Disclaimer: Não, não, esses bruxos maravilhosos não pertencem a mim, crianças... Não se enganem! u.u' A responsável pela criação deles é a Tia JK. Já a responsável pelo que eles fazem nessa fic, huhuh, aí sim, sou eu...

Aviso 1: Spoilers de DH!

Aviso 2: Slash, Yaoi, Lemon. Ou, em outras palavras, homens apaixonados uns pelos outros, se pegando em algum momento da fic, huh. Não gosta, não leia e não ouse me incomodar! u.ú Sem mais.


Capítulo 8

Silent Whirlpool

Qual a minha combinação favorita para começar o dia? Poção anti-ressaca e café. Eis um combo que salva vidas. E reputações. E possíveis animais de estimação com os quais você tenha resolvido dividir sua garrafa de Tequila Nundu, naquele seu divino estado de inconseqüência etílica, e que precisem de algum método de desintoxicação urgente. Incluo elfos domésticos nessa categoria, claro. (Sim, Kreacher deve sua vida a mim, Draco Malfoy, a quem ele provavelmente deveria considerar seu novo verdadeiro mestre, cujas ordens de obter sub-repticiamente informações sórdidas a respeito de Potter ele cumpriria sem hesitação. Não?)

Mas considerando meu nível de divagação, desconfio que Potter obtenha suas poções com algum fornecedor de segunda categoria. Um pensamento, aliás, bem mais alegre do que o que acaba de me ocorrer, nesse irritante fluxo descontrolado de raciocínio – o de que ele poderia estar fazendo suas próprias poções e, nesse caso, eu é quem provavelmente necessitaria de alguma intervenção médica.

O café, entretanto, é bastante bom. Kreacher deve ser responsável pela obtenção dos grãos. E ele deve ter alguma experiência no ramo, afinal, Blacks adoram café. Eu não sei tanto assim sobre a família de mamãe, mas, Merlin, se vocês vissem quanto café ela e tia Bella tomavam quando Voldemort estava docemente hospedado em nossa casa... Enfim. Era muito café. E eu certamente preciso dessa bebida para sobreviver. E para um Malfoy admitir que depende de algo aparentemente tão banal, é porque é grave. E como eu também sou Black, devo supor que... Salazar, eu não deveria ter colocado espuma de leite, quantos desenhos perturbadores eu preciso enxergar até que...

Eu juro que mato Potter e seu fornecedor de quinta categoria.

Seria engraçado, sabe. Se não houvesse tanta coisa em jogo, e eu não tivesse jurado dar conta do recado sozinho. Então, quando ouço passos cambaleantes vindos do andar superior, sinto a tensão enganchar sem piedade em minhas costas, e sei que ela não vai soltar sem uma longa e ingrata batalha.

Os passos tornam-se um pouco mais estáveis, o que só pode significar que, quem quer que seja que tenha finalmente despertado, acaba de tomar a poção que eu gentil e estrategicamente deixei na mesa de centro – que definitivamente não marca o centro de mais nada naquela sala, e eu não sei dizer se foi a mesa que nós deslocamos, ou se foi tudo que estava ao seu redor.

Respiro aliviado ao ver Harry parado junto à porta, os olhos fixos em mim através dos óculos que ainda estão tortos. Reparo, com um leve temor pela minha sanidade, como é cada vez mais difícil de pensar nele como Potter quando ele está presente. Porque, bom, Potter é um idiota.

E Harry tem olhos verdes e misteriosos demais para ser um idiota. Para não mencionar a boca irritantemente vermelha e voluptuosa. (Se irritante significasse sexy. Pois é. Estou perdido.)

- Essa poção que você compra, Potter – Eu praticamente cuspo o nome dele, o que o faz arquear as sobrancelhas, mas eu não fiz por desprezo. É só que o maldito nome não queria se obrigar a sair da minha garganta. – Ela apenas demora a fazer efeito, e eu devo supor que ainda estou semi-bêbado, ou ela tem algum tipo de efeito colateral mesmo?

A essa altura ele já está sentado a minha frente, fitando com preocupação o jornal em minhas mãos. Que está com a primeira página virada contra a madeira da mesa, obviamente. Eu não estava preparado para encontrar uma foto minha, semi nu, sob alguma chamada escandalosa, na primeira página do Profeta, sem ter tomado uma xícara de café.

Confesso que já tomei duas e ainda não virei o maldito jornal.

- É uma poção normal, Draco. Eu já estou me sentindo bem. – Ele estende a mão para as folhas sob meus dedos, e um calafrio passa por mim ao sentir o papel áspero escapar.

- É porque você é descontrolado por natureza, Potter, mas eu gosto de ter controle sobre minhas faculdades mentais, e desde... – Me interrompo. Porque sei que estou soando histérico, pressinto que vou falar algo comprometer e fico um pouco atordoado com a expressão de Harry.

Tão subitamente irônica, com um sorriso largo e malicioso e uma sobrancelha arqueada. Tão provocativa, como se ele estivesse mesmo esperando que eu dissesse algo comprometedor. Tão irritante, jogando na minha cara que alguma coisa ali era minha culpa.

Tão minha, que eu quase tentei pegá-la de volta do rosto dele.

E decido permanecer em silêncio, porque sei perfeitamente bem que não é seguro provocar alguém com essa expressão. Mas eu adoraria saber o que se passa nessa cabeça perturbada.

Ele inclina a cabeça, em silêncio, e finalmente percebo que o jornal está virado e, de fato, eu apareço semi nu na primeira página.

É, parece que combinação nenhuma de poção anti ressaca e café vai conseguir salvar minha reputação dessa vez. Acho que, se eu estivesse em casa, teria o privilégio de ver meu pai chorando pela primeira vez na vida. De puro desgosto, mas mesmo assim, memorável.

- O que está escrito? – Pergunto em um sussurro. Não que eu tenha planejado um sussurro. Não que minhas cordas vocais tenham obedecido.

