Título: Crawling
Ficwriter: Felton Blackthorn
Classificação: N-17
Casal: Harry e Draco
Disclaimer: Essa história é baseada nos personagens e situações criadas e pertencidas a J.K. Rowling, várias editoras e Warner Bros. Não há nenhum lucro, nem violação de direitos autorais ou marca registrada.
Resumo: Nem todas as prisões são feitas de grades, todos sabem disso, ou pelo menos deveriam. Porém, o que talvez nem todos saibam, é que o amor é, de longe, a mais cruel de todas elas...

Crawling

EPILOGO

Ashita anata no kimochi ga hanarete mo
Kitto kawarazu aishiteiru
Ashita anata ni boku ga mienakute mo
Kitto kawarazu aishiteiru

Amanhã, mesmo que seus sentimentos se separem de mim,
Com certeza continuarei te amando.
Amanhã, mesmo que você não possa me ver

Com certeza continuarei te amando.

Draco Malfoy abriu os olhos. Sentiu-se como se dormisse há muito, muito tempo e então acordasse um sonho.

Não era um sonho.

Tinha certeza de que aquele quarto ridiculamente claro pertencia a Harry Potter.

Harry Potter.

Pensar naquele nome foi como libertar uma gama inacreditável de recordações, a grande maioria dolorosa. Draco lembrou-se de tudo. Lágrimas juntaram-se nos olhos cinzentos, mas não chegaram a cair. Sentia-se arrasado, usado. Traído.

Ergueu uma mão trêmula e observou. O laço que prendia seus sentimentos havia desaparecido. Durante anos vivera esquecido de algo tão forte porque Lord Voldemort o amaldiçoara e roubara o que lhe era mais precioso. O amor por Harry Potter.

Mover a mão e tocar o pescoço foi um ato de puro instinto. Tocou e sentiu a pele lisa. Nada mais.

A coleira não estava mais ali. O Único Dever se fora.

– A maldição foi quebrada.

A voz assustou Draco mais do que o Auror gostaria. Seu primeiro desejo foi permanecer na mesma posição, fugindo ao confronto que lhe dava medo.

Mas não podia fugir pra sempre. Respirou fundo e piscou tentando libertar-se das lágrimas que embaçam sua visão ainda teimando em não rolar. Só então Draco saiu da letargia. Lentamente ele virou-se na cama e encarou Harry Potter sentado numa cadeira a cabeceira de sua cama. Os olhos arregalaram-se na mesma proporção do assombro que o acometeu.

– Hermione quebrou o vínculo. Descobrimos que não existe Contra-Maldição, somente um jeito de enganar a magia. – o Inominável informou. Foi com extremo pesar que viu o loiro se encolher um pouco, a face lívida e assustada. Não podia recriminá-lo depois de tudo que acontecera. O que não diminuía a sensação ruim de ver a pessoa amada com receio da sua presença.

Harry Potter tinha que assumir o preço de seu ato: pagava por ser inconseqüente e não se controlar na hora mais importante.

– Seu... braço... – Malfoy sussurrou cansado de tudo aquilo.

Harry balançou a cabeça:

– Hermione descobriu a falha do Bem de Direito. – Potter foi falando muito calmamente, parecia se referir a outro que não ele mesmo – O bracelete é vinculado ao pulsar do coração de um Dominador. Mione usou um Sectusempra para cortar o meu braço.

Perder o braço fora um preço pequeno. Graças a isso a sensação eminente de suicídio saíra da mente do ex-Gryffindor e salvara a vida de Draco Malfoy. Levaria tempo até aprender a fazer tudo com o braço esquerdo, mas valia a pena.

Os rapazes ficaram em silêncio. Draco incomodado, sem saber o que fazer. Queria ir embora dali. Sentia uma dor que pouco tinha de física. Seu coração fora destruído e ele não sabia se teria forças pra recolher os pedacinhos outra vez.

