Essa fic é pra Pig, mesmo que eu saiba que, no fundo, ela não gostou TANTO assim, porque não é uma pólvora, nem é K ou K+. Mas foi ela quem me deu a linda idéia... E é por isso que ela merece receber meus cumprimentos. D

NA: Meu Greg era, sim, o mais perfeito exemplo de geek (E cresceu em Vegas. E nasceu em 80. E as coisas não acontecem exatamente quando aconteceram na série (apesar de eu ter mantido a ordem cronológica, o que já é uma grande evolução). Não é à toa que se trata de uma UA. E, se você discorda seriamente de alguma dessas coisas, Alt+F4 pode resolver seus problemas.


Prólogo

Poucas lembranças da minha infância são mais nítidas do que a imagem do cara que ficava tomando conta de mim quando meus pais saíam. E isso porque, além de babá, ele também era meu vizinho e nós tínhamos horários parecidos - ele com suas aulas avançadas e grupos de debates e eu com o balé e as aulas de patinação artística.

O nome dele era Gregory Hojem-Sanders, mas todo mundo chamava ele só de Greg. E a principal razão para ele ser tão inesquecível - pelo menos até eu fazer uns treze anos - é o fascínio que todas aquelas equações de Química Orgânica exerciam sobre a pobre e inocente garotinha de sete anos de quem ele cuidava - ou seja, eu. E, é claro, o fato de ele fazer todas as lições de matemática por mim.

Foi ele também o responsável por eu ter descoberto, ainda antes dos oito anos, palavras que hoje me aterrorizam, como Ivy League, SATs, faculdades, diploma, carreira e currículo - ou sua variação, histórico escolar. E isso porque, quando eu tinha oito anos, ele tinha dezoito.

Por causa dessa imensa diferença, nós acabamos nos separando quando, depois de ter passado em todas as faculdades que tentou, ele escolheu ir para Providence, Rhode Island. Porque, é claro, ele precisava estudar na Brown, mesmo que ela fosse do outro lado do país.

Foram quatro anos complicados sem ele. Eu tive que aprender matemática, não tinha com quem conversar enquanto esperava o elevador e, pior de tudo, ganhei uma nova babá - mesmo que ela tenha durado muito pouco, já que eu acabei crescendo e não precisando mais dela.

Isso até que ele finalmente voltou para casa, no verão de 2002. Hoje, eu diria que ele voltou gostoso, mas o máximo que eu podia dizer na época era que ele estava bastante diferente do nerd que eu tinha conhecido. Não que o nerd não estivesse lá: ele tinha feito a faculdade e a Academia de Polícia ao mesmo tempo e só tinha voltado para Vegas porque tinha conseguido uma vaga no laboratório criminal para trabalhar como analista de DNA. Só ele mesmo pra querer uma coisa dessas.

O único problema era que o turno dele acabava na hora que eu acordava e ele chegava em casa quando eu estava saindo para a escola. Mas eu, que sempre tinha sido forçada a dormir cedo, o invejava por passar a noite toda acordado e ser pago para isso.

Naquela época, meus pais começaram a achar que precisariam afastar nós dois, porque nossos mundos eram diferentes demais. Isso talvez fosse pelo trabalho dele, que envolvia os piores exemplos de seres humanos, ou talvez tivesse como causa o fato de que, sempre que podia, ele estava com uma garota nova. Mas eu nunca me importei com o que meus pais pensavam e, sempre que o Greg tinha uma folga e me chamava para tomar um café - a única "bebida de adulto" que ele bebia na minha frente - na casa dele, eu não hesitava em aceitar. Eu não sei como ele conseguia, porque um cara de 23 anos certamente tinha coisas mais legais para fazer, mas ele parecia gostar de estar comigo. De ter contato com a inocência que, naquela época, eu ainda tinha e ele, por causa das pessoas com que cruzava todos os dias, tinha perdido de vez.

E ele aproveitava para, mais uma vez, me fascinar com a vida dele, me contando sobre o que ele fazia e sobre as pessoas com quem trabalhava. Foi assim que eu fiquei sabendo tudo sobre Catherine, a ex-dançarina de boate que "não usava nada além da pele" para trabalhar e que tinha trocado isso por terninhos comportados no laboratório; sobre Warrick, o ex-viciado em jogo que tinha olhos claros quase geneticamente impossíveis para um negro; sobre Nick, o cara legal que tinha o azar de sempre se envolver com as mulheres erradas; sobre Grissom, o supervisor que ele admirava, mas que o tratava como o mais perfeito rato-de-laboratório. E ele falava muito sobre Sara, a idiota que teve a chance de sair com ele e tinha desmarcado em cima da hora por causa de trabalho. Ela tinha algum problema, eu tenho certeza.

