Diclaimer: Esta história pertence a CristinaCarvias e foi adaptada e alterada por Lady Veronica Black e traduzida e alterada ligeiramente por mim. As personagens de Card Captor Sakura pertencem ao grupo CLAMP
"Um anjo para o meu Coração..." Capitulo III-. Como é que não tens nada para vestir? – Nana negou repentinamente com a cabeça, batendo a sua mão afectuosa – Temos que solucionar isso, criatura. Isto é uma ilha e temos uma praia maravilhosa. Achas que vou permitir que vás à praia cada manhã só para acompanhares-me? Decididamente, não. Redondamente, não... Dir-lhe-ei a Teo que nos leve ao centro comercial e faremos algumas compras. Primeiro, escolheremos um bonito fato-de-banho para o meu precioso anjo.
-. Nana, não acho...
-. Silencio, menina. – Nana sorriu, emocionada com a ideia de ir às compras – Sou muito mais velha e esperta que tu. E estou doente. Deves contentar-me com tudo o que te peça, não achas? E ainda, toda essa roupa que tens é horrível. Uma rapariga da tua idade não deve andar vestida com esses trapos. Precisas de uma mudança. Nada de roupa escura e longa. Cores, é isso que precisas. Um par de vestidos que realcem a tua figura. Y uns... como se chama essas calças que as jovens utilizam hoje em dia... essas informais? Ah, já sei. Uns jeans. Não, melhor um par. E algumas camisas de algodão e...
-. Mas eu... – ia disser-lhe que não queria nada disso. Gostava de ser como era, passando despercebida pelo resto do mundo.
-. Nem mas nem meio mas. Agora chamaremos Teo.
E foi completamente impossível faze-la mudar de opinião. À tarde, as duas estavam esgotadas depois de recorrer todas as lojas da ilha. Sakura tinha insistido que parecia um desperdício inútil de dinheiro, já que não tinha a intenção de passar noitadas em que precisasse de tanta roupa. Mas Nana não a ouvia.
-. Menina, sempre há uma boa razão para estar bonita. – tinha lhe dito seriamente.
Quando Sakura tinha olhado as facturas, tinha oferecido que descontassem do dinheiro do seu salário, sabendo que teria que teria que trabalhar uma eternidade para a família Li para pagá-lo. Mas, Nana lhe respondeu que se esquecera em seguida de tal ideia. Tinha dito que não ia tolerar que a sua dama de companhia se vestisse como uma idosa amargurada. E como esse era o seu desejo, podia fingir que a renovação do guarda roupa era um uniforme. A verdade é que quando Sakura mudou de roupa para o pequeno-almoço no dia seguinte e baixou ao comedor, todos a observaram surpreendidos.
Tinha escolhido uma simples camisola de cor azul de manga curta e umas calças apertadas. Os dedos dos pés mexiam com graciosidade no extremo das suas novas sandálias, combinado com o resto da roupa. Informal, isso foi o que Nana tinha dito. Cumprimentou com timidez antes de ocupar o seu lugar, sem que deixasse de notar que Syaoran Li a observava desde o outro lado da mesa.
-. Querida menina... – Nana aplaudiu como uma criança, feliz pelo resultado da sua experiência – por fim pareces o anjo que és. Não te parece preciosa, Xiao Lang?
Ele não respondeu. Fez um ligeiro movimento com a cabeça como resposta e comeu um bom pedaço de pão.
-. Não lhe ligues. – sussurrou Nana sem deixar de sorrir – O meu neto é muito hábil quando quer fingir-se de cego.
-. Posso ser cego, Nana. – a sua voz assustou as suas – Mas não sou surdo. Achas que poderias lembrar-te disso na próxima vez que me criticares na minha presença?
-. Não te criticava, Xiao Lang. – a idosa estendeu a sua mão para pegar a dele. O (de cabelo) castanho beijou-a carinhosamente. Apesar da sua eterna expressão mal-humorada, queria-a. Era algo evidente, mesmo para uma desconhecida como Sakura – Só dizia à Sakura que não devia sentir-se ofendida.
-.Ofendida? Porque não lhe dedico alguns cumprimentos estúpidos? – desviou o olhar para a jovem – Tenho a certeza que a senhora Kinomoto é o suficiente inteligente para compreender que está linda. Mesmo se eu não o disser. Não é assim, senhorita Kinomoto?
