A LUA DO LOBO
Capítulo XI – Caindo os Véus!
Os olhos do loiro param alguns instantes naquele homem moreno de belo porte, que o observa com uma expressão cheia de tristeza. Aproxima-se dele devagar, curiosidade e esperança tomando conta de todo o seu ser.
- Você me conhece? – Diz em quase um sussurro, como se esta pergunta o amedrontasse... Medo de uma resposta negativa.
- Eu... Hã... Não sei. - Ken não consegue tirar as palavras de Aya de sua cabeça. Não devia ter se aproximado. - Acho que me confundi.
- ...! – O loiro apenas o olha, ainda possuído por aquela ínfima esperança.
- Desculpe, foi um engano. – Ken tenta se afastar, mas Yohji o segura pelo braço.
- Você me chamou por um nome. Ele me é familiar. – Os olhos dele revelam uma ânsia há muito contida. – Você me conhece sim... Quem sou eu?
- Mas isso é o que você sempre desejou. - Um desespero toma conta de seu coração, percebendo o estrago que já foi feito. - Queria esquecer tudo e todos pra poder ter uma vida nova.
- Eu desejei... Isso? – Indaga, sem deixar de segurá-lo.
- Aya me pediu pra não chegar perto... Que o deixasse como está. – Ken fala, aflito.
- Aya... É o homem ruivo que vi ontem! E ele estava com um rapaz loiro... Eu também o conheço. – Os flashes do passado vindo sucessivamente, como pequenas partículas de um quebra-cabeça intrincado. – Ken, me diga quem sou eu. Ken... É o seu nome, não é?
O jogador abaixa a cabeça, se sentindo culpado por destruir a vida simples que ele tanto desejara.
- Sim, sou o Ken. O que eu fiz? – A voz quase não lhe sai da garganta. – Não tinha o direito de fazer isso com você.
- Eu quero... Preciso saber quem sou. Tenho levado uma vida pela metade, sem uma identidade, sem lembranças... – Ele se aproxima e pára diante do moreno. – Isso não é vida. Se eu desejava tudo isso, estava errado.
Ken levanta o rosto e os olhos dos dois se encontram, a mesma sensação de reconhecimento... A mesma eletricidade que sempre existiu entre eles fazendo o rapaz tremer. O loiro está diferente, mas algo nele não deixa de ser o Yotan com quem ria no passado. Em um tempo em que ainda sabia o que era rir.
- Nada me satisfaz, pois há sempre um vazio imenso dentro de mim. – Ken o encara e percebe toda a dimensão disso claramente em seus olhos. – Eu te imploro, me conta quem eu sou.
- Ok. Você tem o direito de saber. – Seus olhos ficam marejados.
ooOoo
Schuldich sai do quarto de hospital, nervoso e irritado. Nagi o espera do lado de fora. O ruivo nada diz inicialmente, Brad o tirara do sério.
- Como ele está? – O rapaz não demonstra qualquer preocupação no tom de sua voz, apenas obrigação.
- Fisicamente está se recuperando, mas está super nervoso por termos perdido os dois. Começou a me insultar em inglês e ordenou que nós os capturássemos, pois vai ficar ainda uns três dias no hospital. Na verdade, ele está com vergonha. – Um sorriso irônico ilumina seu rosto. – O poder dele falhou e o Weiss fez um belo estrago.
- Mas você também falhou. – O jovem de cabelos chocolate devolve o sorriso irônico para o alemão. – E nem teve coragem de dizer como aconteceu isso.
Isso faz o sangue germânico ferver. Odeia quando ele faz isso e por essa razão decide mudar o rumo da conversa pra não perder a paciência.
- Ele ordenou que nos separássemos. – Fala de forma fria, sem encarar o jovem de olhos azul-escuros. – É óbvio que os dois vão tentar fugir do país... Ainda mais agora que recuperaram a irmã do Weiss.
- Recuperaram graças a você. – Novamente a ironia carregada em suas palavras.
- Chega disso! Eu sei muito bem que a deixei escapulir, mas isso não vai se repetir. – Seu rosto fica vermelho, se sentindo exaltado. Afinal, por que Nagi parece provocá-lo? – Eu vou para a zona portuária e você para o aeroporto. Ficamos em contato e os enfrentamos juntos, ok?
Nagi concorda com a cabeça, mas sem fitar o telepata, seus olhos estão perdidos, o pensamento muito distante dali.
- Temos que recuperar o Pérsia. – Ele quase sussurra. – O ruivo não vai vencer.
Suas palavras chegam como uma pedra na mente de Schul, que segura seu braço e o faz encará-lo.
- Será que você não entende? Está ainda pensando no seu querido Pérsia? – Seus olhos brilham de ressentimento. – Ele passou tanto tempo te usando, mas parece que você adora ser o capacho dele.
- Eu o amo. Você nunca vai entender isso. – Ele joga o alemão contra a parede facilmente usando sua telecinésia.
Ainda tonto Schul se levanta devagar. É a segunda vez que ouve isso em poucas horas, mas machuca muito mais vindo do seu garoto.
- Talvez eu entenda melhor do que você pensa. – Diz isso olhando para o rapaz parado a sua frente e vê nos olhos dele que seu pensamento está extremamente distante. – Ele nunca amou você, seu idiota.
- Não importa. – Nagi fala sem realmente acreditar em suas próprias palavras, pois para ele o Pérsia o amava. – O amor que sinto por ele basta.
- Você devia começar a pensar em ser amado, ser correspondido. – Engole em seco, pois se vê refletido em suas próprias palavras. – Às vezes estamos tão cegos que não vemos o amor bem ao nosso lado.
A voz alta dos dois já chama a atenção das pessoas, mas eles nem sequer percebem. Schul se aborrece ainda mais, pois percebe que Nagi nem parece estar prestando atenção em suas palavras.
- Não tente nenhum de seus joguinhos mentais comigo. – Aqueles olhos escuros o observam com um desprezo genuíno.
- Se você pensasse em algo além do Pérsia, saberia que jamais usei minhas habilidades com você. – Schul já está irritado ao ponto de fazer alguns transeuntes mudarem de caminho. – Só que ele não foi seqüestrado pelo Weiss como você pensa.
- Depois de tantos anos o ruivo não ia conseguir fazê-lo voltar. Eu sei disso. – Procura afastar esse pensamento incômodo, a imagem de Aya lhe corroendo a mente, pensando em como teve a oportunidade de matá-lo tantas vezes e... Não o fez. – O Pérsia não sente nada mais por ele.
- Sinto te dizer, não sei o quê o Fujimyia fez, mas o seu querido Pérsia voltou a ser o Omi. – Dizer isso lhe causa até certo prazer, mas a expressão arrasada de Nagi o entristece.
- O que?! – Indaga, se sentindo abalado com aquelas palavras, mas tenta não demonstrar.
- E o Omi ama o Weiss ao ponto de preferir morrer só pra não revelar onde ele está. – Fala, tentando fazê-lo enxergar a verdade.
- Não acredito em você. – Sua voz ressoa pelo corredor.
- E se você tentar matar o Weiss, ele vai se colocar na frente. – A raiva cintila em seu olhar. – E eu espero que aconteça isso mesmo... Certo que preferia ter minhas mãos em torno daquele pescoço e matá-lo bem devagar.
- Antes eu mato você. – Nagi diz isso num sussurro, já saindo para o seu posto.
ooOoo
Yohji entra no pequeno apartamento, sendo acompanhado pelo outro, fazendo com que Ken se sente numa poltrona próxima à janela e se coloca exatamente a sua frente, em um pequeno sofá de dois lugares. Tudo é muito simples e o espaço apertado, exatamente tudo aquilo de que o loiro nunca gostara. Eles ficam alguns minutos ainda se olhando, uma energia estranha os envolvendo, incertos que estão com o resultado dessa conversa.
- Você bebe algo? – Yohji já se levanta indo na direção da cozinha.
- Não, obrigado. – O moreno diz timidamente.
Enquanto o outro remexe os armários da cozinha, Ken coloca seu capacete no chão ao lado da poltrona e observa tudo na pequena sala, a decoração é simples, mas percebe em alguns detalhes o gosto e a personalidade do playboy que conhecera. Essas pequenas coisas revelam os vislumbres de memória que nenhuma amnésia pode conter.
