Título: Wicked Game
Autora: Senhorita Mizuki
Categoria: Slash
Gênero: Romance
Classificação: Lemon
Personagens:
Harry Potter e Draco Malfoy
Avisos:
Spoilers do primeiro ao sexto livro, O Enigma do Príncipe.
Agradecimentos especiais a: sis Mudoh Belial, que permitiu ser alugada duas semanas por esta criatura que vos fala. Merece um altarzinho das betas! XD

Disclaimer: Harry Potter e personagens aqui representados não me pertencem, mas sim a autora J.K.Rowlings e a Warner Bros. Foi escrito de fã para fã, sem fins lucrativos.


Wicked Game

Por Senhorita Kaho Mizuki


Capítulo 19

Os dois Comensais os jogaram em uma espécie de câmara subterrânea. Draco viu várias correntes enferrujadas e objetos de tortura arcaicos pendurados nas paredes. Uma pesada porta de ferro foi fechada com estrondo. Teve dificuldades de enxergar na quase completa escuridão. Procurou a mão de seu pai e o que achou foram os ossos do que parecia ser uma perna humana.

Gritou e ouviu a voz de Lucius perguntando o que acontecia. Draco respirou profundamente, antes de responder que era nada. Tateou as paredes como apoio, até topar com um corpo. Como Lucius segurou seu braço, ficou aliviado e sentou-se do lado dele.

Permaneceram em silêncio por alguns minutos, então Draco o ouviu suspirar.

- Draco, como está sua mãe?

- Oh, ela está bem. Quero dizer, ao menos está lembrando do que fez pela manhã. – mordiscou o lábio inferior – Parou de ter aqueles pesadelos, Snape está administrando a ela uma poção nova.

- Severus, ahn? Eu creio que devemos muito a ele. – murmurou.

- Não tem se ocupado muito com o boticário, então, ele tem nos visitado bastante.

Mais uma vez silêncio. Por anos Draco não conversava direito com Lucius, tendo de marcar audiências para visitá-lo em Azkaban, junto com sua mãe. Não era a maior liberdade do mundo, mas pelas cartas descobriu ficar mais a vontade de se relacionar com ele. Ao menos ainda tinha alguém da família com quem falar e desabafar sobre sua mãe. De frente com o pai, nunca conseguira falar tão livremente.

Draco era mimado e demandava coisas, Lucius cobrava-lhe postura e avanços, Narcisa era um elo fraco que apesar da máscara fria dos Black, não agüentava o estresse.

Havia denunciado sua irmã, escondida em sua casa. Draco foi saber depois, quando encontrou sua mansão em polvorosa. Havia sangue pelo tapete e o corpo estendido de sua tia. Não sentiu muita pena por ela, andava enlouquecendo sua mãe, fazendo-a servir o lorde, ameaçando-a.

Narcisa sentia o peso da culpa. Seu marido estava na cadeia, o filho tendo de substituí-lo e o corpo de sua irmã louca jazia no meio da sala, porque ela havia chamado os aurores para prendê-la. Só não contava que Potter viria pessoalmente, prestar suas contas.

A partir de então, tudo que fazia era por ela. Precisava voltar a mantê-la nos clubes, se relacionando com gente importante, sentir que tinha dinheiro.

Mal percebeu que chorava quando soltou um fraco soluço. Corou, envergonhado de chorar na frente de seu pai, que sempre repreendera fraquezas. Mas então sentiu uma mão acariciar sua cabeça e puxá-lo para apoiar no peito magro dele. E Draco não se segurou mais, agarrando a camisa de prisioneiro dele, sentindo esfregar suas costas.

- Eu os coloquei em uma situação complicada, não é mesmo? – disse em tom melancólico.

- Talvez. – fungou – Mas somos Malfoys, nós sempre damos a volta por cima.

- Eu sei, e temos orgulho disso.

Draco sabia que deveria estar louco de sentir-se feliz naquela situação, mas não estava se importando no momento.

A temperatura dentro da cela abaixou rápido e Lucius estremeceu violentamente, por estar usando apenas seus trajes de prisioneiro. Draco tirou sua capa e o cobriu, mas sentiu um arrepio na espinha e não era pelo frio. Já havia sentido aquilo, o frio que os acompanhava era aterrorizante e o desespero que traziam, pior. Como se sugassem toda a alegria do seu ser.