Antes conseguira recomeçar sua vida por que Potter fora a força que norteava cada um de seus passos. O amor que tinha pelo ex-Gryffindor o motivara a fugir da prisão de Voldemort e procurar abrigo entre os agentes da Ordem da Fênix. Não existia nada mais importante para Draco até ser obrigado a esquecê-lo.

Mas agora tinha que reunir seus pedacinhos, justamente por culpa daquele que fora a sua luz da salvação. Em que poderia se agarrar para continuar seguindo em frente? Parecia que o solo fora arrancado de seus pés, impedindo-o de dar mais um passo de forma segura. Draco não sabia como continuaria dali em diante.

Num clima tão ruim Harry tomou fôlego e preparou-se para fazer o que deveria ser feito:

– Eu realmente sinto muito Malfoy. Por tudo o que eu fiz, por usar o Bem de Direito e obrigá-lo a... – engoliu em seco diante do olhar magoado que mirava o outro lado, fugindo do confronto. As palavras de Monroe vieram a sua mente e ele recordou-se do detalhe mais importante para ativar a maldição do Libertinus: o amor de um Dominador tinha que ser correspondido por seu Submisso.

Draco Malfoy o amava também. Implorava que não fosse tarde demais para ambos.

– Monroe está morto. – Harry continuou – E o Libertinus está destruído. Nenhum bruxo será escravizado novamente. Não pelo Único Dever. Se tivéssemos descoberto isso antes talvez Dean e Seamus...

Outra vez o silêncio reinou entre ambos. Não era nada fácil. Harry sabia que errara feio com o Auror. Que talvez não houvesse perdão. E se arrependia mortalmente disso.

– Eu, – o moreno começou – durante a Guerra cometi muitos erros, Malfoy. Tudo era questão de matar ou morrer. Mas teve uma batalha que me marcou profundamente. Foi a batalha em que matei Pansy Parkinson.

O corpo do loiro retesou-se. Ele não encarava Harry, mas prestava atenção em cada palavra.

– Parkinson estava lutando desesperadamente. Acho que era uma das pessoas que mais queria sobreviver. – respirou fundo – Quando percebi estávamos frente a frente, varinhas apontadas. Então ela olhou pra mim com desprezo e disse: "O Grande Harry Potter. Eu te odeio, Potter. Você teve todas as chances que quis. Eu só precisava de uma. E nunca a tive.". Nós lançamos os feitiços e eu fui mais rápido que ela.

Silenciando por um segundo, Harry notou as lágrimas silenciosas deslizando pelo rosto pálido. Entendia a dor do Auror, a dor de perder um amigo que nunca seria substituído. Eram lembranças que o tempo levava embora, mas a dor sentida nunca se apagaria. Recordar aqueles dias de guerra era como voltar ao cenário de morte e sofrimento, encarando tudo de frente.

– Eu tive chances, Draco. Muitas chances. Mas eu queria apenas uma, a única chance que eu não tive. Você. Era tudo o que eu queria, tudo o que precisava.

Draco sentia-se incapaz de dizer qualquer coisa. O destino parecia zombar cada vez mais de si, brincando e bagunçando tudo. Quantos enganos, quantos mal entendidos!

Se um soubesse dos sentimentos do outro antes... tudo parecia uma sequência infinita de maus entendido e desacertos. A relação entre eles começara de forma errada e seguira assim desde então. Sempre que uma chance de se acertarem aparecia, de um jeito ou de outro, acabava terminando tudo desastradamente.

Draco recuperara suas preciosas memórias. Descobria que o forte sentimento era correspondido por Harry e então... ali estavam eles sem ao menos conseguir olhar nos olhos um do outro. Que destino.

Dizer para Harry "eu te amo" fora seu mais profundo desejo durante anos. Agora se sentia incapaz de fazê-lo.

– Você tinha sua chance... – Malfoy sussurrou, a voz ferida revelava a dor que sentia – E estragou tudo.

Potter sabia a que Draco se referia. Monroe devia estar certo. Draco devia sentir alguma coisa em relação a si. O que Harry não entendia era como ele podia esconder aquilo tão bem, e manter tudo em segredo.

