N/I: Como já fiz insinuações de Neji/Hinata na fic "Nada além da chuva" e como já uso os dois nos Drablles de "A cada cem palavras", decidi que eu precisava me aprofundar neles

Ah, qualquer semelhança entre essa fic e a da Tia Lulu, é mera coincidência! Estranho, mas tivemos idéias semelhantes e a desenvolvemos de forma diferente, por isso, não se queixem de plágio, porque eu e ela já acertamos as contas.

# Neji/Hinata

# Essa fic não inclui nada revolucionário! É só romance, angst e alguns choros esporádicos.

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Dedico essa Fanfic à Bianca, minha filhota de coração!

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Conveniência

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Capítulo 1 – A idéia de Hiashi

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"Então eu caí numa outra armadilha, me tornei prisioneiro da minha própria família."

(Arnaldo Antunes – Autonomia)

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Por muito tempo o clã Hyuuga esteve dividido entre família Principal e Secundária: Souke e Bunke.

A Souke era privilegiada em status e qualidade de vida, já a Bunke tinha como missão primordial defender os membros da outra. Aos quatro anos de idade, os componentes da família secundária recebiam um Selo Amaldiçoado na testa que é ligado diretamente ao cérebro. O selo foi uma forma que a Souke encontrou de manter o controle da Bunke.

Usando o Juin Jutsu (Técnica do Selamento Amaldiçoado), a família principal pode provocar uma dor intensa na cabeça de qualquer Hyuuga da Bunke, podendo até mesmo matá-lo.

Por terem nascido gêmeos, Hiashi e Hizashi foram enviados cada um para uma dessas famílias. Hiashi, que foi o primeiro a nascer, recebeu como herança o título de líder do clã e Hizashi teve como missão de vida protegê-lo.

Certa noite, durante um festival de comemoração do Tratado de Paz entre o País do Fogo e o País do Trovão, a filha mais velha de Hiashi, Hinata, foi seqüestrada e seu pai naturalmente foi em busca de seu raptor. Ao encontrá-lo, o matou e foi aí que uma história trágica se desenhou e maculou o clã Hyuuga. O raptor era nada mais, nada menos que o Líder do País do Trovão.

Para que a guerra não retomasse, os ninjas do Trovão propuseram uma troca: a paz, pelo corpo de Hiashi.

Tornou-se óbvio para todos os membros do clã a real intenção dos shinobis do Trovão. Com Hiashi morto, eles poderiam descobrir o segredo do Byakugan, o Doujutsu dos Hyuuga, uma Kekkei Genkai (linhagem sangüínea avançada).

Hiashi, pela honra que tinha, decidiu que se entregaria, mas o seu irmão Hizashi decidiu que se sacrificaria, pois, além de ser a sua missão defender o irmão, sabia que o selo em sua cabeça desapareceria quando morresse e, junto dele, todos os segredos do Byakugan.

Hiashi nunca aceitou tal situação. Jamais permitiria que o irmão se sacrificasse por ele, porém Hizashi o fez mesmo sem consentimento.

O País do Trovão recebeu o corpo de Hizashi acreditando ser o do líder do clã. Não houve guerra e os segredos do clã Hyuuga permaneceram ocultos.

A tragédia, no entanto, não teve fim com essa morte. Hyuuga Neji, filho de Hizashi, acreditou que ele fora morto injustamente e não por escolha. E abandonou a sua missão de proteger sempre a filha mais velha do tio, decidindo-se por vingar a morte do pai.

Hiashi viu-se em um grande problema quando descobriu que toda a genialidade do clã estava na família Secundária, em Neji. Ele aprendeu sozinho aos jutsus secretos do clã e adquiriu o título de gênio dos Hyuuga.

Aos treze anos, Neji e Hinata se confrontaram no Chunnin Shiken. Hinata não fez uso do Juin Jutsu para selar o poder do primo, pois queria mostrar a sua força sem o uso de apelações, porém foi derrotada. O garoto deixou claro o quanto odiava a ela e a família principal.

Somente ao fim do Chunnin Shiken, Hiashi conseguiu contar a história verdadeira do irmão para Neji e pôde assim reatar os laços com a Bunke.

