Capítulo 9
FOREVER
Draco foi acordado bruscamente na manhã seguinte por uma claridade imensa, em seguida sentiu mãos puxando seu colarinho. Ele abriu os olhos em tempo de ver a pele escura de Blaise perigosamente perto de seu pescoço, tentando entender o que estava acontecendo.
— Por que ela está n'A Toca? — perguntou, a voz visivelmente irada.
— Do que está falando?
— GINEVRA WEASLEY, de quem mais poderia ser? — ele rugiu. — Eu acabo de vir d'A Toca, onde ela está TRANCADA no seu quarto de SOLTEIRA, aos PRANTOS por que você disse alguma coisa idiota. O que foi?
Draco sacudiu a cabeça, tentando entender do que exatamente estava falando.
— Ela estava chorando?
— Não, idiota, estava só caindo água dos olhos dela, que por algum estranho acaso estavam vermelhos e inchados, junto com o resto do rosto.
— Ela é uma Weasley, o rosto dela é avermelhado de sardas.
— Me diga o que você fez, Malfoy.
Dessa vez foi obrigado a reconhecer que Blaise estava realmente bravo. Havia anos e anos que não era chamado pelo sobrenome daquela forma.
— Eu disse a ela que estaria melhor sem mim.
O negro o soltou, ficando com uma expressão séria e pensativa por alguns instantes.
— Isso provavelmente é verdade.
Draco balançou a cabeça sonelenemente, sentando-se na cama.
— Você é um idiota! — Blaise disse após alguns minutos. — Você não acha de verdade que ela vai ficar melhor sem você. Seu ego é grande demais para você pensar assim.
— Claro que não penso, Blaise, eu falei só porque acho legal ver a mulher que eu amo chorando. Eu a mandei embora de birrinha.
— Você não tem a menor idéia de por que a mandou embora — respondeu, balançando a cabeça.
Começou a desconfiar que o amigo poderia estar considerando usá-lo de saco de pancadas trouxa e imaginou onde estaria sua varinha.
— Não comece — avisou.
— Isso não foi um sacrifício nobre. Droga, Draco, você sequer tem uma fibra grifinória no seu corpo para fazer sacrificios nobres! Você só a mandou embora por que precisa se sentir miserável.
— Ainda bem que você não resolveu seguir carreira em aconselhamento, Blaise — respondeu, ríspido. — Você acha que as complicações do amor fazem bem? Que é bom sentir a própria dor?
— Você não gosta de si mesmo — falou, sério. — Nunca se perdoou. Mas você se admira, sim, e se acha especial. É tudo que você tem a favor de si mesmo, e você está se prendendo a isso — os dois se encararam por mais algum tempo em silêncio. — Você tem medo que, se mudar, não vai ter mais nada de especial. Mas ser miserável não te faz melhor que ninguém, Malfoy, só te faz miserável.
O negro levantou da cama e saiu pela porta, sem mais uma palavra, deixando Draco sozinho para lidar com seus pensamentos.
Uma vez que nada vinha dando certo desde a noite anterior, Ginevra levou os filhos para A Toca assim que amanheceu — nem mesmo o café da manhã das crianças havia conseguido fazer. Sua mãe lhe recebeu atenciosa e carinhosa como sempre, tratando de alimentar os netos e distraí-los. Lily ainda estava assustada com tudo o que aconteceu — James parecia satisfeito, enquanto Albus parecia preocupado com a irmã.
Assim que os três saíram para o quintal — seu pai havia chamado os netos para lhe ajudar com algo que não conseguiu prestar atenção —, a ruiva se trancou em seu antigo quarto, finalmente conseguindo chorar pelo ocorrido.
Não muito tempo depois, Luna e Blaise apareceram no quarto, sem entender o que estava havendo. A loira ainda tentou perguntar, mas Ginevra não tinha forças para responder — apenas para chorar. Mal notou quando o sonserino desaparatou, ficando apenas com a amiga.
Sentindo-se mais confortável na ausência do homem, os acontecimentos da noite anterior começaram a sair por sua boca como se fossem uma enxurrada, sem que conseguisse controlar. Imaginava que seus soluços estivessem dificultando a compreensão, e algumas vezes a loira a pediu que repetisse alguma coisa, mas a maior parte do tempo apenas acenava, ou apertava a sua mão como forma de consolo.
Blaise reapareceu pouco tempo depois e a ruiva identificou algo parecido com apreensão na expressão do negro.
— Estive com Draco.
— Como ele está? — perguntou Luna, olhando atentamente para o parceiro.
— Miserável, é claro.
— É pouco pro que ele fez — a ruiva disse, chorosa.
— Draco é um idiota — falou o negro.
— Conte-me a novidade agora.
— Ah, ele deve estar confuso. Vocês não lembram que eu tive uma crise histérica no dia anterior do meu casamento? Claro que ela foi causada por um ataque de Dilátex Vorazes, mas nunca se sabe o que pode ter naqueles jardins da Mansão Malfoy.
— O que Ron disse foi... Horrível — a ruiva murmurou, mais para si do que para os dois.
— Oh, Ronald sempre teve a habilidade de dizer coisas bastante insensíveis, não é?
— Weasley é um idiota, e Draco é ainda mais idiota de ter dado ouvidos a ele. Weasley nunca conheceu Draco nem sabe nada sobre ele, ainda mais para falar algo.
— Eu não sei se ele deu ouvidos.
— Como assim?
— Você acha que ele ia levar a sério o que Ron diz, pra tomar uma decisão dessas? Foi ele quem propôs, foi ele quem me procurou, ele quem... — a frase terminou com um soluço.
— Ele quem tem medo de não se achar tão diferente da maioria se mudar — continuou Blaise. — Ele está com medo de não dar certo, não é mesmo? Você não sabe como foi quando o deixou pela primeira vez. Fui eu quem tive que ficar catando os caquinhos. Bem, eu e Murta que Geme, claro.
— E ele ia resolver acabar com tudo assim, em cinco minutos, apenas porque meu irmão é um idiota, coisa que sempre soube?
— Seu irmão apenas detonou uma crise de auto-estima nele — falou o negro, dando os ombros. — Coisa que eu nunca achei que poderia acontecer, por sinal. Sempre achei que o ego dele fosse grande demais para se achar qualquer coisa que não perfeito.
— As coisas não são perfeitas, casamentos não são perfeitos — respondeu Luna, olhando pela janela.
— Isso vindo da pessoa que nunca teve uma briga, grande ajuda — falou Blaise, encarando os cabelos loiros da mulher com uma expressão de desgosto.
— Eu não vi Kneazle um punhado de vezes nos últimos seis meses, fica muito difícil ter uma briga quando se tem um casamento à distância.
— Foi extremamente sádico da parte dele resolver ter essa crise justo ontem. Justo quando todos estavam reunidos e... — ela terminou a frase com um longo suspiro.
— Senso de oportunidade nunca foi o forte de Draco, e você sempre soube disso. Você não lembra daquela cena ridícula no casamento dele quando ele parou e te olhou antes de responder "sim"?
— Ah, eu não lembro disso — falou Luna, distraída.
— Você não foi ao casamento, Luna — respondeu Blaise e, pela primeira vez em horas, Ginevra deu uma risadinha.
— Ah... Verdade — os outros dois se entreolharam, balançando a cabeça de leve.
— O que importa — continuou o sonserino — é que você não pode deixá-lo fazer isso com ele mesmo, nem com vocês!
— Eu não posso deixar? — perguntou a ruiva. — Desde quando eu deixei ou deixo Draco fazer alguma coisa? Aparentemente, eu sou completamente descartável para ele — disse, à beira da histeria.
— Ah, claro, você é apenas mais uma, como qualquer outra.
— É exatamente assim que eu me sinto.
— Isso é imbecilidade — respondeu o negro, perdendo a paciência. — Nunca uma mulher foi tão importante para Draco, aliás, ninguém nunca foi importante para Draco como você é, e você sabe disso.
— Scorpius — murmurou simplesmente.
— Deixe de bancar a idiota — disse, parecendo ameaçador. — Só falta agora você dizer que ele ama mais Lucius e Narcissa do que você. Como se isso realmente fosse relevante para o assunto discutido.
— Me deixe em paz, Zabini!
— Você pode enfiar algum senso na cabeça da sua amiga? — perguntou a Luna, irritado.
— Oh, eu poderia tentar, mas, aparentemente, grifinórios têm a cabeça mais dura do que madeira de lei.
— Eu diria para pôr fogo e abrir a cabeça dela, mas ela é uma Weasley, não é mesmo?
— Muito engraçado — falou Ginevra, cruzando os braços.
— Eu sei que vocês dois passaram os últimos vinte e sei lá quantos anos sonhando com esse momento, fantasiando sobre isso e, na primeira dificuldade, você está aí, encolhida e chorando, ao invés de estar lutando pelo que quer.
— Ah, claro, é muito fácil ouvir o que eu ouvi.