- Há três deles aqui. – sussurrou Lucius.

Dementadores. Grande! Aquele dia estava saindo um desastre completo para Draco.

Eles rodeavam ambos, roçando-os com suas capas rasgadas, enchendo suas narinas com cheiro de carne podre, espalhando terror pelo ar. Lucius já respirava com dificuldade, encolhendo-se em seu canto. E as criaturas sentiam seu desespero, estavam famintas dele. Draco ouvia vozes e gritos, deixando-o tonto e sufocado. O corpo próximo a si tremia e choramingava, pedindo clemência.

Puxou sua varinha, segurando com convicção. Mas nunca fora bom em patronos – os seus eram fracos demais. Nas vezes que estivera na presença de dementadores, chegara a desmaiar. Não conseguia achar um pensamento bom, uma lembrança feliz. O adolescente Draco se divertia tirando sarro dos outros, perseguindo Potter, querendo ser como o pai. Mas quanto mais tentava algum desses pensamentos, mais os péssimos vinham.

Lembranças de pessoas sendo mortas; guerra; Greyback rasgando crianças com suas presas: sua mãe gritando e enlouquecendo; a dor de Crucios trespassando seu corpo; Vincent e Gregório morrendo bem na sua frente naquela tarde, numa rua trouxa. Todas elas ocupavam sua cabeça agora, fazendo os dementadores se aproximarem e sugarem-nas dele.

Mas não podia se dar por vencido agora. Não quando ainda precisava prestar contas com o maldito do Richard, quando sua mãe precisava dele, quando Snape o ajudara tanto que tinha uma dívida de vida. Não quando ele e Potter estavam apenas começando...

Sua varinha soltou uma fagulha branca e Draco olhou surpreso para ela. Estreitou os olhos, determinado. Ele era um Malfoy, podia fazer qualquer coisa. E um patrono não era diferente! Continuou pensando em coisas boas, chegou a pensar em Potter, em como realmente gostara de ser tocado pelo outro, e como aproveitara o último domingo. Ou o pouco que durou, antes de serem interrompidos.

A varinha brilhava mais forte e ele continuou, mas foram as lembranças da infância que a fizeram emitir uma luz mais forte, começando a afastar um dos dementadores. Lembrou-se da sua ansiedade em estudar em Hogwarts, rezando para que conseguisse entrar na Sonserina, porque segundo seu pai era a melhor casa e não queria decepcioná-lo. De quando aprendera a trazer as coisas para sua mãe com magia, usando a varinha emprestada de seu pai.

Estava quase, podia sentir o calor envolvendo-os. Lembrou-se da vez em que caíra da vassoura, ralando o joelho e chorando. Chorando mais ainda quando seu pai se aproximou dele, tentando engolir o choro, porque não era coisa de um homem. Mas então ele o pegara por debaixo das axilas, carregando-o no colo até a casa. Enquanto esperava palavras duras, seu pai fizera feitiços curativos, dizendo que havia nada demais em cair. O resto do dia ganhara sorvete e seu pai contara histórias sobre sua família, com Draco no colo, sentado em sua ilustre poltrona. Não imaginava que pudesse ter lembrança mais agradável que aquela.

- Expecto Patronum!

Sua voz soou na escuridão que se dissipou pela forma luminosa que saiu da sua varinha. Piscou surpreso e Lucius soltou uma exclamação. Um grande dragão majestoso surgiu, afastando os três dementadores, cegando-os com a luz. As duas gerações dos Malfoy ficaram admirando a forma do patrono. Draco só havia conseguido patronos fracos e deformados até aquele momento. Mas também não imaginou que pudesse voltar a encarar aquelas criaturas tão cedo.

- Sabe, o patrono de seu avô era um dragão. – comentou Lucius, parecendo recuperado.

Draco sorriu, sentindo-se orgulhoso, ainda mais porque conseguira graças a ele. E então enviou o patrono em direção a porta, o vendo atravessá-la. Esperava que ao menos ele atingisse o continente, onde imaginava ter ao menos aurores chegando com o alerta da invasão.

Tiveram de esperar apenas quinze minutos até que alguém aparecesse, e esse alguém era um afobado Potter, segurando a borda da porta com certa hesitação. Deu dois passos para dentro em sua direção, então estacou, percebendo Lucius. O homem se levantou e se ajeitou com gestos arrogantes, olhando-o friamente e ergueu uma sobrancelha, ignorando o fato de que usava roupas esgarçadas.

