1º Prêmio do Concurso Yaoi/Yuri Amor Livre.

À yeahrebecca - 1º lugar da Categoria 1 - Yaoi/Shonen Ai

Shipper: Itachi e Sai

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Exílio

Itachi está exilado em seu próprio coração devido a sua ambição e Sai em um amor que desabrocha.

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Havia um homem que não enxergava porque não podia e outro homem que não queria ver. Um cego por causa de um tesouro, outro por causa de um amor. Itachi e Sai. Pode o amor vencer a ambição?

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E de repente era ele que ouvia seus problemas, que ria de suas piadas, que o chamava de cego – embora não soubesse ainda em qual sentido – de repente, era apenas Ele.

By Peeh

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Capítulo 1

Eucalipto

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Trágica foi a história da família Uchiha.

Itachi, o irmão mais velho, vivia enfiado em negócios perigosos e quase sempre ilegais. Saiu de casa muito jovem na companhia de uma gangue e, depois de doze anos, logo depois de completar vinte e nove anos, fora encontrado no cenário de um crime. Caído ao chão, os olhos sangrando tanto quanto a perna que fora perfurada por uma bala. Ao lado dele, um homem com marcas por todo o corpo, sangue por todos os lados, um amigo de Itachi. Morto.

Sasuke, o irmão mais novo, abalado com a morte precoce dos pais, tinha como maior diversão culpar Itachi. Culpá-lo pela ausência e pelos crimes que cometera. Agora, o culpava pela morte daquele homem estranho também.

A perícia não encontrara impressões digitais, vestígios de pele ou sangue do Uchiha no corpo. Não havia prova alguma de que ele fora o assassino. A arma, abandonada no local, não tinha registro, não tinha marcas, não tinha nada senão a pólvora, que também não estava presente nas mãos de Itachi. Ele não era o assassino, porém era uma testemunha sob suspeita de ser cúmplice. A ficha do rapaz não era a mais limpa.

Quando levado ao hospital para exames, fora constatado que havia sofrido algum tipo de tortura. Seus olhos foram furados com algum tipo de agulha que, tragicamente, parecia ter sido manuseada com maestria, pois tirara – talvez temporariamente – dele a capacidade de enxergar.

Quando interrogaram sobre a família Itachi, que ainda tinha os olhos enfaixados, lembrou que apenas Sasuke, o irmão mais novo, ainda era vivo. E não sabia se seria bem recebido pelo mesmo. Os laços de ambos foram violentados pelo trágico fim de seus pais. Agora não tinha certeza se tê-lo lembrado fora uma boa idéia.

A médica, uma mulher loira de traços rudes e seguros, parecia disposta a procurá-lo para que pudesse levar o rapaz para casa. Afinal ele não poderia passar o resto da vida numa casa de repouso. Apresentara-se como Tsunade e, durante suas visitas de quinze minutos ao quarto, comentou sobre uma enfermeira que o acompanharia até ele se recuperar do machucado na perna e pudesse, também, remover os curativos dos olhos.

- Haruno Sakura, é o nome dela. Vai acompanhar você até em casa e vai ficar por lá para ajudá-lo.

- Espero que ela e todo o corpo médico saibam que não tenho dinheiro algum para bancar esses luxos.

- Luxos... – repetiu a médica com um sorriso sarcástico no rosto. – Já entrei em contato com o seu irmão. Ele mesmo tratou de cuidar de todos os gastos. Agora concentre-se em ficar bom.

- Falou com ele? – sua voz oscilou e ele quase desafinara. – Como ele... como ele reagiu?

A loira lançou um olhar que revelava certa insegurança sobre o que dizer, mas depois de um longo suspiro ela retomou a firmeza.

- Quer mesmo saber? – pausou e só continuou ao receber um aceno do paciente. – Ele riu um pouco, chamou você de baderneiro e o xingou de muitos nomes feios. Não quer que eu os repita, quer? – recebeu um não e sorriu. – Imaginei. Pois bem, ele disse que arcaria com as despesas e viria te buscar amanhã.

- Já tenho alta?

- A enfermeira ficará com você até se recuperar, como eu já disse. Não se exalte.

O resto do dia foi cansativo. O irritante tic-tac de um relógio que parecia estar grudado ao seu ouvido e um forte cheiro de remédios e doentes. Não sabia se estava sozinho, porém pensou que, se estivesse acompanhado, era de alguém mudo. Até riu ao imaginar um mudo e um cego no mesmo quarto, pensando como seria divertido caso um deles precisasse ajudar o outro.

Conheceu a enfermeira, a que cuidaria dele, no começo da noite. A voz era alta e esganiçada. Imaginou se não seria melhor estar com os ouvidos enfaixados do que com os olhos. E, por falar nos olhos, lembrou que ainda tinha de perguntar algumas coisas...

- Senhorita... Sakura-san, né? Diga-me... quando vão tirar essas faixas dos meus olhos?

- Ah... isto? – ela sorriu, nervosa, e começou a andar pelo quarto. – Vai ficar mais duas semanas com as faixas. Eu as trocarei todo dia. E depois, bem... se você estiver melhor...

- Corro o risco de ficar cego, não é? – indagou com displicência.

- Você sofreu danos nas veias oftálmicas e retineanas. Quando alguém...

- Não faço idéia do que sejam essas porcarias – afundou na cama e passou os dedos pelas gazes que cobriam os olhos. – Só me responda.

- Saberemos quando tirar isso. E, caso aconteça, ainda podemos recorrer a uma operação... delicada, tenho de admitir, mas será escolha sua. Você poderá recuperar a visão ou perdê-la de uma vez no caso de erro nesse tipo de cirurgia. Mas não vamos pensar no pior! Certo?

Itachi bufou com certa irritação. Não sabia quando o irmão ia chegar, nem o que faria com ele depois. Mas tinha uma irritante certeza de que não seria tão bem recebido pelo rapaz. A relação dos dois nunca fora um mar de rosas e certamente não seria diferente dessa vez.

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Algumas vozes altas invadiram o quarto do Uchiha. Ele acordou meio zonzo, não conseguia identificar quem era só pela voz. Estava num hospital lotado de desconhecidos. Eram uma voz masculina e uma feminina, que ele logo reconheceu como sendo de Sakura. Pareciam mais próximas a cada instante, até que finalmente sentiu a mão pequena da enfermeira balançando o seu braço.

- Estou acordado, Sakura-san. Sei que estar com os olhos assim me torna bem indiscreto, mas...

- Creio que não seja hora para piadinhas, Itachi-san. Esse homem é da polícia, ele quer interrogá-lo.

- Então... – Itachi soltou um muxoxo. - suponho que se eu fingir que voltei a dormir não vai dar certo, não é?

- Não, não vai, não – a voz masculina fez-se parecer suave, mesmo com certa arrogância. – Sou Hatake Kakashi, investigador do caso...

- Sei quem você é. E pare de fingir que não sabe quem eu sou, Kakashi.

Kakashi riu e se aproximou do Uchiha. Passou a mão diante dos olhos enfaixados dele e suspirou.