- Agora podemos conversar melhor. – O loiro senta a sua frente segurando uma garrafa de whisky e um copo. Serve-se de uma grande dose, bebe de um gole e enche o copo novamente, colocando a garrafa no chão.
O moreno observa tudo isso com tristeza, pois percebe claramente que aquela vida simples não é exatamente como Yohji imaginara. Cada gole revela a desilusão e o desgosto com o cotidiano, dominado pelo desespero de não saber quem se é de verdade.
- É tão difícil começar. – Ken aperta as mãos com nervosismo, evitando o olhar súplice do loiro. – Não sei o que te dizer.
- Fale da minha família. Sabe algo deles? – O playboy está claramente ansioso. Suas mãos tremem e o copo volta a ser esvaziado de um gole.
- Você falava pouco deles, mas sei que seu pai era um policial e morreu em serviço. Você ainda era menino. – Acompanha cada movimento do copo e da garrafa. – Só sei que tinha muito carinho pelos dois.
Os olhos do loiro ficam perdidos na janela localizada atrás de Ken. Yohji parece se esforçar em busca dessas lembranças, mas seu rosto revela sua incapacidade em encontrar qualquer fragmento na memória.
- Não sei muito mais. Você se tornou um detetive bem cedo. Trabalhava com uma parceira, que era muito mais do que isso. Você a amava. – Nesse instante os olhares dos dois se encontram. Aquela revelação parece surpreender o loiro. – Infelizmente, vocês esbarraram em algo grande e Asuka morreu.
O playboy se levanta e anda até a janela, olhando para fora, onde uma chuva leve começa a cair e molhar a rua. Aquilo parece ter atingido algo em sua mente, algo doloroso que resistira à amnésia.
- Eu sinto muito. – Sua vontade é se levantar e sair. Asuka talvez seja a única pessoa que possa lhe trazer alguma lembrança e isso o incomoda. – Era uma das coisas que você desejava apagar, pois nunca conseguiu superar a morte dela.
- O pior é que consegui sim. – Toca a janela, acompanhando uma gota que escorre pelo vidro. – Ela se tornou uma muleta, uma forma de fugir das coisas que eu não queria encarar.
Ken levanta e se aproxima dele, tocando seu ombro, o que faz o loiro estremecer, se que se volta e o observa com uma expressão perdida.
- Então você se lembrou dela? – Uma esperança triste em seus olhos.
- Sempre fui assolado por sensações e sonhos, que pareciam querer me revelar algo do passado. – Não há tristeza em seu rosto. – Tinha sempre essa imagem dela sendo baleada na minha frente, mas isso não parecia doer mais. Era como se isso fosse um disfarce, uma máscara.
- Máscaras faziam parte do nosso dia-a-dia. – A expressão de Yohji se torna curiosa e o moreno se afasta e encosta a cabeça no vidro da janela. – Nós fomos recrutados por uma organização que usou nossas habilidades para nos tornarmos assassinos.
- Então isso explica muita coisa... Muitas das minhas reações em momentos de tensão. – Um brilho surge em seus olhos, um leve sorriso ilumina seu rosto. – E eu realmente sempre achei que fosse um bandidos.
- Não! Não éramos bandidos, nos recrutaram para matar os malfeitores que nunca seriam pegos pela polícia, por serem muito espertos ou muito ricos. - Ele se afasta ainda mais e dá as costas para o amigo. – Sempre dizíamos que estávamos defendendo os inocentes.
Ken não quer encarar o loiro, temendo que este possa ver toda a escuridão dentro dele.
- ...! – Yohji se sente satisfeito ao saber que era o mocinho, não o bandido.
- Mas isso mexeu com todos nós. Por isso usávamos máscaras para tentar lidar com o que fazíamos. – Uma voz clara, mas absolutamente triste. – O Aya era extremamente frio, o garoto sempre sorrindo e você era o playboy, sempre atrás de garotas.
- Playboy?! Não consigo me imaginar assim. Mas e você, qual sua máscara? – Ken se volta para ele e fica surpreso ao vê-lo bem próximo. – Como a vida que levávamos te afetou?
- O que isso tem de importante? – Ken se esquiva e volta a sentar na poltrona. – Não estamos aqui para falar de mim.
- É que tenho um sonho recorrente, que me assombrou durante todos esses anos. – Ele se ajoelha diante de Ken e coloca a mão sobre sua perna, fazendo-o tremer.
- Sonho? – O moreno sussurra, quase... Quase temeroso.
- Nele estou descendo a um porão inundado por uma névoa espessa. Não estou sozinho. Queremos salvar alguém muito querido que estava em perigo. – Ele fala baixo, o olhar distante...
Sua mente percorrendo cada detalhe do sonho que o assombrara por todos esses anos de amnésia, tentando entender tudo, como se sua sanidade dependesse disso.
- Só que, de repente, estou em um porto, vendo um rapaz enfrentando alguns homens armados. Esse rapaz é você. - Yohji explica. - Por isso percebi que te conhecia quando me abordou.
- Oh... – Ken não sabe o que dizer.
- Mas você se assemelhava a um animal, matando sem piedade, parecendo até sentir certo prazer. – Seus olhos se fixam no rosto moreno, tentando captar qualquer vislumbre de reconhecimento em suas palavras.
Ken fica em silêncio, aquelas palavras causando reviravoltas em seu estômago.
- Isso me causa muita dor. Assim que termina, você vem até mim, totalmente mudado. Vejo em seus olhos o garoto inocente que conheci, mas... Do nada, um dos homens o atinge e você morre em meus braços. Pensei que isso tivesse acontecido de verdade, só que... Você está aqui. – Há certo alívio na voz de Yohji, um pequeno sorriso se formando em seus lábios.
Ken se levanta abruptamente, quase derrubando o homem a sua frente. Sente-se encurralado. Não esperava de forma alguma ouvir aquilo... Fica andando de um lado para o outro, tentando encontrar novamente o equilíbrio necessário para continuar a falar, sabendo que Yohji o observa intrigado.
- Isso aconteceu. Não exatamente assim, mas... Eu... – O moreno não diz isso para o amigo. Parece divagar em suas próprias lembranças. – Seu maior medo era comigo?
- Então meu sonho é real?! – Sentado no chão, ele olha fixamente para o confuso Ken, vendo que este pára e o observa.
- Yohji, nós estávamos naquele porão para salvar o Omi. – O passado retornando não somente para o loiro, mas para os dois.
- O Omitchi! O rapaz loiro que esteve aqui. O nosso garoto. – Rapidamente sua expressão se entristece com o entendimento de sua lembrança. – E nós falhamos, não é?
- Sim. E tudo desmoronou depois disso. – Sua voz fica embargada. – Ele era o coração do grupo e todos nós morremos um pouco naquele dia.
As mãos fortes do moreno se apertam nervosamente, revisitando todas as memórias daquela terrível noite em que foram incapazes de salvar o garoto.
- Mas aquela névoa era magia. – Os olhos de Yohji se arregalam com as palavras de Ken, revelando sua descrença.
- Você está brincando?! – Yohji diz, sarcástico.
- Eu sei, é difícil acreditar, mas creia que era verdade. Ela fazia que tivéssemos a ilusão de estar vivendo nosso maior medo. E o seu era que... Eu me tornasse o que sou hoje. – A voz se torna mais baixa e o moreno desaba no chão, chorando convulsivamente, pois tem vergonha de ter se tornado aquele animal que Yohji temia.
- ...! – O loiro se aproxima dele, de certa forma entendendo finalmente o significado de seu sonho. Tenta tocá-lo, mas Ken se afasta, encostando-se no pequeno sofá.
- E qual era o seu maior medo Ken? – Os olhos do jogador se levantam e o observam. – Foi comigo?
Surpreso, o rapaz se levanta. É sua vez de ir até a janela e observar a chuva, que já cai pesada. Contar aquilo é uma decisão muito difícil, pois é expor o segredo que ele mesmo custara a acreditar. Coloca as mãos no rosto, a dúvida corroendo sua mente... Teria o direito de abrir seu coração para alguém que mal se lembra dos próprios pais?
- Está com medo de me contar? – Ken estremece ao perceber a voz tão próxima, pois o loiro está logo atrás dele. – Seja sincero comigo, por favor.
- Eu estava em seu casamento e era o padrinho. Ficamos bem próximos quando dei o nó em sua gravata e... Eu o beijei. – O moreno prende a respiração, temeroso da reação do amigo.