— Eu nunca disse que era — falou Blaise, abaixando o tom. — Mas a questão é... Você acredita no que ele falou? Acha que é verdade?
— Se eu achasse nunca teria entrado nessa história — respondeu, parecendo cansada.
— Então vá até lá e prove isso para ele. Afinal de contas, você foi pra maldita grifinória por um motivo!
— Isso tem trinta anos, Blaise, podia parar com essa mania terrível de ficar lembrando da escola?
— Claro que não. Eu preciso te lembrar o que é ser grifinória.
— E o que é ser grifinória?
— É ser terrívelmente cabeça-dura e incapaz de ver as coisa de maneira diferente. É ter uma coragem estupida, síndrome de que pode salvar os outros, ou seja, todas as características necessárias para você ir até lá e tirar toda essa merda da cabeça dele.
— Tirar não, passar por cima. Não leve em consideração as imbecilidades de Draco — Luna ajudou.
— Esse é o espírito da coisa.
— Vocês falam como se fosse fácil.
— Nada é fácil — respondeu a loira, suspirando. — E qual seria a graça se fosse?
— Absolutamente nenhuma.
— Luna, eu já te disse que você é minha alma gêmea? — perguntou, divertido, e a loira sorriu de volta.
— O que vocês esperam que eu faça?
— Ignore o que ele disse.
— Eu não vou esquecer.
— Eu disse ignorar, não esquecer, Ginevra, entende a diferença?
— Como eu vou ignorar algo que não esqueci?
Blaise levantou os braços, dando um suspiro longo, e olhou para a corvinal, em busca de ajuda.
— Claro que poderíamos usar um obliviate, mas, no geral, a idéia é você mostrar pra ele que está sendo idiota. Seria uma boa estratégia ameaça-lo com Nargules – Luna acresentou, levantando as sobrancelhas.
Os dois começaram a rir da mulher, que continuou séria e voltou a falar.
— Eu posso arranjar alguns para você. Simplesmente não desista, Ginny. Por vocês dois.
Com um longo suspiro a ruiva acenou, concordando.
— Eu vim longe demais para deixar acabar assim, não é?
— Com toda certeza — respondeu o negro, puxando a loira para um abraço.
— Eu vou até lá — continuou, respirando fundo. — Em alguns dias. É bom Draco ficar miserável um tempo para não fazer esse tipo de idiotisse de novo.
— Ginevra, você está virando meu orgulho. Vai lá, lave essa cara e depois arrasa com ele. Ele mereceu.
A ruiva se levantou, andando em direção à porta, e virou de volta depois de abrir.
— Blaise?
— Sim?
— Eu quero que você seja nosso padrinho de casamento — falou com um sorriso, e fechou a porta atrás de si.
Fechou os olhos, respirando fundo, O olhar incrédulo de Ginevra ainda o acompanhava a cada segundo — e sabia que aquele era apenas o primeiro dia de muitos. Não havia conseguido dormir quase nada àquela noite — e Blaise havia se encarregado pessoalmente de acordá-lo quando finalmente adormeceu. A culpa por saber que ela estava chorando n'A Toca ajudou a não conseguir voltar a dormir. Scorpius não lhe questinou sobre o ocorrido — o rapaz certamente tinha suas próprias hipóteses e apenas aguardava o melhor momento para contestá-las — e, obviamente, Draco também não entrara em detalhes.
Agora estava, no meio da manhã, escondido no mesmo quarto de hóspedes que dividia com Ginevra há meses. Estava quase pegando no sono quando ouviu gritos vindo do andar de baixo. Levantou, assustado e preocupado, encontrando, segundos depois, seu filho e o mais velho dela discutindo.
— Seu pai fez alguma besteira com a minha mãe, Malfoy, eu tenho o direito de saber o que foi! — a voz de James Potter se tornava cada vez mais alta, embora nenhum dos dois ainda tivesse reparado sua presença.
— Meu pai não está à sua disposição, Potter!
O loiro estava parado ao pé da escada, os braços cruzados diante do outro.
— Você não vai me impedir de falar com ele — o moreno ameaçou.
— Deixe-o, Scorpius — do alto dos degraus, Draco pediu, assustando ambos. — Ele não vai entender mesmo — acrescentou, descendo e se juntando ao filho.
— Minha mãe está mal por sua causa! — o garoto lhe apontou o dedo.
— E você acha que vai resolver alguma coisa assim, no grito? Você é tão filho do seu pai...
— O senhor fez alguma coisa com ela, eu quero saber o que foi! Ela é minha mãe!
— A senhorita Weasley sabe que você veio até aqui? — Scorpius perguntou.
— Não te interessa.
— Claro que interessa! — Draco interveio. — Sua mãe não está bem e você some no momento em que ela mais precisa! Isso é tão coisa de vocês, os Potter!
— Meus irmãos e meus avôs estão com ela — argumentou.
— Você deveria estar lá também — Scorpius acrescentou.
— Eu só saio daqui depois de conseguir o que eu quero.
— E o que diabos você quer? — Draco cruzou os braços.
— Eu quero saber o que houve, e que o senhor vá lá e desfaça o que quer que seja. Minha mãe não merece ser tratada dessa forma! Eu preferia quando vocês pretendiam se casar, por mais horrível que isso fosse, agora é ainda pior.
Draco se surpreendeu com a atitude do garoto.
— É tão fácil assim fazer você mudar de idéia?
— Se meus pais não podem ser felizes juntos, eu espero que ao menos sejam separados. Se for pra fazer minha mae infeliz, eu mal toleraria vindo do meu pai, mas vindo do senhor é inadimissível.
— E você acha que sua mãe seria feliz comigo?
— Até sabe-se lá o que o senhor fez ontem, ela estava mais feliz do que a vi em anos.
— Sua mãe vai ficar melhor longe de mim, Potter — disse, embora sua vontade era de dizer outra coisa.
— Aparentemente, ela não pensa a mesma coisa.
— Foi isso que o senhor disse a ela? — perguntou Scorpius.
— O fato de ela não concordar não faz com que deixe de ser verdade — disse para o moreno, em seguida seu olhar parou no do filho. — Não com essas palavras.
— Pai... Eu vi o senhor passar por muitas situações difíceis, e contornar todas elas... Agora eu preciso concordar com Potter — o menino acenou gravemente para o rapaz. — Isso foi idiotice.
— O senhor é um covarde — cuspiu James, visivelmente irritado.
— Não é o que todos vocês pensam dos sonserinos?
— Potter, não está ajudando — falou Scorpius.
— É a verdade.
— Eu sei — sibilou o garoto loiro. — Mas não adianta dizer isso.
— Ele está fugindo como uma noiva em pânico! — acusou, apontando para Draco mas olhando para seu filho.
— Pai — Scorpius falou, olhando para ele. — Eu jamais vou perdoá-lo por me fazer concordar com James Potter.
— Talvez um dia você entenda — respondeu sem tirar os olhos dos do garoto. — Você já perdeu demais seu tempo aqui, Potter. Volte para a casa dos seus avôs antes que sua mãe perceba a sua idiotice.
— O senhor não é meu pai, nem nada meu, para querer mandar em mim — o moreno respondeu em tom desafiador. — Se ainda fosse noivo da minha mãe, talvez eu lhe desse ouvidos.
Draco suspirou.
— Eu sei que o senhor ia falar comigo e com meus irmãos quando meu tio falou tudo aquilo — o rapaz continuou. — Eu não sei se era verdade ou não, mas minha mãe pareceu não se importar!
— E se eu me importar? Não há nada que você possa fazer quanto a isso. Nenhum de vocês — acrescentou, fitando o filho.
— Se você se importa com discursos de bêbados é porque, realmente, não merece minha mãe.
— Ótimo, então agora você pode ir embora.
— Seu pai é sempre tão cabeça dura? — James perguntou a Scorpius.
— Noventa por cento do tempo.
— E depois fala da minha família — o rapaz comentou e o loiro deu de ombros.
— Sua mãe parece ter uma queda por pessoas cabeça duras.
— O senhor devia ser proibido de falar sobre ela — apesar de não ser a cara do Potter pai, o filho ficava igual a ele quando nervoso, Draco notou.
— E você devia tomar seu rumo.
— Honestamente, eu sou a única pessoa que ainda tem algum bom senso nessa casa? — perguntou Scorpius, balançando a cabeça. — Pai, o senhor foi um idiota. Potter, ele vai continuar sendo um idiota. Agora, por favor, tenham o bom senso de andar em direções opostas ao invés de discutir.
— Era exatamente o que eu estava sugerindo a ele, caso não tenha percebido — Draco respondeu, dando às costas para ambos e subindo as escadas.
— Eu vou com ele — avisou a voz de seu filho.
— Não — respondeu simplesmente, parando já no alto da escada e observando os dois.
— Vou sim. Não vou ficar aqui assistindo o senhor ficar miserável, eu vou lá fazer companhia a Lily. Só volto quando o senhor desfazer isso.