- Mas que diabos, Potter que vem nos salvar? – comentou Lucius, sarcástico – Isso que é ironia.

- Um bom dia para o senhor também, senhor Malfoy. – cumprimentou-o no mesmo tom.

O Malfoy mais jovem olhou para ambos, sentindo o clima pesar. Kingsley entrou em seguida, informando que a situação havia sido controlada. Seu pai pareceu ficar incomodado com a notícia, como se considerasse escapar daquele lugar, ponderou Draco mentalmente, aliviado por ver seu pai voltar a ser o arrogante de antes. Seu exemplo de caráter, que buscava atingir todos os dias.

Draco olhou Potter de esguelha ao sair da cela. O rapaz o seguiu, vendo se Lucius estava por perto.

- Eu não acredito que você acreditou na carta... – murmurou, balançando a cabeça, incrédulo.

- Oh desculpe, mas eu era péssimo em aulas de adivinhação. – disse em tom jocoso e então silvou – Como eu ia saber?

- Por favor, um auror qualificado se tocaria. Ou sua cabeça de baixo estava comandando de novo a de cima? – piscou, fingindo inocência.

- Engraçadinho... – fingiu rir – Para sua informação eu vim preparado. Kingsley me deu um objeto enfeitiçado para rastreamento, então ele pode me rastrear até aqui, mesmo não tenho avisado aonde ia. – mostrou uma moeda a primeira vista simples – Vê? Apenas aurores qualificados usam. Coisa de James Bond.

- Quem? – Draco parou e franziu as sobrancelhas.

- Você realmente precisa de aulas sobre trouxas, Malfoy. – guardou o objeto e balançou a cabeça.

- Não acho. Mas isso não justifica o fato de ter vindo e ser pego.

- Alguém mais foi pego além de mim. – silvou.

- Mero erro de cálculo. – desviou os olhos cinza.

- Vocês dois, é o suficiente. – Kingsley repreendeu-os, levando Lucius cativo junto consigo.

O Malfoy mais velho olhou Potter de cima a baixo com uma careta de nojo, e este revirou os olhos para cima, acostumado com a atitude arrogante.

- Draco, está trabalhando com esse tipo de gente? – reclamou, em um tom afetado – Mas que decadência!

- Sim pai, eu concordo plenamente. – disse Draco, caminhando com o nariz empinado.

Potter estreitou os olhos atrás dos óculos, fazendo um gesto obsceno para as costas das duas figuras loiras e altas.


Capítulo 20

- Ao menos uma notícia e foto decentes dessa vez. – disse Hermione, jogando um exemplar do Profeta Diário na mesa de Harry.

Ele leu rapidamente a notícia sobre a invasão de Azkaban, que resultou em apenas algumas horas de sucesso aos Comensais. Havia uma foto sua com Kingsley, mas nem sombra de Malfoy na matéria. Viu que o artigo o exaltava, como quando derrotara Voldemort, e percebeu que Kingsley deixou de passar suas mancadas, não mencionando nenhuma para os jornalistas Entretanto, também duvidava que tivesse falado a favor.

Soube do mandato de prisão de Honeyman, que agora enfrentava julgamento. Seu pai havia contratado os melhores advogados, mas daquela vez o herdeiro estava encrencado pra valer. Harry passou pelo tribunal em uma das seções do julgamento, fazendo questão de sorrir sadicamente para o rapaz ao passar por ele, estando aquele acompanhado de um advogado. O rapaz respondeu estreitando os olhos, como se pudesse fulminá-lo com o olhar. Acabara com nenhuma das conquistas, mas saber que nunca mais chegaria perto de Malfoy fazia Harry ficar inexplicavelmente feliz.

Harry estava ansioso. A missão acabara e não sabia como ficaria sua relação com Malfoy, mesmo porque ele acreditava na possibilidade de haver uma depois daqueles dias. Mas o loiro parecia ter dado sumiço depois do incidente e não tinha coragem de mandar correspondência para a mansão Malfoy.

E havia a noiva misteriosa. Não importava o que passara entre ambos, Malfoy ainda iria se casar para continuar a descendência ilustre da família de seu pai. E pensar naquilo fazia o seu monstro dentro do peito rosnar.