Este fica imóvel, olhando para o chão, como se aquilo novamente tocasse em algum ponto perdido de sua memória.
- Mas na visão você me repelia e eu o perdia pra sempre. – É impossível exprimir em palavras a decepção em seu rosto.
- E se eu não o tivesse repelido? – Yohji o empurra contra a parede, deixando Ken surpreso por sua reação.
O loiro tenta beijá-lo, mas o rapaz o impede, se afastando, lágrimas já brotando em seus olhos, todo o seu corpo tremendo devido àquele ato jamais pensado da parte do outro... E sua reação deixa o amigo aturdido, percebendo isso, porém, não sabe o que fazer.
- Pensei que você quisesse isso. – O ex-playboy fica envergonhado. – Me desculpa se entendi errado.
- Yohji, eu temia que isso acontecesse. Coloquei essa idéia em sua cabeça quando abri meu coração. – Ele pega o capacete e segue para a porta. – Você nem sequer se lembra do passado. Eu não tinha esse direito.
Ainda surpreso por tudo aquilo, Yohji corre até a porta e se coloca diante dela. Sente como se a verdade estivesse escorrendo por entre seus dedos... E não pode deixar Ken sair dessa forma.
- Você devia me dar algum crédito. Agora é sua vez de me ouvir. Sente-se! – O tom de ordem intimida o rapaz, que senta sem reclamar.
O loiro fica diante dele, percebendo claramente que esta conversa deixa o moreno nervoso demais, mal conseguindo relaxar na poltrona, porém decide não parar, porque aquilo é importante para ele... Importante demais.
- Posso não me recordar de tudo, dos fatos, mas sempre vivi povoado por sentimentos e sensações. – Seus olhos parecem encarar todo o vazio que fôra sua vida nos últimos tempos. – E o que você me disse me faz entender melhor tudo isso que me assombrava por todos esses anos. Agora entendo bem o que me impedia de ser feliz.
- Mas... – Ken se sente ainda mais culpado.
- Me ouça! Você não me influenciou. Sou mais inteligente do que essa sua presunção me retrata. – Isso surte um efeito arrasador no moreno, que finalmente encara o loiro.
- ...! – Ken pensa em dizer algo, mas não sabe o que falar.
- Você estava certo quando afirmou que eu usava minha imagem de playboy como uma máscara. – As recordações vão ficando cada vez mais claras. - Lembro muito bem que agi de forma exagerada ao saber que Aya e Omi estavam juntos. Não é verdade?
- É sim... – Isso somente lhe dá certeza de sua conclusão. – Por isso mesmo sei que você não...
- Eu tinha medo. – Yohji diz meio sem jeito. – Por isso agi daquela forma.
- Medo?! – Diz com profunda surpresa.
- Sim. – Em seus olhos este momento é decisivo, onde somente pode haver a verdade. – Vê-los juntos me colocou diante daquilo que eu mesmo sentia.
- Você amava algum deles? – Sem entender muito bem, mas concluindo o que lhe parece óbvio, Ken diz um tanto desanimado.
- Ken, eu me sentia atraído por você, seu tonto. – Diz aflito pela dificuldade do moreno em enxergar aquilo que está claro em seu rosto.
- O que? – Ken acredita que não entendeu bem.
- Mas não podia admitir isso pra mim mesmo. – Explica, suspirando profundamente. - Depois, vendo-os felizes, senti inveja daquele ruivo, pois ele tivera a coragem que eu jamais teria.
O ex-jogador permanece ali paralisado, segurando no braço com toda a sua força. Não pode acreditar naquilo que está ouvindo... Não consegue acreditar.
- Então passei a ver Asuka em todas as partes. Primeiro pensei estar enlouquecendo... – Seus olhos se desviam do aturdido rapaz, se perdendo na tempestade que cai do lado de fora da janela.
Ken ainda permanece imóvel, tentando absorver as palavras...
- Depois percebi que era minha consciência disfarçada na pessoa mais sincera que já conhecera. Se ela estivesse aqui teria me dado uns tapas na cara e mandado que eu te levasse pra cama de uma vez. – Respira fundo, tentando continuar aquilo que lhe custou tanto para admitir.
"Ele... Ele não..." – Ken ainda tenta organizar os pensamentos, mas está aturdido demais.
- Sei lá... Talvez fosse meu subconsciente tentando me levar a fazer o que era certo. Não sei bem. – Volta a olhar para Ken Hidaka.
- Yohji... – Ken sussurra o nome dele.
- Já não suportava mais mentir para mim mesmo, por isso desejava esquecer tudo. Não queria esquecer a vida que levávamos, queria esquecer você. – Yohji diz por fim.
Ken fica alguns minutos ali, tentando entender toda a dimensão daquilo que ouve. Todas essas informações vêm de um homem que nem sequer se recorda dos pais, mas pode se lembrar tão bem do que sentia por ele?
- Mas... Você não... – Balbucia essas palavras sem saber muito bem o que dizer.
- Eu acreditei poder ser feliz se não vivesse lutando contra meus próprios sentimentos. Pensava em esquecê-los e criar outros, mas isso não é verdade. – Yohji se aproxima, ficando diante do moreno, que levanta os olhos para observá-lo. – A memória é muito engraçada, pois certas coisas são esquecidas, mas deixam um grande vazio em seu lugar e que não pode ser preenchido. Minha namorada sempre me acusou de ter alguém no passado que sempre estava entre nós. Mesmo não me lembrando disso, sabia que era verdade.
O playboy se aproxima da poltrona e segura Ken pela camisa, se curvando sobre ele, colocando seu rosto a poucos centímetros dos lábios do moreno e percebe que seu gesto afeta o outro, porém não pode deixar que ele escape.
- Mas só estando distante percebi que nada sou sem você. – Quando diz isso sua boca roça suavemente a do outro.
- Eu... – Seus olhos se fecham em profunda emoção. – Também morri quando pensei que você estava morto.
Os lábios finalmente se tocam pela primeira vez, tão delicadamente, mas com a força necessária para fazer o tempo parar ao redor deles e o loiro o puxa para si, enlaçando-o suavemente pela cintura, sentindo o calor de seu corpo e o tremor nervoso de seus braços.
- Yohji... – As pernas de Ken parecem fraquejar diante daqueles suaves beijos, fazendo-o suspirar e gemer a cada toque.
Sua camisa vai sendo aberta devagar, botão a botão, seu peito forte de pele macia ficando acessível ao delicado toque do loiro. Ele é tão sedutor quanto sempre parecera, talvez ainda mais.
- Ken-ken... – Os lábios de Yohji encostam-se na pele levemente morena, provocando arrepios. – Você...
Faz um caminho úmido no peito do moreno, mordendo e lambendo, provocando um forte estremecimento.
– Me quer... – Passa a língua sobre os mamilos arrepiados. – ... De verdade?
- Yotan! Ahh...! Nunca... Houve ninguém... – Os lábios do loiro sugam o mamilo rijo de tesão. – Ahnn... Ninguém que eu deseje mais...
O moreno o agarra pelos cabelos, freneticamente puxando-o ainda mais para si.
– ... Do que você. – Isso resume o desejo de todos esses anos.
- Você está... – A boca atrevida ataca o pescoço do moreno com voracidade. – Ainda mais lindo!
O loiro diz ao ouvido de Ken, suas mãos passando pelos cabelos castanhos, observando cada detalhe daquele rosto tão sofrido.
Os lábios se juntam novamente e os beijos vão ficando cada vez mais desesperados. Ken já não tenta mais conter a fúria do desejo que o consome, todos os sentimentos represados por tanto tempo vão gradativamente se alastrando pelo seu corpo. Só os lábios já não são suficientes para expressar o que sente e ele passa a usar sua língua e os dentes, mordendo e marcando o loiro. Yohji o acaricia com cuidado, porém somente seus toques suaves dos dedos não bastam, então as palmas das mãos fortes apertam rudes e as unhas arranham na ânsia de ter o loiro preso a si.
- Yohji... – O moreno ataca o peito e o pescoço do loiro, mordendo sua pele, sugando com força seus mamilos. Puxa o loiro mais para perto, encaixando-o contra si. – Preciso de você.
- Ken... Não... – Yohji sente seu controle se esvaindo. O loiro geme ao sentir os dentes em seu pescoço e ainda tenta se segurar, mas seu esforço é em vão. – Assim não...