-. Claro. – Sakura pestanejou. Compreendeu que, indirectamente, ele já o tinha dito. Não com palavras. Mas com a expressão do seu rosto ao vê-la interromper a sala de jantar. Sakura tinha notado que a observava com surpresa, mas também com certa admiração. Soube que era tudo quando podia esperar de alguém como ele.
-. Ai, Xiao Lang... Porque é que tens que ser tão antipático? Se continuas assim, nunca encontrarás uma esposa, sabias? Nenhuma mulher quer um marido grosseiro que nunca sorri nem faz comentários. – avisou-o com bom humor, mas no fundo, Sakura intuiu que a idosa que os seus pesadelos se concretizassem – Por acaso não tens compaixão pela tua pobre avó doente? Não queres alegrar os meus últimos dias, enchendo esta casa com meia dúzia de pequenos diabinhos com a tua cara?
-. Já falamos sobre isso, Nana. – disse ele com a sua habitual grosseria.
-. Nada disso. Não pediste a minha opinião, Xiao Lang.
-. Porque não tens nada que opinar sobre este assunto, avó. – Sakura pensou que iria dirigir a sua raiva contra a idosa. Em vez disso, viu-o respirar fundo e suavizar a expressão – Nana, eu gosto de ti. E tu sabes o quanto. Mas isso não te dá o direito de meter-te na minha vida sentimental.
-. Que vida sentimental, querido neto? – Nana sorriu novamente – Filho... sair de vez em quando com alguma das suas amigas, não é ter 'vida sentimental'. Não acho que uma velha como eu tenha que disser-te isto, Xiao Lang. Porque a tua vida sentimental brilha pela sua ausência. O mesmo acontece com a tua amabilidade.
-. Nana... – os seus olhos brilhavam com intensidade. Sem duvida, custava-lhe muito não responder à sua avó tal e como o seu mal génio o impulsava a fazê-lo – Não continues por esse caminho ou teremos problemas.
-. O que farás, querido Xiao Lang? Mandar-me para o meu quarto sem sobremesa? – girou-se em direcção à Sakura – Vê-o bem, filha. Ele é o homem mais atractivo e rico da ilha, mas não conseguirá entrar num coração de uma boa mulher. E sabes porquê, anjo? Porque uma boa mulher espera que um bom homem lhe faça feliz. E esse meu tonto neto não conhece o significado dessa palavra.
Sakura não disse nada. Suspeito que se abri-se a boca apenas para pedir o açúcar, Syaoran Li se lançaria a ela como um leão esfomeado. Para a sua surpresa, o homem pareceu adivinhar o que pensava. E com um rápido gesto pôs o açucareiro à sua disposição.
-. Obrigado. – murmurou.
-. Não há de que. Nana, porque é que não deixas de falar de mim e do meu incerto futuro amoroso por um bocado? De certeza que a senhorita Kinomoto tem muitas coisas interessantes para contar-nos sobre a sua vida na cidade.
Sakura engoliu a saliva com dificuldade. Isso sim era um golpe baixo. Livrava-se de Nana e em troca, intrometia-se na sua intimidade. "Obrigado, senhor Li", esteve a ponto de disser-lhe.
-. Por exemplo, senhorita Kinomoto, o que fazia antes?
-. Eu... Trabalhava na loja da tia Sonomi. Numa florista. – explicou com pouco entusiasmo - Na realidade, a minha irmã Tomoyo e eu dirigíamos o negócio. Tia Sonomi crio-nos deste que os nossos pais morreram e ao ser maior de idade, nós duas compreendemos que precisava de ajuda no negocio.
-. Compreenderam-no? Que comovedor... – o tom de Syaoran era sarcástico – Tinha dito que tinha uma irmã... Tomoko?
-. Tomoyo. – Sakura 'matava-o' com o olhar. Não era tão tonta para não perceber o que ele tinha insinuado com o seu comentário. Ele pensava que eram umas aproveitadoras que esperavam herdar a fortuna da sua tia. Isso era porque não a conhecia, nem conhecia a tia Sonomi. E claro, não conhecia os detalhes económicos que rodavam o acordo entre elas. Ele não podia saber que o negocio de tia Sonomi tinha estado quase a encerrar até que ela e Tomoyo tinham decidido investir todas as suas poupanças na florista e tira-la da falecia custasse o que custasse. Devia-o à mulher que tinha sido praticamente sua mãe por todos aqueles anos.