Quando eu entrei na High School, ele foi promovido e finalmente recebeu autorização para trabalhar em campo. Lembro dele parado na minha porta, um imenso sorriso na cara, me dando essa notícia às seis e meia da manhã de uma segunda-feira. Eu certamente o mataria, se já não estivesse acordada.

O mais incrível nele era que, mesmo trabalhando loucamente, ele arranjava tempo para me ajudar com a escola. Costumava dizer que não tinha se formado em Química para ficar tirando fotografias de cenas de crime, por mais que eu soubesse que essa era a principal razão para ele ter estudado o que estudou. Mas eu nunca me dei o trabalho de discordar dele, porque, apesar de todo o meu fascínio, eu simplesmente não conseguia entender Química sozinha.

Acreditando que agora eu era madura o suficiente para lidar com ele - e com a certeza de que aquele arranjo seria melhor do que pagar um professor particular -, meus pais nos deram carta branca para nos encontrarmos sempre que desse, desde que fora do horário escolar. E foi numa dessas visitas à casa dele que eu tive a oportunidade de entender como ele via as mulheres - não que eu não tivesse uma idéia (bastante certa, eu descobri) desde muito tempo antes.

Estávamos estudando na sala quando o celular dele tocou. Ele pegou o telefone, me disse que iria atender lá dentro e foi para o quarto. Aproveitando a pausa, eu fui à cozinha procurar alguma coisa para comer. E, quando abri o armário no qual ele guardava as caixas de cereais matinais, achei uma (pequena) amostra da coleção de Playboys dele.

Eu já tinha visto as revistas nas bancas, é claro, mas nunca tinha visto uma em algum lugar em que eu pudesse simplesmente pegar e folhear, se quisesse. E, aproveitando essa oportunidade, eu peguei a primeira da pilha e a abri sobre a mesa da cozinha.

- Jenny, o que você... - ele parou de falar quando viu a foto. Corou violentamente, pela primeira vez na vida, e desviou os olhos, parecendo incapaz de me encarar depois daquilo. Não por mim, mas pela imagem que eu tinha feito dele e que tinha acabado de ser destruída. - Me dá isso aqui! - ele mandou, daquele jeito meio policial que ele havia aprendido na Academia e sempre usava para dar ordens. - Eu não quero dar chance aos outros de me processarem por aliciamento de menores ou algo assim!

Fechei a revista e a entreguei a ele. Greg se sentou na cadeira, a mesa entre nós dois.

- Eu sempre achei que você tivesse cérebro - eu disse, num tom mais frio do que o normal.

- E eu tenho - ele respondeu, parecendo meio preocupado com o que eu estaria pensando dele. - Mas isso não quer dizer que eu não seja homem, sabe?

- É, você não tem cérebro - retruquei, rindo. - No dia em que eu folhear uma revista porque eu quero for aliciamento de menores, pode deixar que eu te processo.

Ele riu, daquele jeito lindo que as pessoas têm de rir quando estão encabuladas. Aquela foi a primeira vez que eu olhei para ele e o vi como homem. E, a partir daquele momento, eu comecei a querer que ele me visse como a mulher que eu estava me tornando.

Talvez tenha sido por essa razão que eu me inscrevi nos testes para a equipe de cheerleaders. E, com certeza, foi por isso que, quando recebi o resultado, eu bati na porta dele. E essa foi uma ótima experiência, no fim das contas.

Ele abriu a porta usando só a toalha de banho, o cabelo pingando nos ombros musculosos. Eu chamaria de sonho uma imagem menos maravilhosa, se o cara reparasse mim. Mas Greg não me via desse jeito. E isso era o antiafrodisíaco perfeito para estragar coisas como aquela.

- Eu... - gaguejei, meus olhos percorrendo rapidamente cada centímetro do tórax e dos braços dele. - Posso entrar? - quando tinha sido mesmo que ele tinha começado a malhar? Eu nunca tinha ouvido uma palavra sobre isso.

Ele deu um passo para trás, parecendo meio embaraçado. Eu me sentei no sofá, encarnando a mais perfeita imagem da aluna de colégios particulares caríssimos - e, na verdade, eu não estava muito longe de ser uma.

- Eu só vou me vestir e... Me espera aqui?

Eu fiz que sim e ele foi para o quarto. Me ajeitei no sofá, arrumando as pregas da saia do meu uniforme. Joguei a mochila no chão e olhei as horas no celular. Seis e meia. Ainda estava cedo para ele ir trabalhar.

- Você só chegou da escola agora? - ele perguntou, antes de aparecer no corredor, terminando de fechar (de baixo para cima) os botões da camisa azul-marinho que tinha escolhido para aquele dia.