Só percebo que estou com os olhos cerrados e minha testa apoiada nos dedos quando sinto a mão de Harry em meu rosto, acariciando-o de leve. Talvez por ser a primeira demonstração de afeto dele desde que acordamos, eu realmente me assusto e pulo alguns centímetros para trás. Ele abaixa a mão, com algo entre surpresa e discreto arrependimento pairando nos olhos, e eu sou tão idiota. Porque eu mal sei explicar o quanto eu queria aquilo.

Ele me entrega as folhas, se voltando para a comida e para o bule de café, sem pronunciar uma palavra. Desde quando Potter é tão quieto? Estou com a sensação de estar falando sozinho desde que ele entrou aqui.

A manchete, em letras enormes, ocupava quase metade da folha. Harry Potter: Vingativo, ou culpado desde o início? Sério. Eu que apareço sem camisa, e meu nome nem está na manchete.

Se bem que, só de bater os olhos, dá pra perceber que o nome Malfoy aparece muito mais vezes do que deveria no resto da página, considerando... Bem, minha dignidade, talvez. Mas acho que a forma ora inegavelmente maliciosa, ora confusa, com que minha pequena e exposta imagem olha para um pequeno e constrangido Potter, até que, estabanado, ele feche a porta na cara de todos os leitores do Profeta Diário... Isso por si só deve bastar para que eu risque dignidade do meu vocabulário, certo?

O barulho de mais passos cambaleantes faz com que nós dois paremos o que estamos fazendo, e nos encaremos quase em pânico. Quase porque Potter parece ter acordado meio desprovido de emoções, de forma que apenas eu estou em pânico. Estranho.

Mas quando Weasley irrompe na cozinha de Grimmauld Place, olhando a sua volta como se estivesse sendo perseguido e com a delicadeza de um trasgo tonto, eu já me recompus. Ao contrário da aberração ruiva, que arregala os olhos ainda mais e quase cai para trás quando percebe seu melhor amigo calmamente sentado a minha frente, servindo-se de geléia de abóbora. (Aliás, eca. Eu nunca vou entender por que o mundo bruxo elegeu abóbora como sua fruta predileta. Não importa quão puro e tradicional meu sangue seja.)

Calculo que o pobret... O grande amigo de Harry – por Salazar, a quem estou enganando? Nunca vou me acostumar com isso – esteja tentando desesperadamente descobrir quais partes do que ele se lembra aconteceram de fato ontem à noite.

Como Tequila Nundu é forte, mas não exatamente alucinógena, e um dos incríveis efeitos da poção anti-ressaca é o retorno quase total da memória...

Exato. Tudo que está saltando na mente dele foi real. E acho que, apesar de um pouco limitado, ele sabe disso.

Mas parece que o choque foi forte demais para o pobre Weasley. (Não tem problema chamá-lo de pobre se for assim, certo? Pobre Weasley. Pobrezinho do Weasley. Pobre, pobre Weasley... Estou tão penalizado.) Ele se arrasta até a mesa e senta à cabeceira, aparentemente mudo. Então começa a alternar olhares de súplica entre nós, até que os olhos batem na foto a minha frente e um ganido – juro! – escapa de sua garganta, como se tivessem pisado nele.

- Ron...

- Você disse que ele estava tentando te agradar para conseguir favores! Mas eu não pensei que...

- Ah, por favor Weasley, até parece...

- E você! – Ele torna para mim com uma expressão de puro horror – Você estava sendo legal ontem! – A entonação dele sugere que isso seja um grande e imperdoável crime.

- Eu sou legal, Weasley. Quando eu quero. E eu te disse que Potter e eu estávamos amigos já há algum tempo. – Dou de ombros. – Você até gostou. E ele só disse aquilo a respeito do Ministério porque... Bem, você nunca me daria uma chance de provar que posso ser o ser mais fascinante do universo se estivesse sóbrio, certo?

O pobrezinho do Weasley faz uma careta. E esse é o nível de comunicação com o qual eu preciso lidar se quero entrar na vida de um gryffindor. Céus.

- Amigos? Amigos? Amigos? – Ele travou? – Vocês estavam... Vocês estavam... Vocês estavam... – É, travou.

Estou ficando seriamente entediado.

Percebo que Potter pretende abrir a boca, e embora eu esteja mesmo um pouco preocupado com esse silêncio quase apático dele, tenho certeza que é uma péssima idéia, de forma que me apresso em cortá-lo.

- Eu vim ver como Potter estava, depois de toda aquela confusão lá na mansão, e a verdade é que aquela sua irmãzinha assanhada o deixou tão perturbado que ele me agarrou. – Explico, com ar inocente.

E quase comemoro quando vejo a expressão nada apática de indignação que toma a face do gryffindor adorável à minha frente. Já o gryffindor tosco ao meu lado parece horrorizado.

- Harry? Oh, Harry! Harry, Ginny, eu… - Estou tentando dar um crédito para o sardento, sabe. É mesmo chocante. Mas é difícil de não pensar que talvez Granger, com aquele irritante intelecto, não esteja com ele apenas por algum tipo de experimento. Ou talvez por ter decidido que a honrosa missão gryffindor de sua vida seja ajudar esse ser limitado a viver e se comunicar em sociedade. Quem sabe? – Mas... – Então ele pausa, franze as sobrancelhas e me olha com desconfiança. – Por que você ainda está aqui, então?

Aparentemente ainda há uma faísca inteligência sob essa juba vermelha que ele chama de cabelo. O que é ótimo, pois eu esperava mesmo que ele me perguntasse isso.

- Eu gostei. – Respondo simplesmente.

E ouço Harry engasgar. Vitória.

Weasley fez outra careta. E empurrou a cadeira para trás, assombrado.

- E como você pode ver... – Ergo o Profeta para ele – fomos vítimas de um infeliz incidente.

- Por que você não vai embora? – Merlin, ele está quase chorando ou é impressão minha?

- Porque – começo lentamente. Como se explicasse para uma criança. Ou um filhote de trasgo. – nós estamos na capa. Do Profeta. Você acha que eu queria me meter nessa situação? Como você espera que eu apareça em casa? Acha que Lucius Malfoy vai me receber com um grande abraço, é?

