Prólogo

Sirius, mamãe mandou que ficássemos perto da casa!

A voz fina e irritante de Regulus ainda ressoava em seus ouvidos, quanto mais o garoto se afastava da mansão que ocupavam naquela praia. Ainda era quase um mistério que os pais tivessem viajado para os EUA, nenhuma explicação fora dada, mas ele ouvira por de trás da porta que Andie saíra de casa, ou algo do gênero... Para fugir com um nascido trouxa! Andrômeda sempre fora sua prima preferida e agora estava casada com um sangue ruim. Sirius balançou a cabeça, confuso, e aquelas ostras que comera com Reggie mais cedo pareciam não lhe cair muito bem também.

Todos sempre haviam lhe dito que não havia erro pior para um sangue puro (como ele era) do que se envolver com nascidos trouxas, mas ainda assim... Gostava tanto de Andie, não conseguia encontrar um bom motivo para deixar de gostar.

Chutou o chão e se arrependeu imediatamente ao sentir a água salgada entrar em seus sapatos. Que burrice da sua parte fora vir com eles para praia. Já estava ouvindo a mãe buzinando no seu ouvido quando voltasse para casa. Soltou um resmungo incompreensível e viu várias pessoas na praia, não muito distante. Certamente saíra da área particular que pertencia à família sem notar.

Cruzou os braços e ficou olhando para cena com tédio. Guarda sóis coloridos, crianças correndo de um lado para outro, como se o mundo estivesse prestes a acabar. Casaisinhos se abraçando, pais brigando com filhos, um homem gritando em altos brados sabores diferentes de algo que se chamava picolé. Trouxas...

- Duvido que pegue essa, Phebs! – alguém gritou perto de mais, e o garoto virou-se para ver um ser diminuto de cabelo castanho e óculos maior que o rosto correndo de costas na sua direção. Um homem alto, com os mesmo cabelos castanhos da menina, atirou uma bola achatada e marrom, de formato oval que o garoto supôs ela deveria tentar agarrar.

Ele tentou sair da frente, mas a garotinha fora mais rápida do que imaginara, e logo Sirius estava no chão por debaixo dela.

- Sua... Sua... – abriu a boca para brigar, mas calou-se ao ver os olhos cor de mel atrás dos óculos redondos meio tortos.

- Eu sinto muito, você está bem? Machuquei você?

- Eu... Eu tou bem. – respondeu, e depois olhou para si, cheio de areia, percebendo que aquilo não era exatamente verdade. Estava imundo, a mãe iria encher ainda mais. – Você se machucou?

- Não, você é bem macio – ela riu, arrumando os óculos. E o pai que vinha correndo a tirou de cima de Sirius, olhando para os dois, preocupado.

- Alguém se machucou?

- Não, pai.

- Não, senhor – negou, sem jeito.

- Melhor... – o senhor agachou na frente dos dois, ficando da altura das crianças, olhando para Sirius. – Seus pais estão por aqui, você não está perdido, está?

- Não! – tratou de explicar logo – Meus pais estão em casa – apontou para a direção de onde ficava sua casa. – Eu saí para dar uma andada...

Sirius olhou confuso para a menina, pois ela riu, eufórica, puxando a camiseta do pai.

- Se ele mora lá, quer dizer que ele é bruxo também, né?

- Phoebe! – o pai chamou a atenção.

O garoto se surpreendeu, não imaginara que aquelas pessoas com comportamento tão trouxa pudessem ser bruxas...

- Eu... Sou sim, vocês são?

- Sim, eu sou Phoebe – ela nem se importou com o olhar que o pai lhe lançava e apertou a mão de Sirius. – Muito prazer, me desculpa por... – apontou para o chão no lugar que caíram. – Eu sou meio desastrada, sabe. Esse é o meu pai, Davi. Aqueles lá – mostrou ao longe três pessoas embaixo de um guarda sol, certamente almoçando – Mamãe, meu irmão e minha irmã. Lisa, Leon e Shaula. Você não é daqui, é? Conhecemos todas as famílias bruxas de Escondido.

