História U.A. inspirada nos personagens de Saint Seiya.

Disclaimer: Saint Seiya e todos os seus personagens pertencem ao manga-ka Masami Kurumada.

- E aí, Milo? Bem longe da nossa ilhota, não é? – disse um rapaz de cabelos castanhos no vagão da segunda classe do trem Eurostar, que leva passageiros de Paris a Londres por um túnel.

- Pois é, Aioria. É agora que começa a aventura. Sabe que agora que estamos chegando estou ficando com um certo frio na barriga?

- Nem me fala, cara. Que bom que você finalmente tocou no assunto. Eu também. Estudar em outra língua, outro sistema. Complicado, né?

- Mas acho que tanta gente consegue que a gente também vai conseguir – disse Milo, olhando pensativamente pela janela. É claro que por baixo do túnel nada havia para se ver. Era só concreto e escuridão mas, às vezes, ele conseguia distinguir alguns avisos, em inglês e francês, sinalizando perigo e outras coisas igualmente desinteressantes.

Não. Não dava mais para fingir que eles iam a Londres passar as férias. Eles iam mesmo fazer um LL.M1 em Direito Comparado na University of London, mais especificamente na London School of Economics and Political Science (LSE)2 prestigiada universidade européia. O fato de não terem conversado sobre isso durante toda a viagem de Corfu até Londres era um indicativo forte do quanto os dois estavam nervosos. Mais ninguém da turma dos dois havia sido aceito na universidade e os dois seguiam sozinhos há 3 dias.

Eles optaram por fazer a viagem bem devagar e da forma mais barata possível. Deixaram Corfu de ferry-boat e seguiram a Igoumenitsa3; de lá seguiram a Atenas de ônibus. A partir de então começou sua longa viagem de trem rumo a Londres. Eles paravam sempre para dormir em albergues e se sentiam como adolescentes viajando pela Europa de mochila. Tantas vezes sonharam em seguir os mochileiros... Mas a verdade é que turistas de muito longe faziam essas viagens, mas os europeus viajavam muito pouco pela Europa. Os europeus preferiam conhecer seus próprios países.

E já que eles eram moradores da ilha mais linda do mais belo país da Europa, pouco conheciam da Europa. Claro que os outros nem sempre concordavam com eles. Eles muito ouviram falar das ruas de Paris – nada comparado à visão do mar eternamente azul da Grécia. Muito ouviram falar das ruínas italianas – obviamente copiadas da Grécia. Também ouviram falar das famosas praias brasileiras – mas que praia podia se comparar às gregas! Mas o pior era quando o pessoal de Mykonos, Santorini e Creta vinham falar que as ilhas deles eram mais belas. Na verdade, nem sempre Milo conseguia segurar Aioria e Aioria nem sempre conseguia segurar Milo quando um dos dois – ou os dois – partiam para cima dos insolentes.

Eles eram amigos desde sempre. Nasceram na mesma ilha, a mais bela pérola da Grécia, como já afirmado (por eles!) uma ilha com mais de 100.000 habitantes, conhecida entre os gregos como Kerkyra, já que Poseidon, seduzido pela beleza da ninfa Korkyra, a levara à ilha. Corfu era tão bela que fora escolhida como moradia oficial de Elizabeth, do império Áutro-húngaro, mais conhecida por Sissi, a imperatriz4. Lá ela mandara construir o palácio de Achillion5, local no qual passou os seus últimos anos, contemplando em seu jardim a estátua de Aquiles agonizando.

Os dois amigos entraram na Faculdade de Direito da Universidade de Atenas e para lá se mudaram. Em Atenas moraram e estudaram juntos e, finalmente, se formaram e começaram a trabalhar – também juntos. Aplicaram para as mesmas faculdades estrangeiras e ambos foram aceitos pela LSE, fato esse que comemoraram sem parar até a véspera da viagem, quando finalmente a ficha caiu!

Deixar a Grécia, falar sempre em outra língua, não ver o sol nem o mar todos os dias. E o pior: conviver com os habitantes dos outros países do continente e, quem sabe, com habitantes de outros continentes.

Sim, pensava Milo, eu bem sabia que esse dia ia chegar. O dia em que Corfu ficaria pequena. O dia em que a própria Grécia ficaria pequena. O dia em que eu iria ter a chance de sair do meu mundo ensolarado e descobrir o que lá fora pode não ter sempre sol.

- Fala, cara. Não fica olhando com essa cara pela janela! – Aioria não partilhava da mesma sensibilidade aquática de Milo. Aioria era estourado, divertido, orgulhoso e amigo para todas as horas. Só não gostava de parar e sentir o momento. Tudo era vivido num minuto. Assim era seu amigo.

- Só estava pensando se vai ser legal.

- Legal? É óbvio que vai ser legal. Afinal, somos advogados que vão estudar Direito.

- Nossa, a sua capacidade de fazer trocadilhos nunca cansa de me surpreender!

- E a sua, então? Vai ser legal e ponto final.

- Bom, pelo menos a pontuação você vai saber usar em inglês, não é?

- Viu, começou! E eles têm uns times de futebol super bons!

- CLARO QUE NÃO MELHORES QUE OS GREGOS – falaram em coro.