Havia muitas coisas mal explicadas. O próprio desaparecimento do Laço Negro era um mistério. Harry queria ter todas as peças para entender o quebra-cabeças que pairava em sua vida.

Mas devagar, sem forçar a barra daquela vez. Não queria causar mais dor a Draco Malfoy. O que não significava ter que desistir do que sentia. Do que ambos sentiam.

O Inominável reuniu coragem para seguir com suas palavras:

– Sinto muito ter estragado tudo e ferido você. Pode me odiar por toda a vida, mas eu ainda o amarei. Esse não é o fim.

Vencendo a vergonha e o medo Draco ergueu os olhos cinzentos, querendo descobrir o que Harry Potter queria dizer com aquilo. E o moreno continuou:

– Continuarei pesquisando sobre a Maldição do Laço Negro, para salvar sua mãe. E vou fazer acontecer da forma certa: vou conquistá-lo, Malfoy. Um pouco a cada dia. Farei corretamente, pra que me ame e que não haja mais arrependimentos. Pode ficar em minha casa o quanto precisar, mas é livre para partir. A Maldição do Libertinus acabou.

O moreno esperou que Draco dissesse alguma coisa. Mas o ex-Slytherin não parecia ter vontade de falar nada. O Garoto Que Venceu continuou:

– Monroe me disse que deixou tudo registrado em um diário e uma Penseira. Pretendo encontrar e ajudar os outros Submissos que ainda estão presos pelo Único Dever. Não sei se a Doença Misteriosa poderá se manifestar outra vez. Espero poder ajudar de alguma forma.

Aguardou algum comentário que não veio. Então Harry ficou em pé. Despediu-se com um gesto de cabeça:

– Depois te darei todos os detalhes que quiser saber, se quiser saber de algo. Agora descanse. Você esteve dormindo por cinco dias, enquanto a Mancha Rósea desaparecia devagar.

Com um último olhar saiu do quarto.

Draco respirou fundo. Estava confuso e assustado com tudo isso. Ainda não se sentia capaz de perdoar Harry pelo que acontecera entre eles. Amava o ex-Gryffindor e agora se lembrava desse sentimento.

Mas doía demais pensar em como Potter fora cruel na manipulação do Único Dever. Como o usara de forma baixa e vil.

Por outro lado precisava de um tempo para pensar. Dizem por aí que o tempo cura tudo, fecha qualquer ferida. Talvez devesse dar tempo ao tempo, esperar as coisas acontecerem mais naturalmente.

Pensou em sua mãe e em quanto tempo não a via. Sentia falta dela. Estivera perto da morte e nao tivera a chance de se despedir, de dizer como ela era importante em sua vida e em como haviam pessoas tentando salvá-la daquela maldita maldição do Laço Negro.

Antes de decidir o que faria com relação aos seus confusos sentimentos precisava sentir-se seguro e protegido novamente. Se possível amenizar o sentimento de ter sido usado e manipulado. Queria poder usar um Obliviate e apagar todas as lembranças ruins de sua mente.

"Eu tive chances, Draco. Muitas chances. Mas eu queria apenas uma, a única chance que eu não tive."

A chance que Harry queria era a chance que Draco queria. Ambos desejavam, precisavam da mesma coisa. Mas, naquele momento, Malfoy sentia que era importante se reestruturar, porque a ansiada chance escapara de suas mãos novamente.

Mas não importava realmente. Não naquelas circunstancias de dor e sofrimento, através de um alto preço exigido.

Por enquanto era mais importante voltar pra casa, se recuperar e por as coisas em ordem e, quem sabe um dia, reavaliar seus sentimentos.

Draco sabia que seguiria em frente. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensava ele também era forte. Podia dar um passo de cada vez.

Dizem por aí que o amor quando é forte o bastante vence todas as provas e cura todas as feridas. Talvez um dia aquilo não doesse mais. Talvez finalmente pudessem ter a chance desejada e sempre perdida.

Talvez...

