neurais usando as técnicas e descobertas da Neurociência, da Medicina Muggle, muito mais adiantada neste campo que a Medicina Bruxa.

Em suas andanças e pesquisas, descobriu a Ciência Espírita, que enfoca essa parte invisível do ser humano, onde conseguiu respostas que a Ciência básica ainda não era capaz de dar através de provas físicas. E, ao seu entender, Espírito e Mente eram a mesma coisa e que as moléstias do corpo se fundamentavam, a princípio, no Espírito, sendo estas as conseqüências psicossomáticas que se refletiam no corpo físico.

Como era seu costume desde criança, Joahn se perdia em observação através da grande janela da biblioteca, esperando a chegada da irmã para comunicar sua pretensão. Snape, com os cabelos curtos e bastante grisalhos, rabiscava alguns papeis sobre sua escrivaninha. Hermione, agora mais robusta e com os cabelos menos bastos e mais lisos, distraía-se com um livrinho, sentada em sua poltrona favorita. Até que Kathleen chegou, esvoaçando os cabelos soltos e o vestido vaporoso, fazendo-a parecer ainda mais uma fada, uma linda fada.

— Bem, já que estamos todos reunidos, quero dizer que a coisa é muito mais simples do que minha irmã faz parecer, com toda a sua toilette... – Joahn sorriu ao dizer, embora não deixasse de ser uma pequena crítica à vaidade excessiva da irmã, como se ela necessitasse de algum artifício de beleza.

A garota respondeu com uma risadinha, dando de ombros e sentando junto à mãe, sobre o braço da poltrona. Hermione a abraçou pela cintura, deixando o livrinho de lado. Snape largou a caneta sobre a mesa e, com ar desdenhoso, juntou as mãos e deu atenção ao filho: — Estive todo esse tempo tentando adivinhar o que tem a nos dizer, Joh, e estou na dúvida entre se nos comunicará um casamento ou uma viagem ao exterior que durará alguns anos... então, o que será?

Joahn sorriu com complacência, como sempre fazia quando se deparava com o sarcasmo de seu pai. Sabia que seria muito mais agradável se comunicasse uma das duas coisas que o pai supunha, mas teria que tocar num assunto que era delicado a ele e à mãe. Não sabia como eles receberiam essa notícia, mas não vacilaria quanto as suas pretensões.

— O senhor é um homem de Ciências Exatas, pai, não saberia usar adivinhação mesmo que quisesse...

Snape torceu os lábios, voltando-se para Hermione: — Eu deveria ter usado a Legilimência, então... o que acha, Hermione?

— Depois de vinte e cinco anos de casados, agora que eu descubro que meu marido é um ansioso?! Bem, prefiro que Joahn diga por si mesmo, como pretende, do que tentar tirar a força.. isso seria um desperdício de energia.

Kathleen se divertia com as trocas de farpas entre os pais, mas se ateve de brincar também. Quando se voltou para o irmão, sua expressão risonha havia cedido para seriedade. Ela sabia o que o irmão planejava e sabia que fazia parte desse plano, embora ela não tivesse certeza de que Joahn também soubesse disso.

Joahn respirou fundo, fechando os olhos por segundos. Não faria rodeios, mas não poderia ser brusco. Isso era sua decisão que ele informaria, não esperando aprovação ou crítica. Ele decidiu isso há dez anos atrás e hoje ele tinha plena capacidade de realização.

Expirou suas palavras: — Vocês sabem que escolhi seguir a carreira médica e que me especializei – e continuo me especializando – tanto na Medicina Bruxa quanto na Medicina Muggle... e – acho - que vocês sabem também que a minha intenção é de unificar esses dois conhecimentos para torná-los mais homogêneos, trazendo e levando o que há de melhor em uma Medicina para outra. A nossa Medicina é muito mais antiga e hoje ela é resgatada pelos Muggles e recebe outros nomes como alternativa, homeopatia, holística, enfim, a Magia e a Medicina são unidas para levarem tratamentos aos não-mágicos sem que eles saibam qual a verdadeira base. Aos Muggles, por sua incapacidade de usar Magia, eles tiveram de recorrer aos artifícios e, ao meu ver, eles evoluíram muito, mas muito mais que nós, Bruxos, pois, por não terem a Magia para lhes mimarem, eles tiveram de recorrer à Ciência, à Física e à Mecânica e hoje eles são capazes de chegar onde nossa Magia não pode nos levar e isso inclui, principalmente, a Medicina...