Sirius balançou a cabeça, havia sido muita informação ao mesmo tempo, a garota não parecia parar de falar um minuto.

- Sou da Inglaterra. – falou, depois de um tempo – Sirius, Sirius Black.

- Que legal, quer almoçar conosco? – indagou, e olhou para o pai. – Ele pode almoçar conosco?

- Se ele quiser. – Davi parecia ter desistido de ficar bravo, e somente riu.

- Quer? – a menina olhou para Sirius com expectativa.

- Eu não posso demorar muito... – disse, mas antes que se desse conta Phebs o estava arrastando em direção ao guarda sol.

- Sabe, eu nunca conheci nenhum bruxo de fora de Escondido, a Inglaterra é legal? – quis saber.

- Lá não tem tanto sol quanto aqui. – contou.

- Sem sol? – ela fez uma careta – Vocês não vão à praia então...

- Não com muita freqüência.

- Parece chato – disse, e olhou para a família que os observava curiosos. – Esse aqui é o Sirius, ele é um bruxo da Inglaterra.

- Onde você achou um bruxo perdido da Inglaterra? – a garota que Sirius supunha ser Shaula, a irmã mais velha, o olhou, curiosa. O garoto por algum motivo corou, ela era muito bonita. Tinha os mesmo cabelos castanhos e os olhos cor de mel da irmã, mas não usava óculos e vestia um traje de banho que sua mãe diria se tratar de atentado violento ao pudor. Ele gostou do que viu.

- Eu trombei com ele – Phoebe contou, e sentou na toalha, puxando Sirius para sentar junto. – Enquanto eu e papai jogávamos futebol.

- Phebs é desastrada – o irmão mais novo contou, enquanto tomava suco.

- Não sou! – a garota emburrou.

- Não chame sua irmã de desastrada – a mãe pediu e sorriu para Sirius, que ria das picuinhas dos dois irmãos. Lembravam ele e Reggie, mas era mais divertido. – Quer um pedaço de torta?

- Eu... – começou sem graça – Sim, quero.

Sem que notasse, Sirius acabou ficando mais tempo do que imaginara. Ele levantou-se, dizendo que estava atrasado, e que precisava voltar para casa.

- Você volta?

Ele olhou para os imensos olhos claros atrás das lentes grossas e sorriu.

- Sem dúvidas! – sorriu.


Na manhã do dia seguinte, Sirius inventou uma desculpa qualquer para os pais, livrou-se de Regulus e cruzou a barreira mágica que separava a casa em que passavam férias do resto da praia. Estava um dia quente, e dessa vez viera preparado: bermudão e chinelos. Havia se divertido mais com a família Danton do que em qualquer dia que passara com a sua própria família em muito tempo. Phebs, que não parara de falar para variar, lhe contara muita coisa sobre os bruxos que viviam na cidade californiana de Escondido, no que trabalhavam, como viviam. Falara dos costumes locais e até o convidara ir à sua casa, depois, é claro, de perguntar ao pai se podia.

O garoto observou o sobrado branco e azul onde a família Danton vivia, e o imenso cão negro preso no quintal, que começou a latir ensandecido ao vê-lo. Receoso deu um passo para trás, aquela fera podia devorá-lo só com uma mordida.

- Quieto, Snuffles! – Phoebe gritou da porta da frente, e o imenso cachorro deitou no chão, com cara de coitado. Sirius riu e olhou para a menina que conversava com a mãe, recebeu um beijo e correu na sua direção. – Ele é bonzinho – contou quando chegou perto de Sirius. – Só gosta de latir, mas não morde ninguém.

- Ele é um monstro. – riu-se, nervoso.

- Isso não é muito gentil, sabe?

- Eu não estava querendo ser gentil – Sirius deu dois passos incerto na direção do cão. – Ele não vai realmente me matar?

- Só se eu mandar. – disse, séria e riu da cara de Sirius que pulou para longe. – Eu estou brincando, você leva tudo tão a sério – segurou na mão do garoto. – Vamos na praia?

