Capítulo 5

Hermione estava sentada na cama, a mais longe da porta, abraçando a si mesma com os braços e se balançando. As lágrimas haviam acabado novamente; ela estava cansada de chorar, cansada de maquinar, e planejar, e tentar manipular o homem em sua vida, e em seus braços, e em sua cama. A força irresistível tinha finalmente encontrado o objeto imóvel e a força irresistível estava pronta para admitir a derrota. Talvez fosse melhor cortar o pouco tempo dela em Hogwarts e mandar corujas para Beauxbatons e Durmstrang para ver se as vagas oferecidas já foram ocupadas. A Grã-Bretanha já não lhe atraía mais.

Sentindo-se bem cansada novamente, ela se esticou na cama e caiu no sono.

O som da porta abrindo a trouxe de volta à consciência. Ela estava de pé, com a varinha na mão, antes que Tonks tivesse fechado a porta.

– Caramba, Hermione! – a auror disse, trancando a porta Francesa atrás dela e caindo na cama mais próxima com uma expressão beatífica no rosto.

Hermione foi até a outra cama e olhou de cima para a Tonks, cujo cabelo estava ainda mais bagunçado que o normal, cujos lábios estavam inchados e manchados e cujo biquíni parecia estar no avesso.

Abrindo um sorriso carinhoso, Hermione se sentou na ponta da cama.

– Remo a encontrou, eu vejo – ela comentou.

– Ah sim. – Tonks a olhou. – Ele disse que você falou para ele que eu disse que ele era maravilhoso. Eu deveria lhe azarar.

Hermione bufou.

– Se você não estivesse tão podre para segurar sua própria varinha, eu estaria com medo agora.

Tonks suspirou alegremente.

– Eu tentei negar que tinha dito aquilo, mas ele percebeu tudo... – A voz de Tonks morreu sonhadora.

Hermione a instigou:

– Ele percebeu tudo... o quê?

Tonks fechou os grandes olhos e sorriu um sorriso secreto. Hermione bateu na bochecha dela docemente.

– Eu amo ver você assim, Tonks. Estou tão feliz por você.

Tonks se sentou repentinamente.

– Nós deveríamos estar nos preparando para sair para jantar fora e dançar!

Hermione voltou para sua própria cama.

– Bom, então é melhor você entrar no chuveiro. O que você vai vestir?

Tonks levantou e caminhou para o banheiro.

– Remo diz que nós vamos nos vestir elegantemente esta noite, então eu pensei em vestir aquele vestidinho preto. E você?

– Eu não vou a lugar nenhum, bobinha – Hermione disse.

– Se você acha que eu vou sair no meu primeiro encontro com o meu novo namorado e assistir Severo Snape amuado a noite inteira, você está errada, senhorita – Tonks disse alegremente. – Encontre alguma coisa sexy e se troque.

Hermione olhou feio para ela.

– Deixe-o aqui, então. Você e Remo merecem ter um encontro romântico sozinhos.

– Na noite passada você estava babando por ele e hoje você não quer jantar com ele? – Tonks disse, obviamente confusa.

– As coisas mudaram desde a noite passada, Tonks.

– Como por exemplo? – Tonks entrou no banheiro e abriu o chuveiro, deixando a porta do banheiro aberta para conversar com a Hermione.

– Como por exemplo eu ter dado um tapa na cara dele forte o suficiente para deixá-lo com um olho roxo e ter batido a porta na cara dele. Ele nunca mais falará comigo novamente. Sonserinos não gostam muito de humilhação.

Hermione ficou chocada quando a risada contagiante de Tonks viajou para fora do banheiro.

– Hermione, você não viu ele sentado no terraço e encarando a porta a tarde toda?

– O QUÊ?

– Ele ficou sentado lá como um morcego empoleirado ou algo parecido e não tirou os olhos da porta a tarde toda. Remo e eu olhamos ocasionalmente pela janela e vimos ele fazendo isso. – Tonks deu uma risadinha.

- Ah, entre os amassos vocês tiveram tempo de olhar pela janela? – Hermione perguntou, depois gritou quando a toalha de rosto molhada voou por sobre o box e a acertou no ombro. Por alguma razão, a notícia da vigília de Snape animou seu coração.

– Anda LOGO, Hermione! Ah, eu esqueci! Severo disse que eu deveria lhe dizer para usar aquele vestido verde e para deixar o seu cabelo solto.

– Ah, ele disse?

Tonks abafou sua risada enquanto se enxaguava e desligava o chuveiro. Ela sabia muito bem que nada faria Hermione se vestir mais rápido do que lhe dizer quais eram as instruções de Snape.


Trinta minutos depois, Tonks estava dando os toques finais na maquiagem quando as portas francesas rangeram. Hermione colocou os sapatos e foi abrir a porta. Lupin a tirou do chão e a girou no ar numa explosão de exuberância.

Hermione riu alto.

– Me coloca no chão, seu maluco!

Lupin sorriu para ela.

– Não posso fazer nada se sinto vontade de sair abraçando todo mundo que eu vejo, Hermione.