Draco fitou o filho e, por fim, deu os ombros.
— Não gosto disso, Malfoy — ouviu a voz de Potter.
— Eu vou do mesmo jeito. Você pode não gostar, mas Albus e Lily gostam da minha companhia.
— Zabini e Al já estouram o limite de sonserinos na casa.
— Blaise está lá? Ótimo. Vou aproveitar para ver se ele consegue botar algum juízo na cabeça do meu pai.
— Malfoy...
— Vamos embora, James.
O silêncio que seguiu à afirmação disse a Draco que finalmente Potter tinha reparado que estavam "do mesmo lado", o que parecia engraçado. Caminhou em silêncio até o quarto onde estivera minutos antes, agora com a certeza de que não conseguiria dormir. Ouviu Scorpius bater a porta pouco tempo depois e soube que estava, pela primeira vez em meses, completamente sozinho em casa.
Ginevra ouviu uma leve batida na porta e forçou sua voz a mandar a pessoa entrar. Por mais decidida que estivesse a ir até Draco e convencê-lo da bobagem que estava fazendo, ainda se sentia humilhada na presença dos demais.
— Oi — falou a conhecida voz de Harry, a cabeça aparecendo em uma fresta da porta do quarto que os dois dividiram por tantos anos. — Posso entrar?
A ruiva deu os ombros.
— Algum problema?
— Vim buscar as crianças.
— Eles estão... Jogando quadribol, se não me engano.
— Eu sei. Mas queria ver como você está.
A mulher o encarou, relativamente curiosa.
— Ron me contou do que Malfoy fez.
Ela acenou com a cabeça, relativamente tranqüila.
— Ele tem uma boca maior que o mundo. Como ele está?
— Vivo - respondeu, simplesmente. — Teve uma ressaca fenomenal, mas está sobrevivendo. Não sei por quanto tempo. Nunca na minha vida eu vi Hermione tão brava com ele.
— Eu nunca tive tanta vergonha dele — respondeu, dando os ombros.
— Ron nunca foi forte com bebida — falou Harry, como se aquilo fosse alguma novidade. — Escute... Eu sinto muito pelo que aconteceu.
— Não sente não — respondeu, virando o rosto.
— Verdade, não sinto não. Malfoy é um cretino e você merece coisa melhor.
Os dois ficaram em silêncio por algum tempo.
— Eu vi que Scorpius está aí.
— Ele está aqui tem dias. Diz que não quer ficar sozinho na Villa por que Draco está "miserável", segundo as palavras dele.
— Bem feito para ele — falou o moreno, visivelmente sem conseguir se segurar. — E ele e Lily?
— Têm se comportado perfeitamente bem, pelo que eu sei.
— Escute, Gin — ele falou, respirando fundo. — Eu queria que você não tivesse passado por nada disso. Eu sei que eu fui negligente com você e... Você merecia ser feliz.
Ela acenou, concordando.
— Eu quero dizer... Que caso você resolva passar para outra... Ou se você resolver continuar nessa... Tanto faz, na verdade... Eu posso não concordar sempre, mas vou te apoiar.
— Obrigada, Harry — respondeu, a voz rouca, segurando as lágrimas.
— Eu posso até ir dar uns cascudos em Malfoy se você quiser.
Eles riram juntos e ela balançou a cabeça.
— Eu vou cuidar pessoalmente disso amanhã.
— Pessoalmente, eu voto em você dar a ele uma das suas Azarações Contra Bicho Papão.
— É uma idéia que tem seus méritos — ela respondeu ainda sorrindo.
— Bom, eu vou levar as crianças para passear. Cinema.
— Papai adoraria essa idéia.
— Eu o chamei para vir conosco. Sua mãe não ficou muito feliz.
— Imagino que não.
— Eu deixo Scorpius em casa ou o levo comigo? — perguntou, erguendo a sobrancelha.
— O que ele preferir. Não acho que ele já tenha ido ao cinema.
— Malfoy não ficaria muito entusiasmado com a idéia.
— Draco não precisa saber, de qualquer forma. Ele está sob a minha responsabilidade, não a de Draco.
O olhar no rosto de Harry mostrou claramente para ela como aquela situação era estranha.
— Eu pergunto a ele. Mas vou fazer questão que se sente bem longe de Lily.
A ruiva riu e ele sorriu.
— Tenho certeza que James concorda com você nesse ponto.
Ele se levantou da cama, dando um beijo na testa da ex-mulher.
— Fique bem, Gin.
Ginevra acordou cedo no dia seguinte, ansiosa. As crianças ainda não haviam levantado quando colocou a mesa para o café, ocupando-se o máximo que conseguiu com os afazeres domésticos para fazer o tempo passar — havia a louça do jantar da noite anterior para lavar e a roupa lavada na máquina para estender. James foi o primeiro a descer, ainda sonolento, com seus pijamas amassados. Albus e Scorpius não demoraram muito além do mais velho — e Al, como em todas as manhãs, estava extremamente mal humorado.
— Mãe, os ovos acabaram, James comeu tudo — o rapaz disse assim que ela terminou de estender a roupa e retornou à cozinha.
— Eu já faço mais, querido — ela respondeu, acenando com a varinha para que o fogão acendesse. — Alguém viu Lily?
— Ela estava tomando banho quando passamos pelo quarto, senhorita Weasley — Scorpius respondeu, fazendo James engasgar com o copo de leite que tomava.
— O que vocês estavam fazendo no quarto dela?
— Nós passamos pelo quarto dela, James — Albus respondeu, irritado. — Fica no mesmo caminho que você faz para descer as escadas, caso não tenha reparado.
— E como vocês sabiam que ela está tomando banho? — questionou, fitando os dois garotos sentados lado a lado à mesa.
— Nós não somos surdos, Potter — o loiro respondeu, parecendo mais interessado em suas torradas do que no piti que o mais velho dava. — Água caindo do chuveiro faz barulho, sabia?
— Ela já deve estar descendo, mamãe — Albus disse assim que Ginevra lhe entregou seu prato com os ovos mexidos.
— Eu vou até a Villa Malfoy hoje — avisou aos garotos.
— O que a senhora vai fazer lá? — James se adiantou.
— Ver os pufosos da minha mãe é que não é — Scorpius alfinetou.
— Eu não acredito que a senhora vai perder tempo falando com... — o loiro o encarou significativamente. — Com o pai dele — finalizou.
— Você acreditando ou não, eu vou, James, e eu não pretendo perder tempo — respondeu, sentando-se ao lado do garoto. — Bom dia, meu amor — Lily havia acabado de entrar na cozinha.
— Bom dia mamãe — a menina lhe beijou a bochecha e sentou ao seu lado.
— A senhora podia levá-lo — o mais velho indicou o loiro. — Ele já ficou tempo demais aqui.
— Scorpius pode ficar aqui o tempo que quiser, querido — respondeu, fitando o amigo do filho. — Você sabe que é bem-vindo nessa casa a qualquer momento. Você quer leite ou chá, Lily?
— Não é chá de raiz-de-cuia, é? — a menina perguntou com uma careta, fazendo-a rir.
— Não, todo o estoque que Luna trouxe da última vez já acabou — respondeu, servindo-a.
— Não sei por que James se estressa tanto com Scorpius aqui — a pequena comentou. — Al, me passa as torradas?
Ginevra percebeu os olhares da menina e do loiro se cruzarem, e Lily sorriu, tímida, enquanto o irmão lhe passava a cesta.
— Porque já que o pai dele não está mais noivo da nossa mãe, não há motivo pra ele fugir de casa e se esconder na nossa — o mais velho argumentou, limpando a boca.
— Você diz isso como se Scorpius fosse um estranho que conhecemos ainda ontem — Albus respondeu sem olhar para o irmão.
— Eu só acho que Scorpius devia estar aproveitando o tempo dele ao lado daquele pai dele.
— Você mesmo viu, Potter, com seus próprios olhos, o quanto eu quero ficar ao lado do meu pai na atual situação dele — o loiro intercedeu.
— Você deveria cuidar do seu papai — ironizou.
— Meu pai já é bem grandinho para cuidar dele mesmo.
— Blaise deve chegar daqui a pouco.
— O que Zabini vem fazer aqui? — Albus estranhou.
— Alguém tem que ficar com vocês enquanto eu vou até a Villa — Ginevra explicou.
— Não poderia ser a tia Luna? — James questionou.
— Nós não somos mais crianças, mamãe — Al cruzou os braços, encarando-a. — Podemos muito bem ficarmos sozinhos enquanto a senhora vai conversar com Malfoy.
— Luna não pôde vir — respondeu enquanto terminava seu chá. — Ela disse que teve problemas com uns Dilátex Vorazes. Quanto a vocês não serem mais crianças, Albus, eu estou de acordo. O que eu não estou de acordo é em deixar vocês quatro sozinhos — acrescentou, encarando James.