- É vai ser bom. E quando a gente voltar vai ser para ganhar mais e parar de fazer aqueles serviços chatos que passam para recém formados. Pesquisa isso. Pesquisa aquilo. Que parte você não entendeu? – disse Aioria arremedando o jeito superior dos antigos chefes.

- Pois é! A falha nunca é de quem explica! Os bossais! – os dois haviam tido problemas com seus respectivos chefes no escritório no qual trabalharam por poucos anos.

- Me conta! Quando voltarmos vamos nos dar bem.

- Que bom, hein, porque acho que enquanto estudarmos vamos nos dar bem mal.

- Milo, qual é a tua? Nunca te vi tão pessimista. Cadê aquele que sempre fala que é fácil, que a gente resolve. Que vai dar ainda para cair na balada?

- Bom, É ÓBVIO, que vai ter balada. Isso é fora de questão! Não importa quão ferrados sejam os trabalhos, as apresentações ou as provas. Balada é todo dia!

Enfim, vãs esperanças de todos os estudantes que chegam por ano para cursar o LL.M da LSE. Mas esperança todo mundo precisa ter, certo? E eles estavam cheios de esperança.

-------X-------

Victoria Station, mesmo dia

- Pega a mala e desce, otário! - disse Aioria cutucando Milo que, de tanto olhar pela janela, acabara dormindo.

- É, nessas horas bem que deve ser legal já SER um mala.

- Cala a boca e vem logo, Milo. Não enrola para variar! Parece que já está tudo escuro e são só 16:30hs da tarde.

- De novo! Aioria, Inglaterra, inverno, sem luz. Eu te falei, lembra?

- Como se eu prestasse atenção no que você fala ... Bom, vai ver que é por isso que todo mundo por aqui parece estar de mal-humor... – e desceram do trem.

- E agora? Onde será o metrô?

- Tem uma placa lá... Underground6. Legal! Parece nome de música!

- Aioria, É nome de música!

- Ok, ok. Pára de resmungar e segue o mestre. E melhor colocar o casaco que está frio!

Ocorre que não demorou muito e o mestre se perdeu nas linhas de metrô. Eram tantas com tantos cruzamentos. Qual seria o melhor caminho para Paddington? Linha marron ou linha amarela7? Desciam e trocavam de metrô e seguiam para a próxima encruzilhada? Linha rosa ou linha vinho? E a cada parada o famoso Mind the Gap8 os fazia rir como loucos. Erraram algumas vezes, brigaram outras, discutindo sempre, como convém a bons gregos.

E assim chegaram a Paddington!

- É, é aqui.

- Bom, o nome está certo. Apesar de achar que o caminho foi errado. Não é possível que a gente tenha que mudar de estação CINCO vezes para chegar a um lugar, Aioria.

- Claro que é! Se a gente seguisse pelo seu caminho a gente ia rodar mais.

- Verdade, ostra, mas a gente ia pegar o expresso e chegar na METADE do tempo.

- Como você sabe?

- Quer valer? – Milo adorava apostar com Aioria, já que normalmente Aioria apostava por impulso e perdia todas.

E saíram para o frio de Londres. Os dois realmente não estavam nada acostumados com o frio. Era sabido que na Grécia fazia frio. Mas nenhum grego que se prezasse falava para os outros que havia inverno na Grécia. Para eles aquela era a terra abençoada pelo sol. Se é que fazia frio, que ninguém soubesse.

Mas em Londres não dava para esconder. Sim, fazia frio e muito frio! Olharam um painel de temperatura na saída da estação que marcava 19º.

- Pô, cara, 19º não é TÃO frio assim. O termômetro deve ter congelado! – Aioria gritava essas palavras enquanto colocava as mãos sobre as orelhas. Ele podia jurar que nunca havia sentido a presença de suas orelhas tão intensamente.

- Aioria, você nunca cessa de me surpreender. E a gente se conhece a 26 anos...

- Surpreender por quê? Tem termômetro que quebra, oras.

- Não, ostra, porque é 19 º em Farenheit! Não é em Celsius. Isso dá mais ou menos uns 7 negativos em Celsius!

- E como é que você sabe? – disse Aioria dando um leve tapa na própria testa. Mas o frio foi tanto que ele imediatamente voltou a usar as mãos para cobrir as orelhas.

- O que, que na Inglaterra a temperatura é medida em Farenheit?

- Não, Milo, sabichão! Que 19º em Farenheit dá em – 7º em Celsius!

- Elementar, meu caro Watson – disse Milo achando apropriado já que eles estavam mesmo na Inglaterra.

- Elementar! Pois, sim.

- É só pegar 19, tirar 32, multiplicar por cinco e dividir por 9! – e Milo, sorrindo, olhou para Aioria para avaliar o efeito de suas palavras. Era sempre compensador deixar o amigo sem falar. Bom, quase todos os eventos raros são compensadores...

- ...

- Não vai falar nada? – cutucou Milo.

- Tipo o que? – Aioria já estava irritado. Ele odiava ser contrariado. Mas é claro que parte da grande amizade que unia os dois tinha a ver com o fato de que os dois viviam sempre se contrariando.