- Eu estava no treino.

- Treino? - ele pegou uma garrafa de água na geladeira e sentou do meu lado.

- Treino. Entrei para a equipe de cheerleaders.

- Eu achei que você tivesse cérebro - ele respondeu, com seu tom mais sarcástico.

- Eu tenho. Só que ser a nerd da turma não é meu sonho.

- Se o seu sonho for dormir com o time de lacrosse inteiro, então, parabéns, você conseguiu.

- Sabe, Greg, isso é aliciar uma menor. Qual é, fica feliz por mim! Eu comemorei quando você começou a trabalhar em campo e passou a correr risco de vida sempre que vai pro trabalho.

- Eu estou feliz por você. Mesmo. Só acho que cheerleader é uma coisa estereotipada demais pra valer a pena.

- Como se policial não fosse assim.

- Não sou eu que uso mini-saia e collant. Mas, se você quer fazer isso, não sou eu quem pode te impedir - ele deu de ombros. - Acho que simplesmente vou ter que admitir que você cresceu...

"Admitir que você cresceu". Ele não conseguiu fazer isso tão rápido quanto deveria. Mas, quando eu finalmente consegui a minha carteira de motorista e comecei a dirigir, ele foi forçado a mudar um pouco de opinião.

No começo, nos encontrávamos na garagem, quando os horários batiam. Com o tempo, ele começou a me esperar, por mais cansado que estivesse, encostado na porta do meu carro, só pra me contar como tinha sido a noite. "Você é o meu jeito de fugir daquilo", ele dizia. E eu entendia, porque as coisas que ele me contava eram quase assustadoras. Mas eu queria saber sobre elas.

E foi só pra saber mais e mais sobre o trabalho dele que eu comecei a esperá-lo, quando ele demorava demais para chegar. Quando isso acontecia, ele culpava o trânsito, me dizia que eu estava atrasada para a aula e me chamava para passar na casa dele quando voltasse. Às vezes, esse pedido era acompanhado por um olhar diferente dos normais, e naquelas tardes eu não o procurava, porque eu não sabia se conseguiria lidar com ser desejada por ele. Mesmo beirando os dezessete anos, eu era nova demais.

Num desses encontros em particular, eu tive o meu primeiro contato com a capacidade de observação que fazia dele um CSI com um índice de erros tão baixo. Eu tinha demorado mais do que o normal me arrumando e, na hora em que saí do elevador, ele já estava quase desistindo de me esperar. Cumprimentei-o com um sorriso e, pela primeira vez na vida, ouvi, além da resposta, um "você está bonita hoje".

- Tá namorando, não tá? - ele perguntou, com seu ar mais casual, me estendendo um copo de café (já quase frio). Eu fiz que sim, tomando um gole e entregando o dinheiro a ele.

- Obrigada. Como você sabia?

- Só um namorado faz uma mulher se arrumar tanto. Ele pediu ontem?

- Qual é a graça de ter uma novidade se você já sabe o que eu vou dizer?

- É visível, Jenny! Ontem você não se arrumava com tanta atenção a besteiras! Então, eu presumi que...

- Elementar, meu caro Watson. Você sempre presume tudo. Eu tô bonita pelo menos?

- E atrasada. E confusa. É o Sherlock quem presume as coisas. O Watson só monta o quebra-cabeça com as peças que o Sherlock deu pra ele - ele fez uma pausa. - Mas a pergunta foi se você está bonita. Eu já disse que sim. Quer que eu repita, pelo bem do seu ego?

Eu achava incrível a capacidade dele de não conseguir ser sério. No fundo, eu acho que essa era a razão para ele não poder fazer nada importante no trabalho, como interrogar testemunhas, ou conseguir sair com a tal Sara (se bem que, no caso dela, eu acho que o problema era mais o Grissom do que qualquer outra coisa).

Mas, infelizmente, até as pessoas mais legais vivem momentos de inferno astral às vezes. E foi exatamente o que aconteceu com ele quando, simplesmente por querer salvar a vida de uma pessoa, foi espancado por um monte de vândalos e quase morreu nas mãos deles. Isso, pelo menos, foi o que o Grissom me contou quando, para o meu completo choque, me ligou na manhã daquele dia, a pedido do Greg.

- O horário de visitas vai das três às cinco - ele me informou.

- Só tem esse horário?

- É, ele disse alguma coisa sobre você não querer abrir mão do seu treino de cheeleader. Mas, se você quer a opinião de um velho que não entende nada de sentimentos - essa parte soou quase irônica, de um jeito que simplesmente não cabia no Grissom que o Greg me descrevera -, pode valer a pena perder tempo cuidando de quem você gosta.