Uma voz arrastada falou da base da do terraço. – É verdade. Ele tentou me abraçar e eu tive que azará-lo.

Lupin passou por Hermione e entrou no quarto, e ela conseguiu ver Snape, que a observava da base da escada do terraço com uma expressão ilegível. Ele vestia um terno de seda bem cortado cinza cor de carvão com uma fileira dupla de botões, com uma camisa branca ofuscante e uma gravata verde floresta. Os cabelos negros, manchados de prata, estavam penteados para trás de sua testa. Parada lá olhando para ele, Hermione achou que ele parecia algum lorde aristocrata.

Snape riu para si mesmo quando viu como ela estava vestida. Hermione estava parada à porta, usando um vestido vermelho curto com um decote alto e decente e sandálias de salto alto vermelhas; seu cabelo estava alisado e arrumado num coque elegante. Lá se vai a idéia do vestido verde com o cabelo solto. Quando Lupin a rodou no ar, Snape viu que as costas do vestido eram cortadas quase até a cintura dela; ele também viu a calcinha rendada preta que ela vestia debaixo do vestido curto.

Com deliberação calma, Snape começou a subir os degraus para o terraço; Hermione se virou e fugiu de volta para o quarto, onde Lupin parecia estar beijando e tirando toda a maquiagem que Tonks tinha colocado. Hermione parou incerta, no meio do quarto; ela não estava muito confortável em interromper o casal, que ignorava sua presença. Enquanto ela parou considerando o que fazer, ela foi alertada da presença de Snape atrás dela pela eletricidade estática repentina no ar. Ele colocou uma mão no cotovelo dela e a virou para as portas francesas, dizendo em voz baixa:

– Nós nunca chegaremos ao restaurante se formos esperar por esses dois.

Com certa veemência, Hermione se desvencilhou de Snape e foi para o terraço.

– Mantenha suas mãos longe de mim, por favor – ela disse.
Snape sorriu maliciosamente e parou para pegar um lenço vermelho fino das costas da cadeira.

– Este é o seu lenço? – ele inquiriu, seguindo Hermione noite de verão adentro e fechando a porta silenciosamente atrás dele.

– Sim, obrigada – ela disse ríspida, arrancando o lenço dele. Como ela foi de uma rejeição resoluta a fazer parte de um grupo de quatro, incluindo o Snape, para estar sozinha com ele em um jantar a dois?

Snape esperou pacientemente que ela o precedesse para descer os degraus do terraço até a calçada, tomando cuidado para não seguir muito de perto que pudesse tocá-la.

– Lupin fez reservas no restaurante do próximo hotel – ele explicou ocasionalmente, acenando para ela andar com ele.

Hermione andou o mais rápido que pôde em seus saltos altos, tentando lembrar porque raios ela tinha escolhido se vestir como uma prostituta. Usasse o vestido verde logo! Ela vestiria o que ela bem quisesse. Estava tão brava com ele!

Ela se assustou um pouco ao ouvir Snape, que estava facilmente seguindo seu ritmo, dizer em sua voz mais suave:

– Diga, Hermione.

Ela se virou para ele, os punhos agarrando o fino lenço vermelho. – Eu estou FURIOSA com você!

Ele parou quando ela o fez e virou para encará-la, sua expressão aberta e desprotegida. Uma mecha do cabelo voara no rosto dela quando ela virou abruptamente; com uma brandura infinita, Snape usou a ponta dos dedos para tirar o cacho do rosto dela.

– Eu sei que está.

Em frustração, ela pisou duro.

– Não se ATREVA a ser bonzinho comigo, Severo Snape! Não se ATREVA. – Ela olhou feio para o rosto dele.

– Eu peço desculpas pelo que eu disse sobre o Lupin – Snape disse, sugerindo com um gesto de mãos que eles continuassem a andar para o restaurante do hotel.

– Ah, bem, ISSO resolve tudo – Hermione disse sarcasticamente, recomeçando a andar.

– Foi desnecessário – ele continuou.

– Eu não consigo imaginar por que você me diria uma coisa dessas – ela esbravejou com ele, andando mais rápido.

– Eu vi o Lupin lhe agarrar e rodar no ar; eu estava com ciúmes.

Ela lhe dispensou um olhar mordaz.

– Ah, por favor. Ele acabou de fazer isso de novo, por Merlin.

– Sim, mas eu já tinha azarado ele por tentar me abraçar, então eu não queria azará-lo de novo tão cedo – ele explicou apologeticamente. – Farei isso da próxima vez que o ver, entretanto, se você prefere.

Hermione parou novamente.

– Você está me zombando! Eu não posso acreditar que você está RINDO de mim quando eu estou tão BRAVA.

Snape parou na frente dela para poder olhar diretamente nos olhos dela.

– Eu não estou zombando, Hermione. Você tem muitas razões para ficar zangada comigo. Eu apenas achei que pudesse acessar a ofensa do tapa primeiro, para que possamos passar para as coisas pelas quais você REALMENTE está zangada comigo.