- O que você aprontou dessa vez, rapaz? Foi algo realmente grande, não foi?

- Maior que o furto daquela motocicleta, com certeza – Itachi sorriu e aprumou-se na cama. – Mas não matei aquele homem, se quer saber. Fui tão vítima quanto ele.

- O que você viu lá?

- Nada. Só ouvi o... vocês já descobriram o nome dele?

- Kisame – respondeu de imediato.

- Ótimo. Vejo que não dormem no ponto! Como eu ia dizendo, só ouvi Kisame gritar muito. Eu já estava muito machucado quando cheguei lá... meus olhos estavam, quero dizer. Não sei quem matou Kisame. Mas sei as perguntas que fizeram a ele. As mesmas que fizeram a mim logo depois de matarem-no.

- Que perguntas?

- Minha memória está meio fraca, sabe? Não me lembro de muita coisa e...

- Se não quer ser acusado pela morte de Kisame e de outros do seu grupinho, melhor que vá dizendo tudo o que sabe – Kakashi recebeu uma repreensão de Sakura, que apontava Itachi e gesticulava, pedindo silêncio. – O que esses assassinos queriam de vocês?

- Por que está nesse caso, Kakashi? São apenas dois grupos de idiotas brigando por causa de uma rixa idiota. É só isso!

- E de que lado você estava?

- Nenhum – disse Itachi. – Por isso estou aqui agora.

- É melhor começar a ser mais objetivo em suas respostas. Que grupos são esses? Yakuza e...

- Isso não tem nada a ver com Yakuza. O problema da polícia no Japão é que adoram envolver a Yakuza até em briga de crianças! – o Uchiha bufou, irritadiço. – São dois inimigos, Kakashi. Pain e Orochimaru. Dois homens poderosos e sem um mínimo de envolvimento com Yakuza. Apenas entre eles. Orochimaru tem algo que Pain deseja muito. Eu estava com Pain, porém escondi algo para Orochimaru.

- Ah... um traidor?

- Chame como quiser. Só não me importo com nenhum deles.

- Creio que agora só você saiba onde está esse "algo", não é mesmo? – Kakashi anotou alguma coisa num pequeno caderno e caminhou pelo quarto.

- Não. Não sei onde está. Orochimaru o levou. E agora você já sabe! Isso é tudo?

- O que é? – indagou Kakashi, com o cuidado de não levantar a voz.

- Não sei.

- Sabe por que não o prendemos, não é? – Itachi fez não com a cabeça e Kakashi prosseguiu. – Além do fato de estar ferido, será mais seguro para você ficar com o seu irmão por enquanto. Ele mandou um rapaz para buscá-lo. Está lá fora esperando. Mas o principal motivo para mantermos você solto é para que esses inimigos, dos quais você fala, não resolvam dar um jeito de sumir. Queremos que eles pensem que esse caso não nos é importante. Você é uma testemunha importante e precisamos de você vivo.

- Eles são mais espertos do que você pensa.

- Nós também somos. E estaremos de olho em você.

Itachi ouviu os passos de Kakashi abandonarem o quarto e suspirou longamente quando Sakura tocou-lhe a testa, medindo a temperatura.

- Sinceramente... nada bom para você, essas coisas! Não podem esperar você se recuperar?

- Quem veio me buscar?

- Ah... nos buscar, você quer dizer. Ficarei com você até conseguir andar sozinho, lembre-se bem. Você tem muitos remédios para tomar também e...

- Quem? – repetiu, notando que a garota não parecia nada interessada em calar a boca.

- O nome dele é Sai. Apresentou-se como amigo da família, disse que divide a casa com o seu irmão.

- Ah, ótimo. Meu irmãozinho gay mandou o namoradinho vir me buscar. Isso não é romântico?

Sakura fez uma careta. Não parecia nada animada com o estranho humor do novo paciente e nem com a idéia do belo rapaz que vira ser namorado de algum outro.

- Está brincando, não é? – indagou ao ajudá-lo a levantar e sentar na cadeira de rodas que tinha previamente colocado ao lado da cama.

- Claro. Sasuke faz faculdade. Há sempre um amiguinho desse tipo para dividir a casa. Eu mesmo tive um. Shisui. Era um bom rapaz. Morreu antes de iniciarmos as aulas.

Sakura revirou os olhos, irritada. Depois de ajudar Itachi a se vestir, o levou para a sala de espera, onde um rapaz alto e branco o esperava. Tinha cabelos negros bem curtos e olhos igualmente negros. Usava um traje comportado e discreto, tinha uma chave nas mãos e um sorriso aparentemente aleivoso no rosto.

Ela sorriu e avisou Itachi sobre a presença do rapaz. O Uchiha o cumprimentou com frieza, quase com vontade de perguntar onde estaria Sasuke, seu irmão.

- Sasuke vai gostar de vê-lo, eu imagino! A propósito, me chamo Sai.

- Itachi – disse com desinteresse. – Por que ele não veio?

- Ele ficou resmungando... nem foi à aula hoje para te esperar. Disse que não gosta desse ambiente, se é que me entende – Sai olhou Itachi de cima a baixo, com a fiel certeza de que este não notaria o quanto lhe parecia fraco e merecedor de pena.

- Sakura-san, - chamou Itachi. – precisamos mesmo ir pra casa daquele tolo? Não posso ficar aqui no hospital e...

- Você deve se recuperar em um lar tranqüilo. Você sofreu muito estresse. E foi torturado também e...

Durante o monólogo de Sakura sobre todas as avarias que tinha no corpo, Itachi notou que cada parte de seu corpo doía com o movimento da cadeira que agora era empurrada por Sai.

- Uma bela cidade, a de vocês – comentou Sai com um sorriso. Sakura riu baixinho, mas não disse nada. – Sou de Osaka, para ser sincero quase nunca venho a Tóquio.

- Ouvi falar que estava morando com Sasuke – jogou Itachi, os lábios mal se curvando devido às dores do corpo.

- Ah, isso... Conheço Sasuke há algum tempo. Ele é muito amigo de Naruto, que por sua vez é muito meu amigo. Então, ao saber que eu precisaria vir a Tóquio, Naruto pediu a Sasuke para me acolher pelo tempo em que eu ficasse por aqui. Para eu não ter que ficar em hotéis por tanto tempo, sabe?

- Ah... você é amigo do namoradinho do Sasuke, não o próprio namoradinho. É isso?

Sakura lançou uma careta para Itachi, mesmo sabendo que ele não veria. Sai ficou vermelho, agora sem sorriso algum.

- Não sei nada de namorado algum, Itachi-san. Sei que Sasuke e Naruto são muito amigos e, por isso...

- Poupe-me. Só espero não ter que passar muito tempo na companhia daquele idiota.

Sai devaneou sobre quem, dentre os dois irmãos, seria o verdadeiro idiota.

Havia um carro parado na frente do hospital, já à espera do trio. Sai colocou Itachi no banco traseiro e Sakura cuidou de dobrar a cadeira e sentar ao lado dele. Quando a viagem começou, Itachi voltou a falar com seu ar esnobe na voz.