— Não vejo nenhum problema em ficarmos aqui com Blaise — Scorpius comentou.
— É óbvio que ele vai facilitar Malfoy! — o moreno protestou enquanto Albus olhava do amigo para a irmã, obviamente entendendo o motivo pelo qual ela não queria deixar os quatro sozinhos.
— Nós vamos nos comportar, mamãe — Lily interrompeu a discussão.
— Eu sei que vão, querida — Ginevra respondeu, sorrindo para a menina.
— Nós podíamos ficar com papai — o mais velho insistiu.
— Seu pai está no Ministério, trabalhando uma hora dessas, James. Não é como se fosse o quintal de casa, em que eu pudesse simplesmente deixar vocês à vontade.
— Ou poderíamos ir para A Toca... — tentou.
— Seus avôs estão na loja hoje, com seus tios.
— Nós poderíamos ir para a loja, então!
A ruiva suspirou.
— Blaise deve estar chegando, vocês ficarão em casa, com ele e ponto final.
— Então nós vamos com a senhora.
— Eu não estou lhe consultando sobre o que você quer fazer, James, estou apenas avisando que vocês ficarão em casa com Blaise.
— Hm — Scorpius interrompeu a discussão, terminando de dar um gole em seu leite. — Assim Blaise não interrompe nada. É melhor mesmo.
Ginevra não pôde evitar sorrir para o loiro, que lhe retribuiu o sorriso.
— Além do mais — a ruiva disse antes que o filho pudesse responder —, é melhor vocês se acostumarem com a presença dele.
— Por quê? — Lily perguntou.
— Blaise será nosso padrinho de casamento. Ele e Draco são melhores amigos, então vocês o verão com freqüência. Não é, Scorpius? — o loiro assentiu.
— Eu não acredito que a senhora está insistindo nisso, mesmo depois de tudo o que Malfoy fez! — James se levantou da cadeira, indignado e vermelho de raiva.
— Sente-se aí, mocinho, e termine seu café — ela mandou, calma. — Dar escândalos agora não vai me fazer mudar de idéia.
— Mãe, ele é um cretino! Ele não se importou com a senhora, ele...
— James, sente-se — ela indicou a cadeira. — Nós não vamos continuar essa conversa com você de pé.
O rapaz fechou a cara e obedeceu, bufando.
— Como você estava dizendo — Ginevra continuou. — Draco é um cretino, sim. Ele não se importou comigo, sim. Ninguém aqui está desmentindo isso, está? — observou Albus e Lily, que prestavam atenção na conversa, e Scorpius, que meneou a cabeça.
— Então por que a senhora ainda insiste?
— Porque ela gosta do meu pai — o loiro interveio. — Isso é óbvio, Potter.
— A senhora deveria esquecê-lo, e não procurá-lo.
— Mamãe não o esqueceu por vinte anos, James. Não é algo que aconteça em um punhado de dias — Lily respondeu, como se aquilo fosse absolutamente óbvio, fazendo os meninos se espantar. — Ué, não é verdade? — ela deu de ombros ao perceber que os três a encaravam.
— E o que você entende disso? — o irmão mais velho perguntou.
— Mais do que você, aparentemente.
— Mamãe! A senhora está ouvindo o que ela está dizendo?
— Tão claro quanto você, James.
— E a senhora não vai falar nada?
— Caso você não tenha percebido, meu amor, sua irmã está crescendo. Ela não é mais uma criança, e ela está absolutamente certa.
— É claro que ela é uma criança! Ela ainda tem doze anos!
— Você com doze anos aprontava muito mais do que ela, e não suportava ser chamado de criança — Albus comentou.
— Mas ela é uma menina!
— Mulheres amadurecem muito mais rápido que os homens, caso você não saiba — Scorpius apoiou o amigo.
— O assunto ainda não chegou em você!
— James, olhe os modos! — a mãe lhe chamou a atenção.
— A senhora não vai falar nada sobre isso? — o rapaz parecia espantado.
— Caso você não lembre, James, eu cresci com seis irmãos discutindo comigo exatamente como você está fazendo agora.
— Então a senhora vai ficar do lado dela — ele cruzou os braços, irritado.
— Eu não estou do lado de ninguém, meu amor — tentou acalmá-lo. — Eu só acho que é hora de você começar a enxergar sua irmã com outros olhos.
— Ou seja, está do lado dela.
— Ela está tentando te mostrar o quão idiota você está sendo.
— Albus, não fale assim com seu irmão — ela olhou para o filho do meio, que deu de ombros.
— Deixe Potter, Al — Scorpius interveio. — Ele simplesmente não consegue enxergar que, quando ele mais precisar, é você e sua irmã quem estarão lá. Ele não sabe a falta que a gente sente das pessoas que amamos e que já foram embora. Ele vai descobrir isso da pior maneira possível, infelizmente.
— Isso foi uma espécie de ameaça? — James praticamente cuspiu as palavras em cima do rapaz.
— Não, Potter. Foi uma triste constatação.
Ginevra observou Lily lançar um meio sorriso para Scorpius e no segundo seguinte a campainha soou, finalizando a discussão. A ruiva levantou e abriu a porta para Blaise em seguida.
— Bom dia — falou o negro, parecendo animado. — Como vão as coisas por aqui?
— Bom dia — ela o cumprimentou. — Um pouquinho agitadas, eu diria...
Os quatro à mesa cumprimentaram o recém chegado.
— Eu acabo de sair da Villa.
— Como meu pai está? — Scorpius se adiantou.
— Oh, uma grande bosta, claro. Ele está há dias trancado naquele maldito quarto, come lá, dorme lá, toma banho lá... Devo dizer que é reconfortante vê-lo tão arrasado por suas próprias idiotices.
Ginevra viu o rapaz loiro se afundar na cadeira, fitando o prato à sua frente.
— A mamãe vai dar um jeito nisso — Lily comentou, encarando Scorpius.
— Sem a menor dúvida, Lily. Se tem alguém que pode dar um jeito nisso é sua mãe — o negro aproximou da ruiva, passando o braço em torno de sua cintura. — Já te falei como sua idéia de esperar uns dias foi maravilhosa? Me deixa tão satisfeito ver o Draco daquele jeito.
— Hey, nós estamos falando do meu pai — o loiro interveio. — Do idiota do meu pai, mas ele ainda é meu pai.
— Ele é seu pai há bem menos tempo do que é meu amigo, Scorpius. Enfim, não importa — falou, dando um beijo estalado na bochecha da ruiva. — Vá lá... E mostre pra ele quem usa as calças nessa relação no momento.
— Eu não pretendo me demorar — o negro a encarou significantemente. — Não muito — acrescentou, sorrindo. — Até porque, eu espero que ainda tenha uma casa quando voltar.
— Ouch! — exclamou o sonserino, colocando a mão sobre o peito. — Você está ofendendo minhas habilidades domésticas!
— Não estou ofendendo suas habilidades domésticas, Blaise. Estou duvidando da sua capacidade de controlar meus filhos.
— Nada de meia duzia de Petrificus Totalus não resolvam.
— Blaise!
— Estou só brincando — respondeu, sorrindo. — Vá logo, Ginevra, eu estarei esperando você voltar aqui com ele e acabar com essa palhaçada.
A ruiva beijou-lhe a bochecha, em seguida beijou cada um dos filhos — Albus e Lily lhe desejaram boa sorte, enquanto James sequer abriu a boca — e Scorpius — que a lembrou de avisar para Draco que só voltaria para casa quando ele voltasse "a ser gente".
Ginevra aparatou em frente aos portões da Villa Malfoy, deixando que seus passos a guiassem por dentro da propriedade assim que os portões sumiram. A casa estava silenciosa e vazia, conforme já esperava. Subiu as escadas ouvindo o eco dos próprios passos sobre os degraus, parando diante da porta do quarto de hóspedes que sempre dividira com Draco. Deteve sua mão a meio caminho de bater à porta, respirando fundo e decidindo que o melhor era simplesmente entrar.
As janelas e as cortinas estavam fechadas, deixando o cômodo na penumbra. Identificou facilmente o volume sob as cobertas como sendo Draco.
— Blaise, eu já te mandei se foder — ouviu o homem resmungar. — Esqueceu alguma coisa no caminho?
— Eu acho que quem esqueceu alguma coisa foi você — ela respondeu, aproximando-se.
Draco sentou rapidamente na cama, observando-a.
— O que você está fazendo aqui?
— Os convites do casamento ficaram prontos — ela colocou o envelope sobre os pés dele. — Achei que você gostaria de ver. Mas acho que você não vai gostar da foto.
— Do que você está dizendo, Ginevra? Você ficou louca ou...
— Afinal, as pessoas da foto parecem felizes.
— Não faça isso... — ele pediu ao vê-la abrir o envelope e retirar um dos convites.
— Veja você mesmo — a ruiva lhe estendeu o pergaminho.
— Ginevra, não torne as coisas mais difíceis.