Para sua surpresa, ela pôde ver claramente que ele estava falando sério. Ele não estava ironizando ou sendo malicioso ou sendo ríspido; ele estava falando com ela com total sinceridade.

Completamente desalentador.

– Primeiro de tudo – ela falou ríspida, desviando dele para continuar andando até o restaurante do hotel –, você não tem direito nenhum de ter ciúmes de mim. Segundo, é óbvio até para um VERME que o Remo está totalmente passado pela Tonks.

– O Lupin está de fato bem tomado pela Tonks – Snape concordou, ignorando a primeira afirmação dela.

Hermione, com plena consciência, tinha que admitir para si mesma que ele havia lhe dado uma desculpa compreensiva pelo comentário do "apelo bestial".

– Eu aceito suas desculpas – ela declarou formalmente quando eles chegaram à entrada do hotel.

Snape colocou as pontas dos dedos no cotovelo dela por um momento fugaz, apenas para conduzir seus passos, quando um porteiro uniformizado abriu a porta para eles e eles atravessaram o saguão para o restaurante formal. Snape deu o nome do Lupin para o maître, e eles foram colocados numa mesa para quatro, elegantemente posta com cristal, prata e porcelana. Snape gastou um momento para lançar um olhar ameaçador para dois estranhos que haviam observado o progresso de Hermione através do saguão com interesse demais; ele teve a satisfação de ver ambos desviarem os olhos do olhar perigoso dele.

Hermione estava cega àquela troca de olhares; seus próprios olhos estavam vagando pela decoração majestosa do salão. Ela estava muito impressionada com os arredores, assim como um pouco intimidada. – Este lugar parece ser bem caro – ela disse hesitantemente.

Um garçom se aproximou deles com menus; Snape cortou o jovem ao dizer:

– Você se oporia se eu pedisse nosso jantar, Hermione?

Hermione estava completamente fora do seu elemento, e pela primeira vez em algum tempo, ela sentiu os vinte anos de diferença na idade deles. – Não, nem um pouco – ela disse polidamente, olhando para baixo para colocar o guardanapo de linho aberto no colo. Ela mordeu o lábio e perguntou-se quem era este homem educado e gentil e o que ele havia feito com Severo Snape?

Para disfarçar sua confusão, ela levantou o cálice de água de cristal e trouxe-o aos lábios. Do lado dele da mesa, Snape havia rapidamente folheado o menu e feito o pedido para o jantar deles, incluindo uma garrafa de vinho, em francês fluente. Surpreendida, Hermione esqueceu o que estava fazendo e acidentalmente engoliu um cubo de gelo.

Snape observou ela tossindo do outro lado da mesa com um deleite pecaminoso, refletindo que fora uma idéia inteligente dele estudar o menu do restaurante no quarto antes de usar o estranho telefone para ligar e fazer a reserva para quatro no nome do Lupin. Se ele conseguisse mantê-la desequilibrada assim tão bem, as coisas poderiam progredir mais facilmente para ele quando chegasse a hora de discutir as outras reclamações que ela tinha contra ele.

Hermione usou o guardanapo de pano para secar a água que havia escorrido em seu queixo. Ela não tinha idéia de como ele fizera isso. Uma hora atrás ela estivera enfurecida com o seboso, enfurecedor, e desagradável mestre de Poções; agora ela se confrontava com o imaculado, cortês, e refinado estranho do outro lado da mesa, que a assistia com uma nova conduta alarmante. Como ela poderia ficar brava com alguém que ela nem reconhecia?

O garçom eficiente voltou à mesa deles com a garrafa de vinho, embrulhada num pano branco imaculado. Hermione observou com fascinação enquanto o jovem apresentava a garrafa para Snape, que olhou para o rótulo e acenou com a cabeça em aprovação. O garçom então usou um saca-rolha para abrir o vinho, o qual ele colocou em uma taça e ofereceu para Snape. Snape pegou a taça e girou o vinho, experimentando o aroma com seu nariz avantajado; depois, ele tomou um gole. O garçom parecia agitado até que o Snape acenou com a cabeça para ele, o que fez o jovem ansioso abrir um sorriso aliviado. Snape indicou que o garçom deixasse o balde de gelo em seu mantedor ao lado de sua cadeira e o dispensou, inclinando-se para colocar o líquido pálido na taça de Hermione.

– Eu acredito que você vai gostar dessa safra – Snape disse graciosamente –, é bem suave e complementará o peixe muito bem.

Hermione esperava que não parecesse tão desorientada quanto se sentia. Ávida por algum vestígio de sua razão, ela se sentou ereta na cadeira e disse:

– Professor Snape...

Ele levantou as sobrancelhas de modo inquiridor. – Eu achei que tínhamos concordado em nos tratarmos pelos primeiros nomes, Hermione – ele a repreendeu.

Ela continuou, ignorando a interrupção:

– Por favor, não tente mudar de assunto. A discussão da noite passada na piscina...

– Sim, exatamente. Devemos considerar aquelas questões completamente. Mas não durante o nosso jantar, talvez? Podemos combinar de discutir este assunto quando deixarmos a mesa?