- Sim, sim – ele ainda deu um olhar para o cachorro, mas os dois logo começaram a andar na calçada. – Seus irmãos?

- Shaula saiu com o namorado e o Leon está vendo desenho na TV.

- Na o quê?

- Você não conhece uma TV, Sirius? – o garoto negou – É um negócio de trouxas muito legal.

- Trouxas? – ele torceu o nariz.

- Algum problema com trouxas?

- Além do fato de serem trouxas? Nenhum.

- Mamãe diz que é muito errado falar mal de trouxas, sabe... – a garota contou – Meu avô Tomas é trouxa. Ele é legal, ele não entende muito de magia, mas tem umas histórias ótimas de quando foi pra guerra.

- Você não é sangue puro? – o garoto a olhou, atônito.

- Não. Isso tem algum problema pra você?

Sirius parecia estar sofrendo um duelo interno, olhou para as mãos unidas dos dois e para os óculos meio tortos das meninas. Suspirou, meneando a cabeça em negativa.

- Você é legal. Eu acho... Que não tem problema.

- Ótimo! – ela pulou na areia. – Aposto que você não consegue construir um castelo tão grande quanto o meu!

- É claro que eu consigo construir um castelo melhor que o seu, garota! – ele correu até onde a areia estava mais fofa. – Maior e mais bonito!

- Du-vi-do!


- Toda a minha família foi de Slytherin – Sirius contou, olhando para a fogueira. A família Danton estava reunida na praia novamente, fazendo um churrasco à noite. Era véspera da volta às aulas e do retorno de Sirius à Inglaterra. O garoto havia passado praticamente os últimos quinze dias com a família Danton, e sentia um horrível vazio no estômago ao ter que dizer adeus.

- Isso é bom ou ruim? – Phebs o olhou, confusa, mordendo um marshmallow meio tostado enquanto isso.

- É ser de Slytherin – disse, sem responder a pergunta. – Eu tenho que ir para lá também.

- Tem? Quer dizer que você não tem escolha, é obrigado?

Ele abriu a boca para responder, mas calou-se, observando Leon dormindo no colo de Shaula, que ria de algo que os pais diziam.

- Você não quer ir para Slytherin, Sirius? – a amiga indagou, baixinho. – Então não vá, o que seus pais podem fazer? Colocar você de castigo?

- Você não sabe como são meus pais, Phebs... – o garoto murmurou, começando a achar um marshmallow também.

- É, não sei – a menina concordou. – Mas eles são pais, né? Pais querem que sejamos felizes, se você for feliz em outro lugar que não seja Slytherin, eles vão entender.

- Eu acho que...

Ele não pode terminar de falar ao ouvir dois sons inconfundíveis de aparatação; o garoto levantou-se surpreendido. Seus pais estavam na sua frente. A família Danton olhou para a cena sem entender exatamente o que estava acontecendo.

Órion Black olhou para o filho completamente desgostoso e lançou olhares de puro veneno para as roupas coloridas e desleixadas que a família usava que o acompanhava.

- São seus pais, Sirius? – Davi perguntou, colocando a mão no ombro do rapaz. – Estive pensando quando iria conhecê-los... – estendeu a mão. – Vocês têm um ótimo garoto aqui.

- Estivemos nos perguntando onde nosso ótimo garoto estava... – Walburga torceu o nariz e Shaula olhou para a mãe despeitada frente aos modos da mulher. – Você deveria estar em casa, Sirius, e não com esse tipo de gente.

- Tipo de gente? – a adolescente revoltou-se – Quem a senhora pensa que é pra falar conosco assim?!

- Filha, por favor – Lisa pediu, séria.

- Sou uma Black. – a mulher disse e estendeu a mão para Sirius. – Vamos embora, e teremos uma conversa muito séria sobre suas companhias.

O garoto olhou para Phebs do seu lado. A menina, pela primeira vez desde que a conhecera, parecia não ter palavras.