-. Essa sua irmã... Continua a trabalhar para a sua tia?
-. Sim. Com o seu marido. – Sakura tento que a sua voz não parecesse demasiado afectada ao falar.
-. E você? Porque se foi? – a pergunta era directa. Syaoran Li era muito perspicaz quando queria. E estava claro o que tinha proposto. Observava-a fixamente, esperando a sua resposta.
-. Precisava de mudar de ares. – mentiu. Sentia tanta falta do cheiro a jasmim ao entrar na loja, que temeu que ele adivinhara a sua nostalgia no seu olhar.
-. Aborrecia-lhe o seu trabalho?
-. Não disse isso. – replicou. Porque tinha que alterar tudo para que ela parecesse alguém materialista e sem coração? Ela não era assim. Como era possível sequer pensar nisso?
-. Então, considerou que já tinha saldado a sua divida que tinha com a sua tia.
-. Claro que não... – mas, o que se passava com aquele homem? – Eu não teria dinheiro no mundo para pagar o carinho da tia Sonomi.
-. Mas aceitou este trabalho com muita rapidez.
-. Porque eu... – olhou desesperadamente a idosa que escutava tudo sem interromper.
-. Isso não é assunto nosso, Xiao Lang. – disse Nana por fim com seriedade, e Sakura agradeceu em silencio – Só devemos importar-nos que o que tenha acontecido pôs este anjo no nosso caminho, foi uma sorte que tenha acontecido.
-. Sim, uma grande sorte. – murmurou ele para si sem deixar de observa-la com as sobrancelhas levantadas e com aqueles olhos penetrantes que pareciam querer adivinhar todos os seus secretos.
-. Esta manhã estou um pouco cansada, minha menina. – anunciou Nana de repente e olhou o seu neto com um sorriso. Sakura suspeitou que tramava algo e desejou desesperadamente que não fosse o que ela estava a pensar.
-. Queres que chame o doutor Feng? – a pergunta pareceu sair num tom ansioso, mas a idosa negou com um gesto – Tens a certeza, Nana?
-. Só estou cansada. – repetiu e segurou a mão do homem para aperta-la suavemente – Mas tenho pena que esta criatura perca um dia tão maravilhoso por minha causa. Querido, porque não mostras à Sakura a maravilhosa vida na ilha? E não inventes desculpas, Xiao Lang. Sei muito bem que não tens nada melhor para fazer.
-. Nana, não... Prefiro ficar com a senhora. – estava a ser tão sincera que temeu que ele se desse conta do quão desagradável era a ideia para ela – E eu tenho a certeza que o senhor Li...
-. O senhor Li estará encantado de fazer-lhe de guia, senhorita Kinomoto. – as palavras dele deixaram-na estupefacta. Tinha dito que...? Sakura engoliu em seco.
-. Agradeço-o, senhor Li, mas é que eu...
-. Será uma honra, senhorita Kinomoto. Espero-a no salão daqui a quinze minutos. – Syaoran levantou-se com um movimento felino, dando por encerrada a conversa.
Sakura observou com angustia a idosa. Nana parecia feliz com a ideia do seu insociável neto se mostrasse mais amável com a sua protegida. Sakura sentiu-se incapaz de desfazer a sua alegria.
-. Oh Nana, porque o fez? Não quero ser uma carga para ninguém. – disse.
-. E não o és, criatura. – segurou a sua mão encima da mesa – Os dois são jovens, precisam de divertir-se. E por outro lado, fará muito bem a Xiao Lang um pouco de companhia humana para variar.
Ao ver como ela levantava as sobrancelhas Nana voltou a sorrir.
-. Querida... – disse – O meu neto passa demasiado tempo com pessoas que só lhes importa o dinheiro. Quando o oiço falar dos seus 'tubarões', 'peixes gordos' e essas 'harpias' com que se relaciona... Filha, eu não sei muito do reino animal, mas tenho medo que ele mesmo se converta algum dia num deles... Sem emoções, sem corações... Não acredito que possas o entender, mas ele... Ah, meu pequeno anjo... Syaoran esqueceu-se como tratar um ser humano verdadeiro. Às vezes tenho medo que já tenha perdido essa doçura tão preciosa que o caracterizava em pequeno...