- Está morando de favor na casa do meu irmão e, obviamente, veio me buscar para pagar uma parcela disso. Sasuke é esperto, devo admitir.

- Eu me ofereci para vir. Sasuke ficou muito agitado quando ligaram. Disseram para ele que encontraram você na cena de um crime. Disseram que você estava machucado. Sasuke logo veio falando que não viria buscar ninguém no hospital. Apenas me ofereci para vir.

- Oh! Fui salvo por sua gentileza. Devo agradecer?

Sai não respondeu, mas riu baixinho com a forma abusada que Itachi se dirigia a ele. Sakura ainda repreendia a atitude do Uchiha, resmungando em seu canto do carro.

Quando o carro parou, na frente de uma casa grande e bem cuidada, Sai se apressou em ajudar Itachi a sair, posicionando-o cuidadosamente na cadeira de rodas que Sakura acabara de desdobrar.

Na porta, um rapaz de cabelos negros e orbes ônix os observava. Um olhar repreendendo Sai pelo cuidado com que empurrava a cadeira, sempre perguntando se estava indo muito rápido.

- Ele não merece tanto, Sai. Devia era apodrecer numa cama de hospital – tomou a direção da cadeira e passou a empurrar com rapidez para dentro de casa, não dando atenção à enfermeira que passou a devorá-lo com os olhos.

- Parecidos, não é? – sussurrou Sai para a enfermeira de cabelos róseos.

- Hum? Esse moço é bem mais bonito.

- Eu falava do jeito brusco de falar... mas, quanto a aparência... – o rapaz riu. – Como pode saber? Só viu Itachi-san com essas 'coisas' no rosto.

- É... Mas isso não vem ao caso, Sai-kun! Vim aqui para trabalhar! E meu paciente é o Itachi-san!

Sai riu-se da forma afobada com que Sakura saiu correndo atrás dos dois irmãos, que já estavam chegando num dos quartos da casa. Ele não a seguiu. Preferia ficar na sala, esperando que Sasuke chegasse para despejar todos os nomes feios possíveis sobre o irmão.

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- Vagabundo! Safado! Ordinário e desocupado! Um maldito que não pensa em ninguém... filho de uma ...

- Lembre-se de que são irmãos antes do próximo adjetivo – aconselhou Sai, com um livro em mãos.

Sasuke bufou. Observou a enfermeira que corria de um lado para o outro, da cozinha para o quarto de Itachi, sempre a passos de formiga para poder olhar nos olhos dele e dar um sorrisinho.

- E essa enfermeira está me irritando! – reclamou ele, jogando uma almofada na direção em que a moça acabara de sumir, casa adentro.

- Ela não tem culpa. Só está cumprindo o trabalho dela.

- O trabalho dela? Você diz ficar desfilando como uma idiota de um lado para o outro? Sim, porque ela só entrou no quarto dele duas vezes e já passou por aqui mais de quinze.

- Naruto-kun ligou enquanto você e seu irmão trocavam elogios no quarto – disse Sai ao deixar o livro sobre uma mesinha no centro da sala. – Disse que terá férias.

- Mesmo? Talvez então eu vá passar uns dias em Osaka então.

- Ele está de férias, não você – Sai sentou novamente e notou que, mais uma vez, Sakura passeava pela sala.

- Mas sou eu que estou precisando de um tempo longe. Talvez eu pegue Naruto e vá para longe daqui. Acha que tenho paciência para aturar Itachi por tanto tempo?

- Duas semanas!

- Duas semanas - repetiu Sasuke com certo desdém. – é o tempo até tirar as malditas gazes do rosto. Depois disso, quem garante que ele vai enxergar um palmo depois do nariz? Não ouviu o que disseram? Torturaram, furaram-lhe os olhos com uma agulha! Furaram todo o corpo dele! Admiro de ele não ter pegado alguma doença pior! – olhou Sakura pela décima sexta vez e ficou de pé num salto. – POR QUE DIABO VOCÊ NÃO FICA QUIETA NUM LUGAR SÓ?

Sakura soltou um gritinho e derrubou um copo e uma pílula no chão. Dessa vez, parecia mesmo estar levando algo para Itachi. Sasuke afundou no sofá, irritado e massageando as têmporas. Tomou o telefone e discou um número.

- Naruto? ... Sim, sou eu! Sai disse que... não, não, escute! Não venha pra cá! A gente pode ir para qualquer outro lugar, vamos, seria divertido! ... O quê? Ah, nada! A gente pode sair do país, uma viagem divertida. O que acha? ... Claro! Eu posso chegar aí daqui a dois dias. ... Pressa nenhuma! Só preciso de férias também! ... Pára de tagarelar! Chego aí em dois dias! Abraço!

- Vai largar o seu irmão aqui e se mandar, é isso? – indagou Sai com um sério olhar a repreender Sasuke.

- Vou! Já pensou? Naruto de férias! Que tipo de faculdade é essa?

- Do tipo que entra em greve. Caiu mesmo nessa de férias? O que vai fazer com o Itachi-san?

- Ele tem essa enfermeira maluca, não tem? E você vai ficar aqui para ficar de olho nela. Não vejo problemas. Assim me livro do Itachi por mais um bom tempo! Fora que, naquela cadeira e cego, ele conseguiu ficar ainda mais insuportável.

- Quanto tempo, em seus vinte anos de vida, você passou na companhia do seu irmão?

- Oito anos. E muito mal vividos. Arranjarei uma licença médica para mim, Sai! Vou passar um tempo fora da faculdade. E vou passar os próximos dois dias dentro do meu quarto. Lembre-se de me matar caso Itachi resolva precisar de mim para trocar de cuecas.

Sai gargalhou sonoramente ao passo que Sasuke saía da sala. Olhou na direção em que ouvia Itachi gritar alguma coisa com a enfermeira e sentiu uma ponta de pena da pobre criatura. Logo arranjou disposição e foi até lá.

- ...como se a culpa fosse minha! Acha que enxergo o copo que a senhorita deixa encima da cama? Veja! Agora estou todo molhado! Francamente, eu... – Itachi ficou calado de repente e Sai tentou parar de respirar, parado à porta. – Quem está aí?

- Olá, Itachi-san!

Sakura, muito vermelha – certamente de raiva, se levado em conta a força com que trocava os lençóis de Itachi – sorriu timidamente quando Sai chegou e saiu praguejando baixinho do quarto.

- Ah, você. Sai, né?

O rapaz caminhou entre sorrisos até a beira da cama e sentou ao lado do Uchiha. Notou que havia uma pequena poça d'água logo ao lado da perna já molhada dele.

- Acidentes acontecem, não é? – comentou o recém-chegado.

- Acidentes? Ah, por favor! Essa doida está tratando de um homem que não consegue ver nem sombras e coloca um copo cheio de água encima da cama? Ela é idiota?

- Não fique tão irritado! Ela é uma boa moça. Fica de um lado para o outro com os seus remédios pela casa.