Toda a solidão daqueles anos explode em ânsia e o loiro empurra Ken contra a parede com força. Os beijos se tornam descontrolados de paixão. Yohji ataca aquele corpo tão desejado como se temesse que lhe fosse roubado, os lábios percorrem o pescoço, os ombros e o peito de Ken de forma vigorosa. Cada movimento, cada toque, levando-os a gemer incontrolavelmente, os dois explorando o corpo um do outro.
As roupas vão caindo rapidamente. Ken está encurralado, preso, mas não há medo em seus olhos, mas uma vontade ousada de que o playboy o tome ali mesmo, sem pedir ou se importar em machucá-lo. Deseja toda aquela ânsia e violência, se sentindo intimamente subjugado... E isso o agrada, o excita, quer mais e mais a cada instante, procurando os lábios do loiro quando este se afasta para respirar.
A chuva cai forte do lado de fora, o som dela envolvendo os dois em um clima cada vez mais envolvente, a força dos relâmpagos acompanhando toda a energia que os mantém ainda naquele êxtase. Ken veste apenas a calça, já aberta, com a mão do loiro explorando seu membro, isso o leva a loucura, abrindo a camisa de Yohji com violência, arrancando todos os botões. O moreno ataca o peito e pescoço do loiro mais uma vez, mordendo sua pele com força, sentindo a ereção dele quando este o espreme ainda mais contra a parede e então ambos se fitam por um momento no meio daquela loucura.
- Yotan, eu... Eu quero você... – Ken sussurra roucamente.
Já não há mais como resistir a toda aquela insanidade que os possui. Yohji joga Ken sobre o espesso tapete branco da sala e o moreno fica ali ofegante, enquanto vê o delicioso loiro se despindo completamente diante de si. Tenta se aproximar e tocar o pênis ereto com a boca, mas ele o impede, empurrando-o novamente para o chão.
-Uhmm... Yohji... – O moreno geme, seus olhos mais escurecidos devido a excitação.
Yohji pega uma adaga de cima de um pequeno aparador e brinca com ela, tocando o próprio peito e depois a lambendo, sentando-se sobre o corpo do moreno, se colocando diretamente na ereção do rapaz, o que o faz estremecer. A adaga agora percorre a pele do jogador, fazendo Ken sentir o quanto é afiada.
- Ahmmmm... – Ken ofega, sentindo-o passar a lâmina por sua boca, seu pescoço e peito, a sensação de perigo deixando-o ainda mais excitado.
O loiro então vai descendo a arma, passando-a sobre a ereção dele, ainda dentro da calça e começa a cortar o tecido, retalhando-o e expondo aos poucos a pele sob ele. A calça rapidamente começa a se desfazer sob os movimentos precisos de Yohji com a afiadíssima adaga. Logo, apenas a cueca está entre o loiro e sua desejada presa... A lâmina então passa delicadamente pela seda e esta se desmancha como manteiga, enquanto o jogador morde os lábios de puro êxtase.
- Isso... Isso, Yotan... – Os olhos de Ken brilham mais, o desejo crescente.
- Você gosta... Não é? – A voz do loiro sai num tom rouco, sensual e provocativo.
- Uhm... Sim... – Responde o moreno, sem pudor algum.
Yohji sorri e desce a cabeça, a mão e a boca dele envolvem todo o pênis de Ken, que começa a gritar de prazer, segurando-o pelos cabelos, fazendo com que use cada vez mais força nessa operação. Do membro, Yohji volta à boca, beijando-o com ainda mais intensidade, tirando sangue dos lábios cada vez mais desejosos. Deitando-se sobre o corpo do rapaz, os dois parecem entrar em uma espécie de luta corporal, vigorosamente se beijando e abraçando, rolando pelo tapete macio. O loiro se coloca entre as pernas do jogador e leva os dedos a boca, umedecendo-os com a saliva.
- Não... Não... – Ken se debate, fazendo o parceiro hesitar ante suas palavras. O moreno se aproxima da orelha do loiro. – Eu quero o Yohji selvagem. Quero que você me tome sem delicadeza.
A surpresa transparece naqueles olhos verde-água. Fica alguns minutos observando aqueles orbes azul-esverdeados sedentos de prazer. O loiro então se coloca entre as pernas do jogador, penetrando-o com violência, se excitando ainda mais com os gemidos de dor que saem por entre os lábios edemaciados e sangrando.
- Ken... – Yohji morde o lábio inferior com força. O moreno é tão apertado que simplesmente o delicia.
Apesar da dor, Ken anseia ainda mais força, gosta da virilidade daqueles movimentos, prefere se sentir assim, meio que violado. Deseja isso... Fantasia com esse homem forte o tomando sem qualquer sutileza.
- Aahhh... – Um grito rouco arranha sua garganta, enquanto ele arqueja.
Yohji percebe muito bem que aquele é o desejo de seu amado e o satisfaz.
Os dois lutam ainda nesta deliciosa penetração, cada movimento levando-os ao delírio. O moreno continua mordendo-o e sugando, com muita força, fazendo com que o loiro reaja, tentando fugir de sua boca, mas ao mesmo tempo desejando que ele o faça sangrar. A mão de Yohji envolve o pênis dele e o toca de forma a fazer com que deixem de perceber qualquer ruído, apenas concentrados naquele toque e nos sons de seus gemidos.
- Aaahhhh... Yohji... ISSO! Mais!! – Ken grita, sentindo seu ponto sensível ser tocado, causando ondas de prazer em seu corpo.
- Keeennnn... – Yohji rosna, sabendo que não demoraria a chegar ao ápice.
O sincronismo deles é perfeito, os corpos se roçando, o prazer se elevando... E tudo isso os leva ao delírio absoluto, os dois gozando quase que simultaneamente, ainda sem conseguir deixar de continuar os bruscos movimentos... Aquilo ainda os excita e não podem parar. Desejam ficar ali para sempre, mas logo seus corpos sucumbem ao cansaço e a ligação se desfaz, um deitado ao lado do outro.
Suas respirações ainda estão aceleradas, mas as mãos se tocam levemente, com uma delicadeza contrastante com a força de alguns instantes. Ken então se deita de lado, observando os traços do homem a seu lado, a luz do sol que começa a brilhar iluminando os fios dourados.
- Nem acredito que estou aqui com você. – Ele afasta uma mecha loira que teima em cair sobre os olhos verdes. – Tinha desistido de ser feliz. Estava me tornando um animal sem piedade.
Coloca a cabeça morena sobre o peito ainda todo machucado por suas mordidas. Só então os dois começam a perceber a dor resultante de tudo aquilo que tiveram, mas o prazer ainda está claro na memória.
- E eu te amo, Ken! – Yohji acaricia então o rosto quente que se apóia em seu ombro, memorizando cada detalhe apenas pelo toque.
Não esquecerá novamente aquela face que tanto o assombrara por todos esses anos. Uma assombração sem rosto, mas tão presente em sua vida vazia. Agora não está mais sozinho, pois o tem em seus braços.
- Você não é um animal. – Sussurra para ele. - É o meu Ken-ken e nunca mais vamos nos separar.
ooOoo
Nagi já está ali diante do aeroporto há muito tempo. Teme que eles tenham conseguido escapar de alguma outra forma e isso o deixa nervoso, a ponto de jogar algumas latas de lixo próximas contra uma parede. Ainda não acredita naquilo que o Schul havia lhe dito.
O ruivo não pode ter conseguido reconquistar o Takatori. Apesar de não ter sido o único na cama de Pérsia, sempre fôra o mais constante, com quem ele conversava... E Mamoru não gostava de falar no espadachim. Esse assunto o deixava muito perturbado. Era como se tivesse apagado o Weiss completamente de sua mente.
"E agora estão juntos?!" – Indaga ainda incrédulo. Schul dissera isso só para perturbá-lo. Tem certeza que sim.
O rapaz então paralisa. Vê um táxi parando e dele descem seus alvos e a irmã de Aya. Pega rapidamente o celular. É claro que não vai usar a mente pra chamar o alemão, pois não confia nele para tanto.
- Eles estão aqui. – Diz quase em um sussurro. – Venha rápido.