Nas semanas que seguiram, Harry tentou não pensar muito no loiro, achando que o sumiço era porque não queria mais ser importunado por ele. Afinal, Malfoy dera a entender que não se ligava a alguém até que lhe fosse conveniente. Harry trincou os dentes, se perguntando o que havia de conveniente na relação dos dois.

Voltou a sair mais com Ron, tentando compensar o fato de tê-lo negligenciado todo aquele tempo. Mas ainda encorajava-o a convidar Hermione para sair mais vezes sozinhos. Dava a desculpa de que a pobrezinha estava se afundando demais no trabalho e apenas Ron poderia fazê-la se distrair. Estava rendendo progressos, ainda que ele continuasse pior que Harry em termos amorosos.

Gina continuava solteira, dando em cima de Harry quando visitava A Toca nos finais de semana. Dino vinha deprimido para o treinamento, dando alguns olhares magoados a Harry. Este não conseguia entender porque a garota não dava o braço a torcer e ficava logo com o outro. Talvez se lhe dissesse que fosse gay... Não, ele não era! Ele só tinha essa pequena queda inexplicável por Malfoy. Que poderia ter sido solucionada semanas antes se Gina não tivesse aparecido para nada naquele domingo.

Não adiantava chorar pelo leite derramado...

Um dia, contudo, quando ia entregar um relatório no escritório de Kingsley, ouviu a voz de uma mulher com um sotaque carregado. Avistou uma garota pálida, alta e loira, vestindo uma capa castanha com a insígnia dos aurores no lado direito. O auror e a estrangeira viraram-se para ele e Harry arregalou os olhos, reconhecendo-a. O que a noiva perfeita e francesa de Malfoy fazia vestida com o uniforme auror e no escritório de Kingsley?

A garota pediu licença com uma voz calma a ambos, saindo altiva. Harry ainda permanecia olhando para as costas dela com o cenho franzido, quando Kingsley lhe chamou. Pediu desculpas e entrou no escritório, entregando o relatório. Enquanto o auror lia, Harry tomava coragem para perguntar, abrindo e fechando a boca ao menos umas cinco vezes.

- Fale Harry. – Kingsley pediu, sem tirar os olhos dos papéis.

- A garota que acabou de sair... – começou hesitante – Não era a noiva de Malfoy?

- Sylvie? – ele ergueu a cabeça – Oh, sim, sim. Mas era só um disfarce. Para aceitar a missão que dei a vocês, ele deu como condição que sua mãe ficasse protegida. Escalei Sylvie para esse cargo. Ela é uma auror francesa fazendo um intercâmbio. Bastante eficiente e discreta. – sorriu.

- Então Malfoy nunca teve uma noiva? – piscou, confuso.

- Malfoy? – falou em um tom incrédulo, dando uma risada – Eu não consigo imaginá-lo casado.

Pensando bem, nem eu. Harry permaneceu de pé, ruminando. Então Malfoy estava livre, ao menos até onde sabia. A não ser que mantivesse casos aqui e ali...

- Mais alguma coisa, Harry?

- Ahn, creio que sim. – coçou a nuca, embaraçado – Eu precisava contatar Malfoy para falar sobre algumas pendências da missão, e como não consigo encontrá-lo mais e o senhor é o contato dele com a Ordem, eu pensei...

- Considerando a época, é muito provável que o encontre visitando o cemitério esse final de semana. – disse Kingsley olhando-o com curiosidade.

- Cemitério? – ergueu uma sobrancelha.

- Sim, ele visita todo ano nessa época. – continuou encarando-o, esperando que perguntasse mais.

- Oh, obrigado! – e saiu ligeiro.

- Harry! – chamou-o quando estava já no corredor.

- Sim? – voltou.

- Não quer que eu lhe ensine o caminho? – perguntou com uma expressão divertida.

- Oh sim, seria ótimo. – murmurou atrapalhado, amaldiçoando-se por corar na frente do chefe.

oOo

Apareceu no dia que Kingsley garantiu que o outro visitaria o local, observando com interesse as tumbas. Nunca estivera em um cemitério de bruxos antes. Dumbledore havia sido enterrado em Hogwarts e seus pais jaziam em um cemitério trouxa em Godric's Hollow. Reconheceu os nomes de algumas famílias, principalmente as relacionadas com a família Black, registradas eternamente no famoso tapete com a árvore genealógica. De certa forma, aquele cemitério lhe dava arrepios. Mesmo sendo no meio do dia, estava cercado de tantas árvores que as tumbas ficavam debaixo das sombras.