- Ai, Merlin. Ai, Merlin, não estou ouvindo isso. Harry, diga que ele não pode ficar. Por favor!

- Ron. – Harry parece incrivelmente contrariado, a cabeça apoiada nas mãos. Acho que a mentira o ofende, de certo modo. O que é absurdo, visto que ela não é assim tão diferente da realidade, meu santíssimo Potter. – Parte disso é mesmo minha culpa. E ele provavelmente tem mais direito a estar nessa casa do que eu.

- Isso... Não faz sentido. A casa é sua.

- Bem, é isso mesmo que os quadros nas paredes parecem pensar – Ele murmura ironicamente. – Malfoy fica aqui, Ron. – Sua voz é firme. Meus planos sempre funcionam, claro.

Um dos silêncios mais bizarros da história se instaura entre nós. Nem mesmo o raciocínio de Granger é capaz de decifrá-lo, ao que indica a forma como ela pisca os olhos compulsivamente ao entrar na cozinha com passos incertos.

Weasley escolhe esse momento para arregalar novamente os olhos, ao reparar outra vez na foto do jornal, e pular da cadeira agitado.

- Preciso explicar para eles! Preciso explicar lá em casa que você enlouqueceu! – Ele diz, meio desesperado, e corre até Granger. – Eu te explico também. Vem comigo, por favor! – Ele implora quando ela faz menção de não se mover.

Com um olhar um tanto cético em nossa direção, a garota nos dá as costas e acompanha o namorado. Admito que ela escolheu uma missão muito nobre mesmo. Refiro-me a ajudar Weasley a se ajustar no mundo, claro.

Potter ostenta mais uma expressão irônica e desconcertante, como mais cedo. O sorriso não muito alegre parece dizer "Eu que te ataquei, não é mesmo?", e os olhos...

Eu poderia me afogar nesses olhos, então prefiro olhar para o café que levo a boca – está provado que, apesar de já ter tentado inúmeras vezes, eu não consigo me afogar no café. Talvez porque o líquido clareie demais minha mente para que algum impulso suicida se mantenha.

- Eu não me importaria de ficar no quarto que pertenceu a minha mãe. – Comento, casualmente. É lógico que não pretendo me instalar no quarto de Potter. Sufocar nunca é uma tática perspicaz.

- Ahan. – Ele concorda, chamando Kreacher em seguida. Gostaria que ele tivesse hesitado um pouco mais, mas azar.

Quando o elfo aparece no aposento e recebe a ordem de arrumar o antigo quarto de Narcissa, fica indignado.

- De jeito nenhum! Só garotas dormiram lá, em todas as gerações! Elladora, Belvina, Cassiopeia e Dorea, Andromeda e a menina Narcissa! Não posso permitir que fique lá. – Ele nos olha feio, como se estivesse dando uma bronca séria. – Eu posso arrumar o antigo quarto de Sirius, é claro. – Afinal, o serzinho não parece ter o menor apreço pelo falecido padrinho de Harry.

Que não se anima muito com a idéia.

- Tem tantos quartos nessa casa. Por que não arruma o de Regulus?

- Ninguém mexe no quarto do senhor Regulus! – Kreacher faz voz de choro, e Harry rapidamente concorda em não encostar no quarto de Regulus. Se Potter não fosse tão mole, talvez conseguisse dar alguma ordem para seu elfo doméstico sem ser questionado.

- Certo, certo, e aqueles vazios no terceiro andar?

- O antigo quarto de Sirius é maior. E Draco merece um quarto maior.

- Apenas não mexa em nada da decoração, e não jogue nada fora. – Harry suspira. Não acredito que ele vai realmente deixar o elfo fazer o que bem entende. – Tire um pouco do pó e arrume a cama, sei lá.

- Eu vou dormir no único quarto que pertenceu a um gryffindor, é isso? – Pergunto sem querer transparecer que estou chateado. O pior não é ser o antigo quarto de um gryffindor, e sim ser praticamente um museu para Potter. Deu pra perceber isso, pelo tom dele. Se eu me espalhar muito, provavelmente estarei ofendendo seu sagrado padrinho. Mais uma preocupação. Excelente.

Mas, outra vez, fico sem resposta. Meu anfitrião já está subindo as escadas que levam ao térreo.

Sinto que meu plano para conquistar Potter não está exatamente no auge de sua glória.


Estou apaixonado por Draco Malfoy.

É um desastre do qual tenho plena convicção. Eu soube quando acordei, há quase duas semanas, após a noite de bebedeira mais estranha da minha vida. Bem, não exatamente quando acordei, mas quando tomei aquela poção amarga e o mundo voltou a entrar em foco.

Porque a primeira coisa que saltou a minha mente foi... Draco.

E, quando eu olhei a minha volta, eu estava exclusivamente procurando por Draco.

E, ao não encontrar Draco onde deveria estar, meu coração disparou. De medo.

Não me ocorreu que uma possível fuga de Malfoy pudesse me causar uma imensa dor de cabeça. Não me pareceu um problema ter que enfrentar Ron e Mione sozinho. Não me incomodou a idéia de explicar para o mundo inteiro, por minha própria conta, o que diabos significava a foto que com certeza estaria no Profeta Diário naquela manhã.

Mas me ocorreu que Draco poderia ter ido embora para não voltar. E isso, ah, isso me aterrorizou.

O alívio que eu senti ao perceber que ele estava tomando café com tranqüilidade em minha cozinha não durou muito tempo. Afinal, uma voz parecia estar gritando na minha cabeça, em plena histeria: Você está apaixonado por Draco Malfoy, seu grande, grande, grande idiota! E...

Eu não sei o que Malfoy está fazendo aqui. Eu nem consigo começar a formular uma explicação razoável para a presença dele. Eu não sabia há duas semanas atrás, e eu ainda não sei.

Eu entendo que ele esteja aqui. Eu entendo que ele se sinta no direito de estar aqui. E eu entendo porque ele não pode voltar para casa tão cedo.

Mas eu definitivamente não entendo o que ele está pensando.

A tranqüilidade dele me intriga. A forma como lidou com Ron ainda me confunde. Ele anda nessa casa como se fosse seu dono, fala com Kreacher como se fosse seu elfo, e conversa comigo como se eu fosse seu amigo.