Atravessa então a rua e entra rapidamente no aeroporto atrás deles, tomando cuidado para não perdê-los de vista ou para não ser visto. Os três seguem pelo saguão e se aproximam do balcão de check-in de uma companhia aérea. Não pode deixar de perceber que há carinho entre os dois, não é realmente um seqüestro.
"Então Schul estava certo." – E essa certeza faz um aperto se formar em seu coração.
Aya se aproxima do balcão e entrega a passagem. Sua irmã conversa com Omi, sem perceber como os dois estão em alerta. Ali é o ponto mais perigoso de toda a fuga, pois podem cair em uma armadilha com facilidade, precisam ser muito rápidos e não perder tempo. O espadachim volta para junto de sua irmã e só então ela nota que há apenas uma passagem nas mãos dele.
Aya-chan olha primeiro para o irmão e depois para Omi. Percebe que naquele momento vai se separar novamente de Ran e o abraça, começando a chorar, não conseguindo conter os soluços.
- Você não pode me afastar de novo. – Ela se agarra ao irmão com força. – Quero ir com vocês.
- Também não quero me afastar, mas no momento não é seguro estar com a gente. – Se separam um pouco para que possa encará-la diretamente nos olhos. Acaricia seus longos cabelos, como costumava fazer quando eram crianças. – Quero que você vá para Paris e estude. Abri uma conta em seu nome e estaremos sempre enviando dinheiro.
- Não quero dinheiro, quero você. – Ela tenta conter as lágrimas, mas não consegue.
- Não se preocupe. Assim que estivermos certos que é seguro, mandamos você se juntar a nós. – Tenta acalmá-la, a mão em seu rosto entristecido. – Nunca mais vamos nos separar. Só quero que tenha a oportunidade de estudar e ver o mundo, depois de tanto tempo adormecida.
Ran disfarça as lágrimas que teimam em surgir em seus olhos, se voltando para ver se o avião já está livre para embarque. Omi então a abraça com carinho, sem nem sequer tentar disfarçar as lágrimas que escorrem por seu rosto.
- Vamos... – O espadachim toca o braço da irmã. – O avião já está em embarque.
Os dois irmãos se separam. O ruivo já está recomposto e volta ao estado de alerta. Eles acompanham-na até o portão de embarque e a garota vai seguindo pelo corredor, lançando um último olhar para Ran, que tanto custara a reencontrar.
- Se precisar pode chorar. – Omi fala para o seu ruivo, mas ainda olhando para a moça que se afasta. – Juro que não conto pra ninguém.
- Não vai ser dessa vez. Desista. – Aya tem um sorrisinho divertido, pois pela primeira vez em muito tempo se diverte genuinamente com algo. – Dessa vez é diferente. Não estamos nos separando.
Os dois olham em torno, o saguão lotado de pessoas circulando, mas não podem ver qualquer um de seus perseguidores, apesar disso não significar nada, pois os Schwarz sempre foram mais fortes que eles e devem ser tratados com respeito, então... Precisam ser rápidos.
- E nós? Para onde vamos? – O loiro olha fixo para o espadachim que ainda mantém a atenção no ambiente, mas olha então para as esperançosas safiras a sua frente.
- Vamos viajar com um avião fretado até Sidney. De lá vamos para o nosso destino. – Fala, tirando uma mecha loira que lhe cai sobre os olhos. – Por isso vamos logo, o piloto nos espera.
- Mas... – Ele estaca quando o ruivo o puxa delicadamente pelo braço. – Temos que esperar...
Antes que possa terminar de falar, os dois estão diante de Nagi. Os olhos do rapaz cintilam de raiva e ressentimento. Aya avança contra ele, mas Omi o segura.
- Não! – As mãos pequenas seguram o sobretudo do ruivo, seus olhos no rosto furioso do jovem diante deles. – Eu vou falar com ele.
- Ele é um Schwarz e tem uma missão a cumprir. – O espadachim não entende a relutância do loiro.
- Não, eu devo isso a ele. – O rapaz diz isso encarando o ruivo com seriedade. – Se afaste. Deixe-nos.
Aya não aceita isso com facilidade, mas respeita a decisão de Omi e se afasta.
O jovem loiro se aproxima de Nagi. Este dá alguns passos para trás, ainda surpreso com a atitude inesperada do 'inimigo' e então Omi se move, até que eles fiquem bem próximos, a respiração do moreno ficando mais ofegante, os olhos azuis escuros encarando o rapaz ligeiramente mais alto que ele.
- Não chegue mais perto! – Fala quase gritando, recuando um pouco mais. – Não quero ter que usar minhas habilidades em você.
- Eu jamais invadiria seu espaço... – Diz recuando alguns passos. – Sei que você não gosta.
- Então é verdade! Você voltou a ser o Omi. O ruivo deve ter sido muito bom pra te convencer. – A raiva é evidente em sua voz, lançando olhares de ódio na direção do espadachim que os observa de longe.
- Ele não fez nada. – Evita olhar para Aya, temendo que isso irrite o rapaz ainda mais. – Só me ajudou a voltar a ser eu mesmo.
- Que nada! O sexo deve ser melhor. Essa é a verdade. – Um sarcasmo raivoso escorre de sua boca. – Quando estava comigo não podíamos nem tocar no nome do ruivo e agora está todo carinhoso com ele.
- Naoe, eu sabia muito bem o quanto tinha amado o Aya. Não gostava de falar nele, pois não conseguia entender porque não sentia mais nada. – Tenta manter-se calmo, pois entende a raiva que o leva a dizer tudo isso. – Graças a ele eu reencontrei o Omi dentro de mim.
- E por mim você nunca sentiu nada, não é? – O ressentimento é tão evidente que lágrimas surgem em seus olhos. – Só me usou. Fui uma pequena diversão enquanto se sentia sozinho.
- Não é verdade! – Sente-se envergonhado por realmente ter usado o rapaz. – Tenho um carinho especial por você.
- Carinho?! – Ele esbraveja indignado. – Você está falando isso só pra eu deixar que fujam, mas isso não vai funcionar.
- Não. Estou aqui me entregando. – Abre levemente os braços para que Nagi possa ver que está desarmado. – Não quero ver você e o Aya lutando. Temo ver um dos dois ferido.
- Você fala por ele também? – Apontando na direção em que o espadachim está. – O velho quer o ruivo morto.
- Eu te imploro. – Sua expressão se transforma ante a possibilidade de acontecer qualquer coisa com Aya. – Me entrego sem qualquer resistência, mas... Deixe-o ir embora.
- Então você realmente o ama. – Essa súplica somente o deixa ainda mais nervoso. – Eu devia matar o ruivo agora apenas por tê-lo roubado de mim.
- Se você fizer isso vai ter de me matar também. – O arqueiro se coloca exatamente entre Nagi e Aya. – É isso que você quer?
- Você se sacrificaria por ele? – Nagi então se aproxima de Omi e segura seus braços. Seus lábios quase se tocam, certa excitação tomando conta de seu corpo apaixonado. – Se você ficar comigo o deixo partir. O que acha?
De longe Schul pode ver o que acontece entre os dois. Não pode ver o Weiss em seu campo de visão, mas nota a proximidade dos dois rapazes. Tenta se aproximar mais, sem deixar que o seu garoto o veja, mas o fluxo de pessoas o retarda, porém consegue ver muito bem quando Nagi enlaça Omi e o beija apaixonadamente... E seu sangue alemão ferve. Desta vez seu inimigo não vai sobreviver. Pretende quebrar seu pescoço, mesmo que signifique morrer nas mãos do seu garoto.
- Eu aceito. – O loiro fala quando os lábios se separam.
Aquela resposta satisfaz Nagi que quase... Quase sorri.
- Só que você sabe muito bem onde vai estar meu coração. Quero que esteja consciente disso. – As lágrimas já surgem em seus olhos, pois genuinamente pretende se entregar para salvar Aya.
- Sim. – Diz, não muito satisfeito com isso, mas quem sabe pode conquistar Omi?
- Mas acima de tudo... Eu... Quero te pedir algo. – É difícil falar, a voz presa em sua garganta.
- O que? – Toda aquela resignação entristecida mexe com Nagi.
- O que mais desejo é que você me perdoe. – Sua voz está sinceramente emocionada. – Fui injusto. Você merecia mais. Merecia alguém que te amasse e eu me coloquei entre vocês. E de propósito.
- O que você está dizendo? Nunca ninguém me amou. – Seu rosto fica claramente confuso, sem conseguir entender essas palavras. – Por isso o amor que sinto por você me basta.