— Muito bom, Joahn... você está preparando isso para algum Congresso?

— Não, mãe, não ainda... mas, futuramente, talvez. Eu espero que haja a unificação dos povos, e eu quero contribuir com isso da forma que posso e, no meu caso, ajudando pessoas. Há muitos anos atrás que os Bruxos vêm se infiltrando no Mundo Muggle de forma salutar, orientando e organizando esse outro lado e hoje todos nós temos conhecimento disso, embora os Muggles ainda não. E há muitos anos, alguém já dava os primeiros passos nesse caminho que eu quero percorrer e foi nele que me inspirei para dar prosseguimento a essa idéia. Obviamente que aquela época o que ele fazia era muito mais sutil, mas ainda assim era uma excelente idéia que merecia ser desenvolvida. Pesquisando, descobri que muitos outros medibruxos atuavam e atuam em hospitais para os não-mágicos, levando o nosso conhecimento para salvar vidas que não poderiam ser salvas apenas pela Medicina Ocidental...

Hermione e Snape se entreolharam num acordo e entendimento mudo. A mãe voltou-se para o filho, com certa expressão perplexa.

— Esse Medibruxo de que fala.. que lhe inspirou... foi Terry Boot, não foi?

Joahn sorriu largamente e respondeu com sua habitual gentileza: — Sim... o mesmo que cuidou de seu restabelecimento físico... mas, não cheguei a essas informações através dele, que a cuidou, mas através daquele que a pôs naquele estado...

O coração de Hermione disparou, ficando ainda mais perplexa: — Você chegou a essa informação através de... Malfoy?!

O rapaz fechou os olhos e meneou leve a cabeça. Quando os abriu, viu sua mãe debruçada em seu próprio colo, perdida em pensamentos, a irmã acariciando-lhe os cabelos, e o pai havia se levantado, pondo-se em riste ao lado da mesa; a expressão de Snape era indefinível, mas em seus olhos havia algo como curiosidade e orgulho.

Tornou-se sério, desaparecendo completamente seu ar risonho, e tornou suas palavras: — Estou seguindo a especialização da Neuropsiquiatria, pois quero ir fundo no âmago do ser humano, onde tudo começa, onde as doenças são desenvolvidas. Quero tratar das pessoas onde reside o bem e o mal e não apenas os estragos que o desequilíbrio entre ambos faz ao corpo. Jamais me esqueci daquele dia em Saint Mungus, quando vi Draco Malfoy pela primeira vez. Depois do que vocês me contaram, fui fazer minhas investigações por conta própria; não queria importuná-los com perguntas, mas queria muito saber mais sobre ele. Através dele descobri o Medibruxo que começou as experiências alternativas tanto em Saint Mungus quanto no hospital muggle em que ele trabalhava: o mesmo Medibruxo que cuidou de minha mãe, que tratava de Draco Malfoy – entre muito outros – e que, tragicamente, foi morto por ele, que também quase matou meus pais e matou meus avós... entendem o quanto Draco nos deve e o quanto eu posso desenvolver por conta dos erros terríveis dele?!

Hermione levantou-se agitada, protestando: — Por Deus, Joahn! Draco vegeta há quase trinta anos em St Mungus! Depois de todo esse tempo, as chances dele sair do coma são nulas! O que acha que pode fazer por ele? Ou com ele?! Ele errou muito, matou muitas pessoas, mas esses anos todos preso num corpo semi-morto é castigo suficiente, não acha? Meu filho, não esperava que você viesse ter algum rancor por...

Joahn a interrompeu, calmamente: — Não tenho nenhum rancor por ele, mãe, não pretendo castigá-lo pelo que ele nos fez há muitos anos atrás.. não é essa a minha intenção...

— E qual a sua intenção, Joahn? – Snape perguntou com sua habitual frieza.