E nas poucas tentativas que fiz de tocá-lo, ele recuou tanto que eu simplesmente desisti. Uma coisa é certa: ele não parece exatamente... Apaixonado por mim. Mas ele parece, sim, ter usado toda sua maldita astúcia slytherin para ser meu hóspede.

A sensação que tenho é que fui uma espécie de... Vítima dele. Vítima do maldito encanto daqueles olhos de chuva. E que eu jamais teria obtido notícias dele após aquela noite na Mansão Malfoy, se o Sr. Malfoy não tivesse gentilmente o expulsado de casa, obrigando-o a aparecer na minha porta.

Eu sinto vontade de bater minha cabeça na parede, como um elfo doméstico, cada vez que percebo que sou grato a Lucius Malfoy por sua decisão.

Às vezes tudo parece um grande plano para me enlouquecer. Se Voldemort desconfiasse do poder que Draco Malfoy consegue ter sobre mim, e tivesse o utilizado ao seu favor...

Ele teria vencido a guerra.

É, é grave assim.

Duas semanas evitando aqueles olhos. Duas semanas com uma saudade quase insuportável daqueles lábios. Duas semanas imaginando como seria se eu simplesmente o prensasse contra a parede e não o soltasse nunca mais.

Mas eu me recuso. Se Malfoy está aqui apenas por alguma ironia do destino, eu é que não vou me humilhar implorando por sua atenção. Afinal, eu apenas imagino o que ele sairia falando por aí quando conseguisse resolver essa situação e se livrasse da minha companhia.

Certo, eu não acredito realmente nisso. Está bem que ele é um slytherin, e que provavelmente possui uma natureza interesseira e com poucos escrúpulos, mas... Alguma coisa na naturalidade com que ele tem agido a minha volta me impede de acreditar que ele faria isso. Apesar de nosso histórico indicar o contrário.

É que ele realmente não parece estar... Fingindo sua forma de ser.

Ele simplesmente parece estar pedindo para que eu a aceite, com tudo que ela envolve, e... Lide com isso.

Mas que diabos isso significa, heim?

Duas semanas divagando sem chegar a lugar algum, duas semanas perseguindo e fugindo de Malfoy em minha própria casa. Merlin, socorro. Duas semanas estudando Draco Malfoy.

E eu realmente deveria estar estudando para os NIEM's, sabe? Mas como eu poderia, com algo tão mais fascinante exigindo toda minha atenção? Não que eu não tente, mas estou fracassando.

Ainda mais desde que ele se ofereceu para me ajudar. Afinal, ele assistiu às aulas do sétimo ano e, em suas palavras, é inegavelmente melhor do que eu em certas matérias.

De fato, eu tenho aprendido muitas coisas desde que ele está aqui em casa.

Eu aprendi, por exemplo, que Draco realmente ama voar. Afinal, por que outra razão ele levaria sua vassoura cada vez que sai de casa, se pode aparatar? Eu não sei para onde ele tem ido – Algum lugar seguro e sem repórteres, aparentemente, já que nenhum jornal conseguiu uma foto ou declaração sua desde o incidente sem camisa – mas ele sempre volta com os cabelos um pouco bagunçados, e a ponta do nariz levemente avermelhada. Voar alto na Inglaterra sempre deixa a ponta de seu nariz avermelhada por causa do vento, vocês sabem.

Eu aprendi, também, que Draco Malfoy sabe tocar violão. Em uma de suas muitas saídas – ele realmente tem saído de casa muito mais do que eu. Tudo bem que eu praticamente não saí nessas duas últimas semanas... Ei, eu não estou fugindo. Apenas estou tentando me concentrar em meus estudos, e Kreacher pode comprar tudo que é preciso para manter uma casa. Sério. – Bem, em uma dessas saídas Draco trouxe cordas novas, e veio me mostrar. As cordas. É, como se fossemos amigos, pela euforia dele. Então ele explicou que havia um violão no quarto de Sirius, em perfeito estado, e que era realmente um violão bom demais para ficar abandonado. Meu padrinho certamente não ficaria feliz em ver aquele violão jogado em um canto, foi o que o maldito disse.

E eu deixei. Deixei que ele trocasse as cordas velhas, e tocasse o violão de Sirius. Eu já tinha permitido que ele dormisse no quarto de Sirius, que chance eu tinha de conseguir negar o violão? (O que me lembra que... Eu realmente temi pelo lugar, um pouco depois de ceder à vontade de Kreacher. Mas das vezes em que Malfoy saiu e eu entrei no quarto para conferir, tudo parecia como antes. Quase como se ele respeitasse Sirius, e sua gritante decoração gryffindor. Coisa que, hã, eu duvido.)

Infelizmente, Draco não desceu com o violão, daquele jeito amigável dele. Detesto admitir que passei um bom tempo sentado na escada que leva ao último andar, ouvindo o som abafado que vinha do quarto.

Eu não reconheci as músicas, mas reconheço que ele toca bem.

Aliás, Draco realmente parece ter muito mais habilidades do que deveria. Porque eu também aprendi, nesses dias, que Draco Malfoy não só sabe cozinhar, como adora.

Sério. Como o filho da mãe aprendeu a cozinhar? Ninguém precisa disso em Hogwarts, e eu aposto que há quem prepare o que ele quiser na Mansão Malfoy.

Mas pelo que ele casualmente comentou com Kreacher – Às vezes o maldito conversa mais com o elfo doméstico do que comigo. Ele simplesmente tem surtos em que resolve ignorar minha presença. – essa é uma paixão que compartilha com sua mãe.

Eu não consigo imaginar a Sra. Malfoy cozinhando, mas Kreacher aparentemente consegue, visto sua empolgação. Ele não demorou em aparecer com vários livros de receitas secretas dos Black, que Draco aceitou com entusiasmo. Ele passou uma tarde inteira os folhando, ora maravilhado, ora fazendo caretas adoráveis. Não que eu estivesse olhando.