- Tipo: Milo você é um gênio!

- Como você sabe? – Aioria estava inconformado.

- Que eu sou um gênio? Bom, é meio constrangedor falar sobre isso, mas desde bem novo eu percebi que eu era diferente das outras crianças. Eu via as coisas, sabe? Percebia mesmo, tudo era fácil, vinha fácil... – Milo falava rápido, para ver quanto dava para soltar antes que o amigo interrompesse seu discurso auto-elogioso.

- Cala a boca! Como você sabia a fórmula?

- Bom, eu li aqui no verso do mapa do metrô! – e Milo segurava o riso para saborear melhor o momento.

- E está me dizendo que você foi lá, viu a fórmula e fez todas essas contas, de cabeça, em 2 segundos? – Aioria não acreditava, mas seria possível? Seria possível que um colega advogado REALMENTE soubesse fazer contas de cabeça? Rápido? Sem errar? Nunca ninguém havia contrariado o dogma incontestável de que advogados não sabiam fazer contas!

- Bom, na verdade, se você tivesse olhado, você repararia que 5 segundos depois de mostrar 19º, o termômetro mostrou a temperatura em Celsius – e ele gargalhou da cara que Aioria fez. Milo tinha certeza de que se Aioria não estivesse protegendo as próprias orelhas, seus dedos formariam algum gesto desagradável.

Aioria não soube o que falar. Bem verdade que ele tinha vontade era de socar o amigo e fazê-lo parar de rir de sua cara. Mas por nada do mundo ele tiraria as mãos das orelhas novamente.

--------X--------

E assim falando eles finalmente chegaram à Praed Street e acharam o número 14.

- Bom, é aqui. Tomara que tenha gente em casa – falou Aioria enquanto apertava a campainha do apartamento 7-B e esperava que alguém abrisse a porta.

- Como assim, tomara? Você jurou que tinha ligado! – nunca dava para confiar no Aioria, pensava Milo.

- E liguei, confirmei horário e tudo. O problema foi o fuso, cara. Eu liguei de Paris e lá está em horário de verão.

- Airoia, idiota, como pode ser horário de verão no inverno? Você não está sentindo o frio? – e Milo fechou ainda mais o casado. Nunca havia passado tanto frio.

- OK, eu liguei de Atenas e lá tem duas horas de fuso! Eu me esqueci. – Aioria falava tudo sem jamais esquecer de manter as mãos sobre as orelhas. Ele tinha dúvidas se elas ainda estavam lá, mas ainda assim, valia à pena insistir.

- Caramba, mas tu é burro mesmo, hein?

E foram interrompidos pelo barulho da porta abrindo. Eles discutiam tanto e o vento estava tão forte que nenhum dos dois parecia capaz de dizer se alguém tinha efetivamente falado com eles pela campainha-interfone.

Mas, enfim, ficar na rua e no frio não era mais possível e eles empurraram o portão e entraram no prédio.

- Beleza! – disse Aioria que puxava sua mala de rodinhas para dentro do prédio, enquanto Milo ia resmungando algo parecido com "burro" e "não tem jeito" atrás de si.

- Opa! – dessa vez era Milo, falando e não resmungando – e aqui estamos no frio de novo - na verdade, eles passaram por um estreito corredor que se abria para um pátio interno cheio de latas de lixo reciclável no qual havia 4 prédios baixos, de uns 6 ou 7 andares cada um. Qual será o prédio do seu amigo?

- Meu amigo, não. Eu não o conheço. Ele foi amigo do meu irmão, o Aioros.

Milo não disse nada já que nada tinha de bom para falar do Aioros. Cara irritante e convencido bem mais velho que o Aioria. Nunca tiveram a mínima afinidade. Aioros não tinha senso de humor. Sempre sério, responsável, de cara fechada, cheio de afazeres para cumprir, sempre dentro do prazo. Além disso, tinha uma mania irritante de sempre aparecer na hora errada. Uma vez ele e Aioria estavam quase roubando uma cesta de chocolates que chegara para a vizinha do Aioria e o Aioros apareceu, fazendo-os devolver a cesta. Milo não tinha dúvidas que se alguém no mundo estivesse prestes a perpetrar um crime fantástico para livrar a população da pessoa mais chata do mundo, Aioros apareceria e salvaria a maldita pessoa. Enfim, um pentelho! Mas o que fazer? Ele era o irmão do Aioria. E o Aioria tinha uma grande admiração pelo irmão. E a verdade era que tinha sido ele quem tinha encontrado um local barato para eles ficarem em Londres.

- Bom – continuou Aioria – aqui diz que o apartamento do Saga é o 7-B, logo deve ser no prédio B, certo?

- Usou a cabeça dessa vez, hein? – dizia Milo enquanto procurava no pátio algum sinal que indicasse qual a letra de cada um dos prédios – deve ser aquele ali.

- É – Aioria olhou para cima e contou – e tem sete andares!

- Beleza! Vamos nessa! – e Milo foi em direção ao prédio puxando sua mala com rodinhas.