— Eu falei pra você que eu preferia um convite tradicional, mas você insistiu em colocar uma foto. Você insistiu em fazer tudo diferente, e eu cedi, lembra?
Draco não respondeu, deitando-se novamente na cama e encarando o teto. Mas ela não desistiria tão fácil. Aproximou-se ainda mais, sentando ao lado do corpo dele estirado na cama.
— A propósito, seu filho está ótimo — ela continuou. — As pessoas sempre ficam melhor quando estão longe de gente egocêntrica, covarde e cretina.
— Ginevra...
— Olha só, você não está fugindo na foto — ela indicou a imagem do loiro, que sorria abraçado à imagem dela. — Pena que as pessoas não vão acreditar, não é?
— Ginevra, você ficou louca?
A ruiva deu de ombros.
— Devo ter ficado. Afinal, eu resolvi me casar com um cara que acha que o mundo gira ao redor do próprio umbigo, um cretino covarde. É, acho que eu fiquei.
— Você sabe que não vai mais haver casamento, então...
— E sabe o que é o pior? — ela prosseguiu, fingindo não ter ouvido o que ele havia dito. — Ninguém me forçou. Ninguém me obrigou a nada, nem me iludiu! Não houve nenhum Feitiço de Confusão, eu sabia exatamente tudo isso dele quando ele me propôs e eu aceitei. É, eu devo ter ficado louca mesmo.
— Não faça isso... — o loiro murmurou quando ela aproximou o rosto do dele.
— Afinal, eu resolvi casar com alguém com que a definição de abrir mão das coisas e das pessoas "por um bem maior" não combina. Sabe, eu quis mudar depois da primeira tentativa. Porque alguém disse que eu tinha que "ser feliz". Alguém me convenceu disso. Tão bem que ele mesmo acreditou, já que, aparentemente, era tudo uma grande mentira.
— Você não entende — ele tentou desviar o olhar do dela, mas a ruiva o segurou pelo queixo.
— Você não entende, Draco. Você não entende que eu sabia perfeitamente bem onde eu estava me metendo quando tudo isso começou. Eu disse pra você que eu estava com medo, lembra?
Nenhum dos dois sequer piscava, tamanha tensão.
— Eu te disse que eu tinha medo, e você, com o tempo, me mostrou que não havia motivo para temer ser feliz — ela continuou. — Que eu merecia uma nova chance de tentar ser feliz. Com o cara. Com o cara que eu amo. Mesmo sendo um idiota, cretino, imbecil e covarde. Eu sempre soube que isso fazia parte do pacote. Aparentemente, ele não.
Draco suspirou, fechando os olhos.
— Eu não quero te magoar. Não de novo.
— Hm, sua lógica é muito inteligente — ela o soltou, embora continuassem na mesma posição. — Você me magoou, para não me magoar.
— Eu não mudei, Ginevra.
— Ainda bem que não — ela suspirou. — Você só ficou um pouquinho mais idiota. Mas eu posso conviver com isso.
— A teoria é linda, mas isso não se aplica à prática.
— Claro que não. Aliás, seu filho dormiu abraçado à minha filha essa noite, e Albus encobriu tudo.
— Scorpius o quê? — ele sentou novamente, encarando-a.
— Eles acham que eu não notei nada — ela sorriu. — Mas eu os vi quando fui deitar. Eu sempre passo para ver se os quatro já estão dormindo, e então...
— Como você permitiu uma coisa dessas, Ginevra?
A ruiva deu de ombros.
— Seu filho não é idiota como você, Draco. E um único Malfoy acabado por ser infeliz já me é o suficiente, não acha?
— Eu vou buscá-lo, agora mesmo — ele puxou as cobertas, na intenção de se levantar da cama, mas ela o segurou pelo braço.
— Scorpius disse que só volta para essa casa quando você voltar a ser o pai dele, e não um "miserável".
— Eu sou o pai dele!
— Você não acha que já jogou água em castelos de areia demais por um século, Draco? Não acha que estragar a felicidade de uma pessoa já foi o suficiente? Você pretende, agora, fazer com que seu filho fique parecido com você até nisso?
— Não está certo isso que ele está fazendo com a sua filha.
— E o que você acha que ele está fazendo com ela? Você, sinceramente, acha que ele faria promessas a ela que não pretende cumprir? Acha que desrespeitaria ou abusaria de Lily de alguma forma?
— Ginevra, não — ele balançou a cabeça, flexionando as pernas e colocando-a entre os joelhos.
— Nossos filhos se gostam, Draco, da maneira mais pura que pode existir. Não há maldade entre os dois, Scorpius respeita Lily — ela disse perto do ouvido dele, em tom calmo. — Você quer destruir isso também?
— Scorpius não é mais criança, Ginevra.
— Nem Lily — respondeu simplesmente. — Seu filho está feliz. Só não está mais feliz porque o pai dele é um idiota. Mas nem por isso a vida dele parou. Ele já perdeu a mãe, Draco, e está lidando com isso de uma maneira surpreendente. Só que você está perdendo seu tempo se castigando por ser um idiota e está perdendo tudo isso.
— Eu vou buscá-lo, e as coisas vão se ajeitar — o loiro disse, erguendo a cabeça e fitando-a.
— As coisas se ajeitaram quando você tinha catorze, quinze anos?
— As coisas mudaram, Ginevra.
— Claro que mudaram. Seu filho é mais maduro que você.
— E você está sonserina demais.
A ruiva deu de ombros.
— Caso você não se lembre, eu tenho um filho que foi pra Sonserina.
— Isso não te faz mais ou menos sonserina.
Ela balançou a cabeça negativamente.
— Eu amo um filho da mãe de um sonserino. Isso me faz mais ou menos sonserina?
— Isso te faz ser mais grifinória.
Ginevra riu, dando de ombros.
— Acontece — respondeu simplesmente, continuando a encará-lo.
Permaneceram em silêncio por alguns minutos
— Você devia ir embora — Draco disse finalmente.
— Eu preciso fazer uma lista das coisas que você devia fazer?
— Isso não vai dar certo, Ginevra — ele respondeu, cansado.
— Claro que não vai. Um casamento não dá certo quando apenas uma pessoa está disposta. Eu tenho experiência nisso, caso você não se lembre.
— Então por que você está insistindo nisso?
— Porque, nas palavras, do seu filho, eu gosto de você, e isso é óbvio.
— Gostar... Não é o suficiente para fazer um casamento dar certo.
— Palavras de Scorpius. Eu acabei de dizer que eu te amo, caso você não tenha percebido.
— E eu não abri mão de você porque não te amo — respondeu, parecendo cansado. — Eu abri mão de você por que não poderia suportar te decepcionar mais uma vez.
— Até onde eu sei, Draco, isso faz parte do rumo natural das coisas. Nada dá certo o tempo inteiro. Não existe casal perfeito, que nunca briga ou em que um nunca decepcione o outro. Faz parte da natureza humana tentar, errar às vezes e acertar em outras.
— Eu já errei uma vez. Você conhece o ditado... Errar é humano, repetir o erro é burrice.
— E desde quando você acredita em ditados?
— Desde que você ficou infeliz com Potter.
— E o que isso tem a ver? — a ruiva perguntou, cruzando os braços.
— Você me mostrou que pelo menos esse ditado tinha alguma razão.
— Então agora você acha que nós somos um erro?
— Eu tenho medo que sejamos um erro.
— Você lembra o que você me respondeu quando eu disse que tinha medo?
— O quê?
Ginevra deu de ombros.
— Se importasse realmente, você lembraria — ela se levantou, caminhando até a janela e abrindo as cortinas, deixando a luz do sol entrar no quarto.
— Eu te disse... Que se você achava que era errado... Agora talvez fosse o certo.
— Então por que de repente você deixou de acreditar nisso, Draco? — a ruiva perguntou, tornando a se aproximar da cama.
— Eu não... Eu... Não é tão simples assim, Ginevra.
— É sim.
— Eu realmente queria que você me esquecesse e ficasse com alguém que pudesse te fazer feliz.
— Isso não te faria feliz.
— Te ver feliz sempre me faz mais feliz.
— A quem, além de você mesmo, você quer convencer disso, Draco? — ela sentou ao lado dele novamente. — Você vai se martirizar o resto da vida se isso acontecer — acrescentou, fazendo carinho no rosto dele.
— Eu já passei metade dela me martirizando, acho que estou acostumado — respondeu, fechando os olhos involuntariamente.
— Isso não é ser feliz. Olhe para você. Nem mesmo seu filho quis ficar do seu lado quando você quis dar uma de Harry Potter. Você não vai ser feliz assim, Draco.
— Gin... — ele murmurou, a voz soando altamente incoerente. — Eu... Eu queria que isso fosse simples e fácil.
— Draco, olhe pra mim — ela pediu.
Ele ergueu os olhos, encarando-a por um instante.
— As coisas são simples e fáceis. Nós é que complicamos, sempre — a ruiva continuou.