O rapaz suspirou: — Pai... o senhor salvou minha mãe, ajudando-a a sair do coma, através do uso de uma poção... eu pretendo fazer o mesmo com Draco, ele tem muito a nos...

— NÃO! Não se atreva nem a continuar a planejar isso! Nunca! Existiu um motivo muito óbvio que me fez arriscar minha vida por Hermione, mas não permitirei que meu filho se envenene para salvar um assassino! Isso é irracional, Joahn! – Snape explodiu, socando a mesa e assustando as mulheres.

Joahn, sempre muito calmo, apenas sorriu compreensivo: — Não há necessidade de eu arriscar minha vida, pai. Não farei uso da poção necromântica, aliás, não é meu intento fazer uso de nenhum artifício, então não corro nenhum risco de envenamento...

— Então, que diabos você quer nos dizer, Joahn?!

— Pretendo trazer Draco de volta ao mundo dos vivos, porque tenho certeza de que ele tem muito a nos oferecer, o que será uma chance a ele de se redimir.. o poder de Magia dele não é desprezível e ainda hoje não soube de um Patrono como aquele Dragão-serpente de que você e mamãe tanto nos falaram... até mesmo Draco Malfoy tem algo de bom a ofertar ao mundo e sendo um morto-vivo ele apenas expia suas faltas, sem nos ser úteis a nada... quero fazê-lo de cobaia.

— Você.. você disse que a Medicina Muggle está muito evoluída nesse campo neuropsíquico, é através disso que pretende fazer Draco despertar? – Perguntou Hermione, hesitante.

— Nem a Medicina Muggle é ainda capaz disso, mãe... a mente não é um intrincado orgânico de células, mas a manifestação do Espírito encarnado... – Joahn voltou-se para Kathleen, que permanecia calada, apenas esperando para saber exatamente onde ela se encaixava nisso tudo. A menina apenas retribui-lhe o sorriso, num mudo assentimento, entendendo ainda mais que o próprio irmão. — Mas a Ciência Espírita mostra o além disso, e é através das possibilidades que ela oferece que quero chegar até onde a mente de Draco está, sem uso de qualquer artifício, através de um dom, através de um mediador...


Sete dias haviam se passado. Nesse tempo, Joahn estudou todas as possibilidades, fazendo inúmeras anotações e pesquisas. E conversou com Kathleen, a conversa mais franca e aberta que os irmãos jamais tiveram. Ela era especial, com um dom especial. Não era apenas uma bruxa e uma menina linda, delicada e bondosa, mas possuía o dom da Necromância, a capacidade de se comunicar com Espíritos. Via e ouvia além do véu de carne. E era capaz de fazer projeção astral, isto é, ir, mentalmente, para outros planos e dimensões. O que Joahn tinha em mente era uma teoria e queria experimentar essa teoria. Ele mesmo não possuía nenhum dom medianímico, mas apostava em sua ligação, quase híbrida, com sua irmã e, espiritualmente, queria chegar até o mundo de Draco Malfoy, através de Kathleen, que seria a intermediária de ambos.

Draco Malfoy estava isolado num quarto particular. Sua pele agora era semi-transparente e cinzenta, e era possível vislumbrar as veias coloridas de seu rosto macilento, com olhos afundados nas órbitas. Havia poucos traços de envelhecimento em sua face, por seus músculos estarem inativos há quase trinta anos e jamais ter estado exposto ao sol. Os cabelos, agora raros, que já eram naturalmente muito claros, agora eram completamente brancos, talvez a única coisa que denunciasse sua meia-idade. O lençol verde-água que o cobria deixava ainda transparecer a figura esquelética que era seu corpo... um boneco de semi-vida vegetativa, onde o Espírito ainda se achava enclausurado, sem encontrar um caminho que o fizesse retornar ou prosseguir adiante.

Kathleen estava parada a um lado da cama, seu irmão ao outro, sentado a uma cadeira branca. O aspecto fluídico da menina, sempre com os longos cabelos soltos e escorrendo pelas costas e ombros, e o vestido leve, longo e claro, de tecido fino dava leveza a qualquer ambiente que estivesse. Os olhos negros transmitiam bondade e resignação, dando paz e confiança a Joahn. Ela mantinha-se em pé, esperando até que o irmão estivesse sentindo-se pronto.