- Mas você merece mais e... Ele o ama de verdade. – O olha fixamente, tentando demonstrar sua sinceridade.
- Está dizendo isso só pra me convencer a deixá-lo partir. – Nagi o empurra, de forma tão abrupta que Omi se desequilibra e cai. – Se está usando desses artifícios, acho que vou ter que cumprir minha missão.
- Não é mentira! Você que não enxerga, pois ele está sempre do seu lado. Sempre te apoiou e protegeu. – Diz enquanto se levanta, sem desviar de seus olhos. – Se quer mesmo cumprir sua missão e nos matar, tudo bem, mas me prometa que vai dar a si uma chance de ser feliz.
Nagi recua. Olha adiante e pode ver Schul se aproximando com dificuldade. Por alguns instantes os olhos dos dois se encontram e então o rapaz percebe que Omi diz a verdade. Relembra cada momento de sua vida em que o alemão estivera ao seu lado, do seu jeito rude, mas sempre preocupado. E só então consegue perceber o significado do que o telepata dissera no hospital...
"Às vezes estamos tão cegos que não vemos o amor bem a nosso lado."
"Como pude ser tão idiota?!" – O pensamento vem sem que possa evitar.
- Vão! – Quase sussurra, a cabeça baixa, olhando para o chão.
Omi se aproxima e toca o ombro de Nagi, que levanta o rosto. Os olhos deles novamente se encontram... E não há mais raiva ou ressentimento.
- Meu caminho já estava marcado no instante em que conheci o Aya... Sei que entende. – Fala, passando a mão pelo rosto delicado do Schwarz. – Você também merece se sentir especial pra alguém.
Os dois se abraçam com carinho e o delicado beijo que trocam sela finalmente a paz no coração de ambos, mas rapidamente Nagi o afasta, percebendo a aproximação do alemão.
- Vocês precisam ir. – Olha para Omi uma última vez. – Não me esquece, ok?
- Nunca. Um dia a gente se reencontra. – Rapidamente ele sai na direção de Aya, que o abraça possessivamente e saem na direção do embarque particular.
Schul tenta correr atrás dos dois, mas Nagi se coloca a sua frente, usando de suas habilidades para segurá-lo.
- O que está fazendo? Vai deixá-los fugir? Seu tolo, o Omi te convenceu com um beijo? – Ele tenta mover-se, mas o rapaz o mantém imóvel. – Eles valem muito dinheiro.
- Existem coisas mais importantes do que dinheiro. – Solta finalmente o aturdido ruivo, se colocando diante dele e encarando seus olhos. – Por que nunca me disse? Sei que fiquei cego, mas... Por que nunca me disse de verdade?
- Do que está falando? – Grita, apontando na direção em que os dois foram. – Eles estão fugindo.
- Deixe que fujam. Pelo menos eles têm coragem. – Coloca a mão sobre o peito do alemão, em uma atitude de enfrentamento. – Quero saber por que nunca foi claro sobre o que sentia por mim?
- Como você... – Pela primeira vez na vida Schul fica sem palavras.
- Ele me disse. E não me pediu nada em troca por essa informação. – Fala com ironia. – Fez isso apenas por mim. E... Por você.
- Eu... Sabia que não sentia nada por mim. – Os olhos do ruivo evitam, de todas as formas, o rosto ansioso do rapaz. – No máximo, era meu amigo.
- Por acaso você leu minha mente? – Schul rapidamente balança a cabeça, temendo que Nagi pense o contrário. – Então como poderia ter certeza? Você foi covarde, isso sim.
Ele se volta e começa a andar na direção da saída. O alemão ainda olha uma última vez para os alvos se afastando, mas decide seguir o rapaz que o deixa, o alcançando já fora do aeroporto, segurando-o pelo braço.
- Eu faço tudo por você. Até deixei os dois partirem. Apenas porque é o que você deseja. – Sua voz muda de tom, de uma forma que nem ele mesmo se acreditava capaz. – E admito que fui um covarde. Você me perdoa?
Isso faz Nagi se voltar para o ruivo. Nunca o ouvira falar dessa forma, seu tom rude e sarcástico não estão presentes nessas palavras, mas algo doce que nem sabia que ele poderia ter. Vê em seus olhos o quanto realmente Schuldich o ama e seu coração dispara. Sente um arrepio e se pergunta o que é aquele sentimento que nutre pelo alemão a sua frente.
- Mein liebechen, será que você pode me amar? – Seu olhar apaixonado suplica por uma resposta.
- Demorou pra perguntar. – Nagi abre um grande sorriso, incomum para ele. – Ser amado dessa forma é muito bom! Vou gostar disso.
- Acho que minha cota de gentileza não vai muito longe, mas posso treinar... Por você. – O alemão diz sem graça, pouco acostumado a tudo isso.
- Tudo bem! Chega de conversa. Se quer me beijar, que seja logo. Assim vou acabar desistindo. – Nagi diz, ansioso.
O ruivo o beija delicadamente, ainda inseguro de algo que lhe parecia tão irreal há poucos momentos, mas se deliciando com o sabor doce daquela boca, o perfume que lhe invade os sentidos, percebendo que o mundo parou... Por apenas alguns instantes.
- O Brad vai me matar! – Schul se afasta com um sorriso estranho em seus lábios. – Deixamos os dois escapar e ainda estamos nos envolvendo.
- Dane-se o Brad! E se ele tentar te matar, eu o mato antes. – O alemão percebe que ele não está brincando.
ooOoo
Omi e Aya chegam ao embarque particular, ainda olhando para se assegurarem que ninguém os segue. A expressão do ruivo não é das mais felizes, olhando o arqueiro com reprovação.
- Precisava de tudo aquilo? – A expressão dele está bastante contrariada.
- Do que está falando? – O loiro o observa sem saber o que o deixara tão irritado.
- Aqueles beijos... Todo aquele agarramento. – A voz dele revela certa raiva. – Você sabe do que estamos falando.
- Você está com ciúme? – Um sorriso maroto ilumina a expressão do rapaz, que até então estava realmente preocupada.
- Não é isso. – Ele evita os olhos azuis, pois é exatamente isso que sente. Procura se acalmar e se recompor. Não gosta de perder o controle da situação, principalmente de si mesmo. – Sua jogada podia não ter dado certo e você seria capturado.
- Eu me entreguei pra ele. – Dessa vez os dois se olham. – Prometi ir sem resistência se deixasse você partir.
- O quê? – Tudo isso volta a deixar o ruivo bastante nervoso. – Eu não concordei com isso!
- Por isso não te disse o que faria. – Omi não pensa em se justificar.
- Mas nós teríamos vencido o rapaz se o enfrentássemos juntos. – Aya não consegue entender a sua atitude. – Eu quis reagir, mas você não permitiu.
- Eu não podia deixar isso acontecer. – Pisca nervosamente, sabendo que o momento que temia é este. – Tinha uma dívida com ele.
- Sei que vocês tiveram um relacionamento... – Não pode negar que isso o incomoda. – Mas por que devia algo a ele?
Aya então percebe o quanto isso atinge o seu garoto. Seus olhos se abaixam e começa a apertar as mãos. É claro o seu nervosismo. Tudo isso é claramente doloroso para ele e o ruivo se arrepende de ter se irritado ao ponto de fazer essa pergunta. Há muito notara que tudo relacionado ao período em que estivera sob o efeito do feitiço perturbava demais o Omi.
- Bem... Eu... – Sua respiração é pesada.
- Deixa pra lá! O que está no passado deve ficar por lá. – Nota a mudança imediata na expressão do seu garoto e isso é o bastante para deixá-lo feliz. – E não me importo com nada que tenha acontecido, só me importa o que tivemos e temos juntos.
Omi pula no pescoço do ruivo, chorando e o beijando com alegria. É como se o seu espadachim tivesse afastado para sempre a nuvem negra que sempre rondava o seu passado e deixasse bem claro que só lhe importava o que havia entre eles.
- Calma... Calma. O piloto nos espera. Precisamos ir. – O loiro se separa dele, mas o ruivo passa a mão por seu rosto. – Seque essas lágrimas que já vamos embora.
- Não! – Novamente ele reluta no momento em que devem partir. – Precisamos esperar.
- Por quê? – Dessa vez ele se cansa desse suspense.