- E quem mais além de mim os toma? Ela só veio aqui duas vezes hoje! Três com essa, claro. E veja o que me apronta?

- Ficaria menos irritado se eu lhe dissesse que é uma bela mulher?

Itachi riu com ironia e depois franziu o cenho. Suspirou e entrecruzou os dedos.

- Tapada e atrapalhada como ela é, bonita ou não... Periga ela cortar o pênis de um homem fora, ao invés de... – Itachi foi interrompido pela risadinha de Sai. – Ela está aqui, não é?

Sakura jogaria o novo copo com água na cabeça de Itachi se não fosse paga para cuidar dele. Apenas bufou e resmungou qualquer coisa depois de colocar o copo sobre a mesinha de cabeceira do rapaz.

- Relaxe, Itachi-san – Sai sentou um pouco abaixo do local úmido na cama e suspirou. – Seu irmão pretende viajar depois de amanhã. Vai deixá-lo aqui aos cuidados dessa enfermeira. Eu, no seu lugar, procuraria me dar bem com ela.

- Aonde ele vai? – perguntou Itachi, ignorando o conselho de Sai.

- Osaka e, de lá, para qualquer lugar do mundo bem longe daqui.

- Tomara que o avião caia! Mas tenho tido tão pouca sorte ultimamente que é capaz de cair encima da minha cabeça e Sasuke sair vivo de dentro dele!

Sai abafou o riso. Sakura, logo ao lado, ofereceu aos cutucões o copo com água para o Uchiha, junto de uma pílula que ele fez questão de não aceitar.

- Você quer ficar atrofiado nessa cama para sempre, Itachi-san? – a enfermeira tentou enfiar a pílula a força na boca de Itachi, que quase mordeu a sua mão. – Ora! Você vai ter que tomar isso de um jeito ou de outro! Vou chamar o seu irmão!

Sakura saiu a passos pesados do quarto, bufando e resmungando. Itachi fez uma careta ao lamber os lábios.

- Como se ele fosse me obrigar. Acho até que, por ele, eu sufocava com uma dessas pílulas.

- Você deveria tomar. Não quer se livrar do seu irmão tanto quanto ele de você? – Sai caminhou pelo quarto e seus passos se distanciaram da cama. – Será melhor, não é?

- Quando eu sair daqui é bem provável que eu vá direto para a cadeia. Acha que estou animado?

Itachi ouviu o riso discreto de Sai abandonando o quarto. Com um pouco de esforço, ajeitou-se sob os lençóis e tentou dormir, mas a dor pelo corpo parecia aumentar gradativamente. Talvez fosse o efeito da última pílula – tomada à força – que estava passando. Pensou que, se Sakura aparecesse com a pílula agora, ele não recusaria.

Antes que pudesse pensar em chamar por ela, Itachi ouviu novamente alguém adentrando o quarto. Esperou que se manifestasse, dissesse um oi ou algo do tipo. Nada. Depois de alguns segundos de silêncio, passos se aproximaram e alguém parou ao lado do rapaz na cama.

- Sakura-san? – pensou em pedir o remédio, mas o orgulho era um de seus traços mais marcantes. – Se veio insistir para eu tomar aquela porcaria, você... – o toque de um dedo indicador nos lábios de Itachi o fez calar. – Quem... Sakura-san?

Mais um curto período de silêncio se seguiu e o rapaz sentiu a proximidade de uma respiração quente e suave no seu rosto. Instintivamente, ele entreabriu os lábios, quase chamou novamente o nome da enfermeira, mas notou que o tinha esquecido por um instante – e até supôs que ficaria decepcionado se aquela respiração com um suave perfume de eucalipto fosse dela – quando finalmente, lábios carnudos e quentes tocaram os seus.

Um súbito calor invadiu as vestes do Uchiha. Seus lábios buscavam com sofreguidão o contato daqueles outros que lhe acarinhavam com tamanho zelo. Tentou usar as mãos para tocar o rosto daquele mistério, mas ao tentar fazer isso, as mãos seguras e macias, porém fortes, lhe seguraram os pulsos. O beijo tornando-se quente, profundo, aquele cheiro de eucalipto a embriagar-lhe pareciam ter ganhado um poder afrodisíaco de repente.

Os lábios se separaram por um segundo, onde Itachi quase forçou as costas para continuar aquele contato. Quando finalmente voltou a ser beijado, a língua macia e úmida adentrou sua boca e, junto dela, Itachi notou, vinha a tão irritante pílula que, em meio ao beijo, pareceu já não ser tão mal recebida.

Quase engasgando com o comprimido, ele recebeu o copo com água e o bebeu sem cerimônia. Esperou mais um pouco. Quem sabe ela falava alguma coisa agora? Mas o único som que ouviu foi o de passos abandonando o quarto.

O Uchiha sorriu, o corpo relaxando aos poucos.

Pensou se realmente aquele beijo fora daquela enfermeira afobada. Intimamente desejava que não, que aquela sensação magnífica jamais lhe seria transpassada por aquela criatura – da qual esquecera momentaneamente o nome – mas que talvez um outro ser, mais completo e quente, mais gentil, lhe visitara aquela noite, talvez para deixar nele uma marca invisível, porém bem concreta.

Adormeceu.

--x--

- Confirmado, claro – disse Sasuke em resposta a Sai. – Vou amanhã à noite para Osaka.

- Vai deixar seu irmão, debilitado como está, sem a presença de um parente? – indagou o rapaz que tinha a concentração voltada para um notebook sobre as pernas.

- Vou – respondeu de imediato. – Você se preocupa demais, Sai. Itachi sabe se virar. Ele tem essa enfermeira chata no pé dele, não tem? Ela que cuide dele então! E você ficará por aqui, de qualquer forma – pegou uma xícara de café sobre a mesa de centro e bebericou. – Acredita que ontem aquela cabeça-de-algodão-doce foi encher o meu saco por que o Itachi não queria tomar o remédio? Ah, tenha santa paciência! Fui ao quarto dele quase imediatamente, para quem sabe mandá-lo morrer logo. Quando chego, o que vejo? Um copo vazio e a pílula que é bom, nada! Talvez já estivesse se decompondo dentro dele. Ela ficou toda esquisita, pedindo desculpas por incomodar!

Sai arqueou a sobrancelha, na mesma hora em que a enfermeira voltava sorridente do quarto de Itachi.

- Acreditam que ele tomou o remédio sem reclamar, hoje de manhã? Talvez seja por que ontem notou o que acontece quando não toma! Deve ter ficado todo dolorido! Por isso mesmo deve ter resolvido engolir o analgésico enquanto eu procurava o Sasuke-kun!

Os dois rapazes na sala se entreolharam. Sasuke fez uma careta logo que ela se recolheu para a cozinha.

- Sasuke-kun! – repetiu o Uchiha em zombaria, imitando a voz da enfermeira. – Ela pretende sair daqui me chamando assim?

- Acho que ela gostou de você! Bem... perdi o fio da meada! – Sai riu e fechou o notebook de repente. –Naruto vai te esperar na estação?