Estaria ela cometendo uma gafe ao desejar rever isso na mesa do jantar? Hermione sentiu o rosto corar de vergonha, o que ela tentou cobrir bebendo da taça de vinho.

Snape se parabenizou mentalmente por estar manejando-a tão bem, até ali. Olha para aquele rosto – a pequena grifinória estava realmente se sentindo confusa por querer repreendê-lo por tudo o que ele tão ricamente merecia! Não era realmente uma luta justa; ela tinha metade de sua idade e não chegava nem perto do arsenal de armas que ele possuía. Contudo, ele era o sonserino, então a falta de eqüidade não o impedia de curtir a confusão dela em suas mãos.

Polido como vidro, Snape iniciou a conversa falando a respeito de poesia francesa, o que estimulou o interesse de Hermione, e eles passaram o tempo da espera pelo jantar comparando Baudelaire e Rimbaud. Ele sabia que ela falava francês e achou que poderia impressioná-la se descobrisse que ele também falava. De que outra maneira a garota tola achava que ele se mantinha a par dos estudos em Poções nos outros países?

Hermione bebericou de seu vinho, maravilhada com o quanto o sabor harmonizava com o peixe que estava comendo. Este homem era cheio de contradições e obscuridades que ela jamais suspeitara. Ela havia se apaixonado por ele no sexto ano, que ela se recuperou com sucesso quando ela e Rony tentaram um romance no sétimo ano. Depois veio a noite em que seus pais foram alvos dos Comensais da Morte, quando ela se embebedou na cozinha do Largo Grimmauld, número doze, e pendurou-se nele como um polvo. Nos anos que se seguiram, ela fantasiara muitas coisas sobre Severo Snape, mas imaginá-lo como algum homem urbano e conhecedor do mundo jamais entrara em sua mente.

Hermione ouviu o som inconfundível de vidro estilhaçando e olhou na direção do barulho, nem um pouco surpresa em ver Tonks se desculpando com um garçom vexado enquanto Lupin calmamente a impelia para a mesa deles. Hermione achou que Tonks estava muito bonita, mesmo sem nenhuma maquiagem, dentro do elegante vestido e sapatos pretos. Lupin vestia um belo terno trouxa de um tom cinza-amarronzado, que combinava com seu cabelo —bem, o cabelo dele merecia uma passada de pente, talvez, mas pelo menos nenhuma das peças de roupa deles estava no avesso, o que Hermione somou como uma vitória. Ela sorriu para eles em boas-vindas.

Snape observou a Metamorfomaga e o lobisomem chegando atrasados para o jantar e parabenizou-se mais uma vez pela sua escolha de tempo impecável. Ele se levantou assim que eles se aproximaram, colocando seu guardanapo dobrado na mesa.

– Desculpem pelo atraso – Lupin disse com um pequeno sorriso, segurando a cadeira para Tonks enquanto ela se sentava. – Nós fomos irrevogavelmente retidos.

Tonks segurou uma risadinha com aquilo, depois lançou um olhar perspicaz entre Snape e Hermione. Antes que ela pudesse falar, Snape deu a volta na mesa e parou ao lado da cadeira de Hermione. – Como vocês podem ver, nós não esperamos por vocês – ele disse. – Contudo, nós podemos recomendar o peixe; não concordaria, Hermione?

Hermione levantou os olhos para Snape com certa confusão. Ele estava claramente esperando que ela se levantasse – talvez eles fossem diplomáticos e deixariam o novo casal sozinho? Ela viu o curto aceno de cabeça de Snape e levantou-se, um pequeno tremor correndo por ela enquanto ele colocava o lenço sobre os ombros dela, as mãos se prolongando por um momento a mais em sua pele nua.

– Sim, o peixe estava ótimo – ela disse.

– Vocês não estão indo? – Lupin perguntou, surpreso.

– Só até o saguão – Snape respondeu friamente, inclinando a cabeça para uma porta que levava para uma área escurecida; Hermione olhou naquela direção e viu um bar escuro, o movimento de casais dançando, e pela primeira vez, ela ouviu a música.


O saguão era na parte de trás do hotel, com as paredes envidraçadas dando vista para a praia. Portas duplas no final da sala levavam para um quebra-mar que se estendia sobre a água. Do outro lado da sala, um DJ trabalhava numa grande pick-up. O piso polido da pista de dança se estendia do lado oposto do bar até as portas duplas, que estavam abertas para a brisa branda da noite de verão; entre as músicas, era possível ouvir as ondas banhando a costa.

Snape escolheu uma mesa ao longo da parede de vidro e esperou Hermione se sentar antes de tomar o lugar de frente para ela. Ele sinalizou para a garçonete e pediu um gim com limão, enquanto Hermione pediu uma limonada; a garçonete retornou rapidamente com as bebidas deles, depois os deixou sozinhos.