Lá chegando descobriram que não havia elevador, fato este bastante comum em Londres. Os dois puxaram as respectivas malas – com tudo que eles tinham, já que haviam vindo para passar pelo menos 1 ano - escada acima. Rodinha nenhuma resistiu. A mala do Aioria chegou mesmo a cair para trás e empurrar Milo e mala escada abaixo. Milo, nada contente, agarrou a primeira coisa na qual botou a mão e a atirou contra Aioria, alguns degraus acima. Infelizmente, o que ele agarrou foi o puxador da própria mala, que se desprendera e acabara por se soltar com o puxão. E assim Milo teve que carregar sua mala sem alça vários andares para cima.

Ninguém teve a idéia de subir os sete andares sem as malas para checar se realmente havia alguém em casa. E só pensaram nessa possibilidade quando suados e cansados pisaram no sétimo andar.

Milo, de mau humor, já que teve que levar sua mala sem alça abraçada. Aioria estava em melhores condições, mas também estava cansado, porque sua mala, apesar de com alça, estava bastante pesada. Tocaram a campainha.

Depois da longa viagem os dois estavam cansados. Passaram do frio ao calor com uma velocidade imensamente irritante. Estavam apreensivos, apesar de nenhum dos dois ter a coragem necessária para falar sobre isso. E torciam desesperadamente para que aquele fosse o apartamento certo e que não tivessem que descer as malas para depois subí-las pelo prédio certo. Enquanto - mais ou menos nessa ordem - os dois analisavam a situação, a porta se abriu.

- E aí? – quem falou foi um rapaz de mais de 30 anos, alto, de longos cabelos escuros, olhos escuros e penetrantes e com um sorriso cínico e divertido que pegou os dois de surpresa – vocês demoraram para chegar, hein? Eu não tinha certeza da hora por causa do fuso e resolvi passar a tarde em casa para vocês não darem com a cara na porta.

E finalmente a ficha caiu: o rapaz falava em grego com eles! Sua língua. A língua de Homero. A língua da terra ensolarada, lá onde a temperatura era medida em Celsius, não fazia frio, era só olhar para o lado para ver o mar azul sorrindo para eles. Sua terra na qual todos eram simpáticos e amigáveis. Claro, tirando Aioros! Enfim, a SUA língua.

Aioria, que estava na frente com sua imensa mala com alça, falou primeiro.

- Saga, não é? Prazer, cara. O Aioros falou muito de você! Eu sou o Aioria.

- Aioria! Prazer te conhecer. Entra aí! A casa é sua. Subir isso tudo com mala écomplicado! Por que vocês não me pediram para descer? - e falando puxou Aioria para dentro e o ajudou a arrastar a mala.

Foi aí que Saga viu Milo pela primeira vez. Milo estava parado do lado de fora, abraçado com sua imensa mala sem alça, com os cabelos azuis e cacheados totalmente despenteados pela viagem, vento e tumultuada subida pelas escadas. Mas ouvir a porta abrindo e ouvir sua amada língua falada por outro que não Aioria produziram maravilhas em seu humor. Seu sorriso fácil já estava de volta em sua boca, bem como o brilho em seus olhos. Mas o mais incrível é que ele claramente não tinha consciência de nada disso.

Saga não soube o que falar. Sim, ele sabia que Aioria viria com um amigo. Ele achara um transtorno receber o irmão de Aioros e seu amigo, mas a verdade, era que Saga devia um imenso favor a Aioros. Nos tempos da faculdade, Aioros pegara Saga fazendo algo muito errado. E não o entregara à direção da faculdade.

Saga poderia ter sido expulso por "hackear" o banco de dados da faculdade, alterar suas notas e faltas e sumir com o registro da existência da vida acadêmica de uma estudante japonesa insuportável pela qual Saga nutrira um amor e um ódio quase inexplicáveis. Mas Aioros não o entregara. Ele até deixara Saga alterar seus próprios dados, mas salvara os dados da menina. Aioros – pessoalmente – entrara no sistema da escola e restituíra todos os dados que Saga tentara apagar, salvando, assim, a vida estudantil de Saori Kido. Saga, assim, considerava-se devedor de Aioros e essa consciência fez com que Saga respondesse a Aioros que, sim, receberia os dois em seu apartamento e que, sim, eles poderiam morar com ele e seu irmão Kanon até que achassem outro lugar em Londres.

Saga só não esperava que poderia gostar de ter hóspedes em seu apartamento. Mas tudo parecia indicar que ele se enganara. E Saga sorriu de volta ao rapaz que estava parado à porta, sujo e amassado, mas com um bom humor a toda prova.

- Ô Milo, entra logo e pára de resmungar aí. Não dá nem para ouvir o que você está falando – Aioria berrou de algum lugar de dentro do apartamento.

- Isso, Aioria, porque eu não estou falando nada. Devem ser suas imensas orelhas congeladas que fazem você ouvir zumbidos. E aí cara, posso entrar? Eu sou o Milo – falou Milo enquanto passava por Saga e entrava no apartamento.

----X-----

A casa era pequena, mas até que era arrumada, considerando que o Saga morava meio que sozinho. Seu irmão gêmeo Kanon, ele explicou, era maestro substituto de uma conceituada orquestra inglesa. Kanon, ao que parecia, sempre substituía um maestro famoso, uma tal de Julian Solo, que chegou mesmo a reger a Sinfônica de Londres, mas que era tão preguiçoso que se afastou e foi para uma orquestra menos conhecida.