Fim

Harry & Draco

O epílogo começou com um trechinho da música "Cassis" da banda the GazettE, porque eu sei que a Sam gosta muito e se encaixa bem na idéia desse fim.

Então. Eu demorei dessa vez por dois motivos, primeiro estava tentando melhorar o epílogo, mas isso foi o máximo que consegui fazer. Eu realmente não acredito em perdão fácil. Se o Harry quiser o perdão, vai ter que merecer, e mesmo assim acho que não seria a mesma coisa. Comigo, com certeza, não seria.

Segundo, eu não sabia bem o que dizer aqui. Cumpri minha palavra mais uma vez, terminei outra fanfic. Estou borbulhante, acho que vou tomar uma cerveja pra comemorar, alguém acompanha? Rsrs.

Puxa, eu nunca pensei em detalhar muitas coisas em Crwaling, tipo, todo o mistério da sala ébano, em momento algum parei e pensei "Acontece assim, assim e assim" – deixei só o mistério.

Por outro lado, tem coisas que eu queria ter aprofundado mais, como a relação Monroe x Morgan. E correria o risco de fugir e escrever apenas de PO. Desisti disso. Ah, mas aquela diquinha... tá certo: dei uma diquinha bem no começo, quando o Harry conversa com ele sobre os desenhos das coleiras e o Monroe diz tipo "eu camuflo bem o que eu sinto"... era pra ter ficado um ar de suspeita, mas acho que demorei tanto pra atualizar, que isso se perdeu. Uma pena.

Também queria explorar mais a maldição do laço negro. Amo ironias, e acho que essa foi uma das maiores dessa fic, quer dizer, Voldemort lançou-a achando que se vingaria dos Comensais, e no fim isso era o que mantinha Draco a salvo e protegido da Doença Misteriosa, que no fim foi mais forte e invocou o amor que Draco sentia.

Acho que no fim nem era uma doença tão misteriosa assim, ou será que era?

Também gosto muito de subjetividade. E acho que a Rowling pecou um pouco nisso. Tipo, você sempre sabe o que vai acontecer quando lançam um feitiço, não importa em quem seja, o resultado é o mesmo.

Gosto de criar feitiços que agem de acordo com o individual. Comecei em h2h com a Maldição Equivalente, que tem resultado diferente de acordo com o que cada pessoa julga importante pra si. O mesmo pra essa maldição do laço negro (que não tem nome, porque ninguém descobriu mais detalhes sobre ela), que priva a pessoa de coisas que ela ama.

Super imagino Lucius no mundo Muggle, perfeitamente lúcido, mas talvez incapaz de se comunicar, algo similar a Narcissa, cercado por não-bruxos, longe de sua família, de sua ancestralidade. Acho que nem ele nem a Narcissa vão ter um elo tão forte quanto o que o Draco tinha com o Harry para se libertarem.

Mas são apenas especulações.

Essa fanfic nasceu como um presente para a querida Samantha Tiger, e ganhou proporções maiores do que eu esperava. Ah, se eu soubesse o que aqueles e-mails doidos iam render...

Eu paro e penso no tempo que levei para finalizar isso. Anos... realmente anos. Mas finalizei. E pretendo finalizar todas. Merlin seja testemunha.

Então, respirando fundo, pra todos aqueles que estão aqui, desde a primeira postagem anos atrás, pros navegantes que se juntaram no decorrer da aventura e pros futuros curiosos que eventualmente passarem por aqui...

Muito obrigado.

Muito obrigado pelo acesso, pela leitura fiel, pelos pensamentos positivos, por compartilhar os momentos de emoção, pelas reações inusitadas, pela recordação que essa história vai fazer e me deixar como algo que beire uma boa recordação.

Muito obrigado pela paciência, pelo incentivo, por nunca desistirem.

Muito obrigado.

Esse não é o fim. A jornada ainda é longa e tenho três fanfics para terminar. Um passo de cada vez, mas sempre em frente!

Vejo vocês por aí!

Felton Blackthorn.