- Não é 'por quê'... É quem estamos esperando. – A expressão do ruivo fica ainda mais intrigada.
Os dois então avistam Yohji e Ken se aproximando. O espadachim muda de expressão e olha para Omi contrariado novamente.
- Eu vou matar o Ken. Disse para não ir até o Yohji. Ele me prometeu. – O ruivo sussurra tais palavras entre dentes. – E você sabia?
- Não! Eles ligaram para o apartamento enquanto você estava no banho. Acabei convidando os dois para partirem conosco. – Rapidamente se explica, pois conhece muito bem essa expressão. – Não sabia para onde íamos, mas seria fácil comprar as passagens. O mais difícil foi ter que correr e ligar pro meu contato pra falsificar mais dois passaportes.
Os amigos ficam diante deles, Ken sabe muito bem o que a expressão de Aya significa e se sente muito constrangido por ter traído a confiança dele.
- Antes que você diga qualquer coisa ou me mate... – Se aproxima devagar. – Me deixe explicar.
- Explicar o quê? Está claro o que você fez, apesar de ter me prometido. – Os dois se enfrentam como se o 'objeto' em questão, que é o próprio Yohji, não estivesse presente. Este fica confuso com a discussão e olha para Omi com um olhar interrogativo.
- Juro que não tinha a intenção de me aproximar, mas aconteceu. Havia muita coisa dentro do meu coração que comandou minhas ações. – Ele segura firme na mão do playboy, que retribui carinhosamente.
Tanto Omi quanto Aya percebem o significado de suas palavras.
- Então finalmente os dois se acertaram. – Um sorriso irônico surge nos lábios do ruivo, os três o olhando intrigados. – Isso demorou!
- O que você quer dizer com isso? – O arqueiro se ressente por parecer ser o último a perceber algo que rolava no grupo. – Nunca notei nada.
- Essas são as vantagens de ficar calado. A gente observa melhor as pessoas. – Fala de forma tão natural que os surpreende. – E eu sempre soube o que vocês dois sentiam, mas não era eu que devia dizer. Vocês precisavam descobrir sozinhos.
Yohji avança e abraça o espadachim com força e Aya sente as lágrimas do amigo molhando sua camisa, retribuindo o abraço com carinho.
- Como eu senti sua falta! – Não consegue conter toda a avalanche de memórias que vêm assolando sua mente. – Mesmo não lembrando das coisas... Eu sentia a falta de um amigo verdadeiro... E esse é você.
- Também senti sua falta, meu amigo. – O ruivo novamente engole em seco, evitando que sua voz demonstre toda a dimensão do que sente. – Vocês são minha família.
O loiro se afasta e olha então para Omi. Este parece um tanto triste quando os olhos dos dois se encontram.
- Por que essa carinha triste, Omittchi? – Ele toca o rosto do rapaz com delicadeza.
- Eu pensei estar fazendo o bem pra você quando tirei sua memória. – Sua voz vem carregada, um longo suspiro demonstrando sua tensão. – Era o que desejava, mas deixou você mais infeliz.
- Não se preocupe com isso. Você me deu o que eu queria. O erro foi meu em querer fugir. Não se culpe. Você só foi o meu irmãozinho. – O loiro o abraça com força e dois choram muito, não pensando em represar os fortes sentimentos.
Esse abraço é algo que os faz voltar ao passado, antes daquela fatídica noite que precipitou tudo para a situação difícil em que se encontram. Podiam não viver uma vida idílica, mas sempre tiveram uns aos outros.
- Eu estou é feliz em ter você de volta. Ver o Omi de verdade de novo. – Ken se junta ao abraço, pois também sente a mesma satisfação em ver e abraçar o pequeno arqueiro novamente.
- Muito bem! Sinto interromper o encontro emotivo, mas precisamos ir. – Aya já se encaminha para o portão que dá acesso à área do aeroporto de onde saem os aviões particulares.
- Certo. Mas você ainda não me disse para onde vamos. – Omi continua a acompanhá-lo com dificuldade, pois o ruivo anda em sua pressa habitual.
- Vocês vão ter um bom tempo de viagem para aprender a falar um pouco de português. – Vai falando sem olhar para ele e sem parar sua caminhada. – Vamos até Sidney e tomamos um avião comercial para a África do Sul. De lá, vamos para o nosso destino.
- Que é? – Dessa vez é Yohji que se mostra curioso.
- Vamos para o Brasil. Lá existe uma cidade que é a maior colônia japonesa fora daqui. – Ele fala novamente sem olhar para eles. Seu objetivo primário é o avião a sua frente. – Pelo menos vamos nos sentir um pouco em casa.
- Um país tropical? – Ken suspira.
- Não é o Rio de Janeiro. Não tem praia. É uma cidade grande como Tóquio. Tem um bairro oriental e consegui um lugar pra ficarmos temporariamente. Depois conseguimos uma casa. – Pára e se volta para os três. – O que vocês acham?
Os sorrisos e olhos dos três revelam toda uma perspectiva de esperança que se abre diante deles. Afinal teriam uma vida nova, juntos novamente como a família que haviam sido. Yohji é o primeiro a subir a escada do avião, estendendo a mão para ajudar Ken a fazer o mesmo. Aya e Omi entram juntos e se acomodam em seus assentos.
O avião está pronto para decolar. O ruivo abraça o seu garoto, como se quisesse dizer que tudo daria certo, o loirinho fitando os olhos violeta e fica emocionado, pois nunca o vira olhar para ele como naquele momento. Vê dentro daquelas ametistas todas as promessas de um futuro feliz. E sabe que ele vai cumpri-las.
- Omi, você sabe que eu te amo? – O ruivo se separa daquele abraço e observa com carinho aquelas duas safiras que ainda o fascinam.
- Mais do que tudo. – Aquele sorriso típico dele se abre. – Por quê?
- Você quer viver comigo pra sempre? – Diz isso já colocando uma caixinha vermelha em sua mão.
Sem nem mesmo abri-la, os olhos do loiro se enchem de lágrimas. Sabe muito bem o que vai encontrar em seu interior e suas mãos tremem.
- Ué... Não vai abrir? – Aya indaga, fitando-o.
O rapaz abre a pequena caixa devagar e suas lágrimas quase não o deixam enxergar as duas alianças de ouro que estão ali, juntas, uma do lado da outra. O espadachim então pega uma delas e coloca delicadamente no dedo do seu garoto, realizando um sonho que fora adiado por tantos anos. O loiro faz o mesmo, olhando diretamente nos olhos do seu ruivo... EAya se inclina e beija delicadamente os lábios daquele que derretera o gelo que envolvia o seu coração.
Omi sente que este beijo é o mais cheio de sentimentos que os dois já trocaram. Não havia mais medo ou dúvidas, só esperança. Abraça com força o seu amado, se perdendo no seu cheiro e no seu calor. Não queria que aquele momento se desfizesse de forma alguma. Os dois se amam, é só o que sabem. O futuro é um mistério, mas um delicioso mistério que será desfrutado... Juntos.
ooOoo
Os olhos dos shinigamis acompanham o jatinho que sobe, alcançando altura e tirando os Weiss dos Japão, levando-os diretamente para sua nova vida.
- Será que vai dar tudo certo pra eles? – Tsuzuki parece ver um raio de sol brilhante cortando o céu nublado. – Talvez seja um bom presságio.
- Tudo vai dar certo, mas se houver qualquer problema nós vamos ajudar. – Hisoka olha firmemente para o seu parceiro. – Não é?
- Claro! – Os olhos violeta se voltam para ele acompanhados de um sorriso. - Não tenha dúvida, mas não precisamos deixar o Tatsumi saber disso.
- Qualquer coisa nós adicionamos mais alguns anos no nosso tempo de serviço. – O garoto solta uma risadinha sarcástica que contrasta com sua seriedade habitual. – Você já está acostumado com isso.
Tsuzuki então tira um pequeno pacote do bolso do sobretudo. Sua expressão se transforma, se assemelhando a uma criança na noite de natal. Ele abre o embrulho, rasgando o papel sem nenhuma paciência e Hisoka sorri com a imagem, ficando satisfeito com a idéia que tivera. À visão do pequeno aparelho de MP3 o moreno delira. Sempre quisera um daqueles.
- Você se lembrou! - Seus olhinhos ficam cheios de lágrimas de alegria. – Eu sempre desejei um desses, mas nunca tinha dinheiro pra isso.