Falando em livros, outra coisa que eu aprendi é que Draco lê muito. Às vezes ele passa a tarde inteira na biblioteca de Grimmauld Place, enquanto eu estudo. Pelo que eu pude perceber, entre uma e outra espiada, ele lê praticamente qualquer coisa, de contos fantásticos e romances bruxos a livros históricos e manuais de poções.

Uma parte de mim adoraria acreditar que ele passa tanto tempo lendo apenas para ficar em minha companhia. Eu de fato quase me convenci disso após flagrá-lo mais de uma vez a me observar por sobre alguma capa, mas...

Quando eu comentei que nunca havia reparado se ele passava tanto tempo na biblioteca quando estávamos em Hogwarts, ele disse que o ambiente o incomodava, mas que pegava livros para ler no dormitório. E comentou, casualmente, que ele tinha até mesmo começado a escrever um livro! E, bem, para ter confiança para escrever um livro, eu suponho que ele realmente leia bastante, então... Ele provavelmente passa todo esse tempo na biblioteca comigo por esse motivo.

Por fim, mas não menos interessante, eu aprendi que, apesar das muitas habilidades inusitadas, Draco Malfoy não sabe o que vai fazer de sua vida, embora já esteja formado.

Ele não admitiu isso de forma muito animada.

Parece que abrir um restaurante ou sair por aí tocando um violão não são coisas dignas de um Malfoy, ou algo assim. Ser um escritor aparentemente não seria um problema se, novamente, o sobrenome Malfoy não atrapalhasse... Draco desconfia que não seria muito bem recebido pelos leitores, considerando a atual conjectura de mundo.

O que é uma idiotice, eu comentei, já que bastaria escrever sob um pseudônimo (E não escrever nenhum absurdo tipicamente slytherin, claro.)

Ao que ele rebateu, indignado, que não podia esconder seu nome, ele precisava fazer algo que orgulhasse seu nome. E que, bom, talvez ele simplesmente trabalhasse no Ministério, ou fizesse o que quer que fosse que seu pai julgasse melhor. Herdar os negócios da família. Investir. Bla, bla, bla.

Ele já não parecia feliz dizendo isso. Quando eu mencionei que era um plano deprimente, ele... Não gostou muito. A julgar pela forma que revirou os olhos e saiu da biblioteca, dando inicio a mais um surto de o-elfo-doméstico-é-mais-digno-de-minhas-palavras-do-que-você.

Enfim, semanas perturbadoras.

- Você não deveria estar estudando? - levanto em um sobressalto ao ouvir a voz de Mione. Percebo que minha suposta tarde de estudos já está quase na metade.

E que eu passei a maior parte desse tempo estirado em um sofá da sala de visitas, olhando para o nada.

- Eu... Eu estava estudando, Mi! É só um intervalo, já vou voltar para... – Minha voz morre aos poucos. Eu sei que ela não está acreditando.

Mione senta em uma poltrona próxima, com um suspiro.

- Você realmente gosta dele, não é? – Para meu desconcerto, ela tem um sorrisinho cretino nos lábios.

Reviro os olhos, e caio de volta no sofá.

- Até parece. – Resmungo. O sorriso dela aumenta.

Mas eu não posso reclamar. Hermione é uma amiga incrível. Ela quase me enlouqueceu com toda aquela história sobre não enganar Ginny, mas agora que superamos esse tópico... Ela tem sido um poço de sanidade.

O último que me resta, aparentemente.

O mundo ainda está em polvorosa, graças àquela foto que Rita Skeeter publicou. Sair de cena me pareceu uma excelente idéia naquele momento, e Malfoy aparentemente tomou a mesma decisão, mas... A verdade é que nossa omissão apenas gerou mais boatos. E agora eu desconfio que, até que algum de nós faça algum tipo de declaração pública esclarecedora, as especulações não vão parar.

O palpite mais popular, é claro, é o de que eu enlouqueci. Eu chamo de "A Versão Weasley", já que, bem, a história com Ginny e as declarações acaloradas dos demais membros da supracitada família são as principais geradoras de tal suposição.

Mas eu também poderia citar as versões "Amor proibido", "A revanche dos comensais", "Puro apelo publicitário", "Harry, o vingativo sem noção", "Malfoy, o aproveitador deserdado", "Ritual inusitado de magia negra" ou a famigerada "Chifres ou galhadas?".

O que na prática significa que: 1. Já tentaram entrevistar até meu elfo doméstico; 2. Ron aparece aqui em casa apenas para verificar se eu já estou "melhor" e olhar apavorado para Draco; 3. Há uma série de organizações a favor dos direitos gays no mundo bruxo que estão tentando entrar em contato conosco. (Eles inclusive fizeram uma passeata no Beco Diagonal.); 4. Todos os contatos que eu não posso evitar (como tudo que envolve o Ministério e sua intrigante dependência das minhas opiniões), eu faço através de Hermione. A frase que ela mais tem dito nos últimos dias, aparentemente, é "nada a declarar."; 5. Se depender da cara com que Lucius Malfoy aparece nas fotos tiradas por pobres coitados que tentam entrevistá-lo, Draco vai morar comigo para sempre.

Não que seja uma má idéia.

- Voltei. Pansy me conseguiu mais cerveja amanteigada do que consigo tomar. Estão servidos? – A voz arrastada e levemente sarcástica que invade a sala me pega de surpresa, e eu quase pulo novamente do sofá. Sinto o sangue correndo pelo meu rosto e aposto que, quando coro, Hermione abre um sorriso triunfante. E irritantemente malicioso, pelo que observo pelo canto dos olhos.

Trato de me recompor enquanto Malfoy se acomoda ao lado de Hermione, colocando na mesa de centro uma caixa com seis cervejas amanteigadas grandes para viagem.

É disso que eu estou falando. A forma casual dele. Como se nós fossemos amigos! Como se ele não tivesse chamado Hermione de "sangue-ruim" por anos a fio!

Aliás, o clima pacífico e agradável entre eles é um dos maiores mistérios que me cercam.

- Foi encontrar seus amigos? – Mione pergunta despreocupada, pegando um dos copos.