Sakura viu-se a si mesma como a ovelha ao que levavam ao matadouro. Pior ainda, a ovelha ao que o lobo se aproximava esperando o momento certo para atacar. Pelas palavras de Nana, Syaoran Li podia ser esse lobo vigilante. Na realidade, ele já o tinha avisado no primeiro dia. Mas talvez, o orgulhoso senhor Li não podia ter adivinhado naquele momento que Nana o obrigaria a fazer de ama para ela.
-. Não tenhas medo, criatura. – Nana animou-a – O leão não é assim tão fero, só é um gato na defensiva.
Sakura riu forçosamente, rezando no seu interior para que a boa mulher deixa-se de mostrar-lhe sorrisos que a aterrorizavam ainda mais. O último que queria era tê-lo como inimigo. E tinha a certeza que se Nana insistisse em estragar as suas férias daquela maneira, Syaoran Li inventaria um modo para despedi-la. Mesmo assim, beijou a idosa na bochecha, em sinal de agradecimento.
-. Diverte-te anjo. É uma ordem. – Nana beijou-a e Sakura teve a sensação que também lhe agradecia algo com aquele beijo.
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-. Porque está tão séria, senhorita Kinomoto? – a voz dele interrompeu os seus pensamentos. Estava a observar como duas crianças empurravam com esforço uma cesta cheia de peixes recém tirados da água. Deviam ter uns oito ou nove anos e apesar do esforço, sorriam. Sakura adivinhou pela enorme parecença entre ambos, que eram irmãos. O menino apenas tinha poucos centímetros de estrutura a mais que a menina, mas era comovente ver como ele tentava carregar com a maior parte do peso para aliviar a sua irmã.
Sem querer, a cena tinha-lhe trazido lembranças que agora a entristeciam. Sobre ela e sobre Tomoyo. Sobre o muito que a queria. Muitas vezes, ela tinha arrastado o carinho com as plantas da tia Sonomi do mesmo modo que aquele pequeno fazia nesse instante. Tomoyo não tinha nascido para realizar trabalhos tão duros e Sakura costumava fazer a sua parte para evitar que os ossos da tia Sonomi carregassem mais pessoa do que podiam suportar. Não era uma reprovação, isso nunca. Tomoyo tinha outras virtudes pelas que adorava. Tinha aquele toque de delicadeza, aquela forma de falar que envolvia tudo e que fazia com que todos prestassem a sua atenção nela. Sim, Tomoyo era linda, sempre o foi. E sempre o seria.
-. Senhorita Kinomoto? – insistiu ele e Sakura afastou o olhar dos meninos – Está bem?
-. Sim. – mentiu e mostrou-lhe os irmãos, que quase tinham alcançado o veiculo do seu pai e levavam a mão à testa que estava suada pela pesada cesta – Estava a pensar... São tão pequenos... Não é justo que tenham que trabalhar tão duro. Deviam de estar a jugar com outros meninos da sua idade, ou na escola, não acha?
Escutou o seu riso seco. Syaoran Li jamais ria como o resto dos mortais. Mesmo em algo tão natural como rir, ele deixava bem claro que considerava aquela expressão como um indicio de fraqueza.
-. Para ele também é um jogo, senhorita Kinomoto. E por outro lado, tem que ganhar a vida. – explicou, segurando o seu braço para leva-la até ao posto improvisado que o pai das crianças tinha montado ao redor da camioneta. Nesse momento, alguns turistas se aproximaram até ela guiados pelo cheiro a peixe fresco. Syaoran cumprimentou o homem, sem se importar que a sua mão ficasse com aquele forte cheiro a peixe. Sakura viu-os a falar no seu idioma. Supôs que eles negociavam o preço. O homem mostrou alguns peixes e Syaoran confirmou com a cabeça, satisfeito, tirando a sua carteira e entregando o dinheiro. Depois, viu-o depositar umas moedas nas palmas abertas dos meninos. Os dois perguntaram algo ao seu pai. Este deixou-os ir. Sakura seguiu-os com o olhar e sorriu quando pararam numa loja de caramelos e encheram os seus bolsos com orgulho para logo em seguida unirem-se ao grupo de meninos que brincavam por ali.