Hermione olhou ao redor pelo agradável bar, notou o sol se pondo espetacularmente sobre o oceano, e então olhou por sobre a mesa para Snape, que a estudava intensamente. A indignação justa de antes havia malogrado em algum momento entre a ostentosa degustação do vinho e a discussão de poesia simbolista francesa. Ela era jovem, mas não era estúpida; ela percebeu plenamente que ele a manipulara habilmente da hora que ele apareceu na porta dela vestido como uma imitação nariguda de James Bond, até este exato momento neste saguão extremamente civilizado – talvez ele estivesse contando com sua relutância em causar uma cena em público?

– Deixando de lado as margaritas? – ele perguntou cauteloso, notando as expressões passando pelo rosto dela. Ela lhe deu um olhar desprezador e ergueu aquele queixo determinado; os olhos de Severo se movimentaram rapidamente de um lado para o outro para ver quantos estranhos estavam para se familiarizar com os detalhes íntimos de sua vida pessoal.

– Você poderia por gentileza simplesmente parar com a cortesia e a civilidade? – ela disse bruscamente. – Você está me assustando.

O saguão estava razoavelmente vazio para um sábado à noite, Severo refletiu. Sem dúvidas que mais pessoas chegariam enquanto a noite avançava. Ele supôs que fora uma vitória suficiente adiar o acesso de raiva dela por tanto tempo. Ele engoliu um gole considerável de gim e curvou-se um pouco, fazendo contato com os olhos dela e segurando seu olhar sem medo.

– Você pode me perguntar qualquer coisa que queira saber – ele começou calmamente. – Eu vou responder qualquer pergunta que você tenha sem subterfúgios ou mentiras.

Hermione, que estava reunindo sua raiva para um longo discurso, ficou perplexa. Insegura, ela abriu a boca para falar quando ele levantou uma mão para impedi-la.

– Mas primeiro, dance comigo.

Ela olhou feio para ele com olhos estreitos. – Eu NÃO quero dançar com você. Eu quero respostas.

Snape levantou e esperou imperiosamente que ela se levantasse. – Eu achei que os grifinórios eram renomados por sua coragem. Você está com medo de dançar comigo? – Ele deixou veneno suficiente entrar em seu tom para atingi-la. Ele queria segurá-la novamente, segurá-la antes deles brigarem. Quando ela ouvisse tudo o que ele tinha a dizer, talvez ela escolhesse se afastar dele, independente do Encantamento.

Os lábios de Hermione se apertaram e seu olhar se intensificou. – Você sabe o que vai acontecer se nós nos tocarmos.

Snape se permitiu um sorriso zombeteiro enquanto inclinou-se sobre ela, pousando as palmas das mãos na mesa. – Então você está com medo – ele sussurrou provocantemente.

Hermione sabia que estava sendo provocada, mas havia uma parte traiçoeira dela que queria se render ao pedido dele, que queria sentir os braços dele ao redor dela – que queria sentir o poder aumentando repentinamente entre eles. Rapidamente, ela se levantou e foi para a pista de dança, justo quando uma música lenta começou a tocar.

Severo a seguiu para a pista de dança, pegando a pequena mão dela na sua e pousando sua outra levemente na cintura dela sobre o tecido sedoso do vestido vermelho dela. Eles ficaram sem se mover por um momento, olhos âmbar arregalados presos a intensos olhos ébano, enquanto a energia se juntava e percorria pelas veias deles. Com o pouco de presença de espírito que ele conseguia reunir, Severo a conduziu na dança. Enquanto eles se movimentavam juntos, seus olhos continuavam presos, até que, com um tremor, Hermione eliminou a distância entre seus torsos e colocou a cabeça sob o queixo dele como fizera naquela noite longínqua. Ela soltou a mão dele e seus dois braços deslizaram ao redor da cintura estreita dele; Severo sentiu o aumento do contato com uma sensação arrebatadora em sua barriga, e colocou a mão livre na pele nua entre os ombros dela, pressionando-a contra ele, ainda mais próximos.

Indistintamente, além do pequeno universo deles, as palavras da canção se infiltraram dentro da cabeça deles.

Lying beside you, here in the dark
(Deitado ao seu lado, aqui no escuro)
Feeling your heart beat with mine
(Sentindo seu coração bater com o meu)
Softly you whisper, you're so sincere
(Suavemente você sussurra, você é tão sincero)
How could our love be so blind
(Como pôde o nosso amor ser tão cego)
We sailed on together, and drifted apart
(Nós navegamos juntos, e nos separamos)
And here you are by my side
(E aqui está ao meu lado)

So now I come to you with open arms
(Então agora eu venho até você de braços abertos)
Nothing to hide, believe what I say
(Nada a esconder, acredite no que digo)
So here I am with open arms
(Então aqui estou de braços abertos)
Hoping you'll see what your love means to me
(Esperando que você veja o que seu amor significa para mim)
Open arms
(Braços abertos)

Living without you, living alone
(Vivendo sem você, vivendo sozinho)
This empty house is so cold
(Esta casa vazia é tão fria)
Wanting to hold you, wanting you near
(Querendo lhe abraçar, querendo você por perto)
How much I've wanted you home
(O quanto eu lhe quis em casa)
But now that you've come back
(Mas agora que você voltou)
Turned night into day
(Transformou noite em dia)
I need you to stay
(Preciso que você fique)