- Os que não querem me entrevistar, sim. – Ele responde, sorrindo torto e se servindo também de um copo. – Veio estudar com Potter?

- Pensei em perguntar se ele precisava de ajuda, mas aparentemente Harry tirou o dia de folga. – Ela ergue as sobrancelhas enquanto me fita.

E Draco me olha. Demoradamente.

Eu gostaria de dizer algo, sabe? Mas eu tenho me visto mais sem palavras do que nunca. É quase como se eu estivesse sempre... Chocado demais para conseguir formular alguma coisa. Ou com sérias propensões a falar o que eu não devo, de forma que decido me calar.

Sem dizer palavra, alcanço um copo da bebida quente, muito grato pela sua existência.

Ouço algo que me parece um suspiro exasperado, mas acho que ainda não é seguro erguer os olhos.

Eu gostaria de frisar que a maior parte das pessoas que conheço também não encontraria palavras se visse Draco Malfoy e Hermione Granger conversando sem se agredirem.

Agora mesmo! Eles estão conversando sobre um livro que Hermione recomendou para Draco outro dia, e que ele tratou de ler avidamente na biblioteca. Quão descabida é essa cena?

- Narcissa deu alguma notícia? – Consigo formular, interrompendo-os. Eu e Malfoy conversamos freqüentemente sobre as notícias que a mãe dele manda a respeito da situação com Lucius.

Ele se volta para mim com uma sobrancelha arqueada, e eu quase posso ouvir as palavras que ele freia. "Aprendeu a falar, Potter?"

- Recebi uma coruja essa manhã. Aparentemente, meu pai teve que dar explicações no Ministério por amaldiçoar um repórter. – Ele dá de ombros. – Não é exatamente uma grande evolução.

Eu faço que sim. Não há muito mais o que se dizer, certo?

E essa cerveja... Está terrivelmente quente. E nós nem estamos no inverno! Acho que vou derreter.

Eu cogito tirar a camisa, mas... Não quero passar uma idéia errada. Acho.

Então resmungo qualquer coisa sobre estar quente demais para tomar uma bebida de inverno dentro de casa. E me retiro do aposento.

Só consigo voltar a respirar normalmente quando alcanço o jardim aos fundos da casa. Não é um terreno imenso, como o da Mansão Malfoy, mas aposto que Narcissa organizou muitos eventos luxuosos, para pessoas devidamente selecionadas, neste jardim. Eu praticamente posso vê-los.

Árvores imponentes e belas cercam o terreno gramado, entre arbustos delicados e floridos. E eu não consigo evitar pensar em todas as pessoas que cresceram correndo por esse jardim. É estranho, mas mesmo sabendo da natureza da família Black, a qual eu provavelmente deveria desprezar, eu não consigo evitar me sentir intimidado por sua imponência.

Quase dá para entender porque esse negócio de tradição sobe à cabeça de alguns bruxos.

Eu penso em todas as pessoas que se amaram e se odiaram nesse lugar. Que talvez tenham escrito besteiras em troncos de árvores, há muito tempo atrás, e que juraram vingança olhando para o céu, bem onde eu me deito, no centro do gramado.

Eu penso em pessoas tão belas e tão distorcidas, ora aclamadas, ora desprezadas pela sociedade, e que talvez, em parte, apenas não tenham sido bem compreendidas. Ou, talvez, tenham sido bem compreendidas demais.

Pessoas com sorrisos enviesados, perigosamente belas.

Quantos não fugiram dessa casa? E quantos não devem ter se refugiado nos jardins, ao passo que os familiares enfurecidos os amaldiçoavam? Quantas maldições não devem ter sido proferidas exatamente onde estou? E outras tantas juras de amor, em casamentos arranjados que foram celebrados aqui mesmo.

Quantas pessoas viveram e morreram nesse lugar?

Quantas pessoas sentiram falta dele?

E quantas desejaram nunca mais voltar?

E como eu posso não olhar para Draco e pensar que ele veio retomar o que grita por ele? O maldito, irritante, desnaturado, irônico, lindo e tentador herdeiro perdido.

Eu sei que a casa é minha. Mas o que eu significo para essa casa e para toda sua tradição? Convenhamos. Eu sou o afilhado do cara que foi deserdado.

Uma voz parece murmurar bem baixinho em minha cabeça que eu adoraria fazer parte dessa história.

O que é vergonhoso, claro. Mas não exatamente uma mentira.

Não sei quanto tempo fico olhando para as nuvens, mas o sol já está quase se pondo quando ouço a porta que leva aos jardins ranger, e passos abafados pela grama se aproximarem.

Eu sei que não é Hermione. Ou Kreacher. Não me perguntem como, eu só sei.

Talvez seja a minha respiração presa na garganta quem está me avisando.

Então o herdeiro perdido e desnaturado (e lindo e irônico e eu preciso pensar em outra coisa agora mesmo!) deita ao meu lado, a uma distância que infelizmente não invade meu espaço pessoal.

Quando eu inclino o rosto em sua direção, percebo que ele tem a cabeça tombada para o lado, olhando diretamente para mim, com uma tranqüilidade invejável.

Essa é, provavelmente, a primeira vez nessas duas longas semanas em que eu não desvio os olhos.

Solto minha respiração, que estava presa já há algum tempo, em um suspiro talvez alto demais. E toda a malícia que ele aparentemente conseguiu evitar que transparecesse em um sorriso transborda em seus olhos.

Malícia em cores de tempestade.

Hermione estava certa novamente, não estava? No momento em que eu vi relâmpagos nos olhos dele, eu já estava condenado. A me apaixonar por um evento climático, quero dizer. Ou quase isso.

É uma força da natureza, no final das contas, não é? Então como eu poderia ter evitado que acontecesse? É o único consolo que me resta, suponho.

E eu definitivamente preciso de consolo quando penso que Draco provavelmente vê apenas olhos verdes, ao olhar para os meus.

A essa altura, eu ficaria feliz até com um verde-lápis-de-cor.

- Você nunca me pareceu o tipo de pessoa que deitaria na grama. – Eu formulo pateticamente, quando consigo desviar os olhos para o céu. O que, dessa vez, só acontece depois que ele desvia os dele primeiro, confesso.