-. Vê? Não sofra mais, senhorita Kinomoto. Veja o felizes que são. – Syaoran arrastou-a até outro posto onde uma linda mulher exibia a sua colecção de panos para o cabelo de seda pura com bordados de flores chinas. Sakura estava a tentar explicar-lhe que não queria experimentar nenhuma, mas ele obrigou-a a satisfazer a mulher, escolhendo um muito bonito de um tom verde água e bordados dourados. Colocou-a sobre a sua cabeça e atou no pescoço com lentidão, observando depois o resultado com uma expressão indecifrável. Sakura não sabia exactamente o que ele estava vendo. Mas ao olhar nos seus olhos parece-lhe quase impossível que aquilo que via reflexionado nos olhos daquele homem fosse ela. Fechou os olhos, comovida com a visão da sua própria imagem. Na verdade, ele nem podia imaginar que a mulher nos seus olhos brilhava só por estar ali, no interior dos seus olhos castanhos como o chocolate... Sakura abriu os olhos novamente, confusa. Ele continuava observando-a.
-. Agora sim pareces uma de nós. – disse ele. E pela primeira vez, o seus sorriso foi sincero. Sakura correspondeu com satisfação. A mulher do posto falava sem parar, captando a atenção de todos e Syaoran olhou novamente para ela, fazendo repentinos gestos com as mãos e mostrando a carteira. – Será melhor que pague ou pensará que vamos rouba-lo.
Sakura não respondeu. Sentia-se feliz por ele já não a considerar uma intrusa. Era mais do que tinha esperado num só dia. Passearam o resto da manhã e Sakura teve que pedir-lhe que não gastasse mais dinheiro em coisas para ela. Sem duvida, Syaoran Li estava decidido a que ela falasse maravilhas dele ao chegar a casa. Era evidente que fazia isso por Nana, mas Sakura não precisava de nada daquilo. Parecia-lhe mais do que suficiente o pano para o cabelo. Na hora do almoço, ele ofereceu-lhe que comecem algo no povo. Sakura mostrou o saco com peixe que ele tinha carregado todo o caminho.
-. É uma pena que se estraga. – comentou e como resposta, Syaoran aproximou-se a uma idosa que cozia na porta da sua casa. A velha mulher deixou o trabalho de parte e aceitou o presente que lhe ofereciam. Disse algo que Sakura não percebeu e ele afirmou finalmente depois de negar varias vezes.
-. Disse que o aceitará se deixarmos que prepare uma parte para nós. – informou Syaoran e indicou-lhe que se sentasse sobre as rochas, segurando a sua mão para evitar que se desequilibra-se.
-. Oh, mas não podemos... – Sakura estava envergonhada. Por sua culpa aquela pobre mulher tinha interrompido o seu satisfatório trabalho. Claro, Syaoran Li já tinha entregado à mulher uma boa quantidade de dinheiro em troca do trabalho. A idosa não parecia chateada ou zangada. Pelo contrário, mostrou-se muito feliz ante o oferecimento. Mas isso não evitou que Sakura reconhecera algo que odiava reconhecer: o dinheiro compra tudo. Ao menos, isso parecia acreditar o senhor mais poderoso da ilha. Talvez acreditasse, mas Sakura tinha certeza de que mais tarde ou mais cedo, ele compreenderia que havia coisas que não estavam à venda. Talvez, já o sabia e apenas tentava impressiona-la com aquilo. Ou talvez, só talvez, realmente ele desejava ajudar aquela gente que ganhava a vida como podiam.
-. Ainda está triste? – ele perguntou, como se o silencio dela provocasse o irresistível desejo de rompe-lo. O mar batia suavemente nas rochas e Sakura deixava-se envolver pelo som mágico, enquanto os dedos dos seus pés descalços jogavam com a areia branca e fina da praia.
-. Não estava triste. Porque iria a está-lo? – ia acrescentar que era impossível que alguém o estivera ao completar aquela bela paisagem. Nem ela.
-. Esses meninos que vimos anteriormente. Acreditou que eles estavam a ser explorados, não é assim? – por um momento pareceu que havia uma reprovação no tom da sua voz. Syaoran Li amava a ilha, disso não havia duvida. Tinha-lhe ofendido ao pensar algo assim, por mais que não o tivesse dito em voz alta – Esse não é o nosso estilo, senhorita Kinomoto. E eu nunca permitiria que algo assim acontecesse nas minhas terras.
-. Claro. Mas você não é o todopoderoso (deus), senhor Li. – recordou-lhe – Mesmo para alguém como o senhor, há coisas que escapam do seu controle.
-. Que coisas? – ele divertia-se, vendo como ela tentava faze-lo descer do pedestal que ele mesmo tinha subido por méritos próprios – Diga-me uma.