O garoto passou a treinar com o tio e retomou a missão de sempre defender a herdeira do clã, Hyuuga Hinata, a mesma a quem deixou gravemente ferida anteriormente.

O clã Hyuuga estava em paz novamente, mas as cicatrizes da morte de Hizashi e da luta entre os primos permaneciam abertas, maculando Souke e Bunke.

Para acabar definitivamente com essa divisão dolorosa do clã, o patriarca Hiashi teve uma idéia junto ao conselho de anciãos de ambas as famílias. Essa história inicia-se exatamente quando ele resolve pô-la em prática.

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Tsunade arqueou a sobrancelha, um sorriso irônico no canto dos lábios mostrava a Hiashi o quanto ela considerara absurda aquela idéia. No canto dos olhos, rugas discretas ganhavam contorno quando o sorriso se transformou num risinho sadico e zombeteiro. Apoiou os cotovelos sobre a mesa e contornou com os dedos a borda de um copo vazio que jazia abandonado.

- Casamento? – repetiu a última palavra que ouvira do Hyuuga. – Quer usar dois jovens para acabar com uma rixa antiga? Um contrato entre Souke e Bunke?

- Eu não olharia dessa forma. Faz parecer que estou usando de politicagem para resolver um problema de tal dimensão – tomou um gole da bebida destinada a ele e questionou-se internamente o porquê de estar sentado numa mesa de bar na companhia da Hokage. – É uma solução interessante para todo o clã.

- Já parou para pensar se isso será interessante para eles? – a loira voltou a encher o copo com o liquido alcoólico que pedira no início daquela conversa. – Está lidando com pessoas, Hiashi-san.

- Eles são shinobis, Tsunade-hime – notou a sobrancelha arqueada e tensa da loira e tratou de concluir a teoria. – Shinobis fazem o que é melhor para as suas famílias e vilas. Eles entenderão que essa união será fundamental para acabar definitivamente com a divisão no clã Hyuuga.

Tsunade soltou o copo e cruzou os braços. Seus olhos fitavam duramente o rosto inexpressivo do líder daquele clã tão famoso. Ela o xingaria se tivesse bebido mais alguns copos de sakê, porém entendeu que precisaria estar sóbria para argumentar com aquele cabeça-dura. Mas argumentar não era o forte da Hokage. Ela gostava de impor as decisões e provar depois que estava certa ao fazer aquilo. Aquele, no entanto, era um caso a parte. Não era uma determinação referente a vila e sim a um clã e Hiashi não estava lhe perguntando se aquilo poderia acontecer, estava lhe informando.

- Você tem consciência do que está pensando em propor para esses dois jovens? – o tom usado por ela tinha a intenção de intimidá-lo, mas apenas o fez pigarrear e em seguida rir.

- Tenho sim. São adultos! Cada um com seus vinte e poucos anos! Hora mesmo de darem um rumo a suas vidas – finalizou ao ficar de pé e engolir o último gole em seu copo. – Agora... terei de comunicá-los sobre a data.

- Que feio para você – Tsunade zombou com a voz divertida e claramente alterada pelo nível de álcool no sangue. – Os noivos serão os últimos a tomar conhecimento do próprio matrimônio! Boa sorte ao falar com o casal de pombinhos.

- Tsunade-sama... quando a notícia desse noivado se espalhar, e eu sei que vai, por favor, não faça comentários do tipo "um contrato entre Souke e Bunke", isso será desgostoso para os jovens.

- Com ou sem o meu comentário, esse acontecimento será chocante para ambos.

- Não sou tão estúpido – Hiashi riu, adorando ver a surpresa e curiosidade que brotava nos olhos da mulher. – Conversei com ele... E, posso lhe garantir, aquele rapaz não demorou a entender que isso será o melhor para o clã. Agora, só preciso avisar a ela.

- Maldito seja, Hiashi! – a Hokage urrou irritada, esmurrando com força a mesa do bar e nem se importando ao notar que a partira em migalhas. – Você estava falando como se nenhum deles soubesse! Está dizendo que... que ele já aceitou? Queria me fazer de idiota?

Hiashi fixou o olhar penetrante no de Tsunade, percebendo que ela não estava brincando. Toda aquela explosão não era por causa do sakê, mas sim por culpa daquela afirmação repentina.