— Eu irei guiá-lo até onde Draco se encontra, Joh, mas não estarei lá. Se você sentir qualquer desconforto, lembre-se apenas de me chamar, que o tirarei de lá no mesmo instante. Ponha suas mãos sobre o peito dele e limpe sua mente de todo e qualquer pensamento.

— Essa deve ser a parte mais difícil, limpar a mente de pensamentos... – Joahn falou enquanto depositava as mãos suavemente sobre o peito de Draco, que pouco ondulava com sua fraca respiração.

— Você precisa manter seu nível vibratório elevado, isento de más energias que possam atrair outras más energias... se achar muito difícil não pensar em nada, mentalize o vento na relva... preciso que você esteja em paz, em boa sintonia...

Joahn fechou os olhos e seguiu as instruções de sua irmã. Kathleen o olhava com doçura e pôs suas mãos alvas sobre as de seu irmão, fechando os olhos em seguida, entrando num estágio de semi-transe.

Um círculo de ar se formou em torno da cama de Draco e dos irmãos, e um vapor de poeira brilhante os envolveu. Uma luz se acendeu do chacra coronariano de Kathleen, que aumentou de tamanho até iluminar toda a moça e, em seguida, se espalhar por todo o quarto, engolfando a todos.

Joahn só abriu os olhos quando sentiu um baque sólido sob os pés. O lugar era branco, como fosse uma enorme sala de fundo infinito, onde não se divisava o chão e o teto das paredes. Olhou para os lados, sentindo ainda a pressão de ar o envolvendo, dando voltas por seu corpo como fossem grandes elétrons. Ao longe, percebeu uma cama de hospital, igualmente branca como todo o lugar, e uma figura pálida sentada na beirada, se balançando para frente e para trás. De onde estava, via uma forma fantasmagórica dar voltas em torno da cama, deslizando, comprida e leve. Lembrou-se do dragão chinês em seu vôo e isso o atraiu até a pessoa que lá estava.

Sabia ser Draco, e só poderia sê-lo.

Sobre e em volta de Draco estouravam pequenas bolhas que tinham a forma das imagens vistas através de um caleidoscópio em rotação. Era a energia mental do rapaz, difusa e imprecisa, nunca formando a mesma linha de pensamento. E, em torno dele, como a protegê-lo sempre, o Dragão-serpente, que deixou seu amo por instantes para receber a visita inesperada, porém sem um traço sequer de hostilidade. Como fazia com Draco, o Dragão girou entorno do Joahn, que o apreciou, maravilhado.

E, acima de todas as suas perspectivas, o Dragão era sólido e tinha a textura suave de uma seda, sentindo-o ao erguer sua mão para tocar-lhe o abdômen, quando ele flutuou sobre si. Passou por ele e deslizou de volta para Draco, que continuava alienado.

Joahn seguiu até o rapaz e à medida que se aproximava via que Draco não tinha a mesma aparência do homem cinqüentenário que jazia vegetativo sobre um leito em St Mungus, tampouco parecia o rapaz debilitado que viu em antigas fotos do arquivo de Harry... Joahn se aproximou e parou de frente ao garoto e o que viu foi exatamente isso: um garoto.

Draco se balançava para frente e para trás na cama. Seus pés sequer chegavam a encostar o chão. Não era um homem, nem um rapaz, mas um adolescente de onze anos, talvez, exatamente como parecia ser numa antiga foto de alunos que seu pai conservava num álbum. O garoto não percebeu de pronto que não estava mais sozinho, até ver o par de sapatos negros e lustrosos e, quando o fez, parou imediatamente o seu movimento repetitivo e ergueu a cabeça e, conforme o fazia, avistava de baixo para cima quem ali estava, demonstrando, apenas, a curiosidade e a ingenuidade infantil.

As pupilas de Draco estavam completamente dilatadas que, de seus olhos cinzas, só era possível avistar uma fina aureola. Há muito e muito tempo que seus olhos não viam nada de diferente daquilo que estava naquele quarto infinito e uma imagem diferente parecia lhe ferir, mas não era capaz de desviar o olhar. Sua vista turva foi se focando e o homem a sua frente ficava cada vez mais nítido, até ser capaz de perceber os detalhes de sua forma.