Na verdade, Julian Solo também não trabalhava muito na nova orquestra. Deixava todo o trabalho para o Kanon, mas este adorava. E, com o tempo, Kanon começou a namorar – o Saga falou isso com uma naturalidade que assustava – o primeiro flautista da orquestra, um rapaz chamado Sorrento. Parece que o Sorrento era tão bom que a orquestra deles começou a ganhar prestígio, de forma que o Kanon sempre viajava e – raramente – usava o apartamento.

O Saga explicou tudo isso enquanto mostrava aos dois o quarto que ocupariam. O quarto de Kanon.

- Não precisam se preocupar. O Kanon quase nunca vem. E quando eu disse que vocês dois ficariam aqui por um tempo, ele mesmo sugeriu que vocês usassem o quarto dele. Acho até que ele gostou da idéia, assim tem motivos para morar com o Sorrento, sem admitir que estão morando juntos – Milo e Aioria trocavam olhares. Para eles era estranho pensar em um grego gay.

Bom, claro que existiram famosos gregos gays! Aquiles e Pátroclo, Ulysses e Diomedes e até Alexandre e Hefaístos. Mas os gregos não eram gays! Eles ficavam gays por algum motivo, como a guerra ou a falta de mulheres. E, depois, eles seguiam com sua vida normal.

Mas isso ocorrera nos dias antigos. Atualmente os gregos não eram mais assim. E não gostavam que os filmes mostrassem os seus famosos heróis como gays! Não, era verdade que recentemente um filme horrível difamara a imagem de Alexandre, o Grande e que os órgãos culturais gregos se encarregaram em demonstrar internacionalmente seu descontentamento por essa visão dos fatos históricos?

Assim, era estranho para os dois ouvirem Saga, com orgulho e de forma tão natural, falar sobre seu irmão gay.

O apartamento tinha 2 quartos, 1 sala, 1 cozinha, uma área, 2 cubículos sanitários, como Aioria gostava de chamá-los e apenas um banheiro com chuveiro, pia e tudo mais, mas sem o vaso sanitário. Apesar de ser uma disposição comum em casas européias - separar o vaso do resto do banheiro - quase que a totalidade das casas européias apresentava essa disposição.

Mas, o mais importante, segundo Saga, é que o apartamento tinha uma área aberta no telhado, já que ficava no último andar do prédio. E abriu uma porta na cozinha para mostrar a área aos hóspedes.

- Bom, não é muito grande, mas essa área no telhado compensa tudo. A gente costuma ficar aqui no verão – Saga parecia muito orgulhoso daquele pedacinho de área aberta. O frio continuava, o vento piorara e a vista era horrível, já que a área dava vista para uma série de outros prédios, dentro e fora do condomínio.

- TODOS os dias de verão? – perguntou Milo.

Saga o olhou sem entender.

- Sei lá, já que são somente 3 dias de verão aqui na Inglaterra ... – e Milo riu sozinho da própria piada. Saga achou aquela risada encantadora, apesar da piada nem ter sido tão boa assim.

- Bom, na verdade, aqui faz bastante calor durante os 2 meses de verão. E o sol só se põe lá pelas 10:00hs da noite - aquele pedaço de informação fez com que o escorpiniano parasse de rir imediatamente e olhasse para Saga sem entender.

- Sim, porque aqui é mais ao norte que a Grécia. No verão o sol nasce às 4:00hs da manhã e se põe às 10:00hs da noite. Como todo mundo sabe que só dura uns 2 meses, todos fazem o máximo para aproveitar o verão. O verão é muito importante para os ingleses – e sorriu, olhando para Milo, que olhou de volta sem conseguir pensar em nada engraçado para falar, o que deveria, provavelmente, ser creditado ao cansaço da viagem, pois Milo sempre encontrava algo de engraçado para falar sobre qualquer coisa.

- Sério, cara? Não sabia disso – se havia uma coisa que se podia falar de Aioria é que ele nunca fingia ser mais do que era. Se não sabia sobre uma coisa admitia francamente o seu desconhecimento, pedindo explicações humildemente. Ele nunca fingia ser o que não era. Logo, nunca fingia ser inteligente, pensou Milo maldosamente.

- É. Acho que é assim em vários países da Europa. Na nossa abençoada Grécia é que isso não acontece... Deve ter sido mais um presente dos deuses. Bom, tomara que vocês ainda estejam aqui durante o verão para aproveitar a área conosco.

Nem Saga entendeu direito porque havia falado aquilo. Ele resistira tanto à idéia de receber o irmão do Aioros e seu amigo. Ele adorava ficar só em seu apartamento, uma vez que Kanon raramente estava com ele.

Mas ele já havia dito e agora não adiantava voltar atrás. Talvez ele estivesse adorando ouvir grego ou talvez ele estivesse se sentindo sozinho, afinal. E assim pensando conduziu os dois para dentro do apartamento e fechou a porta. Já era quase a hora do jantar e ele não sabia o que fazer dos dois. Problema esse que, é claro, foi resolvido por Aioria, com seu jeito direto e sem fingimento, característico dos leoninos.