So now I come to you with open arms
(Então agora eu venho até você de braços abertos)
Nothing to hide, believe what I say
(Nada a esconder, acredite no que digo)
So here I am with open arms
(Então aqui estou de braços abertos)
Hoping you'll see what your love means to me
(Esperando que você veja o que seu amor significa para mim)
Open arms
(Braços abertos)

Quando a música acabou, Severo reuniu gradativamente suas forças e afastou-se dela. A expressão no rosto dela era deliciosa. Os olhos dela estavam brilhantes e fora de foco; ele não queria nada mais do que pegá-la em seus braços e beijá-la.

Repentinamente, ele disse:

– Obrigado. Vamos?

Hermione se esforçou para clarear a mente, consciente apenas do intenso sentimento de perda quando ele a soltou. Ela voltou para a mesa para pegar seu lenço enquanto Snape foi até o bar para pagar a conta. Ele voltou para a mesa e indicou que eles deveriam sair pelas portas duplas até o quebra-mar.

– E o Remo e a Tonks? – ela lhe perguntou.

– Eles encontrarão o caminho de volta. Venha. – Snape a guiou pela escada de madeira para a areia da praia. Hermione tirou o salto alto, depois eles seguiram pela areia de vota ao hotel deles.


Quando eles chegaram à porta dela, ela olhou para ele com incerteza. Snape abriu as portas francesas e acenou com a cabeça para que ela entrasse. Hermione entrou, abrindo espaço entre eles rapidamente, jogando o lenço na cama e pegando a varinha no criado-mudo.

Snape a seguiu e fechou as portas atrás dele, colocando sua varinha na cama mais próxima dele. – Eu só quero conversar com você, Hermione. – Ele ficou parado ali, com as mãos levantadas, vazias, à sua frente.

A sobrancelha dela franziu enquanto ela o estudava. O rosto dele ainda parecia tão diferente. Ele não estava ironizando, rosnando, ou franzindo a testa. A nudez de sua expressão era interessante, ela achou. Então ela notou que ele estava se aproximando dela.

– Não. – Ela apontou a varinha para o peito indefeso dele. – Não se aproxime mais. Eu... eu não consigo pensar se você chegar muito perto.

Snape congelou, mantendo um olho na varinha, e levantou as mãos mais uma vez onde ela pudesse vê-las claramente.

– Hermione, eu estou desarmado. Eu não posso machucá-la.

A risada dela não foi agradável.

– Até hoje você nunca me machucou com a sua VARINHA, Severo Snape.

– Eu mereço isso. – Ele olhou nos olhos dela, sua própria expressão completamente aberta e desprotegida. – Eu vou me sentar na cadeira perto da porta. Vou deixar minha varinha na cama. Sente-se onde bem entender, fique com sua varinha; só por favor me deixe explicar. Eu responderei qualquer pergunta que você tenha. Eu direi a verdade.

Hermione parecia cética, mas mesmo em sua dor e raiva, ela podia ver o que essa atitude e aquelas palavras estavam custando para ele. Enquanto ela o observava, ele recuou, passo a passo, para as cadeiras perto das portas; alcançando uma, ele se sentou.

– Posso tirar meu paletó? – ele lhe perguntou. Hermione deu de ombros indiferentemente, desejando que ela estivesse vestindo outra coisa que não este vestido vermelho insuficiente. Snape colocou o paletó sobre a cadeira vazia ao lado dele e rapidamente removeu a gravata verde floresta, desabotoando os botões de cima da camisa.

Hermione se sentou na ponta da sua cama, com a cama da Tonks entre eles. – Certo, vá em frente e termine logo com isso. Diga o que você veio dizer. – Ela o encarou duramente.

Snape tomou um fôlego profundo e um tanto trêmulo. – Naquela noite, no Largo Grimmauld... – a voz dele sumiu, quase como se ele esperasse que ela tomasse a narrativa e começasse a falar. Ao invés disso, ela continuou a encará-lo com uma expressão inalterada.

– Você era minha aluna! – Ele sabia que era uma defesa covarde, mas ele não podia evitar o ímpeto de se esquivar do olhar firme e resoluto dela.

– Ex-aluna.

– Você era uma criança!

– Eu era maior de idade.

– Você estava a caminho da Bulgária! Para o Krum!

Ela se levantou tão rapidamente que ele se encolheu de verdade na cadeira antes de se controlar.

– Eu estava a caminho da UNIVERSIDADE. Vítor apenas aconteceu de ESTAR lá. E você SABIA que eu jamais... depois de sentir aquilo... e você ME DEIXOU IR MESMO ASSIM!

Ele deixou as palavras penderem entre eles por um momento. Quando ele falou, sua voz estava firme e serena.

– Eu deixei você ir. Sim.

– Você não me queria. – Aquilo foi apresentado como uma afirmação, mas ele ouviu a dor, a incerteza.