- Provável que sim – virou a cabeça na direção da cozinha. – HEI! MULHER! – Sakura correu para a sala. – Itachi está acordado?

- Sim, Sasuke-kun!

- Ótimo – caminhou pelo corredor e, já quase adentrando o quarto, virou-se: - E PARE DE ME CHAMAR ASSIM!

Itachi dedilhava a colcha da cama, bufando e cantarolando qualquer coisa. Já ouvira os berros do irmão e já sabia que era ele quem estava sentando na ponta da cama.

- Cantando, Itachi? Conheci você mais discreto.

- É, me conheceu quando eu ainda podia ver e chutar o seu traseiro. Por que não me deixa aqui sozinho, hã? Estou bem contando os meus dedos.

- E vou deixar mesmo. Eu ia adorar que tivessem arrancado os seus dedos também. Distrações inúteis. Amanhã vou viajar e...

- Sasuke, me faça um favor – era mais uma ordem do que um pedido. – Arranje outra enfermeira.

Sasuke mal conteve o riso.

- Como é? Bem... não que eu esteja reclamando, afinal aquela mulher é mesmo insuportável, mas... sabe que é até bom que ela fique? Eu vou viajar amanhã, vai sobrar para vocês e o Sai aturarem a fera. E é divertido saber que você está incomodado.

- Ontem ela fez uma coisa estranha...

- Tentou te matar? Por que, se foi, vou dar um aumento a ela.

Não valeria a pena discutir. Itachi tinha plena consciência de que era dependente de Sasuke naquele momento - em todos os sentidos. E reclamar estava fora de cogitação.

- Faça uma boa viagem, irmãozinho.

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Sai acompanhou Sasuke até a estação de metrô sob os protestos de Itachi, que não parecia nada animado com a idéia de ficar sozinho em casa com a enfermeira. "Ela é doida", dizia ele. Sai ria abertamente enquanto que o outro apenas revirava os olhos e xingava o Uchiha mais velho.

- Bem, deseje-me boa sorte! Ah, e se a polícia ligar, não se aborreça. Entregue Itachi com cadeira de rodas e tudo e fique em paz.

- Sabe que eu não faria isso, Sasuke.

- É... eu sei – o Uchiha encarou os orbes negros de Sai por um tempo e sorriu. – Você é mesmo como Naruto disse... Não parece sentir ódio ou raiva ou irritação... ou amor. Tanto é que age com essa imparcialidade, dando a Itachi uma atenção desmerecida.

- Não sei bem o que Naruto e você querem dizer com isso, mas... – ele sorriu. – A única coisa que tenho são os meus livros, quadros e rascunhos... nada disso tem sentimentos. Talvez um dia eu, assim como você e Naruto, tenha alguém especial por quem eu possa sentir todas essas coisas. Mas no momento não tenho razões para tratar diferente a ninguém. Nem mesmo ao seu irmão, a quem você adora difamar.

- Sei... – Sasuke tentou esconder um sorriso, pegou a mala e entrou no metrô. – Aproveite bem esses dias. E não se acanhe! Mata o Itachi se ele encher o saco!

Algumas risadas e eles se despediram. Sai permaneceu ali até que o barulho do metrô sumiu no túnel. Passou os dedos pelos lábios num movimento banal e sorriu com simplicidade. Era hora de voltar para casa.

--x--

Itachi estava tenso, sentado na cadeira de rodas. Tinha conseguido a ajuda de Sakura para sair do quarto – e não estava feliz com isso. Sentia algumas dores na coluna que nem mesmo os analgésicos conseguiam fazer parar.

- Está precisando de alguma coisa, Itachi-san?

- Não.

Ele tinha se tornado bem mais cauteloso no que se tratava de dialogar com a enfermeira. Desde o episódio do beijo, em que ele tinha quase certeza de que ela o enfiara aquela pílula goela abaixo com a ajuda da própria língua, Itachi havia tomado mais cuidado antes de bancar o rebelde. Tomava os remédios no instante em que ela chegava e não reclamava das mancadas que a garota cometia.

- Sakura-san! – chamou com grande determinação. – Posso lhe pedir uma coisa?

- O que é?

- Eu... sinto meus lábios um pouco ressecados. Pode verificar isso pra mim?

- Ressecados?

- É! Ressecados! Passe seu dedo por eles, veja... acho que são esses seus malditos remédios! – riu-se internamente, imaginando-se muito esperto em pedir aquele contato com os dedos da jovem. Assim, talvez identificasse se aquele toque sentido há dois dias era deveras da enfermeira. E, pensou ele, se não fosse, teria um grande problema em tentar adivinhar quem poderia tê-lo beijado.

Sakura apressou-se até o paciente e fez como ele pediu. Tocou os lábios do rapaz e movimentou os dedos com certa lentidão.

- Hum... não estão ressecados. Largue de frescuras!

"Grande porcaria! Como se eu fosse bom o suficiente para saber se esses dedos foram os mesmo de dois dias atrás." Pensou ele entre um muxoxo e outro, sem notar diferença alguma entre esses dedos e os que tocaram seus lábios.

- Sakura-san! Há dois dias você me fez tomar aquele remédio, não foi?

- Hã? – ela coçou a cabeça e fez uma careta. Depois de um minuto de reflexão ela voltou a falar: - Oh! No dia em que o Sai-kun conversou com você no quarto? Lembro... derramei um copo d'água encima de você! E foi muito bem feito, diga-se de passagem. Mas não. Eu saí para chamar o Sasuke-kun, como prometi, então quando voltei você já tinha tomado o remédio. Está com a memória fraca?

Talvez o problema não fosse exatamente memória... mas pela primeira vez desde que acordara no quarto do hospital, no dia do assassinato de Kisame, Itachi sentiu muita falta dos seus olhos.

A dupla ouviu a maçaneta girar, a porta abriu e Sai adentrou a casa. Deixou as sandálias à porta e caminhou até o lado de Itachi, tocou-lhe no ombro e sorriu.

- Sente-me melhor, Itachi-san?

- Não. Cada centímetro quadrado de meu corpo dói. Esses remédios não servem de nada!

- Ora! Não vá reclamar agora! – esganiçou Sakura. – Você tem tomado o remédio direitinho desde anteontem! Não vá começar com frescuras de novo!

- Anteontem? – perguntou Sai.

- É! Fora que parecia estar com medo de mim! – Sakura deu uma alta gargalhada. – Devo prometer chamar o Sasuke-kun mais vezes, eu acho.

- Eu também acho, Sakura-san! – exclamou Sai entre risos ao olhar o relógio. – Olhem só, já passam das sete! Sakura-san, se quiser pode descansar. Eu faço companhia ao Itachi-san.

- Obrigada, Sai-kun! Se esse resmungão aí não reclamar...

Itachi deu de ombros e logo ouviu Sakura se precipitar na direção do quarto reservado a ela. Sai sentou no sofá bem ao lado da cadeira de Itachi, cruzou as pernas e suspirou. Seus orbes ônix movimentaram-se na direção do Uchiha e prenderam-se nele.