-. Por exemplo... – Sakura pensou. Não sabia o incrivelmente bonita que se via. Como uma sereia, doce, emitindo aqueles leves ruídos que eram as suas palavras, disposta a começar uma disputa verbal para demostrar-lhe o quão segura de si mesma estava. Mas, os seus dentes mordiam os seus lábios com alguma insegurança. Syaoran não podia deixar de observar aquela boca que ameaçava nunca fechar-se para romper o feitiço. Desviou o olhar, chateado consigo mesmo pelo rumo que tomavam os seus pensamentos. De repente, Sakura fez com que salpicasse um pouco de água, com os seus pés, nos sapatos do homem – Por exemplo, não pode controlar o mar, está a ver?
Syaoran afastou-se um pouco, observando os seus sapatos molhados.
-. Está a ver? – insistiu ela, inexplicavelmente feliz por demostrar a sua teoria – E muitas vezes, também não pode controlar o seu mau humor. Agora está prestes a zangar-se comigo.
-. Está enganada. E quanto ao mar... – ele sorriu outra vez com aquele riso que era uma das suas novas expressões de desconhecia – Dê-me uns dias e tê-lo-ei a baixo do meu controle.
Sakura riu baixinho. Então o senhor Li podia ser engraçado e também desagradável... Isso sim estava a ser uma grata surpresa.
-. Foi muito bonito o que fez por esses meninos. – comentou ela, observando-o directamente à cara. Syaoran encolheu os ombros – Não finja que fez um grande negocio, senhor Li. Não sou tão ingénua.
-. Não é? – ele levantou as sobrancelhas com uma expressão de gozo – Eu achava que sim, senhorita Kinomoto. E uma romântica, se me permite a observação.
-. Pode ser... – Sakura envergonhou-se contra a sua vontade – Mas o senhor foi muito generoso com eles. E também o foi com essa pobre idosa. Talvez não seja...
Lembrou-se da frase que Nana tinha dito aquela manhã. O que tinha dito? "Não é tão fero como parece".
-. Não seja o quê, senhorita Kinomoto? – ele mostrava-se muito interessado que ela completasse a frase, mas ao ver que ela não dizia nada, ele próprio completou – Um homem miserável, egoísta, desprezível e arrogante?
O modo em que o disse fez com que ela voltasse à realidade. Por fim, o verdadeiro senhor Li descobria a sua autentica personalidade. Mas tinha esquecido que acrescentar uma enorme lista de adjectivos que, pela sua própria segurança, Sakura preferiu omitir.
-. O gato comeu-lhe a língua, senhorita Kinomoto? – perguntou com ironia – Ou é demasiado educada para ser sincera? Pense bem. Ninguém poderá escuda-la, prometo-o. Será o nosso segredo.
-. Porque insiste em humilhar-me, senhor Li? – Sakura não escondeu a sua raiva. Ergueu-se sobre a rocha disposta a voltar a casa a pé se necessário – Por acaso à algo em mim que o chateie?
-. Ele segurou-a, apertando a mão e puxando-a até que ambos ficassem muito perto um do outro. Naqueles instantes, a sua expressão era de irritação, a mesma que tinha mostrado ao vê-la pela primeira vez. Mas os seus olhos... Sakura era incapaz de identificar o que revelava o intenso olhar masculino.
-. Será melhor que volte para casa. – murmurou, mas ele não soltava a sua mão – Por favor...
-. E perder o festin?
Sakura virou-se, ignorando-o, mas ao caminhar sobre as rochas, teve que parar. A idosa cumprimentava-os ao longe, mostrando-lhes o peixe que o de olhos castanhos tinha oferecido e que a mulher tinha cozinhado para eles. Syaoran disse umas palavras em chinês. Viu como um grupo de meninos famintos, provavelmente todos netos da idosa, abraçavam-se a ela sorridentes.
Quando ele a alcançou, Sakura já estava demasiado furiosa para puder escutar uma única palavra. Agradeceu que tivesse a decência de caminhar em silencio a seu lado durante todo o caminho de volta a casa. Já na porta ele chamou-a de uma forma que fez com que Sakura estivesse ainda mais zangada.
-. O que é que disse? – perguntou, de certeza que a sua imaginação tinha-lhe pregado uma partida.