- Perdoe-me, mas eu vim comunicá-la sobre o casamento, nunca disse que nenhum deles estava a par da situação. E, sim, ele já aceitou e, com fim dessa divisão entre as famílias, será nosso futuro líder, ao lado de minha filha.

Os outros fregueses do bar se amontoavam em busca de respostas para aquela repentina explosão de ira vinda da Hokage, mas ela sutilmente sorriu e tratou de caminhar até a mesa mais próxima e voltou a sentar, ainda descrente em toda aquela conversa.

- Você é um filho da mãe, Hiashi! Eu bateria em você se não o respeitasse tanto – ergueu a mão para pedir mais uma bebida e mal percebeu quando ele sentou diante dela mais uma vez.

Um pequeno movimento de garçons pôs-se a limpar a bagunça que a Hokage fizera e, logo depois, levaram a nova garrafa de sakê para a nova mesa.

- Eles convivem desde a adolescência... não será tão ruim. Confie nas minhas palavras, Hokage-sama, a união do clã beneficiará Konoha.

Disso ela não podia discordar. Suspirou e fez uma careta.

Sentiu uma súbita vontade de rir e sabia ser apenas mais um efeito da bebida que começava a transformar o humor.

Acenou uma das mãos para o homem, num gesto similar a um "está bem, eu concordo" e Hiashi compreendeu, podendo assim deixar aquele ambiente que para ele era muito impróprio.

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Hiashi ainda ponderava sobre as atitudes de Tsunade. Uma Hokage não devia portar-se daquela maneira, ainda mais quando tinha um assunto de tal magnitude para discutir.

Passou a mão pelo rosto ao entrar em casa, tirou as sandálias e passeou pelo corredor em busca das suas filhas. Sabia que Hanabi poderia muito bem estar treinando e Hinata poderia muito estar com aqueles estranhos companheiros de equipe.

Indagava-se até quando a filha mais velha treinaria com aqueles dois, podendo ela estar treinando com ele e Neji nas propriedades do clã. Suspirou e agradeceu por Hanabi não ter adquirido a mesma mania, preferindo ficar por perto e se dedicando aos seus treinamentos com o primo.

Como esperado, Hanabi estava na sala de treinamento. Neji também estava lá, sentado e tomando um suco que certamente fora levado por ela. Hiashi fitou os dois, quase parabenizando pelo empenho nos treinos, mas a sua atenção estava voltada para outro assunto.

- Hanabi, onde está a sua irmã?

- Tinha uma missão com Shino e Kiba... disse que estará aqui para o jantar.

- Tenho um assunto sério para tratar com ela – encarou Neji por um segundo e Hanabi pôde entender que era um assunto entre três.

- O que houve? – indagou, curiosa.

- O assunto é entre mim e Hinata. Quando ela chegar, mande-a me procurar.

O homem deixou a dupla sozinha de novo. Neji se preparou para a sessão de perguntas da prima que já se dirigia a ele com curiosidade nos olhos. Sentou ao seu lado e começou o interrogatório.

- Do que se trata? Ela fez besteira? Você sabe o que é, não sabe? Aconteceu alguma coisa? Alguém morreu? Por que você está distante hoje? Tem a ver com que o que ele quer falar com ela? Neji! Fale alguma coisa!

O rapaz custou a processar todas as perguntas e questionou-se de onde ela tirava tanto fôlego para perguntar tudo duma vez só.

- Não ouviu o seu pai? O assunto é entre os dois. Eu vou encontrar Lee e Tenten agora. Combinamos de treinar.

- Pensei que íamos treinar juntos... – seus olhos suplicantes não tiveram o resultado esperado. Neji apenas levantou e acenou com a mão, deixando-a sem resposta. – Seu tonto distraído... – ela riu baixinho pondo os lábios no copo de onde antes ele bebia.

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Hinata encheu o copo com o suco que trazia numa térmica, depois a guardou numa cesta e sorriu para os amigos. Estavam concluindo mais uma missão e sentia-se satisfeita com o resultado do próprio esforço.

- Concluímos a missão bem antes do imaginado! – exclamou Kiba, deitando-se sobre a grama verde ao lado de Akamaru. – Você lutou muito bem, Hinata!