- Queria que você pudesse ver, Itachi-san... a noite está linda hoje. Muitas estrelas!

- Ah, muito obrigado por me lembrar dos meus olhos inúteis! Sinto-me bem melhor agora! – ele levantaria e sairia correndo dali se conseguisse andar.

- Perdão – dividiram um longo silêncio onde apenas seus pigarros e muxoxos eram ouvidos. – O que houve anteontem, Itachi-san? Por que decidiu, de repente, tomar seus remédios sem reclamar?

- Para não ser molestado sexualmente por minha enfermeira no cio – respondeu prontamente. – O anteontem não lhe interessa.

- Que seja... Quer tentar andar até lá fora, na sacada? Você se apóia no meu ombro. Vai ser bom esticar um pouco as pernas.

Itachi hesitou um pouco, mas depois acabou cedendo. Passou o braço direito pelo pescoço de Sai e, mesmo ainda sentindo umas pontadas de dor logo acima do joelho, conseguiu andar com a ajuda do rapaz.

Sai parou quando chegaram à sacada. Itachi não disse nada por um bom tempo, sentindo a brisa gelada que lhe passava pelo rosto. Se bem lembrava, havia um jardim logo abaixo, circundando a trilha de chegada da casa.

- Tem algum lugar onde eu possa sentar?

Imediatamente Sai o guiou até um banco e juntos sentaram. O vento sibilava em seus ouvidos e um cheiro almíscar vinha do jardim.

- Como se sente, Itachi-san?

- Acredito que em alguns dias eu já consiga andar sozinho. As dores estão menores hoje do que estavam ontem – bocejou e sorriu fracamente. – Acho que nunca mais vou conseguir enxergar de novo.

- Não diga isso! A medicina hoje em dia...

- O que você faz da vida? – cortou imediatamente o assunto. – Veio aqui em Tóquio só a passeio?

- Sou um artista – afirmou com veemência. – Pinto e escrevo. Vim à Tóquio para fazer pesquisas e assim poder escrever meu novo livro.

- Fale-me desse livro então – Itachi procurava prolongar a conversa de todas as formas. Era o único passatempo ao seu alcance. – Do que conta?

- Ah... é um romance épico... Conto a história de dois samurais que saíram juntos pelo mundo em busca de aventuras e desafios. Escrevo para as mulheres, na verdade. Elas é que gostam desse tipo de coisas, quero dizer...

- Não sei de onde tirou que mulheres gostam de ver samurais arrancando cabeças por aí. Há algo que não está me dizendo?

Sai agradeceu por Itachi não poder vê-lo. Estava vermelho e inquieto. Não costumava falar de seus livros, especialmente com outros homens. Não tinha outros amigos além de Sasuke e Naruto, que sabiam bem que tipo de romances ele escrevia para mulheres.

- Já leu algum romance, Itachi-san? – desconversou, tentando camuflar sua inquietude.

- Não que eu me lembre. Nem acho que possa ler um dia – apontou os olhos ao dizer isso. – Conte mais sobre esse livro, Sai. Vamos.

- Abarai Souka e Yumichika Touya são dois jovens samurais – começou ele, balançando nervosamente os pés. – Eles se conheceram na lendária Última Guerra dos Samurais e tornaram-se amigos. Eles saem juntos pelo Japão à procura de grandes e novos desafios para se tornarem reconhecidos. Durante a jornada eles... bem... se apaixonam.

- Ah... por duas belas gueixas que sofrem com a repreensão de seus amos, suponho. – concluiu Itachi com um sorriso de orgulho por ter tido tão grandiosa idéia.

- Bem criativo você – Sai riu, sentindo-se um pouco mais à vontade. – Mas não... você não entendeu. Quando eu disse que eles se apaixonaram, quis dizer... um pelo outro. Um amor proibido, porém verdadeiro. Dois homens.

Itachi gargalhou, logo se interrompendo em conseqüência de uma dor aguda nas têmporas. Notou o embaraço que havia no silêncio de Sai e pigarreou. Retomando a seriedade.

- Escreve há muito tempo, Sai?

- Não... mais ou menos. Tenho vinte e dois anos, esse é meu terceiro livro. Escrevi o primeiro aos dezenove.

- Então... – Itachi tossiu e virou o rosto, sem saber bem para onde estava se voltando. – por que não lê um pedacinho pra mim?

Embaraçado, Sai riu um pouco descrente. Depois correu para dentro de casa e voltou, segundos depois, com o notebook em mãos. Procurou com nervosismo um dos arquivos de texto e notou que Itachi permanecia com sua calma e paciência, esperando que ele começasse a leitura.

- Quer mesmo ouvir isso, Itachi-san? – indagou com grande receio.

- Leia logo. Só por que são dois homens não quer dizer que eu vá abominar a sua história. E são samurais não é? Gosto de samurais.

Sai estufou o peito e liberou o ar dos pulmões. Parecia pronto para contar um grande segredo a alguém. Itachi já rira um pouco de certas atitudes do irmão e adorava fazer piadas com as amizades do mesmo, o que diria de ouvir cenas de um romance homossexual?

- Esse capítulo ainda vai ser escrito... tenho apenas uma resenha do que vai acontecer e... vamos lá... "Touya tomou a espada em punho, - começou ele, parecendo ter demorado até selecionar um bom trecho. – diante dele estava seu inimigo, aquele que foi encomendado para matar. Não o conhecia, apenas sabia que tinha de matá-lo. Mas, antes da lâmina cortar o pescoço dele, o homem cuspiu no rosto do samurai. Imediatamente, Touya embainhou a sua espada e partiu."

Sai fez uma pausa e examinou a expressão no rosto de Itachi. Mas não havia diferença alguma. Mas então ele falou, com a voz mais suave que já fora ouvida dele desde que chegara a casa do irmão:

- Por que ele virou as costas?

- Isso é algo que só contarei no final do livro.

- Não creio que poderei ler seu livro, Sai. E quero saber por que ele não matou esse homem – um meio sorriso se formou no rosto do Uchiha, ele cruzou os braços. – Você disse que era um romance. Fale mais sobre o casal então.

- Tem certeza?

- É a segunda vez que age como se eu não soubesse o que quero. Apenas fale!

- Vou ler então um trecho... bem do meio do livro – Itachi consentiu com a cabeça e então Sai começou: - "Souka deixou de lado a vergonha e insegurança, tocou o rosto de Touya com delicadeza e lhe sorriu. Não queria fingir que estava bem, queria mesmo mostrar a sua insatisfação com os olhares que Touya recebia das moças do Vilarejo, queria mostrar que apenas ele podia olhá-lo de tal forma que o samurai se sentisse nu, livre, completo." – Sai olhou de esguelha, tentando decifrar a expressão no rosto do Uchiha e prosseguiu: - "Sem receber resistência, o beijou. Beijou como jamais beijara a nenhuma mulher e sentiu um frio estranho e excitante no baixo ventre, como se tivesse acabado de ganhar uma batalha sem perder nenhuma gota de sangue. Touya, quase imóvel, com os olhos arregalados e espantados, se afastou. Quando Souka tinha se tornado tão próximo? Quando pensou que poderia ousar beijá-lo daquela forma? E quando, Deus, quando Touya sentira um beijo tão cheio de paixão como aquele antes?"