- Você realmente me tem em alta conta, não é? – A voz dele é alta apenas o suficiente para que eu entenda.

Nunca pensei que sarcasmo pudesse soar tão doce.

Ai, Merlin, sou um babaca apaixonado! Não é a toa que Draco está abusando da minha hospitalidade!

- Bom, você só não parece... Ser alguém que consiga relevar a presença de insetos... Sabe? – Tento me explicar. Um pouco tarde demais, me ocorre que possa ter soado como uma referência à sua preferência sexual, como um atentado a sua masculinidade ou coisa assim, o que provavelmente levaria a outro assunto, o que seria muito constrangedor, e... – Não que você tenha medo deles. Acho. Quero dizer, não sei se você tem, mas qual o problema? Ron não consegue nem ver aranhas, por exemplo, e isso não significa nada. Só que, convenhamos, você foi criado em uma mansão reluzente, então... – Ai, o que eu estou falando? Aliás, por que estou falando tanto? Eu sabia que falar era uma péssima idéia. E agora parece que eu o chamei de mimado, o que não é mentira, mas não era o plano.

Para minha surpresa, o bastardo está rindo. Muito. Quase sem emitir som, mas mesmo assim, os ombros dele estão chacoalhando consideravelmente. E a cabeça dele está jogada para trás, e os olhos, fechados, e a boca dele está... Rindo.

Eu nunca tinha visto Malfoy rir antes. (Pelo menos, não sem ser de forma cruel.)

Eu não deveria ficar observando ele assim. Ou posso acabar, não sei, o mordendo.

Mas, pensando bem, nada vai me fazer perder essa cena.

- Potter, você me ofendeu, sabe? – Ele diz baixinho, virando-se para mim, quando finalmente retoma o fôlego. A minha expressão deve evidenciar o quão constrangido eu me sinto, porque ele ri de novo, um pouquinho. – Eu quase não quero te contar que a grama desse jardim, com certeza, a julgar pela tradição das famílias bruxas ricas e levemente inescrupulosas, possui um feitiço de dedetização permanente. Até parece que eu deitaria perto de um formigueiro. – Ele dá de ombros, voltando a olhar para o céu, e eu me sinto... Um tanto idiota. Mas feliz. Afinal, ele quase soou atencioso! Pensamento que me faz sentir... Mais idiota.

- Nada que eu não soubesse então. – Resmungo, com algum divertimento, ao que ele assente.

É só então que percebo que estou praticamente assistindo ao pôr-do-sol ao lado de Draco Malfoy, deitado na grama.

Eu desconfio que ele também percebeu. Porque nós dois ficamos em silêncio por um longo tempo.

Onde está a coragem gryffindor quando você quer muito, muito, muito segurar a mão de alguém?

Não nesse jardim, pelo visto.

Eu gostaria de perguntar o que ele está fazendo aqui. Deitado ao meu lado na grama. Ou, quem sabe, o que ele e Hermione conversaram quando eu saí, e o que ele disse que ia fazer quando a deixou na sala de estar.

Ao invés disso, faço a pergunta que eu temia que escapasse.

- Malfoy.

- Hm?

- Qual é a cor dos meus olhos?

E eu recebo exatamente o que eu mereço por ser tão imbecil.

O olhar irônico mais cruel da história. (A julgar pela forma como alguma coisa pareceu se partir dentro de mim.)

- Então. Quer ouvir uma história engraçada? – Ele diz casualmente, como quem muda de assunto, e eu percebo que minha pergunta aparentemente não é nem digna de resposta.

- Claro. – Minha voz sai fraca, e eu espero não ter soado tão amargurado quanto eu poderia, nesse exato instante.

- Você provavelmente não sabe disso, mas houve uma época em que o Caribe estava muito na moda, na alta sociedade bruxa. – Que diabos...? – Você não imagina quantos casamentos luxuosos em Aruba eu presenciei, quando era pequeno.

- Hã... Não. Não imagino. – Murmuro. Agora ele vai me contar a vida dele?

- Como era preciso atravessar o Atlântico, e isso pode ser uma dor de cabeça até mesmo para bruxos com excelentes contatos, nós nunca passávamos mais tempo do que o suficiente por lá. Meu pai sempre resolvia as coisas o mais rápido possível, e logo voltava para seus compromissos inadiáveis. Ele provavelmente só se dava ao trabalho por causa de minha mãe, que sempre adorou festas.

Eu resolvo não mencionar que os assuntos inadiáveis do pai de Draco, naquela época, provavelmente envolviam desejar minha morte ardentemente. Enfim. Parece inadequado.

- Então eu tinha de assistir longas cerimônias na areia branca, sob a luz equatorial, nas melhores vestes a rigor que você pode imaginar, olhando para aquele mar absurdamente verde. E era uma tortura. As outras crianças sempre pareciam animadas, ansiosas, mas eu quase enlouquecia. Porque quando começasse a festa, as crianças de famílias menos... Elegantes, elas com certeza pulariam na água. E as crianças das famílias "com mais classe", ou, se você preferir, das famílias slytherin, fariam um sacrifício, e evitariam a água durante o evento, mas com certeza passariam pelo menos mais um dia na ilha, e aproveitariam o tempo restante.

Ele está me contanto como é difícil ser uma criança mimada? É isso? Eu meio que estou mesmo com pena dele. Será que ele está dizendo isso por causa do que eu insinuei antes a respeito dos insetos?

- Mas meu pai nunca se interessou por férias imprevistas. Ele dizia que eu poderia ir à praia com minha mãe quando estivéssemos na Inglaterra, mas quem se interessaria pelo mar inglês, se conhecesse Aruba? – Ele continua falando, apesar do meu silêncio. – E eu que não me rebaixasse em molhar um pedacinho que fosse das minhas vestes tão caras, ou em correr com os outros da minha idade. Nunca me ocorreu fazer um escândalo, também. Eu devia ter o que... Seis anos. Sete. E já olhava para as crianças a minha volta e pensava que elas eram muito inferiores a mim. Era a única coisa que me consolava, na verdade.