– Se eu a queria ou não era secundário.

Ela o encarou.

– Secundário para quem, exatamente?

Ela teve a satisfação de ver os lábios dele se apertarem e algum vestígio do seu desdém de sempre.

– Ora, use o seu cérebro, garota! Que homem heterossexual de trinta e oito anos com um PULSO não desejaria uma linda mulher de dezoito anos?

O olhar dela se tornou contemplativo, e de maneira adversa a todos os membros do seu sexo, ela escolheu a mais estranha das palavras em toda a questão para continuar. – Linda? – ela perguntou.

A irritação deixou o rosto dele, a boca relaxou, e os lábios se partiram levemente, os olhos aquecendo para um olhar murcho enquanto ele vagarosamente se saciava da visão dos olhos, dos lábios trêmulos, dos seios orgulhosos no vestido vermelho, passando pela cintura abraçável, os quadris hipnotizantes, toda a extensão das pernas torneadas até os lindos pés dela. Então ele tomou seu tempo, deixando seus olhos fazerem o caminho de volta pelo corpo dela, deixando-a ver cada emoção e desejo em seu rosto quando cruzavam sua mente, até que ele estivesse olhando nos olhos dela, desmascarado e sem reservas.

– Linda – ele reiterou, sua voz rouca.

Ele mal podia respirar enquanto a observava engatinhar pela cama, e então ele estava com os braços cheios, e o colo cheio, de uma Hermione que chorava, ria, acariciava e beijava. Severo colocou uma mão na parte de trás da cabeça dela e retornou o beijo dela muito intensamente, passando sua língua pelos lábios abertos dela, provocando e provando a boca dela, acariciando a língua dela com a sua, mostrando para ela como era ser desejada por ele – como era ser tão linda. O pulso compartilhado estava batendo dentro deles, a língua docemente tímida dela estava na boca dele, as mãos nos cabelos dele, o pequeno e delicioso traseiro descansando na ereção mais forte que ele já tivera em toda sua vida; quando ele gentilmente sugou a língua dela, ela gemeu audivelmente na boca dele, e foi preciso todo o seu autocontrole para terminar o beijo delicadamente. Ele abraçou o corpo trêmulo dela por mais um momento, depois se levantou e colocou-a sentada na ponta da cama.

A voz dela fez um pequeno som de protesto quando ele interrompeu o contato entre eles, pressionando um beijo final e triste na palma da mão dela, e afastou-se para longe dela.

O olhar apaixonado dela o questionou sem palavras. – Nós ainda não dissemos todas as coisas que precisamos dizer – ele disse ternamente, permitindo que ela ouvisse seu próprio desejo, sem tentar esconder dela a evidência da sua excitação. – Se estiver lhe tocando, eu não conseguirei falar com você coerentemente.

O exame minucioso e lascivo dela deixou poucas dúvidas de sua opinião imediata entre conversar e dar uns amassos.

Respirando fundo, Severo falou novamente.

– Hermione, depois dos eventos no Largo Grimmauld, eu gastei dois anos estudando tudo o que eu pude encontrar sobre o Encantamento. Eu não consegui encontrar um exemplo de um casal que tenha rejeitado o imperativo.

Estudando um assunto? Pesquisa? Hermione se forçou a focar-se por um momento, arrastando seus olhos da ereção dele e de volta ao seu rosto.

– Quem iria querer rejeitá-lo?

Severo, que havia se movido para trás da cadeira, agarrou as costas dela. – Você talvez queira.

Ela o olhou em confusão e até balançou a cabeça, como que para clareá-la. – Severo... eu tive talvez cinco minutos de um abraço não correspondido três anos atrás. Desde aquele dia, eu fui incapaz de me forçar a pensar em outro homem, e você pode ficar certo que eu tentei. – Hermione mordeu o lábio e parecia magoada. – Por cerca de seis meses, eu devo ter lhe enviado um mínimo de uma coruja por semana. – Snape assentiu com a cabeça em concordância com o acesso dela neste ponto; ele lembrava vividamente das cartas que ele nunca respondera – as cartas que ele guardou e releu nos momentos de bebedeira e auto-piedade causada pela embriaguez. Hermione continuava:

– Eu me recusei até de encontrar com Vítor até depois do Natal daquele primeiro ano. Naquela altura, eu estava tão brava com você, e tão brava comigo mesma, que passei os outros dois anos tentando com empenho querer o Vítor. Ele é inteligente, ele é talentoso, ele procurou...

Severo fez um som derrisório, e ela virou olhos questionadores para ele.

– Chega dos atributos do Krum, talvez? – ele sugeriu perigosamente.

– Eu estou tentando provar meu ponto! Vítor não era nenhum idiota patético – ...outro bufo desdenhoso... – ele era tudo que o uma garota poderia querer, e eu não queria. Ele me amava, ele queria se casar comigo, e eu tentei com empenho amá-lo de volta. Eu até tentei dormir com ele e...