- Touya não amava o Souka? – indagou Itachi com repentino interesse.

- Bem... ele só não queria aceitar isso, entende?

Itachi suspirou, parecia cansado e sonolento. Deu um fraco sorriso e acenou para Sai, pedindo que ele continuasse.

- Está frio aqui fora, Itachi-san. Acho que seria melhor eu levá-lo ao seu quarto. Sakura-san foi deitar e com certeza você ainda não tomou o último remédio do dia.

- Conhece os horários de meus remédios, Sai? – zombou, rindo com certa ironia.

- Não exatamente. Mas a ouço falar o tempo todo sobre obrigar você a tomar o calmante. Venha, vou ajudá-lo e depois vou fazê-lo tomar o remédio. E, por favor, não tente resistir.

--x--

Itachi precisou mais do que imaginava da ajuda de Sai. O rapaz o ajudou a trocar de roupas, visto que qualquer movimento mais brusco revelava dores nos mais diversos locais. Sai ria sempre que o Uchiha reclamava ou dizia algum palavrão.

Depois de vestido o pijama, Itachi ofegava. Parecia ter acabado de travar uma batalha.

- Não ligaram para mim?

- Não, - o escritor sentou ao lado dele na cama, em posse de uma pílula e um copo d'água. – Tente não se preocupar com isso. Agora vamos, tome isso.

O rapaz tomou o remédio sem relutância. Depois de entregar o copo vazio a Sai, tentou se ajeitar sobre os travesseiros e logo foi ajudado pelo mesmo.

- Sou um inválido mesmo... – resmungou o Uchiha. – Cego e fraco! O que falta acontecer?

Sai se debruçou sobre ele para arrumar os travesseiros e seu rosto ficou um pouco próximo do de Itachi, o que de imediato fez com que esse último estremecesse ao sentir o hálito dele. Estava sorrindo talvez, as mãos ocupadas ajeitando os lençóis.

- Eucalipto? – sussurrou o homem deitado, inspirando profundamente.

- O que disse? – espantado, Sai afastou-se imediatamente.

- Nada. Quero dizer... eu disse 'eucalipto'. Sua respiração tem cheiro de eucalipto.

Incrivelmente corado, o outro homem evitou falar mais alguma coisa. Os orbes tremulando nervosos e as mãos suando frio. Itachi parecia prestes a dizer mais alguma coisa, mas o rapaz de pé diante dele foi mais rápido.

- Vou me recolher, Itachi-san. Tenha uma boa noite.

- Sai! – chamou, mas já estava sozinho no quarto.

--x--

Os dias passaram com certa lentidão para Itachi. Sai não tinha mais lhe procurado para conversar ou para falar do livro. E, para o Uchiha, aquilo foi uma perda grande e pesada demais, pois agora só tinha Sakura para aturar, falando sobre sua saúde e o obrigando a tomar remédios, como sempre.

Certa manhã, ao perguntar a ela por onde andava Sai, a enfermeira disse que o via sempre no quarto, escrevendo ou pintando alguma coisa e que costumava sair pela manhã e voltar bem depois do horário de almoço, para novamente se trancar no quarto.

- O que deu nele? – interrogou Itachi. – Fresco! Conviver demais com o Sasuke deve provocar isso nas pessoas. Francamente...

O telefone tocou e o coração de Itachi deu um salto. Sakura atendeu e logo passou para ele.

- Sim?

- Curtindo as férias? – perguntou a voz do outro lado da linha.

- Kakashi? Não... pra ser sincero, o serviço de quarto é péssimo! E você, o que me conta de novo?

- Isso sou eu quem pergunta. Você será intimado, sabe disso. Terá que dar seu depoimento e abrir o jogo para...

- Eu sou a vítima, Kakashi! Eu sou quem recebi choques, agulhadas, socos, mordidas... Eu quase ganhei um tiro no meio da testa no lugar do Kisame! Não venha tentar me intimidar agora por que... – a atenção do Uchiha se dispersou ao ouvir a maçaneta da porta e passos lentos adentrarem a casa. – por que... ouça, Kakashi, quando eu for intimado, terei prazer em comparecer e dizer o que sei. Agora tenho que tomar meus remédios e tirar uma soneca.

- Tente se manter fora de encrencas. Até mais, Itachi.

- Sai? – chamou ao desligar o telefone. – É você?

- O que quer? – perguntou com frieza. – Tenho que escrever uns capítulos hoje e...

- Há algum problema? Aconteceu alguma coisa? Você sumiu e eu sinto falta de alguém inteligente para conversar.

Sakura estremeceu do outro lado da sala, entre um resmungo e outro. Se distinguiam as palavras "maldito" e "retardado". Sai arqueou a sobrancelha e evitou rir da enfermeira, que preferiu abandonar o recinto.

- Tenho estado muito ocupado, Itachi-san. Seu irmão não ligou?

- Quero mais que o meu irmão morra. Mas Kakashi ligou... ele é um bom homem, sabe? O conheci nos tempos do colégio. Ele era aspirante, naquela época. Hoje é investigador de grandes casos. Sempre fomos muito amigos... agora a missão da vida dele parece ser livrar minha cara das encrencas.

Sai suspirou e caminhou até ele.

- As dores passaram?

- A maioria delas. Os últimos quatro dias foram monótonos. Da cama para o banheiro, do banheiro para a sala e de volta para a cama! Se tiver alguma dor é de atrofia nos ossos! Mas já consigo me levantar sozinho e trocar de roupa. Isso é bem agradável! – o rosto impassível de Itachi permanecia inalterado. Os lábios finos e que quase não pareciam mexer quando ele falava.

- Esse Kakashi... ele não pretende vir visitá-lo, pretende?

A curiosidade de Sai pareceu divertir Itachi, que se levantou com alguma dificuldade e procurou pelo apoio do outro.

- Quero chegar ao quarto.

- Não me respondeu – afirmou com segurança, sem se prestar a dar o braço ao Uchiha.

- Kakashi não viria aqui. Ele é apenas um homem sério que adora ajudar todo mundo. Eu só não o comparo a um pai por que ele ainda é muito jovem. Agora vamos, me ajuda a chegar ao quarto.

Sai apenas guiava Itachi, sendo que ele já conseguia andar, ainda um pouco manco, mas conseguia. A bala passara de raspão do lado exterior da coxa. Logo ele estaria andando normalmente.

Quando chegou ao quarto, o Uchiha tentou reiniciar a conversa, porém o outro foi mais rápido e o deixou sozinho.

Deitado na cama, Itachi bufava com um ar de irritação, apertando com força o lençol entre os dedos. Não viu quanto tempo passou desde que ficara sozinho, mas sabia que já devia ser tarde. A certa altura, ouviu passos no corredor, pelo ritmo e rapidez, deduziu que fosse Sakura. Apressou-se em levantar e andar às cegas pelo quarto.