— Gin... Eu não passei uma noite aqui desde que você foi embora e... Seu cheiro...
— Você manteve esse quarto trancado, numa tentativa de que o que aconteceu aqui não se perdesse.
— Eu acordei todas as noites, procurando você na cama — os olhos dele estavam novamente fechados e parecia estar falando mais pra si do que pra ela. — Todas elas.
— Eu estou aqui agora — ela murmurou em seu ouvido.
— Eu... — o loiro se virou, só então parecendo notar a proximidade dos dois rostos. — Sou um idiota, não? — sussurrou e a ruiva conseguia sentir seus lábios formando as palavras.
— Absolutamente — ela respondeu, sorrindo.
— Céus... Esse seu sorriso...
— Tem cinco pessoas na minha casa esperando por ele — comentou.
— O quê?
— James foi o único a torcer contra. E Blaise não vai interromper nada, eu posso te garantir.
— Você tem idéia do quão estranha é a idéia de Blaise não interromper?
Ginevra assentiu.
— Acho que mais estranho que isso é eu o ter convidado para nosso padrinho.
— Esse era meu papel, não o seu...
Ela deu de ombros.
— Você resolveu dar uma de noiva histérica...
— Acho que invertemos os papeis então.
— Então você poderia, por favor, voltar a ser você mesmo e me beijar logo, ou eu vou ter que fazer isso também?
— Acho que vai ter que fazer isso também — respondeu, implicante, o sorriso estampado no rosto.
— Tem certeza?
Draco assentiu e ela se levantou da cama, dirigindo-se para fora do quarto. Ele levantou em seguida, em um sobresalto, e saiu andando atrás dela, até alcançá-la no meio do corredor e encostá-la na parede.
— Não vire as costas para mim, senhora Malfoy — ele sussurrou antes de beijá-la.
Pela primeira vez em anos, a volta para Hogwarts não seria celebrada com um imenso e lotado almoço n'A Toca. Ao menos não para Lily e Rose, que Ginevra fez questão de levar a um Beco Diagonal onde mal se conseguia andar para que pudessem fazer os últimos ajustes nos vestidos das duas. Rose logo se mostrou receosa: pela distância da data até o casamento, temia que as vestes não servissem no dia da cerimônia.
— E se nós engordarmos?
— Rose, querida, apenas vamos confirmar que o corte é apropriado. Caso seja preciso fazer mais ajustes, Madame Malkin disse que estará à nossa disposição no dia do casamento.
— E o seu vestido, mamãe? — Lily questionou, atenta.
— Eu vou fazer a primeira prova hoje.
— E nós podemos ver? — a menina perguntou, ansiosa, enquanto as três desviavam das pessoas pelas ruelas do Beco, a caminho da loja de vestes.
— Claro que pode, meu amor.
— Eu nunca fui a um casamento antes — declarou Rose com um sorriso. — Vai ser bonito?
— Claro que vai, mamãe vai ficar linda.
Ginevra riu e finalmente chegaram à Madame Malkin.
— Bom dia — declarou a mulher atrás do balcão, ainda encarando o jornal. — No que posso... Ah, senhorita Weasley!
— Bom dia, Madame Malkin — ela e as meninas cumprimentaram a senhora.
— Nós viemos provar nossos vestidos — Lily informou, observando os clientes que estavam dentro da loja.
— Oh, claro, claro! — a mulher saiu andando para uma sala nos fundos da loja, fazendo sinal para que a acompanhassem. — Esses vestidos... Que escolha, que escolha. Me deram muito trabalho, sim, mas espero que estejam de acordo.
— Nós temos certeza que estarão — a ruiva respondeu enquanto a outra indicava para que as meninas subissem em dois banquinhos posicionados no meio da sala.
Ginevra se sentou numa cadeira próxima enquanto fitas métricas tiravam as medidas das duas.
— A Sra. Malfoy deve estar chegando a qualquer minuto — falou a bruxa, acenando a varinha para uma pilha de alfinetes. — Ela disse que viria supervisionar tudo, e a Sra. Malfoy é muito exigente. Eu lembro, claro, do prmeiro casamento do jovem Malfoy, que trabalho aquilo deu!
As meninas encararam a ruiva, um pouco incomodadas com a situação.
— Draco quer que tudo saia conforme planejado. Nós estamos ansiosos com tudo isso — comentou, aleatória.
— Sim, sim, e devo dizer que Narcissa Malfoy também merece a fama que tem como a melhor anfitriã de Londres, ela cuida de cada detalhe pessoalmente, cada laço, cada comida, cada elfo doméstico...
— Elfos? — Rose questionou. — Elfos domésticos vão preparar o casamento?
— Se vão? Ah, menina, que idéia, é claro que vão! Eles são muito mais rápidos com o serviço de cozinha que qualquer bruxo, e eu deveria dizer que todos os elfos domésticos de Narcissa trabalham sobre a orientação de chefs renomadíssimos.
— Tia Hermione não vai gostar disso — Lily disse, rindo.
— Hermione não tem oposição ao uso de elfos domésticos e sim à escravidão deles — falou Ginevra, suspirando. — Até onde eu sei, não são elfos escravos.
— Mas mamãe sempre disse que os Malfoy maltratavam os elfos — Rose lembrou, no exato momento em que Narcissa apareceu na porta da sala.
— Sua mamãe nunca esteve em minha casa para saber como eu trato ou deixo de tratar meus elfos.
A menina baixou os olhos, envergonhada.
— Bom dia, Sra. Malfoy — Lily cumprimentou, tímida.
— Bom dia Srta. Potter, Srta. Weasley, Ginevra — ela deu um aceno de cabeça para cada uma. — E então Madame Malkin?
— Acho que já tenho o que preciso — a bruxa acenou a varinha e as fitas métricas se enrolaram e pararam sobre a mesa, bem como os alfinetes que ainda não haviam sido colocados sobre o tecido.
— Então nos mostre — respondeu Narcissa simplesmente.
A bruxa mais velha acenou, fazendo com que um par de vestidos identicos saíssem de seus cabides e flutuassem até onde as meninas estavam. Lily e Rose ficaram admiradas.
— Nós podemos vesti-los? — Lily perguntou, fitando a mãe.
— É para isso que viemos aqui, querida.
— Vocês podem usar aqueles provadores ali — Madame Malkin indicou os boxes mais ao fundo da sala.
Houve o barulho de tecido sendo mexido por alguns minutos antes que Rose emergisse do provador, seguida de Lily, ambas em um elegante vestido verde.
— E então? — a mais nova perguntou, fitando-as. — Está bom, Sra. Malfoy? — continuou, ansiosa.
— Madame Malkin, acredito que essas mangas são... Fora de moda. Por favor, eu gostaria que elas fossem lisas, baixas, mais finas no começo e no final do que no meio.
— Acho que podíamos mexer um pouco no cumprimento — Ginevra palpitou. — O que você acha, Narcissa?
— Claro, eu gostaria que pudessemos ver com as sandálias maravilhosas que comprei para usarem com o vestido. Elas são, realmente, o toque especial.
Enquanto Madame Malkin marcava as mangas, a loira entregou as sandálias para as meninas, que as calçaram, apoiadas nos banquinhos.
— É, acho que vai ficar muito comprido assim — a ruiva comentou, fitando as duas.
— Menos uns dois ou três centimetros, Malkin — falou a loira, usando a própria varinha para marcas a bainha das meninas. — Tenha cuidado quando encurtá-las, eu ainda quero que as saias pareçam princesa.
— E não esqueça que temos a possibilidade de ambas crescerem um pouco mais até dezembro — Ginevra instruiu.
— Claro, claro, eu vou fazer meu melhor.
— Eu não devo crescer mais — falou Rose, baixinho, o rosto se tornando absurdamente vermelho.
— Lily ainda pode crescer alguns centímetros, querida — respondeu à sobrinha.
— Mamãe — Lily pediu para que ela se aproximasse, meio sem jeito.
— O que foi, meu amor?
— A senhora acha... — ela baixou os olhos, fazendo uma pausa. — A senhora acha que ele vai gostar? — perguntou, tímida.
— Seja quem for esse ele, Srta. Potter, seria louco se não gostasse. Vocês vão ficar fabulosas — respondeu Narcissa, agora mexendo em uma série de arranjos de cabelo.
— Com certeza, querida — frisou a mãe, passando a mão nos cabelos da filha.
Lily sorriu, satisfeita.
— Você já viu seu vestido, Ginevra? — Narcissa perguntou, aleatória.
— Assim que eu terminar de marcar os vestidos das meninas, Sra. Malfoy — Madame Malkin respondeu, ainda mexendo no tecido.
— Bom, eu espero que ele esteja de acordo. Nada de fitas vermelhas, não é mesmo?
— Não — a ruiva consentiu. — As meninas estão ansiosas para ver o vestido.