Avistou a cabeleira loiro-prateada em meio às lápides grandes e sentiu seu coração bater mais acelerado. Aproximou-se silencioso pelas costas dele, esticando o pescoço para ver o nome da lápide a sua frente: Vincent Crabbe.

Malfoy franziu o cenho e virou-se, assustando-se com a cara de Harry tão próxima.

- Você! – silvou – O que quer?

- Acertar algumas coisas. – disse sério.

- Mesmo? E temos pendências? – perguntou com a voz arrastada.

E voltou a fitar a lápide, passando a mão pela pedra polida. Harry o viu agachar-se e retirar um buquê de flores murchas, substituindo elas por frescos lírios no vaso.

- Você se juntou a Ordem da Fênix depois que Goyle e Crabbe faleceram. – comentou, não se importando se o estava importunando.

- Às vezes só percebemos o que temos quando perdemos. – disse vagamente, depois de alguns segundos em silêncio – Só percebi que eles eram meus únicos amigos quando os vi morrerem na minha frente. Haviam se juntado aos Comensais por minha causa, porque eles me seguiriam a qualquer lugar...

Harry sentiu-se desconfortável – ele tivera Ron e Hermione desde os onze anos. Havia recusado a amizade de Malfoy antes mesmo de conhecê-lo melhor. Não que ele tivesse se mostrado uma pessoa digna de sua amizade nos anos de escola, muito pelo contrário. Mas ainda assim...

Draco levantou-se, afastando-se, e ele o seguiu. Seguiram até uma área sem árvores onde o loiro cerrou os olhos e inclinou a cabeça para trás, recebendo o sol no rosto. Então se virou para encará-lo com um sorriso malicioso nos lábios finos. Harry tentou não os encarar muito, o que era difícil.

- Posso considerar que ficou fascinado com minha beleza estonteante e por isso esqueceu o que tinha para me dizer? – disse em uma voz sedutora.

- Estive pensando sobre nós. – não evitou corar e desviou os olhos.

- Então existe um nós? – cruzou os braços, parecendo muito interessado.

- Eu espero que sim. – falou hesitante, remexendo nos bolsos – Porque essa questão está me deixando maluco e não tenho mais uma missão para culpar!

- Descobriu finalmente o porquê, Potter? – aproximou-se até que seus narizes quase tocassem, e seu hálito quente o acariciou.

- Okay, talvez eu seja gay, provavelmente bi. – admitiu embaraçado – Mas eu só me sinto atraído por uma pessoa. – terminou, sentindo suas faces queimarem.

- Hum... Estamos começando a evoluir. – colocou um dedo nos lábios, em posição pensativa. Harry sentiu vontade de colocá-lo na boca – Eu sei que sou irresistível.

- Certo. – disse rapidamente – Agora responda a minha pergunta. Aquela que te fiz naquele dia.

Malfoy assumiu uma postura mais séria, preferindo desviar os olhos cinza para outro lugar que não seu rosto. Harry sentiu uma onda de prazer ao perceber um embaraço cobrir as faces aristocráticas.

- Estava começando a confundir meus próprios avanços. – mordeu o lábio inferior, fazendo-o voltar a prestar atenção na sua boca – Fiquei bastante furioso quando disse aquilo de mim, Potter. Não é qualquer um, sabe? – resmungou virando os olhos, nervoso – Talvez com aqueles de quem eu possa tirar algum proveito, mas eu nunca dou muito. Pequenas migalhas na maioria das vezes é o suficiente. – deu de ombros, jogando a franja para trás – Poderia ser o caso, mas não foi. Quis tirar a dúvida se não era apenas minha obsessão juvenil, que mantive por seis anos, me guiando ou se estava mesmo ficando atraído.

Harry ficou surpreso e fez um oh silencioso com a boca, remexendo ainda nos bolsos e olhando para o chão. Tentou não sorrir, sentindo um calor no peito e seu monstro ronronar como um gatinho afagado. Ouvi-lo dizer sobre obsessão o fez lembrar de si mesmo no sexto ano e imaginar o quanto Malfoy perdera de seu tempo bolando formas de irritá-lo e se dar mal.

- Mas a sardentinha teve de interromper nosso pequeno interlúdio... Então o meu experimento foi por água abaixo. – continuou e estalou a língua.