- E aí! Vamos chamar uma pizza? Estou morrendo de fome.

- Claro! Para você também, Milo? – Milo espantou-se com a atenção. Não imaginava que o outro tivesse prestado atenção ao seu nome.

Mas a verdade é que pizza era mesmo uma das coisas que Milo mais gostava, na falta de gyros9, é claro. Milo tinha aversão a coisas saudáveis, como ele sempre dizia. Verde devia ser uma cor retirada do arco-íris. Nesse momento, ele e Aioria invariavelmente discutiam, já que Aioria tinha especial orgulho de seus olhos verdes.

- Claro! Pizza está ótimo!

- Vou providenciar. E se vocês quiserem arrumar as coisas, fiquem à vontade.

E Saga foi para seu quarto procurar os folhetos dos restaurantes, que ficavam na terceira gaveta à direita da segunda porta do guarda-roupas de Saga, organizados, é claro por especialidades, tamanho e cor. É, Saga era extremamente organizado. Kanon sempre brincava com ele dizendo que seu passatempo preferido deveria ser separar as meias pretas das azuis. Como será que Saga iria se dar com aqueles dois? Nem ele fazia idéia...

CONTINUA

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Bom, pessoal, espero que vocês tenham gostado! Para mim é uma experiência bem legal escrever uma fic dos meus queridos cavaleiros.

Eu tentei ser o mais exata possível nas informações fornecidas, mas se vocês acharem alguma imperfeição, por favor, me escrevam. Meu e. mail é o virgo. Eu juro que respondo!

No próximo capítulo, começa o curso e Aioria e Milo conhecem seus colegas, que vocês devem imaginar quem são. Também descobrimos um pouco mais sobre o Saga. Milo e Aioria começam a explorar a nova cidade e a aproveitar as vantagens da nova vida longe da Grécia.

Beijos e até o próximo capítulo!

1 Programa de mestrado.

2 Sim, apesar do nome, a LSE é uma das mais prestigiadas faculdades de Direito de toda Europa. O site da escola é o www.lse.ac.uk.

3 Um dos meios mais baratos de sair de Corfu.

4 A imperatriz Elizabeth, infeliz com os rigores da corte áustro-húngara, deixou o marido e passou seus últimos anos em Achillion, retornando pouquíssimas vezes à sede do império.

5 O Palácio de Achillion é conhecido pela sua belíssima arquitetura, mas principalmente por seus extensos jardins com vista para o mar, no qual encontram-se diversas estátuas relacionadas a Aquiles, herói grego da Ilíada.

6 Na Inglaterra se diz underground ao invés de subway

7 A grade metroviária de Londres é uma das mais intrincadas do mundo. Mapa das Linhas de Londres pode ser encontrado no site http/www.tfl.gov.uk/tfl/pdfdocs/colourmap

8 Atenção ao vão, numa tradução livre. Frase ouvida a cada parada dos metrôs londrinos

9 Comida típica grega. Parece o shawarma árabe.

História U.A. inspirada nos personagens de Saint Seiya.

Disclaimer: Saint Seiya e todos os seus personagens pertencem ao manga-ka Masami Kurumada.

Capítulo 2

Como sempre, chovia e fazia frio naquele escuro inverno londrino. Milo, que já tinha dificuldade em acordar cedo nos quentes dias gregos, agora sentia uma inércia paralisante. O problema, porém, é que Aioria roncava tanto na cama ao lado que continuar em sua cama era impossível. E assim levantou quando o relógio marcava 9:15 da manhã. Lá fora, tudo estava escuro.

Realmente era complicado estar em outra casa, não saber onde as coisas ficavam ou mesmo o que havia para comer naquela casa. Ele e Aioria combinaram com Saga no dia anterior que dividiriam com ele o aluguel e que arcariam com metade das despesas da casa. O problema é que eles não tinham tido tempo de comprar nada no dia anterior e Milo sempre acordava morrendo de fome. Mas Milo não era de se fazer de rogado. Entrou na cozinha e começou a abrir todos os armários procurando comida. E foi assim que Saga o encontrou naquela manhã, mexendo em todos os armários enquanto resmungava que não havia nada para comer. Realmente lindo, pensou Saga!

- Calma, calma, eu costumo tomar café da manhã fora, a caminho do trabalho. Por isso nunca tenho nada – disse Saga, assustando Milo que bateu a cabeça na porta do armário enquanto se virava. Saga começou a rir da cara que Milo fez.

- Não me assusta desse jeito! E pode parar de rir. – Milo odiava que as pessoas rissem dele. Uma coisa era rir dele, outra era rir com ele.

- Desculpa! Não queria te aborrecer, mas também não esperava te ver nesse desespero à procura de comida.

- Não, cara. Desculpa você. Eu sei que não devia ficar mexendo em tudo, mas acordei morto de fome e já aviso que fico de mal humor quando estou com fome.

- Sem erro. Vamos acordar o Aioria e sair para comer.

- Opa, acordar o Aioria é minha função! – e Milo foi para o quarto já pensando em como acordaria o amigo desta vez.