-. Eu disse 'anjo', não é assim que lhe chama a minha avó? – ainda gozava com ela. Sakura tapou os ouvidos com as mãos para não escudar-lhe. Os seus lábios rosaram o cabelo ao falar para evitar que outros ouvissem – O doce e estranho anjo da minha avó... Porque será que produz o efeito contrário em mim? Não confio em anjos que me deixam furioso, senhorita Kinomoto.
-. E eu não confio nas pessoas que gostam de humilhar aos outros, senhor Li. – desafiou-o com o olhar, enquanto pegava o panos que ele tinha-lhe oferecido e o lançava à cara – E pode ficar com isto. Não preciso disso.
-. Mas fica-lhe perfeito. – ele pegou no pano e aspirou o aroma, mas tinha uma expressão irónica ao fazê-lo – Por favor...
-. Basta.
-. Senhorita Kinomoto... – a sua voz suavizou-se ligeiramente, mas não tanto para ocultar o gozo nos seus olhos – Contará a Nana que fui um menino mau?
-. Talvez o faça. – comentou, consciente que ele não acreditaria – Talvez seja melhor que ela saiba que tipo de homem tem como neto.
-. Não o fará. – subitamente, o seu tom endureceu – Partiria o seu coração.
-. Não. Você o partiria. – apontou-lhe com o dedo e ele afastou-o com uma delicadeza teatral – Mas tem razão. Nana estará melhor enquanto acredite...
-. Quê, senhorita Kinomoto? – convidou-a a continuar.
-. Que tem algo no lugar dessa pedra que faz de coração. – soltou sem tabus, tal e como desejava fazê-lo. Observou-o desafiante – E então? Estou despedida?
-. Brinca? – ele acendeu um cigarro e expulsou o fumo mesmo à frente do nariz dela – E perder o resto das minhas férias vendo como tenta esquivar-me?
Sakura apertou os lábios, indignada. Desapareceu o mais rápido que pode, deixando-o ali plantado e com a boa companhia da sua própria arrogância.
Continua...
No próximo Capitulo...
"Mas nem sempre foi assim, sabe? Houve um tempo em que os risos daquelas duas crianças travessas enchiam esta casa... Claro que já passou muito tempo"
"May Lai?"
"Porque é que se zangaram o senhor Li e o seu primo?"
"Descobri o seu secreto, Sakura"
"O que estou a considerar seriamente, senhorita Kinomoto, é envia-la de volta a sua casa no primeiro avião de amanhã"
Notas sobre o Capitulo...
Bem, neste capitulo – que demorou muito a sair! XD – aconteceram várias coisas.
Primeiro, a Sakura mudou de visual, o que irá trazer uns problemas nos próximos capítulos – XD – e finalmente o Syaoran mostrou o seu lado humano – por acaso gostei daquela parte em que a Nana estava a falar dos 'tubarões' e 'peixes gordos'! XD Coisas de negócios! uu Ahh... E o próximo capitulo é muito, muito, muito e muuuito bom! Vai 'entrar' um personagem novo e algo irá acontecer entre Sakura e Syaoran – será que é desta que a Sakura será despedida?? – e esse capitulo iremos descobrir uns segredos do passado do Syaoran – o quê? Pensavam que era só a Sakura que tinha segredos? Nem pensar!
AH! E será que é desta que iremos descobrir a verdade sobre o passado da Sakura...?
mistério hú, hú, hú...!
Reviews...
Musette Fujiwara: Neste capitulo fala-se um pouco sobre o passado da Sakura (sobre a sua irmã e assim)...! E no próximo capitulo iremos descobrir sobre o passado do Syaoran...! Sim, o Syaoran não vai mudar para melhor! uu E este capitulo?? Tão bonzinho que ele estava tinha logo que piorar! uu E isso de ter mais família irás descobrir no próximo capitulo (fogo! És mesmo boa a descobrir as coisas!)
Muitos beijos! D
PS. E desculpa pela demorar! XD Eu avisei aí em cima o que aconteceu! uu Desculpa!
Gabii GLO xD: Desculpa a demora e é bom saber que gostaste! Este é um dos meus fics favoritos, espero que continues a gostar, mas o final é que é a melhor parte!
E desculpa pela demorar! XD Eu avisei aí em cima o que aconteceu! uu Desculpa!
Beijos!
Beijos a todos e espero pelos vossos comentários acerca do capitulo!Ying-Fa Kinomoto Lee