Era um homem alto e esguio, de semblante tranqüilo e bondoso. Os cabelos claros e lisos e os olhos muito azuis lhe eram familiares, muito familiares, e quando lembrou-se de quem era, suas pupilas se retraíram, reduzindo-se a pequenos pontos negros, e os olhos cinzentos de veios azulados se sobressaíram. E, mesmo que não falasse há décadas, conseguiu balbuciar um nome:

— Terry?

Joahn apenas sorriu, cúmplice.


Fim.

Snake Eye's – 15 de Novembro de 2008.


N/A: Sir William Crookes, OM , PRS (Londres, 17 de junho de 1832 – Londres, 4 de abril de 1919) foi um químico e físico inglês. Freqüentou o Royal College of Chemistry em Londres, trabalhando em espectroscopia.

Em 1870 Crookes decidiu que a ciência tinha a obrigação de estudar os fenômenos associados com o Espiritualismo (Crookes, 1870). Pode ser encontrado em português, em edição da Federação Espírita Brasileira, FEB, em tradução de Oscar D'Argonnel, um livro intitulado Fatos Espíritas, por William Crookes.


Snake fala:

Mais um feriado nacional por isso, por favor!

Muito obrigado por todos que leram esta fic, nem que tenha sido apenas um único capítulo. Muito, mas muito obrigado a todos que nos acompanharam ao longo desses 32 capítulos. E a todas (os) que deixaram sua marca aqui registrada, este capítulo 32 lhes dou como homenagem – e agradecimento:

 Vivis Dreco Nicolle Evans Snape  Ywoollyanna  Bella Black Snape (Couveeee)  Cidinha Potzik  Sakura Haruno Lima  Evelinne  Maristela  Paty Snape  Dinha RJ  Marie Verlaine (Pri Snape)  Marina Ângela  Larissa Potter  Thayz Phoenix  Selen Veane  Juliana Leal (Ju – JDLeal)  Alininha (Aline Martins)  Renata Gomes  Sophi S2  Karen Drake  Drika  Latih  S. Prince  Naj  Fla Apocalypse  Nini Snape  Heloísa  Sandy Mione  Laís  Cassandra Wisney  Bia Snape  Rossonera  Molambo  Elendir  Regina McGonagall  (Andy) Didi Oito Dedos  Bitriz  Sandressa  Mandy  Karine  Lele Potter Black  Sheyla Snape  Miss H. Granger  Cristina Snape  Yasmin Bueno  Tonks  Najha  Hylla  Hanyou Girl BR  Fênix  Sakura Scatena  Lara Sidney  LoD  Juliana Mioni  Grayce Granger Snape  Marina  Shadow Maid  Maki Loss  Lilibeth  Leonel  Avoada  Ainsley Haynes.

Espero não ter deixado ninguém de fora :)

Agradecimentos especiais à Ju Leal, Regina McGonagall e Pat Kovacs pelas fanarts!


Depois de quase 5 anos escrevendo algo, vc pensa que jamais conseguirá finalizar isso, e eis que a coisa acontece, para alívio de todos, principalmente do autor.

Caleidoscópio foi a primeira fic que iniciei. Seu 1° cap foi a primeira coisa que escrevi em termos de fanfiction e, por pouco, não acabou sendo a última a ser finalizada.

Há muito, mas muito mesmo!, da participação de vocês, leitoras (es), pois somente com o incentivo de vcs somos capazes de prosseguir e chegar ao fim de um conto. Eu escrevo pq isso me dá prazer, mas somente isso não é motivo suficiente para eu ir tão longe quanto já fui. Quando vejo que dou prazer às outras pessoas, isso se torna um motivo verdadeiro para continuarmos a escrever e a inventar estórias, a querer encerrar da melhor maneira possível, mesmo que estejamos morrendo de vontade que a coisa termine logo. Não nego que faço isso por mim, mas faço muito mais por vcs, podem acreditar!