Depois de anos de amizade, Milo já quase não tinha novas formas para acordar o amigo leonino, motivo pelo qual ele às vezes usava antigas e já testadas fórmulas. Naquela manhã ele resolveu entrar no quarto aos berros de: "Fogo! Socorro!". Aioria pulou da cama assustado, pronto para correr, mas ao ver Milo – e Saga na porta do quarto – os dois morrendo de rir, jogou o travesseiro nos dois e ficou resmungando até chegarem à rua, quando, assolado pelo vento frio, calou de vez a boca e foram comer.

Saga não conseguia acreditar o quanto estava se divertindo com os dois. E em como era bom ouvir a sua língua depois de tanto tempo. Afinal, Kanon voltava para casa cada vez menos.

Ele ia mostrando aos dois um pouco da vizinhança – o quanto o frio permitia, quando teve a idéia de chamar dois amigos para almoçar, dois estrangeiros que haviam se mudado para Londres quase há tanto tempo quanto ele.

Shura e Máscara da Morte (qual seria mesmo o nome dele?) eram um espanhol e um italiano que trabalhavam com Saga na mesma empresa de computação que desenvolvia jogos de aventura.

Shura era um aficcionado por espadas e desenvolvia atualmente uma saga do Rei Arthur, de nome Excalibur. Máscara da Morte, por sua vez, era italiano do sul do país e gostava de desenvolver jogos da Máfia, estilo Poderoso Chefão. Sicília, um jogo de grande sucesso por ele desenvolvido, já estava na quinta versão. No jogo o que mais contava era o número de pessoas que o jogador matava. Por essa obsessão, ele ganhou o apelido de Máscara da Morte. Poucas pessoas – talvez nem ele - ainda se lembravam de seu verdadeiro nome, já que ele assinava seus jogos como Máscara da Morte, dando entrevistas às revistas especializadas como Máscara da Morte.

Já Saga, por sua origem, gostava de desenvolver jogos ligados à Mitologia Grega. Atualmente ele desenvolvia um jogo em que os antigos Titãs liderados por Cronos voltavam à vida e disputavam com os deuses da nova era o seu lugar como divindades. Mas Saga, na verdade, era o supervisor de todos os programadores e nenhuma nova idéia era aprovada na empresa sem o seu parecer favorável. Atualmente, desenvolver jogos era quase um passatempo para ele, já que supervisionava todos os projetos e tinha muito pouco tempo. Por esse motivo ele não mais realizava a programação gráfica, mas somente o roteiro.

Saga sabia que dificilmente alguém se daria bem com Máscara da Morte, que era solitário, emburrado e grosseiro por natureza, mas com Shura, quem sabe? Este era cínico, mas divertido. Ligou para eles já na saída do local onde tomaram o café da manhã, quando ouviu um pouco da conversa de Milo e Aioria. Parece que eles ainda possuíam aquela segurança enganosa de falar o que quisessem em sua língua natal, sem pensar que alguém mais poderia falar grego...

- Milo, a Inglaterra não pertence à Comunidade?

- Sim, é claro! – Milo respondia enquanto guardava as moedas.

- Então por que aqui eles não usam o Euro?

- Aioria! Não acredito nisso!

- Nisso o que?

- Em você não saber que a Inglaterra não aceitou a mudança de moeda. Foi um tumulto há alguns anos atrás! – Milo quase gritava com Aioria, mas como era em grego, nenhum dos dois se importava muito.

- Não lembro, não. E por quê?

- Aioria, eles acharam que aceitar o Euro implicaria perda de identidade nacional, soberania...

- Mas Milo! Não foi exatamente para isso que surgiu a Comunidade Européia? – Aioria poderia ser tão tapado quando queria...

- Aioria! Eu não acredito em você! Você veio aqui estudar Direito Comparado. Você devia saber isso! – e Milo balançava a cabeça, sem acreditar.

Saga ria da conversa enquanto telefonava. Realmente devia ser difícil entender o porquê da Comunidade ter se formado. Mas a idéia era puramente econômica. Nenhum dos países voluntariamente queria abrir mão de sua soberania, da possibilidade de determinar suas leis conforme seu passado, experiência e costumes. Realmente, soava estranho para muitos. Mas para os cidadãos dos países da Comunidade, essa idéia já passara a ser aceita há algum tempo. Que países - antes tão divergentes - agora traçassem diretrizes de forma conjunta, que se reunissem para procurar uma solução conjunta. A idéia fazia sentido mas, ainda assim, era difícil. Mas claro que não deveria ser difícil para alguém como Aioria, que viera estudar justamente essa situação.

Saga começava a entender porque os dois amigos eram tão ligados, apesar de viverem brigando. Eles eram muito diferentes! Mas, ao mesmo tempo, pareciam se entender já que um tinha o que faltava ao outro. Aioria era despachado e seguro, mesmo que não soubesse das coisas, não tinha medo de se expor e perguntar. Já Milo parecia ser mais reservado. Era quase que magnético e parecia entender o que estava acontecendo mesmo que nada tivesse sido dito. E os dois sempre estavam prontos para brincar entre si e com os outros.