- Grissom, eu posso te perguntar uma coisa?

- Eu vou precisar de um advogado? - eu quase podia ver as sobrancelhas dele se erguendo, como Greg tinha me contado que ele fazia sempre que fazia alguma piada sobre a própria profissão.

- Não. Eu só queria saber... É só uma curiosidade... Você e a Sara. O que tá rolando?

- Nós não temos nada - ele respondeu, meio na defensiva. Não tinha jeito melhor de admitir que eu estava certa.

- Eu não vou contar isso pro seu chefe nem nada, sabe? O máximo que eu posso fazer é contar pro Greg, mas ele é um cara esperto e vai acabar descobrindo antes de eu poder dizer.

- Nós não temos nada - ele repetiu, com mais firmeza. - É só o que você vai conseguir arrancar de nós - uma pausa. - Você também é bem inteligente. Some as evidências. Mais alguma pergunta?

- Não - respondi, com um sorriso triunfante que foi bom ele não ter visto. - Nenhuma.

Desliguei o telefone e fui me arrumar, com mais cuidado do que o normal. Desci para a garagem, onde o Toyota dele não estava parado. Com uma sensação meio ruim, fui para a aula, durante a qual eu apenas pude contar os segundos até ir para o hospital. Grissom estava certo: temos que cuidar de quem nós gostamos. E ele nunca tinha hesitado em cuidar de mim, ganhando ou não com isso. E eu tinha muito a ganhar.

Quando entrei no quarto que a enfermeira tinha indicado, ele estava dormindo. Puxei a cadeira, sentei do lado da cama e, com cuidado, fiz carinho nos cabelos dele. Ele abriu lentamente os olhos.

- Você veio - sussurrou.

- Por que não? Você precisa de uma babá.

Ele pareceu querer me tocar, mas não se atreveu a se mexer. Não havia nada em seu corpo que não estivesse machucado.

- Como você está?

- Desesperado por uma anestesia.

- O Grissom que me ligou.

- É. Eu pedi pra ele te avisar. Não queria que você perdesse a escola. Ele é um cara legal, né?

- Eu não falei muito com ele. Parece que você expressou muito bem a sua preocupação com a minha aula, porque ele desligou rápido. Só deu tempo de eu fazer a ele uma pergunta que eu venho querendo fazer faz tempo.

- E que pergunta é essa?

- Ele e a Sara estão juntos, Greg - os olhos dele perderam um pouco do brilho. - Foi isso o que eu perguntei. E eu mudo o meu nome para Ginevra se tiver entendido a resposta dele do jeito errado - fiz uma pequena pausa. - E, no muito provável caso de eu poder continuar me chamando Jennifer, ela realmente não se importa com o que você sente, porque, se fosse eu, já tinha te contado isso quando começou, em vez de ficar te enrolando.

- Jenny... Como você tem tanta certeza?

- Eu somei as evidências, como ele mesmo mandou - sorri. - O que ela tem de tão especial?

- Ela é a minha mentora. E você deve entender muito bem esse fascínio que mentores provocam nos pupilos, não é? - ele me olhou e se ajeitou na cama, gemendo baixinho de dor. - Ela é nove anos mais velha do que eu. Formada em Harvard. Além de tudo, ela é um gênio.

- E namora um cara de 50 anos! Você tem 27. Percebeu a diferença? Ele coleciona insetos, você coleciona Playboys. Quer que eu continue a lista de motivos pelos quais uma workaholic certinha não olharia pro ex-nerd que adora uma dominatrix?

- Eu não "adoro uma dominatrix" - ele replicou. Se esse era o único ponto com que ele discordava, então isso queria dizer que ele só não queria admitir que eu estava certa. - Eu gosto dela, Jenny.

- Talvez você devesse desencanar dela, Greg. Focar em alguém que fosse dar conta do seu estilo de vida.

- Alguém como você, por exemplo? Porque eu tenho certeza de que você é uma escolha tão apropriada quanto ela - eu fiquei quieta. Odiava ser subestimada. Especialmente por ele. - Eu queria te pedir um favor. Ali em cima da mesinha... Pega as minhas chaves e a minha carteira - ele fez uma pausa. Respirou fundo e continuou: - Leva o Toyota pra casa. Ele está na delegacia. Usa o dinheiro pra pegar o táxi e fica com o resto.

Peguei a chave do carro e o dinheiro que ele tinha na carteira - que nem era tanto assim. Devolvi a cadeira para o lugar dela.

- Eu vou te deixar descansar. Melhora rápido, tá legal?

Me dirigi à porta. Já tinha saído do quarto e estava fechando ela quando ele me chamou.

- Você está linda hoje.