Sei como gostariam que tivesse se encerrado a fic, e dei o que queriam: um casamento e a constituição de uma família, porém, mostrado de um ângulo diferente. Os detalhes ficam ao cargo da imaginação de vcs, de como levou a vida a "família Granger-Snape", como foi o casamento e o nascimento dos filhos até a fase adulta destes. Os outros personagens, como Harry, a família Weasley, McGonagall, os membros da Ordem, ficaram obscuros, não tendo nenhuma importância a mais para a fic. Quis apenas mostrar as últimas horas de Dumbledore, para poder apresentar aos leitores o dom da Kat e podermos analisar qual o melhor fim para o mestre: o teatral e heróico escrito pela autora JKR ou esse provável fim de todo velho mto velho: a demência e senilidade, terminando seus dias num asilo. Por mais que eu tenha odiado a morte de Dumbledore no livro, agora acho que a Tia Jô fez uma boa escolha de como mata-lo: morreu com honra e dignidade, ainda lúcido e senhor de sua própria vontade.

A propósito – sei que notaram, mas sempre há os distraídos – os filhos de Hermione e Snape são uma ínfima homenagem à criadora de Harry Potter: Kathleen, o segundo nome da autora, que ela assumiu em homenagem a sua avó, e Joahn, que mais consegui de próximo à 'Joanne', pelo menos é o que me pareceu em termos gráficos e de pronúncia.

É isso ae! Mais uma fic encerrada. Caleidoscópio foi a primeira coisa que escrevi e quase que se tornou a última, não fosse outras pendências no aguardo de conclusão. Quatro anos! Muitas coisas aconteceram e mudaram nesse tempo; coisas grandes e coisas pequenas. Não falarei em modo Off, que há muito pouco de bom para tirar, mas desse modo On, onde as coisas realmente cresceram, se expandiram e se tornaram ainda mais fáceis! Tem alguma dúvida? Busque no Google, pesquise na Wikipedia, inspire-se no YouTube; Quer divulgar, anunciar, buscar novos amigos, colaboradores? Vá ao Orkut, busque em comunidades, mande scraps automáticos, convide para ler, participar, apoiar, divulgar. Uma coisa posso afirmar com certeza – embora eu não seja o dono da verdade (e NÃO é porque não quero XD), mas essa verdade eu sei que é verdadeira: Hoje, com certeza, sabemos de TUDO um pouco, e tudo isso sempre mal sabido, mas que podemos criar muitas coisas interessantes a partir de pequenos fragmentos dessa gama monstruosa de informações que caem de graça no nosso colo ao poder de um simples clique. É isso, principalmente, que cresceu e aconteceu nesses quatro anos em que Caleidoscópio levou para ser concluída. Em 2004 só havia 5 livros de Harry Potter e absolutamente nada definido na trama; hoje, a trama está fechada e concluída e nem precisamos ler e reler o livro pra saber o que faz tal feitiço, quem é tal personagem, qual a cor do cabelo daquela aurora, quem foi Grindewald e que os bruxos são completamente inúteis sem uma varinha e, sem esse pedaço ridículo de graveto com uma coisa orgânica qualquer apodrecendo dentro dele, o bruxo é menos que um trouxa, é menos que um elfo doméstico, é como um animal acéfalo. \o/ Viva as fanfictions por isso! Não somos assim tão simplórios, não é mesmo?! E não precisamos reler os 7 livros para isso: basta procurar nesta abençoada ferramenta chamada Internet!

A todas (os) que leram e participaram, meu muito obrigado, de coração e de alma! Obrigado desde o primeiro review, a primeira leitora. Obrigado por quem começou a ler e parou. Obrigado por quem começou há quatro anos e acabou caindo no esquecimento e nunca mais retornou. Obrigado para quem ainda vai começar a ler. E, principalmente, obrigado a vc que esteve aqui todo esse tempo, no aguardo e na torcida por este capítulo derradeiro! Obrigado msm, agora, sempre e pra toda a vida!

E, para não perdermos o costume: reviews! Tenho que saber a opinião de vcs... vai que tenham se apaixonado pela Kat ou pelo Joh e os querem de volta? Preciso saber os detalhes de seu coração :)

Mtos beijos e abraços para todos!

E um chacoalhar de guizos, pq a coisa é pra comemorar msm!


Snake Eye's – 11 de novembro de 2008.