- Não se acostume com isso. Sabe o dinheiro que economizamos na última missão? Eu manipulei os números dos gastos e fiz sobrar exatamente pra isso. – Suas palavras são como um aviso. – Mas o Tatsumi é muito esperto e não pode ser enganado duas vezes.
- Então você cometeu uma fraude só pra me comprar um presente? – Tsuzuki faz menção de abraçá-lo, mas Hisoka o afasta.
Não pode ser abraçado assim diante de tanta gente. Seu parceiro sabe como o garoto fica constrangido com essas coisas e desiste sem reclamar, concentrando-se em ouvir as músicas que vinham gravadas no aparelho ultramoderno.
- Escuta essa! Adoro essa música. - Ele então se agita e se volta para o shinigami a seu lado, que olha o avião que ainda se afasta. – É a sua música.
- Minha música? – Hisoka olha para ele curioso. – Não sabia que tinha uma música minha.
- Eu já a ouvi e escolhi pra você. O nome dela é Dead Boy's Poem (Poema do Menino Morto) e você é o próprio garoto do título. Vou voltar à música. – Ele tira um dos fones do seu ouvido e coloca na orelha do parceiro. – Ouve do começo e diz se não é sua história.
Um breve silêncio antes de iniciar a música faz Hisoka pensar em como era sua existência antes de conhecer Tsuzuki. Preferia não se lembrar da solidão, mas ela existira, então...
" Nascido do silêncio, silêncio cheio de si
Um concerto perfeito, meu melhor amigo
Tanto pelo que se viver, tanto pelo que se morrer
Se apenas meu coração tivesse moradia."
Os olhos do garoto ficam vidrados. Algo dentro dele se abre para lembranças que ele escondera no ponto mais profundo de sua mente. Tsuzuki curte a música sem perceber como aquelas palavras o afetam.
"Cante o que você não pode dizer
Esqueça o que você não pode jogar
Apresse-se para entrar em belos olhos
Caminhe com minha poesia, essa música agonizante
Minha carta de amor para ninguém."
Todas as noites em que se sentira sozinho, cada vez que ouvira de seus pais que era uma aberração, que não era filho deles, tudo isso volta à tona... E o amor que nunca recebera de ninguém, até conhecer o Tsuzuki. Nenhuma pessoa se importara quando ele adoecera, ficando sozinho por três anos de sofrimento e tudo isso sem nem sequer deixarem cair uma lágrima.
" Nunca anseie por um mundo melhor
Ele já está pronto, ponto final
Cada pensamento da canção que escrevo
Tudo eu desejo para a noite."
A cada gemido de dor não tivera a mão de alguém que o conhecesse ou se importasse. Como nunca houvera em toda a sua infância qualquer demonstração de amor. Mas todo dia tinha a esperança de que as coisas podiam ser diferentes se tentasse ser um bom menino, mas mesmo assim não tinha ninguém que quisesse tocá-lo.
"Escrito para o eclipse, escrito para a virgem
Morto pela beleza aquele no jardim
Criou um reinado, alcançou o conhecimento
Falhou em se tornar um deus."
E estava correndo de casa naquela noite, pois ouvira os pais falando dele e como seria bom interná-lo em um sanatório. Correra até o parque e encontrara Muraki... A lua vermelha brilhando no céu. Os olhos do homem ficaram deliciados com sua beleza juvenil e por isso morrera naquele dia, debaixo da árvore de cerejeira. Naquela noite morrera, mas já se sentia morto há muito tempo.
Sua atenção então volta à realidade quando um casal de meia idade passa diante deles, com um séqüito de criados os seguindo. A mulher esbarra no garoto e então se volta para desculpar-se. Os dois se encaram, os olhos diretamente ligados pelo espanto.
- Hisoka?! – A mulher parece totalmente incrédula.
"Se você ler essas linhas, lembre-se não da mão que a escreveu
Lembre-se apenas do verso, o choro de um compositor, aquele sem lágrimas.
Por quem eu tenho dado a força e isso se tornou a minha própria força.
A moradia confortável, o colo da mãe... Chance para a imortalidade.
Onde ser querido torna-se uma emoção que eu nunca conheci
Um suave piano escrevendo minha vida."
- Mãe... – Hisoka se encolhe junto de Tsuzuki, que o abraça sem nem sequer notar o que está acontecendo. O garoto evitando os olhos que o procuram. Se esforçando para sua voz sair. – Podemos ir embora?
- Claro! Vamos. – Tsuzuki diz, os dois ainda ligados pelo fone de ouvido. Eles voltam às costas para a mulher que ainda os observa e começam a se afastar.
"Ensine-me a paixão para que eu a possa sentir partindo
Mostre-me o amor, segure a tristeza
Há tanto que gostaria de dar aqueles que amo
Desculpe-me
O tempo dirá (esse amargo adeus)
Eu não vivo mais para envergonhar você ou a mim mesmo"
Ele se vira para olhar para trás e seus olhos se encontram novamente. Ela tem lágrimas nos olhos... Uma profunda tristeza marca seu rosto muito envelhecido para sua idade.
"E você... Desejo que eu não sinta nada mais por você..."
Hisoka deixa cair uma lágrima, mas percebe que ela está vendo e isso o incomoda. Volta a abraçar Tsuzuki, que o puxa mais para si e nota suas lágrimas.
- O que houve? – Indaga, preocupado com aquelas lágrimas, tão raras em seus olhos. – Foi a música?
- Sim, foi a música. – Sua voz sai estrangulada pela dor.
"Uma alma solitária... Uma alma do oceano..."
- Você sabe que eu te amo, não é? – Tsuzuki fica diante do garoto, colocando a mão sob seu queixo e levanta seu rosto, até ter seus olhos diante dos seus. – E nunca mais vai se sentir sozinho.
Tsuzuki o beija delicadamente e o abraça com força. Os soluços de Hisoka ecoando em seu coração, desejando acabar com toda aquela dor sem saber como. Olha com reprovação para a mulher que os observa e desaparecem no ar.
Logo estão novamente nos jardins da Enmacho. Toda a paz daquele lugar onde os dois descobriram aos poucos o que sentiam um pelo outro os acalmando. Ali continuarão seu trabalho e um dia poderão deixar para trás as coisas tristes que passaram, criando um novo futuro onde suas almas poderão encontrar finalmente a paz, pois já tem muito amor.
FIM.
ooOoo
E 'A Lua do Lobo' chega ao fim... TT Custou, mas finalmente ela está publicada por completo! Há um carinho especial da minha parte por essa fic... Minha primeira... Aquela que me aproximou desse mundo, que estreitou minha amizade com minha beta e amiga Yume Vy.
E mais do que uma simples fic, 'Lua' é a minha declaração de amor por Weiss Kreuz, um universo cheio de sentimentos e emoções, com personagens tão ricos que me possibilitaram criar esta história mesmo sendo absolutamente Canon. Sinto como se com ela redimisse o Omi que me entristeceu ao assistir Gluhen, recuperar a esperança que parecia ter morrido nos olhos de Ken, trazer de volta o Yohji e dar um futuro ao eternamente amargo Aya. Esse é o fim que imaginei para eles... Ou seria um novo começo?
E para não desmerecer, ainda me emociono com Yami no Matsuei, que me entregou nas mãos esses dois personagens maravilhosos, separados do nosso mundo pela dor e unidos na morte, marcados pelo passado que ainda os faz sofrer. Sem esquecer um dos melhores vilões de animes... Muraki!
Agradeço de coração a minha beta, que venceu todas as dificuldades que a vida lhe apresentou para conseguir concluir essa betagem. Às excelentes amigas que fiz neste fandom e que partilharam comigo a alegria de escrever 'Lua'. E a todas as pessoas que curtiram essa fic, mesmo que não tenham deixado review, pois eu sei que não foi fácil esperar tanto tempo por sua conclusão.
Impossível não citar a maravilhosa música que embalou o final desse capítulo, que desde o instante em que ouvi me fez lembrar de Hisoka e sua tristeza, ele próprio o 'Garoto Morto' de quem fala a música... Aquele que viu na morte o fim de todo o desamor que vivia. E é o Nightwish que nos faz chorar com "Dead Boy's Poem".
Espero que gostem e COMENTEM!!
02 de Setembro de 2008
02:36 PM
Lady Anúbis