— Até por que, nada fica pior em ruivas do que vermelho, rosa ou laranja. Mas Romilda, ah, ela queria detalhes vermelhos e dourados no vestido — falou a loira, demonstrando seu desgosto. — E eu disse a ela que vestidos de casamento não eram para declarar o orgulho que sentem de suas casas.
— Eu quero algo bem simples, Narcissa.
— Prontinho, já terminei com as duas — Madame Malkin informou. — Vocês já podem tirar os vestidos enquanto eu cuido da Srta. Weasley.
As meninas sorriram uma para a outra e, ansiosas, se esforçaram para não correr para os provadores. Narcissa suspirou.
— Eu sempre quis uma menina — a loira murmurou para Ginevra.
— Minha mãe também sempre quis uma menina — respondeu, sorrindo. — Mas ela estava realmente disposta a tentar muito.
— O que sua mãe fez foi... — Narcissa lhe encarou, não terminando a frase. — Eu tentei o quanto pude, Ginevra. Quando Romilda engravidou pela segunda vez, eu tive esperanças.
— Mas Scorpius é um ótimo menino.
A mulher assentiu, sorrindo.
— Ele está encantado pela sua filha, você sabe — Ginevra concordou. — Me pediu para que combinasse a roupa dele com a dela, imagine!
— Eles são... Muito bonitinhos juntos.
As meninas saíram do provador, Lily ainda ajeitava o cabelo quando as duas se aproximaram.
— E então, mamãe? — perguntou, vendo que as duas mulheres ainda estavam no mesmo lugar.
— Aqui está — falou Madame Malkin, puxando um dos vestidos brancos do cabide. — Este é o da Srta. Weasley.
— Eu volto num instante — a ruiva avisou, dirigindo-se ao provador.
Ouviu as vozes nervosas de Lily e Rose comentando sobre os vestidos enquanto terminava de se trocar. Olhou o vestido de noiva por um instante no espelho antes de sair do provador — e sua imagem lhe sorria em resposta.
— Draco? E desde quando Draco entende alguma coisa de vestidos de casamento? Não, branco não é apropriado para um segundo casamento.
Ginevra deu de ombros.
— Se você me prometer que se entende com ele depois, Narcissa, eu não vejo problema em trocar a cor.
— Mas eu vejo! — Madame Malkin protestou. — Nós não temos tempo para fazer outro vestido até a data da cerimônia!
— Faltam quatro meses — sibilou Narcissa. — Certamente você tem tempo.
— Você já tem as medidas, só precisamos ajustar a barra, e a cintura está um pouco larga — Ginevra indicou. — De resto, é só fazer igual a esse.
— Sim, eu gosto do corte.
— Mas... Senhoras... Por favor, não é como se fosse muito simples.
— O caimento ficou bom, Madame Malkin. Há pouca coisa para se ajustar — a ruiva insistiu.
— Esse vestido foi feito à mão, Srta. Weasley. Quase não ficou pronto para a prova de hoje, pois estamos trabalhando nele desde que o Sr. Malfoy nos fez a encomenda, seguindo suas instruções. Não há tempo hábil para providenciar outro.
— Se for o caso, teremos que procurar outra loja — respondeu Narcissa simplesmente.
Madame Malkin pediu para conversar com a loira a sós, ambas se retirando para outra parte da loja enquanto Ginevra e as meninas permaneceram no cômodo.
— Mamãe, isso vai sair muito caro.
— Lily, Narcissa não aceitaria nada menos que o perfeito.
— Eu achei o vestido lindo, não entendi por que a Sra. Malfoy não gostou — Rose comentou.
— O branco tradicionalmente é uma cor que representa pureza. Talvez Narcissa ache que uma mulher que já foi casada usar branco seria... Bem, hipócrita.
— Mas não vai dar tempo, vai? — a mais nova perguntou, franzindo a testa.
— Eu não sei, meu amor, eu não sei costurar.
As três ficaram em silêncio quando Narcissa voltou com Madame Malkin.
— E então? — Ginevra preguntou, nervosa.
— Nosso problema está resolvido — a loira disse simplesmente.
— Deixe-me só colocar mais alguns alfinetes — falou a costureira, acenando com a varinha. — E, pronto, já pode tirar.
A ruiva ainda tentou perguntar para Narcissa o que havia sido resolvido — mas a loira não respondeu, mudando o assunto no instante seguinte. Ginevra levou a filha e a sobrinha de volta para A Toca, ainda em tempo de as duas aproveitarem a sobremesa junto com o resto da família.
A manhã seguinte fluiu na mesma confusão de todo 1º de setembro: meias perdidas, coisas esquecidas — mas, ao menos, Draco ainda não tinha tido idéias brilhantes como "dirigir". James parecia aliviado por estar indo para a escola, apesar de saber que enfrentaria os N.O.M.s em breve. Albus e Scorpius pareciam indiferentes — os dois amigos haviam convivido tanto durante as férias que para ambos não fazia diferença estar na escola ou em casa. Lily era a única que demonstrava estar aborrecida com a partida.
— O que houve, querida? — falou a mulher, puxando-a para perto.
— Eu queria que as férias de Natal chegassem logo — a menina murmurou, abraçando a mãe.
— Ah, meu amor... Por quê?
— Eu vou sentir falta de conversar com a senhora todos os dias — disse, fungando.
— Mas você vai ter suas amigas lá para conversar.
— É diferente. E a senhora vai estar atarefada com as coisas do casamento.
— Mas eu sempre vou arranjar um tempinho para te escrever.
— James não devolveu o mapa pro papai, devolveu? — a menina a encarou, esperançosa.
— Eu nem desconfio, filha.
— Vou pedir pro Al roubar dele, posso? — perguntou, sorrindo.
Ginevra riu com gosto.
— Ai, Lily...
— James roubou o mapa do papai. E Al é sonserino. Se eu pedir, ele rouba o mapa do James, não rouba?
— Eu deveria lhe lembrar que roubar é errado.
A menina deu de ombros.
— Foi James quem começou.
— E continuar não vai fazer menos errado.
— Mas eu prometo que eu não vou usar o mapa pra fugir da escola, como James faz, mamãe.
A ruiva balançou a cabeça, tentando não rir.
— Se tirar o mapa dele, mande-o de volta para seu pai.
— Eu mando, se souber onde papai vai estar...
— Faça isso.
— E... E o meu problema enquanto eu estiver lá? O que eu faço?
— Que problema, Lily? — Ginevra se abaixou diante da menina.
— Er... A senhora sabe... Nenhuma das outras meninas... Ainda...
A mãe riu.
— Eu posso te mandar via coruja tudo o que você precisar, querida. E caso ocorra alguma emergência, eu tenho certeza que sua prima Rose pode te ajudar.
— Será que ela...?
Ginevra assentiu.
— E qualquer coisa, tem Madame Pomfrey.
— Madame Pomfrey? — a menina arregalou os olhos. - Mas... Como eu vou falar algo com Madame Pomfrey?
— Lily, Madame Pomfrey está em Hogwarts desde antes de eu ou de seu pai começarmos a estudar. Ela já me deu muita poção pra cólicas quando eu estava sem.
— E todas... Vai acontecer com todas as meninas?
Ginevra deu de ombros.
— Cedo ou tarde, acontece com todas.
— Tem certeza? E se eu ficar... Estranha? Os meninos vão perceber?
— Eu duvido muito. Seu pai e seu tio Ron nunca pareceram reparar quando sua tia Hermione ficava de TPM. Mesmo quando ela fazia coisas completamente fora do seu padrão.
— Era muito ruim com você?
— Não tanto. Não como sua tia Hermione, que ficava irritada e resolvia largar matérias no meio do ano. Uma vez ela deu um tapa na cara de Draco porque ele falou alguma coisa que ela não gostou. Eu... Só ficava muito quieta.
— Tio Ron já contou dessa história pra gente — a menina lembrou. — Mas não falou que ela estava de TPM.
— Vê? — ela deu de ombros. — Ele sempre foi incapaz de perceber. Pelo menos até eles casarem, eu espero que ele tenha passado a perceber depois disso.
Lily riu e Harry chegou logo em seguida, para se despedir das crianças. O Expresso já estava quase de partida. Todos se reuniram, para as últimas despedidas e avisos — os mesmo todos os anos.
Draco entrelaçou a mão a sua assim que o trem começou a andar. Lily, Albus e Scorpius estavam espremidos numa mesma janela, os três acenando na direção deles. Ginevra suspirou, sem querer pensar no escândalo que James daria ao saber daquilo, ao mesmo tempo em que já começava a sentir saudade dos filhos — mesmo sabendo que aqueles pouco menos de quatro meses que tinham até o casamento seriam os mais atribulados desde que as crianças haviam nascido.