Eles deram uma volta por Londres. Viram a Abadia de Westminster, a Torre de Londres e o Hyde Park. Saga ensinou-os, mais ou menos, como usar a moeda inglesa, a libra esterlina. Quanto valiam shillings, penny1 e pence2. E deu-lhes uma orientação sobre como usar o metrô. Saga realmente não se lembrava de ter se divertido tanto há algum tempo. Afinal, desde que mudara para a Inglaterra, Saga trabalhara sem parar no desenvolvimento de jogos de computador, um trabalho bastante solitário. Com o tempo ele acabara sendo promovido a supervisor, o que o afastara um pouco dos poucos amigos que fizera, exceção feita a Shura e Máscara da Morte, que eram tão sós quanto ele.

E assim eles se encontraram como Shura e Máscara da Morte para o almoço.

Foi quase que imediato: Aioria e Máscara da Morte começaram a se estranhar tão logo se viram.

- Uds vieram para cá para estudar o que? – Shura começou a conversa de modo simpático. Ele, apesar de morar há vários anos na Inglaterra, ainda não perdera o forte sotaque espanhol.

- Viemos fazer uma pós-graduação em Direito Comparado! Dizem que a LSE é uma das escolas mais internacionais do mundo, aceitando alunos da Comunidade e de fora. – foi Milo quem respondeu, já que notara que Máscara da Morte e Aioria se encaravam com cara de poucos amigos.

- Humpf! – era MdM.

- Humpf o que? – Aioria irritava-se com uma facilidade incrível.

- Que catso estudar direito. Não vale para nada mesmo. – Mdm era absolutamente contra tudo e contra todos.

- Como assim? – Aioria começava a levantar a voz.

- Ora, besteira isso. Tutti mondo sabe que o que vale mesmo é a lei do mais forte! – pronto! Lá estava ele defendendo seu contraditório ponto de vista. Saga e Shura suspiraram juntos.

- Você é louco ou o que? – já Aioria nunca recebera uma provocação na vida e ficara quieto

- Louco é você que acredita no Direito! Não funciona. Demora.

E começou uma longa e alta discussão entre os dois. Shura, Saga e Milo decidiram não se meter e conversaram durante todo almoço sobre o que Milo deveria ou não esperar da cidade. Claro que às vezes eram interrompidos pelos dois que berravam um com o outro sem parar.

- E aí, Milo. O que você espera de Londres? - Saga resolvera que apesar de Aioria ser sumamente divertido, Milo era melhor para bater papo.

- Sei Lá, Saga. Vim parar aqui meio que de repente. Esse louco aí – e apontou para Aioria que berrava com MdM algo como "você ainda vai ser preso" – resolveu que o escritório era um porre e que a gente devia estudar fora! Mas eu acho que a experiência pode ser muito boa para a carreira.

- Abogado! Taí uma profissão legal!

- Trocadilho imbecil, hein Shura? – Saga e Milo falaram quase que ao mesmo tempo. Shura riu e MdM soltou um "e você ainda vai levar um tiro de quem realmente tem o poder."

- Esses dois aí parecem se entender perfeitamente. – Shura sempre se surpreendia por ver a facilidade com que MdM entrava numa discussão.

- É, o Aioria é cabeçudo e não sabe deixar nada quieto.

- Mas o MdM não fica atrás. Ele e esse jeitão de carcamano acabam sempre fazendo inimigos.

- E a gente sempre acaba separando, não é, Saga? Lembra daquela vez que ele puxou o escalpo do punk, dizendo que ele não tinha noção de ridículo e que aquilo estava fora de moda? – Shura ria só de se lembrar.

- Opa! E a gente teve que sair correndo da balada para não levar tapa de um monte de punks fora de moda.

- E quando ele viu um casal brigando num pub, foi lá e quebrou a cara do rapaz? – Shura novamente lembrou.

- E a gente tentava pedir desculpas, quando o Mdm bateu no segurança também? – Saga ria muito, enquanto Milo o olhava pensando que até que ele não era tão sério assim.

- E o pior, quando ele cismou que uma garota estava dando mole para ele, foi lá e agarrou a menina, que estava com toda a família comemorando o aniversário no pub?

- E a gente apanhou junto por que o pub era do pai da garota e só tinha parente dela por lá. A gente nunca mais pode pisar naquele lugar. - Saga mal conseguia mais falar de tanto que ria. Ouviu-se, então, um "Bravíssimi, estúpido!", seguido por um " Minha mão tá coçando."

Daí os três resolveram que já era hora de acalmar os dois e pararam de conversar. Tentaram fazer os dois pararem, mas eles continuaram se estranhando por todo o almoço, depois no supermercado (brigaram sobre que tipo de leite deviam comprar...) e depois na casa de Saga, até que Shura e MdM foram embora.

Shura desejou a Milo boa sorte! MdM foi embora pisando duro. Milo e Aioria, assim, foram dormir quase que sem dedicar um só pensamento à nova fase que começaria no dia seguinte. Logo cedo eles deveriam estar na Houghton Street, na LSE, na reunião departamental de boas vindas, como era chamada a reunião de instruções para os novos estudantes.

No próximo capítulo, finalmente nossa estória começa. Aioria e Milo conhecem a faculdade e seus novos colegas.

1 Um centavo

2 Plural de pennie