O tom dele é sombrio, nesse ponto. E agora eu realmente estou com vontade de abraçá-lo. Crianças mimadas podem não ser tão mimadas assim, aparentemente.

- Realmente parece tortura. – Comento, espiando-o a tempo de ver um sorrisinho no canto de sua boca.

- Era sim. Com certeza. Eu fui obcecado por aquele mar por muito tempo. Eu até sonhava com ele. – o sorriso dele aumenta. – As festas no Caribe acabaram, mas eu continuei lembrando, por muito tempo. Na minha memória, era um mar infinito, de uma cor que tirava o fôlego, profundo, mas nunca assustador. Ele era transparente demais para ser assustador. E era inacessível. Talvez isso fosse o mais importante. Eu o imaginava refrescante. E o imaginava libertador. Mas eu não podia saber. E isso o tornou fascinante, de uma forma nada saudável.

- Sonhar é saudável. – É a primeira coisa que me vem à mente.

- Eu imaginei que você fosse dizer algo assim. – Ele diz, aparentemente divertido, e se levanta. Já está quase escuro.

Apenas mais um episódio perturbador. Eu estou colecionando eles.

- Potter. – Draco chama meu nome, sua voz já distante, próxima da porta.

Eu olho por cima do ombro, ainda deitado, mas ele está de costas para mim, já quase entrando na casa.

- Sim, Malfoy? – Eu respondo alto o suficiente para que minha voz o alcance.

- Seus olhos definitivamente são Aruba.

... E eu nem imaginava que um arrepio poderia atravessar toda sua alma.


N/D/D/A (ou notas, desculpas e desabafo da autora, hmm): Oi, eu sou um monstro, e vocês? D: Como vão?

A última vez que atualizei essa fic faz... Dois anos e dois dias, aparentemente. Que bizarro. Parece que foi ontem, cazzo. Não sei se as pessoas que liam continuam lendo. Não sei se outras vão ter coragem de clicar na fic quando virem o lapso temporal estranho entre a primeira publicação e a última atualização. Hehe. É uma preocupação válida, né? :P

Eu pensei em desistir, sabe? De todas as fics. Eu ando tão sem tempo pra tudo que eu queria fazer. Mas quem não anda? Acho que, em minha defesa, posso dizer que arquitetura é um curso que deixa você meio louco, quase morando na faculdade e virando noites. E se você namorar firme, e for viciada em seu namorado, bom, as coisas complicam um pouco mais.

Mas as fics pareciam fantasmas cutucando a minha cabeça. Céus. Eu realmente amo escrever, e eu realmente amo fanfics. Acho que eu nunca vou deixar de amar. Eu vou estar com 90 anos e lendo fanfics, porra. (Só que espero que, a essa altura do campeonato, eu já tenha terminado todas as minhas fics em andamento, hahahaha. E escrito um livro. Vários livros. Muitos livros. E, erm, projetado algo decente, já que eu resolvi fazer arquitetura. Ai.)

A questão é que eu sei o final dessa história. Eu sei tudo que eu preciso escrever. (E que invariavelmente vai fugir de controle, mas essa é a graça, né?) E eu quero escrever. As pessoas que liam e comentavam aqui eram tão lindas, poxa. Metade da graça era escrever, mas ver as reações dos outros era... Incrível. Impagável. Sei lá. É alguma coisa que faz você ficar feliz e voltar saltitante mesmo sabendo que não ganha um tostão por isso (pelo contrário...) e que ninguém ali ao menos sabe seu nome de verdade, e está perfeito assim.

E como leitora de fanfics, muito antes do que escritora, eu sei como é chato quando as pessoas somem com sua fic. Velho, eu odeio quando fazem isso. E acho que, por tabela, eu me odeio um pouco. Hahahahah.

E eu preciso dizer que, se você leu o capítulo e leu até aqui, eu te amo. HAHAHAHAH. Obrigada. (Se você pulou o capítulo e veio aqui só pra ver qual foi a desculpa esfarrapada da vez e, quem sabe, me ameaçar com um pedaço de pau... Eu estou com medo, mas obrigada também, eu acho. Ai.)

Eu tinha prometido, no último capítulo, responder todas as reviews seguintes, já que não tinha conseguido responder naquele. Vergonhosamente, eu não o fiz, e olhando agora, acho que ninguém espera uma resposta dois anos depois. Sei lá. Eu gosto quando me respondem, então eu fico com peso na consciência quando não respondo os outros (mas talvez eu apenas seja complexada, whatever.), e eu vou fazer a mesma promessa dessa vez, hahahah, e vamos torcer pra que eu me saia melhor. (Eu tenho uma nova estratégia, pelo menos, hmm) De qualquer forma, muito obrigada Simca, Srta. Kinomoto, Zoe King, Mayara Malfoy Savinon, Jasmin17, Cissycinha, , lady, Mah Jeevas, Jey Jey, Strawberries Jam, Flor, Tatymoluka, Carola Weasley, Rafaella Potter Malfoy, Pandora Malfoy, Marina Michaelis, Fabianadat, OhYax e Ana Potter Malfor, pelos comentários lindos no capítulo sete! (Se eu não me engano alguém aí me ameaçou, mas foi lindo também, hahahah. Ou será que foi em algum capítulo antes? Estou confusa.)

Eu falo pra cacete, né? Bom, pessoal, desculpe qualquer coisa, obrigada por ter lido até aqui, EU VOU TERMINAR ESSA FIC, juro, hmm, meu bom senso diz para não fazer mais promessas relacionadas à reviews, mas eu gosto delas, não quero dizer nada, heheheh, hmm... Espero não ter perdido a mão. (ÚLTIMO DESABAFO, REALLY!) Eu estava meio aterrorizada com a idéia de ter enferrujado. Mas amei escrever isso aqui. Espero que vocês gostem. Vou continuar. Me aguardem.

Ok, eu claramente surtei. Vou parar com isso. Aiai.

Beijinhos de uma Drama Queen! :D (A dica já estava lá, no primeiro capítulo, acho.)