- Eu... – o garoto respirou fundo e adquiriu uma coragem que não sabia ter - quero me despedir deles.

- Você o quê? – a voz grossa de Órion ecoou perigosa por toda a praia.

- Eu vou me despedir dos meus amigos. – Sirius falou, dessa vez sem temor.

- Ouviram seu filho? – Davi disse, parecendo orgulhar-se do garoto – Não façam uma cena, vocês estão nas minhas terras.

Os Black pareciam estar prontos a retrucar, mas Walburga com dignidade se empertigou toda e puxou o marido até um canto afastado.

- Me desculpem – Sirius pediu aos Danton. – Eles são sempre assim.

- Você não tem culpa, filho... – Davi colocou a mão no ombro dele e sorriu. – Esperamos que você tenha uma boa viagem de volta para casa.

- Obrigado.

Lisa sorriu para o marido e deu um abraço no garoto, por quem ganhara afeto naqueles poucos dias.

- Cuide-se, está bem? – pediu, e Sirius acenou. – Não responda a seus pais, mesmo que isso seja difícil, são seus pais.

- Sim, senhora. Obrigado por todos os bolos, eles eram muito bons.

- Se cuida, pivete – Shaula desarrumou seu cabelo e também o abraçou. – Você vai ser um gatinho quando crescer, vê se não destrói corações de jovens desavisadas. – riu e olhou para a irmã, que fechou a cara.

- Eu não... – ele balançou a cabeça, nervoso.

A família riu junta, Davi pegou o filho que continuava a dormir sobre a toalha, e eles se afastaram, dando a chance para Phebs e Sirius dizerem adeus.

- Por que seus pais são tão cruéis? – ela indagou, olhando para o casal ao longe.

- Eles só falaram a verdade! – Sirius tentou defendê-los, mas corou em seguida.

- A verdade deles, você quer dizer.

- É... – concordou, sem graça – Sinto muito mesmo.

- Deixa pra lá. – a menina deu um sorriso torto – Foi bom te conhecer, eu me divertir muito nas férias...

- Eu também, você não é muito chata.

- Sirius!

- Eu 'tou brincando, você é uma boa garota. – disse, olhando para o chão, sem graça.

Phoebe corou e enfiou a mão no bolso, tirando de lá um anel largo que só caberia no dedão. Na peça de prata estava grafado uma única palavras, Amicum, amigos em latim.

- Pedi pro meu avô escrever, e meu pai encantou, ele vai aumentar a medida que você crescer – contou, entregando a peça para Sirius. – Daí você vai lembrar do verão que passou aqui em Escondido.

O garoto olhou para a peça por um momento, colocou-a no dedão, e ela se ajeitou magicamente a ele.

- Obrigado. – disse e a olhou. – Eu não tenho nada para você, Phebs.

- Não tem importância – ela balançou as mãos. – Sério...

Sirius chutou o chão, se sentindo um idiota. Devia ter comprado algo para ela. Olhou para a menina que fora sua companheira nos últimos dias e sorriu com a idéia que lhe surgiu, como se ela sempre estivesse lá, esperando somente o momento certo para aparecer. Ele se aproximou mais de Phebs, que já estava bem perto, tocou seu rosto de leve e antes que ela começasse a falar, juntou seus lábios num beijo singelo e rápido, somente um mero toque, mas que teve um imenso significado.

- Prometo que nunca vou me esquecer de você e de Escondido – disse só para ela ouvir e em seguida riu, como se nada tivesse acontecido. – Você realmente precisa dar um jeito nesses óculos.

A menina, muito corada, secou uma lágrima boba que correu pelo seu rosto.

- Adeus, Sirius.

- Até logo, Phebs.


N.A.: Pois bem, aqui está mais uma fic, escrita em parceria com Alix Raven. Nós estamos adorando escrever essa fanfic, e ela é uma ode aos clássicos fanficcionais do passado potteriano, portanto, deleitem-se e deixem reviews com muito amor para continuarmooos!