- Obrigada, Kiba-kun – ia segurar o copo, quando um trincar de vidro a assustou. Arregalou os olhos na direção do suco e percebeu que o líquido vazava por uma frincha que acabara de surgir no recipiente. (1) Assustada, ficou de pé e tampou a boca com um das mãos. Encarou os olhos surpresos de Kiba e a serenidade de Shino que permanecia calado.

- Que foi, Hinata? – perguntou o Inuzuka ao sentar.

- O vidro... trincou...

Kiba arqueou uma sobrancelha e riu.

- Você acredita nessas superstições?

- Eu... – juntou as suas armas e com o olhar inseguro esquivou-se da pergunta. – Vou para casa antes que escureça. Até logo rapazes.

Tornar-se uma adulta tinha lá suas vantagens, mas acarretava responsabilidades que ainda lhe eram pesadas demais. Hinata sabia que com os seus vinte e dois anos não poderia se dar ao luxo de sonhar demais com uma vida tranqüila e uma família cheia de amor. Tinha de se concentrar em suas preocupações atuais que estavam quase completamente voltadas às missões e aos cuidados da casa do pai. Com a morte da mãe, não podia confiar nos serviços de empregados para fazer o que antes ela fazia, assim como não podia confiar isso à irmã impulsiva que possuía.

Hinata apressou o passo, ignorando qualquer pessoa que pudesse cruzar com ela durante o trajeto. Tanto que quase não parou quando ouviu uma voz familiar chamar o seu nome do outro lado da rua, já diante de casa, freando apenas quando o dono da voz posicionou-se com velocidade à sua frente.

- Hinata-sama – Neji a fitava com preocupação, certamente havia notado o tremor nos olhos da prima e ao tocar seu ombro, quis tranqüilizá-la. – Aconteceu algo?

- Neji-kun... – ainda atordoada, evitou o encontro com os orbes curiosos do rapaz. – Nada. Só preciso ir pra casa.

- Seu pai... está lhe procurando.

A jovem notou o desvio do olhar que antes estava preso nela e entendeu que tal conversa já era de conhecimento dele. A lembrança do vidro trincado a fez sentir um estranho frio na barriga e foi inevitável apertar as vestes dele entre os dedos e exigir respostas.

- O que está acontecendo, Neji?

Os olhos perolados do rapaz analisaram a expressão atordoada da moça e sentiram uma grande necessidade de dizer a ela que fugisse com a coragem que faltou a ele para negar àquele pedido absurdo de Hiashi ou de contrariar aquela idéia. Mas ele não podia falar por Hinata e não sabia se ela, assim como ele, também deixaria para trás qualquer plano para poder servir inteiramente ao clã.

- Fale com o seu pai, Hinata. Combinei de ver o Lee.

Sozinha, Hinata alimentou ainda mais o seu medo de ouvir o que o pai tinha a dizer. Teria acontecido algo em sua ausência? Hanabi estaria com problemas? Seu pai estaria com alguma doença? Parou de se angustiar com falsas suspeitas e adentrou a casa.

Antes de procurar água ou até mesmo um banho, correu para os aposentos do pai, ajoelhou-se na porta e pediu permissão para entrar. Permaneceu na reverência até que ele deu-lhe a ordem de ficar diante dele.

Estando sentados e com os olhos profundamente interligados, Hiashi bufou. Hinata estava aflita, brincando com os dedos e fingindo indiferença, agoniada pela chegada da tal conversa.

- Hinata... você vai se casar – afirmou de forma direta e clara.

Ela estremeceu por um segundo e sem conseguir processar a informação como deveria, juntou a preocupação com o susto e a fome que sentia. Seu estômago embrulhou de repente e seu corpo chocou-se desfalecido contra o chão amadeirado.

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(1) Dizem que quando vidro trinca é sinal de que algo ruim está para acontecer.

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N/A: É uma idéia cheia de contras... mas por que não? XD Eu, antes, detestava Neji e Hinata juntos, mas por ironia do destino, me apaixonei por eles. Não lembro exatamente o que me fez gostar do shipper... virei fã e pronto! Agora preciso extravasar essa idéia! /o/o/