Draco andava para um lado e para o outro no altar. Seus pais e os Weasley estavam fazendo as honras de anfitriões e cumprimentando as pessoas, enquanto ele mal conseguia soltar um "oi". Ao menos não via Potter em lugar nenhum, em compensação, Luna chegara na Villa cedo àquela manhã, chorando porque Kneazle tinha se recusado a ir ao casamento — pelas suas contas, eles não se viam desde antes do noivado ser anunciado. Provavelmente era por isso Blaise não estava em lugar nenhum à vista, devia estar consolando a loira.
Scorpius estava sentado na primeira fileira, ao lado de James e Albus. Sua mãe havia cuidado de cada detalhe, praticamente marcando o nome de cada convidado em suas cadeiras. E nenhum sinal de Ginevra, nem das meninas. Começou a sentir uma pedra de gelo se formando em seu estômago conforme os minutos passavam.
Blaise entrou com passos largos por uma das laterais, parando ao seu lado.
— Você demorou.
— Ginevra me pediu para garantir que não ia deixar você desistir dessa vez.
— Achei você que estivesse com Luna.
— Ela está conversando com Longbottom, mas parece melhor.
Draco assentiu, sem a menor condição de estender o assunto. Todos os irmãos dela já haviam chegado, todos os sobrinhos e cunhadas, bem como Andromeda Tonks e Teddie Lupin — Narcissa jamais abriria mão de convidá-los, lembrou ao avisar a mulher sentada na primeira fileira de cadeiras, ao seu lado o neto estava de mãos dadas com Victoire.
Luna e Longbottom entraram apressados pela lateral oposta a onde estavam os Weasley, se sentando na segunda fila. Então a música começou e achou que suas entranhas tinham se transformado em fogo completo. Nunca tinha se sentido tão nervoso como conforme via seu pai conduzir a Sra. Weasley em direção às suas cadeiras, ou Arthur Weasley andando de braços dados com sua mãe.
Prendeu a respiração quando a avistou, de braços dados com o irmão mais velho. Nunca tinha visto Ginevra tão bonita e Blaise precisou cutucar suas costas para que lembrasse de andar até ela. Apertou a mão de Bill sentindo uma náusea imensa e viu o sorriso, aquele sorriso por baixo do véu.
Mal conseguia ouvir o que o celebrante dizia conforme os dois o encaravam. Seus olhos jamais deixavam o rosto da futura esposa, gravando cada detalhe daquele momento. Ela sorria o tempo inteiro, quase sem prestar atenção no que estava sendo dito. Era um belo discurso sobre como o amor resistia às adversidades e ao tempo, Draco tinha feito questão de ler antes do casamento, para saber se era apropriado, mas a voz do celebrante que o Ministério tinha mandado fugia de sua mente.
O loiro tinha que controlar suas mãos com toda sua força de vontade, pois seus instintos eram encostar no rosto, usar seus dedos para explorar os sorriso da noiva, fazer-lhe carinho, ver como seus olhos se fechavam e como respirava fundo. Ela sorria sem parar, às vezes abaixando os olhos como uma adolescente tímida, outras vezes dirigindo o sorriso ao celebrante conforme acenava, concordando com ele.
Finalmente ouviu o homem chamando seu nome.
— Draco Pollux Malfoy, você aceita Ginevra Molly Weasley como sua legítima esposa e jura amá-la, respeitá-la e honrá-la por toda a vida?
— Sim — respondeu, a voz firme apesar de suas mãos tremerem.
— Ginevra Molly Weasley, você aceita Draco Pollux Malfoy como seu legítimo esposo e jura amá-lo, respeitá-lo e honrá-lo por toda a vida?
— Sim — Draco podia quase ouvir o riso fugindo no som de sua voz.
— Então eu vos declaro marido e mulher — ele falou, com um sorriso, criando uma chuva de estrelas sobre os dois. — Pode beijar a noiva.
Draco se atrapalhou para levantar o véu e Ginevra sorriu abertamente, exalando felicidade, os olhos brilhantes de lágrimas. Passou a mão sobre o rosto dela por um instante antes de repousá-la na cintura da mulher, beijando-a com vontade. Sentiu os dedos dela afundarem em seus cabelos e esqueceu completamente que estavam em público, apenas concentrado em beijá-la, até que Blaise pigarreou, fazendo com que se separassem.
— Sempre interrompendo — falou a ruiva, sorrindo para o padrinho de casamento.
— Esse é meu trabalho aqui — ele respondeu, beijando a testa da mulher. — Faça-o feliz, Ginevra.
— Eu prometo me esforçar.
— E você — o negro falou, apertando a mão do amigo. — Não faça nada idiota.
— Você pede coisas difíceis demais.
— Me dêem licença, mas acabo de ver uma coisinha linda ali e preciso tirá-la para a primeira dança.
— Deus me livre de atrapalhar sua operação conquistador — o loiro respondeu, sorrindo.
— Olhem vocês mesmos — ele apontou uma mulher loira em vestes cobalto no fundo do salão. — Já viram algo mais bonito?
— É Gabrielle, irmã de Fleur — informou a noiva. — Ainda é solteira.
— Mademoseille, aí vou eu — respondeu antes de desaparecer entre os demais convidados.
As cadeiras foram movidas ao sinal de Narcissa e a música começou a tocar levemente. Ele a guiou pela pista de dança, abraçando-a junto ao seu corpo conforme os dois deixavam os passos serem guiados pela melodia.
— Finalmente — ele murmurou no ouvido dela, sem conseguir parar de sorrir.
Ginevra beijou sua bochecha em resposta.
— Eu só não vi seu ex por aqui — alfinetou.
— Ele está logo ali — ela fez com que os dois rodassem, para que ele pudesse ver os casais que agora dançavam ao redor deles. — Mas finja que não percebeu — acrescentou, cochichando.
Avistou Potter dançando com Lovegood enquanto os dois conversavam. Pouco mais ao lado, Scorpius chamava, sem jeito, uma corada Lily Potter para dançar, sob o olhar de James — que agora dançava com a filha dos Corner.
— Pelo menos seu irmão se comportou dessa vez — comentou, aleatório.
— Ele já fez besteiras suficientes, Draco — ela respondeu, olhando para a cunhada e o ruivo, que dançavam um pouco mais adiante.
— Ainda bem — respondeu com um sorriso. — Mas nós ainda temos algo a fazer.
— O quê? — Ginevra perguntou, curiosa.
— Daqui a pouco — ele começou —, quando todos já estiverem suficientemente entretidos com seus copos de bebidas e falando da vida uns dos outros, nós vamos para outro lugar.
A ruiva o encarou, surpresa.
— E eu posso saber que lugar é esse?
Ele assentiu, beijando-a demoradamente antes de responder.
— Merry Maidens — disse simplesmente.
— De volta a Merry Maidens — ela repetiu, sorrindo. — Parece que Blaise conseguiu o que queria — continuou, indicando o negro levando a neta de veela para fora do salão, a mão repousando no quadril da mulher.
— Ele não foi o único — Draco deu um outro giro, apontando na direção em que Potter estava.
— Ele está... Levando Luna para fora do salão?
— A menos que isso tenha mudado de nome, sim.
— Você acha que... Céus, ela é casada!
Draco deu de ombros.
— Você também era, e todos diziam que era o casamento perfeito, Ginevra.
— Mas é diferente... — ela comentou.
— Ela continua casada com Kneazle, o que há de diferente nisso?
— Ela gosta dele.
— Eu estou vendo quanto gosta — respondeu com um risinho. — Eu sabia, visco.
— Talvez ele seja o cara pra ela.
— Bom... Luna e Blaise fizeram tanto... Talvez seja nossa vez.
Os dois riram, beijando-se em seguida.
FIM
Agradecimentos: A Greg House e Stacy Warner, porque sem eles essa fic não seria a mesma. A James Wilson, o nosso Blaise Zabini. À Mariana Kretschmer, mais conhecida como Guta, por ter proposto esse maldito challenge e nos ter feito ficar dias e mais dias escrevendo essa "pequena" fic. À A. Mira Black, por ter proposto o challenge Harry e Luna, que foi onde essa fic começou. À Alix Raven, por ter nos aturado enquanto escrevíamos. À Fabi Mellingott, que se dispôs a betar essa nossa insanidade. À Christy Corr, que deixou a Diana entulhar a wiki com a fic ao invés de montar os artigos. Ao Arthur, mais conhecido como Tutu, que foi absurdamente fofo em cada interrupção da escrita, fosse para tomar banho, mamar ou dormir. À Rita, que segurou o Tutu boa parte do tempo para que a Diana pudesse escrever. Ao Macarrão, responsável direto e indireto por boa parte das cenas "picantes" da fic — e por fazê-las ficarem paradas na metade durante dias também. Ao Ao MSN e ao GMail, meios pelos quais essa fic foi escrita — e nada de agradecermos ao chefe da Tray, que sempre a interrompia quando ela estava respondendo a um e-mail importantíssimo com um trecho tenso da fic. Sem agradecimentos à Pichi, também, porque ela tirou o fórum do ar e nos deixou tensas sem saber o resultado por dias.