- Bem, hum... – o outro começou atrapalhado, pigarreando em seguida – Se ainda estiver interessado, podemos, ahn, continuar. – olhou rápido para ele antes de voltar a encarar o chão, chutando uma pedrinha.

- Eu não sei. – o loiro suspirou pesaroso – Pode não dar certo... – disse em tom vago.

- Oh, eu entendo... – murmurou Harry, sem disfarçar sua decepção, deixando os ombros caírem.

Tinha esperanças de que pudesse, mas Harry tinha de concordar. Não se aturavam e provavelmente se alfinetariam a toda oportunidade. A personalidade de Malfoy só era suportável quando não era arrogante e a atração poderia não passar de fogo de palha... Pelo visto nunca saberia.

- Teria mais daquela geléia sobrando na sua casa? Porque não acredito que seria o mesmo sem ela. – continuou, dizendo no mesmo tom.

O ex-grifinório ergueu a cabeça de súbito, achando que se enganara com o que ouvira. Mas então viu o rosto do loiro ficar suave, como naquela vez, mas de novo poderia ser a luz. Ainda assim Harry deu um sorriso maroto.

- Não precisa se preocupar com isso, eu tenho dezenas de potes com geléia de amora. Daria para uma festa. – disse contendo um riso.

- Isso é interessante. – arqueou uma sobrancelha – Mas ainda, pode não dar certo.

- Temos de tentar antes, não? – murmurou.

E chegou mais perto, levando uma mão até a face de Malfoy, acariciando a pele pálida antes de fazê-lo virar o rosto para si. O loiro piscou, fitando-o intensamente, cerrando os olhos quando a boca de Harry roçou na sua, entreabrindo a própria em resposta. Ele primeiro sugou levemente seu lábio inferior e, então, cobriu a boca com a sua.

A língua de Malfoy se insinuou pelos lábios, lambendo os dele, pedindo por mais. Passou a mão pela nuca, sentindo os fios macios do ex-sonserino entre os dedos, mantendo sua cabeça firme enquanto aprofundava o beijo. Com certo divertimento e nostalgia sentiu o gosto de café.

O som de clique seguidos os interrompeu, fazendo-os se sobressaltarem e olharem na direção do barulho. Colin Creevey segurava sua câmera na altura dos olhos e continuava a fotografá-los. Harry trincou os dentes e cerrou os punhos, muito irritado. Aquilo já havia chegado a um limite! Tinha pegado muito leve com Colin desde Hogwarts. O rapaz parou de fotografar e baixou a câmera, sorrindo e erguendo a mão, cumprimentando-o alegremente.

- Ora, seu... – Harry rosnou.

Vendo-o puxar a varinha e dar dois passos em sua direção, furioso, Colin baixou sua mão e engoliu em seco, percebendo o perigo. Deu uma desculpa qualquer e virou-se, afastando-se em passos rápidos. Harry foi atrás dele, mas então vendo que Malfoy continuava parado, com um semblante calmo, virou-se para ele com o cenho franzido.

- Não vai atrás de Colin?

- Eu iria. Se não tivesse feito um acordo com ele. – disse na sua voz arrastada, mostrando um envelope grande que tirou de dentro da capa – Em troca dos originais de certas fotos constrangedoras no vestiário da Grifinória. – sorriu malicioso.

Harry gelou, eram aquelas fotos.

- Porque as quer, Malfoy? – perguntou receoso.

Na sua cabeça vinha de tudo que um sonserino era capaz de fazer, principalmente envolvendo chantagens. Malfoy riu, cobrindo a boca com o envelope, estreitando os olhos cinza para ele.

- Quer mesmo saber? – ronronou, aproximando-se de Harry e deslizando um dedo pelo abdômen dele, parando no cós da calça jeans – Se trata de um jogo. – travou seus olhos nos verdes – Quer jogar comigo, Potter?


- Não, não conto o que tanto havia naquelas fotos além de nudez. XD

Finite Incantatum

Escrito em Fevereiro/2007


N.A.: Perdão pela demora! Espero que tenham gostado...
Fiquem a vontade para comentar! Talvez volte em breve com um extra pra vocês.

Obrigada a todos que tiveram paciência, comentaram, favoritaram ou apenas leram!
E desculpe a demora em retornar alguns e-mails, responderei em breve.