– SIM, sim, eu acho que você chegou no ponto – ele pôs para fora. Ela tinha aqueles olhos arregalados e inquisitivos fixos no seu rosto novamente, e ele reuniu sua paciência por ela. – Perdoe-me, Hermione. É... difícil para mim ouvir você falar do Krum. – Ele lutou consigo mesmo por um momento. – Eu sou muito possessivo, e sou um homem ciumento. Se nós chegarmos a algum tipo de acordo, eu tenho certeza que irei, com o tempo, ser menos... sensível... ao assunto de outros homens. – Considerando os sentimentos assassinos que ele sentia pelo apanhador búlgaro naquele momento, ele sinceramente esperava que suas palavras fossem mais que uma promessa vã.

– Tudo o que eu estou tentando dizer é que eu não penso em outros homens, e eu não quero pensar em outros homens. Este Encantamento entre nós é precioso para mim, Severo. Toda garota sonha com este tipo de magia com o homem que ela... escolhe. – Hermione se levantou e mudou-se para a cadeira entre eles, ajoelhando-se no assento e olhando para ele; ele permaneceu segurando as costas da cadeira com ainda mais força para manter suas mãos longe do corpo dela. – Que tipo de acordo nós chegaremos? – ela perguntou, levando a mão e traçando uma linha pelos nós brancos de seus dedos com a ponta do dedo.

– Nós podemos discutir isso. Antes de o fazermos, eu acho que é importante que você saiba... saiba sobre mim. – Ele caminhou para longe dela, caminhando pelo caminho entre os pés das camas e a cômoda. Hermione virou e sentou-se na cadeira, observando-o com certa confusão.

– O que você quer que eu saiba, Severo?

Ele chegou à cômoda, agora o mais longe possível dela quanto o pequeno quarto permitiria. Ele deu as costas para o espelho e olhou pelo quarto para ela. Seus sentidos estavam clareando, sua ereção diminuindo, e seu cérebro estava quase funcional. Em alguma parte removida de sua mente, ele estava impressionado em descobrir que estava com mais medo agora do que jamais estivera quando ajoelhado aos pés do Lorde das Trevas. O que de pior Voldemort poderia fazer a ele? Torturá-lo com a Cruciatus, ou matá-lo. O que de pior Hermione poderia fazer a ele? Ela poderia remover sua própria alma, e deixá-lo respirando, forçado a suportar ano após ano sem a luz dela. Droga, como aquilo havia chegado a este ponto? E o inferno era que, mesmo com todo o conhecimento de que ele estava pendente em face a quarenta anos cuidadosamente vividos, ele era incapaz de afastar-se deste precipício.

– Eu fiz coisas horríveis, Hermione. Eu não era uma pessoa legal quando estava estudando em Hogwarts, e depois da escola, eu me tornei um Comensal da Morte. – Ele estava lá, duro como pau, do lado oposto do quarto a ela, e esperava o julgamento dela.

– E depois você foi até Dumbledore e tornou-se um espião para a Ordem. Você pediu, e recebeu, uma segunda chance. – Hermione deu de ombros. – Eu não sei o que você quer com isso, Severo.

– Eu não sou uma pessoa legal agora. Eu não sou amante da diversão e não sou agradável. Eu sou um inferno de se conviver. A paixão é maravilhosa, e o sexo pode ser transcendente, mas alguém tem que viver uma existência diária. – Ele começou a se aproximar dela vagarosamente, segurando seu olhar. – Eu posso... se você me permitir... lhe mostrar.

Hermione o considerou especulativamente. – Me mostrar como? – ela perguntou.

Severo agora estava sentado na ponta da cama em frente à cadeira dela, seus joelhos separados por meros centímetros. – Com Legilimência. Eu posso abrir minha mente para você, e você pode ver. Eu... eu não vou esconder nada.

– Em troca, então, minha mente também estará aberta para você?

Ele assentiu com a cabeça.

Hermione se inclinou para ele. – Se eu fizer isso... olhar dentro da sua mente e deixar que você olhar dentro da minha... você acreditará em mim incondicionalmente se eu lhe disser que aceito tudo de você, incluindo o seu passado?

Um irritável sorriso típico de Snape curvou seus lábios. Esta pequena grifinória estava astutamente colocando ele num beco sem saída. Ela era uma parceira digna, de fato; talvez o Destino tecendo o Encantamento deles prestasse atenção em tais detalhes.

– Sim – ele lhe respondeu. – Se, depois de você ter visto meu passado, você disser que me aceita, eu acreditarei em você incondicionalmente.

Hermione se sentou mais ereta. – Então faça isso. Lance o feitiço.


N.A.: Letra de "Open Arms" escrita por Jonathan Cain/Steve Perry, gravada por Journey (e muitos outros artistas depois dele).

O comentário de Severo sobre "O Destino tecendo o Encantamento" é inspirado em uma linha de um poema de um poeta desconhecido que diz: "O quanto o destino ficou em cima de nós, nos tecendo juntos".

N.T.: Em inglês, a linha do poema é a seguinte: "How many fates have kept over us, weaving us together".