Me Ignore

Ele

Perdido entre respirações em meu quarto, eu ignoro tudo. Costumo deitar a cabeça em meu travesseiro e esquecer a realidade, mas quando ela murmura, em seu sono doce, qualquer sílaba, meu corpo reage primitivamente. Quando ela faz um movimento, imagino sua pele movendo-se feroz e sensualmente sobre os lençóis impregnados com seu aroma.

Quero fugir, kami-sama. Permita-me fugir do monstro que me tornei.

Pergunte-me que horas são e eu lhe responderei que ainda é cedo. 4 horas. Pergunte-me porque não durmo e eu sentirei meus lábios secarem com a vontade de tocar os dela. Quero-a tanto, kami-sama.

Como posso desejar um sangue igual ao meu?

Sou, afirmo novamente, apenas uma besta incontrolável. Vivo para esconder-me dela. Trato-a com desprezo para não tocá-la. Se eu a tocar, saiba, não respondo por mim. Meu sentimento vai consumir meu coração.

Rin.

Não escute meus suspiros de desejo.

Adormeça e me ignore.

--

A manhã alcançou-me com seus raios mais sorridentes.

Maldito sol, porque sorri! É tão pecador quanto eu! Ama tua própria irmã, a Lua! Saía de meus olhos, saía!

"Sesshy-kun?".

Kami-sama... Tire-a de perto de mim.

"Não vai para o colégio hoje?", ela me envia um sorriso.

Que os lábios parem de me movimentar. Que a língua não se mostre mais. Farto estou desta minha vontade. Será que não vê, Rin? Não vê meus olhos arderem ao fitar sua pele sedosa?

"Vou".

"Então se troque, já está tarde. Eu o espero".

"Iie".

Rin contrai o rosto, decepcionada. Admiro sua feição rosada, humana, frágil. Otou-san ainda não sabe como deu a luz a uma menina tão angelical. Orgulha-se dela. Orgulha-se de mim também. Diz que sou um bom youkai, que não destrato os que estão abaixo de minha estirpe. Como destratar? Rin é uma humana.

"Vá indo sozinha. Nós encontraremos depois".

Ela assente sem pestanejar.

Quando pequenos, Rin temia-me. Dizia que a mão que a protegia poderia feri-la um dia. Eu apaziguava seus medos, acarinhava seus cabelos castanhos, dizia-lhe que nada no mundo destruiria meu amor por ela. Hoje, se pensar em tocar naqueles fios cor de ébano, sinto um calor inoxidável. Que ela nunca saiba o efeito que provoca em mim.

Parta, por favor.

Parta e me ignore.

--

Homens viram-se, assobiam, dizem-lhe grosserias. Fecho meus olhos, concentro meus pés em meu caminho. Todos a querem. Sua delicadeza, sua pureza, atiça qualquer ser com testosterona no corpo. Eu quero matá-los. Quero arrancar seus olhos e cortá-los em pedaços. Quero que eu seja o único a olhá-la. O único.

"Venha, aniki, estamos atrasados!".

Aniki...

Odeio-te, kami-sama! Como pôde colocá-la em minha família? Era um plano seu que eu me enamorasse! Contava com isso desesperadamente apenas para me ver cair!

"Ohayo, Rin-chan!".

Kouga...

Kouga ama Rin. Vejo em seus olhos azuis. Ama com tanta veneração que agora, quando o vejo, um nó na minha garganta se forma. Eu quero que ele se afaste, que ele se afaste para sempre. Se ele não o fizer, juro que vou matá-lo.

"Ohayo, Sesshoumaru-san".

Não respondo e ele olha-me como se desvendasse meu obsceno segredo.

O mundo inteiro pode tomar conhecimento, pouco me importa o pensamento dos outros.

Ela é quem não quero machucar.

Ela é quem não quero que descubra.

Esconda-se, Rin.

Esconda-se e me ignore.

--

"Sesshy-kun, tadaima!".

As paredes estremeceram, ou foi meu corpo, consumido por aquele fogo? Pouco me importa. Olho para meus kanjis mal feitos apenas para não prestar atenção na entrada iluminada de Rin.

"Você não me imagina o que aconteceu!".

Não diga, Rin. Se eu ouvir sua voz novamente, será o meu fim.

"Kouga-kun declarou-se para mim!".

"Nani!".

Ela assusta-se com minha subida levantada. "Hã... ele disse que me amava... estamos namorando".

"Como pôde, Rin!".

"Hã...".

Ela estava tão perto. Olhava-me com um medo estranho. Não era medo do que eu iria fazer. Era medo, só medo da minha decepção.

"Kouga é um idiota, ele não a merece!".

"Ano... você sempre diz, isso, aniki... sempre diz que ninguém me merece... ou será... que eu não mereço ninguém?".

Deixou-me sem palavras, a pequena. Ela merece. Merece um homem mentalmente consciente da jóia reluzente que terá em mãos. Merece um homem que amará pela eternidade, sem pausas, sem tempos, entregando-se e cuidando dela com a delicadeza que ela tem.

Merece um homem que não seja seu irmão.

Saio do quarto com minha visão nublada de vermelho. Derrubo vasos e quebros portas, ando pela cidade.

Não me conformei, não irei me conformar jamais. Kouga não a terá, porque nenhum homem a amara como eu amo.

Ela pode procurá-lo.

Mas tal ser não existe.

Apaixone-se, Rin.

Apaixone-se e me ignore.

--

Não deu tempo de escapar. Com meu murro mais feroz, acertei o queixo de Kouga. Ele cambaleou e cuspiu sangue. Satisfez-me aquela visão. Quero-o morto, mas não posso fazê-lo. Então, mostrar-lhe-ei o que ele ganha por roubar minha mulher.

"Isto é tudo por causa de Rin, Sesshoumaru!".

"Cale-se".

Outro soco, agora em seu ventre.

Mais sangue

Mas ainda não é o suficiente.

"Você a ama, não a ama! Não como um irmão amaria, e sim como um homem! Isto é pecado, seu youkai asqueroso! Você não pode tê-la sob as leis de Deus".

"Quem disse que preciso de leis divinas?".

Meu último chute. Eu o assisto cair no chão, limpo o sangue das minhas mãos na água da fonte ali perto e volto para casa.

Meu coração prende-se de apreensão.

Perdoe-me, Rin.

Perdoe-me e me ignore.

...Continua...


Ow, mas um fic de Sesshy e Rin!

Desta vez, ele não vai ser tão curto. Vai ter três capítulos!
Ah, sim, o tema é um tanto delicado, a classificação também. Espero que entendam que o incesto é muito triste, e como gosto de fics angst, resolvi aproveitar tal deixa.

Bai Bai!