- Sakura-san? – chamou sem fazer balbúrdia. Os passos pararam. – Sakura-san! Aqui! Você pode vir aqui?

- Itachi-san? – a voz da enfermeira invadiu o quarto e o som do interruptor sendo ligado fez Itachi relaxar, embora ele mesmo não fosse enxergar nada. – O que faz de pé essa hora? Já passa da meia-noite!

- Pode me fazer um favor?

- Quer um calmante? Está sentindo dor? Um chá?

- Pode me fazer a porcaria de um favor? – rosnou entre dentes.

- Sim? O que é?

Itachi ofereceu-lhe a mão e pediu que ela o guiasse para fora do quarto. Lá, caminhou pelo que ele pôde presumir ser o corredor, então a enfermeira se pôs a falar:

- Precisa fazer xixi?

- Se precisasse não ia pedir sua ajuda para tirar a cueca, garanto. Leve-me ao quarto do Sai.

- O que quer com ele? – Sakura franziu o cenho, a curiosidade se acentuando no rosto.

- Não consigo dormir. Quero conversar um pouco e me distrair.

- Posso fazer isso se quiser!

- Você é chata demais – disse imediatamente, ouvindo o resmungo da enfermeira. – Quero falar com ele. Leve-me até lá e tome seu rumo.

Quando a enfermeira o deixou diante de uma porta fechada, Itachi esperou que os passos dela se distanciassem pela casa e se sentiu livre para bater. Não ouviu a voz de Sai ou qualquer outro ruído por algum tempo. Logo pensou que talvez ele estivesse dormindo e que teria de voltar aos tropeços até o quarto – correndo o risco de entrar no banheiro e dormir sentado sobre a latrina.

Quase desistindo de esperar, virou-se e então ouviu a porta abrir atrás de si.

- Itachi-san?

A voz suave de Sai chegou aos seus ouvidos e ele sorriu.

- Sai? Eu acordei você?

- Não... na verdade estou sem sono. O que quer? Perdeu-se no caminho? Seu quarto é mais na frente.

- Não fique zombando! Preciso conversar com alguém antes que enlouqueça. Tem tempo agora?

O rapaz de rosto alvo o ajudou a entrar no quarto. Sentaram na cama logo depois que Itachi pôde ouvir a chave trancando a porta. Sai estava sentado à sua frente, provavelmente, pronto para a tal conversa.

- Então? O que o trouxe até meu quarto?

- Sai... por que você escreve romance entre dois homens? Garotas não gostam de mulheres e homens juntos?

- Veio mesmo até aqui só pra perguntar isso?

- Sim, na verdade eu vim sim.

Sai fantasiou por alguns instantes, encarando o rosto de Itachi e imaginando os olhos escondido por trás daquelas gazes. Seriam negros e frios como os de Sasuke? Teriam mais brilho ou mais expressão? Dariam medo e lhe provocariam calafrios?

- Sabe quando Touya entendeu que realmente não podia fugir do que sentia por Souka? – perguntou o escritor com um sorriso fraco a lhe curvar os lábios. – Foi no momento em que aquele beijo, que narrei, acontecia. Naquele momento, seu corpo respondeu à atitude de Souka. Naquele exato momento, ele não se lembrava de nenhuma mulher que pudesse beijá-lo e abraçá-lo daquela forma.

- Que forma?

- Com desejo, carinho, proteção e amor. Você pode sentir isso tudo no rápido intervalo de um beijo. Essas quatro sensações te fazem confiar na pessoa que lhe proporciona isso. Já se sentiu assim, Itachi-san?

De repente, veio à mente do Uchiha o momento em que foi beijado no quarto, forçando-se a engolir aquele remédio. Se fosse organizar os fatos em sua mente, talvez encontrasse todas aquelas sensações durante tal beijo. O desejo de não acabar, o carinho com que foram tocados seus lábios, as mãos que lhe deixavam mais quente, tranqüilo, o coração calmo que ficara depois de terminado... De repente percebeu que precisava mais do que nunca saber quem o beijara naquela noite. Tinha certeza de que não fora Sakura. Ela própria confessara ter saído e ao voltar já não existia pílula alguma sobre a mesa de cabeceira. Fora o fato de que Itachi tinha uma estranha certeza sobre ela não ter o mínimo desejo de beijá-lo.

- Acho que sim – pigarreou e deixou-se viajar por alguns pensamentos. – Mas confesso não saber por quem.

- Entendo... – Sai fitou intensamente o rosto do outro. – As mulheres que leram meu primeiro romance me descreveram assim esse sentimento, dizendo que eu não soube fazê-lo. Era um romance hetero, o primeiro. Foi quase unânime o comentário de que aquele amor que descrevi era muito superficial... não havia química e eu não parecia interessado em imaginar o que eles realmente sentiam – mirou os lábios entreabertos de Itachi e sorriu. – Então algumas garotas mandaram e-mails e escreveram cartas, contando sobre suas fantasias de verem dois homens sentindo tais coisas, como seria a sensação... se seria a mesma de uma mulher e um homem. Eu não fazia idéia de como descrever algo assim entre dois homens. Mas então me dei conta de que também não sabia descrever quando era entre duas pessoas de sexos opostos.

- E como conseguiu?

- Eu não tinha amigos, sabe? Então... pensei em desistir dos livros e me dedicar apenas aos quadros. Os desenhos... – riu fracamente e prendeu-se a uma lembrança qualquer. – Foi quando conheci duas pessoas que me fizeram entender qual era a sensação quando dois homens se apaixonavam. E compreendi o que minhas leitoras queriam dizer. Mas notei também que elas não sabiam tudo. Eles sim. Eles viviam aquela sensação, aquele sentimento. Passei a ver a relação entre um homem e uma mulher como sendo muito superficial na maioria das vezes e não só no meu livro. Algo ligado ao sexo um do outro, aos seios de uma mulher, o abdome ou os músculos de um homem... era tão... leviano.

- Você já se apaixonou por alguém? – perguntou Itachi com grande interesse.

- Talvez seja isso... – continuou o rapaz, ignorando a pergunta. – Depois de conviver tanto com esses amigos de quem falei, passei a entender que o amor era bem mais profundo do que apenas o desejo. Tinha de ser um desejo cego, não cego como você, entende? – Sai riu ao ver Itachi se contorcer de raiva pela observação. – Ou talvez sim. Cego para ignorar a aparência, ignorar a ilusão que os olhos nos proporcionam. Ser cego no coração. Entende isso?

- E esses amigos são certamente: meu irmãozinho idiota e o amiguinho dele, que mora em Osaka. Certo?

- Vê algum problema, Itachi-san? Neles dois, quero dizer.

Depois de refletir por alguns instantes, o Uchiha sorriu.

- Sinceramente, não. Mas você não me respondeu ainda. Já se apaixonou?

- Acho que... estou me apaixonando – riu sonoramente, quebrando qualquer clima ruim que ainda pudesse existir.

- Por uma mulher ou... por um homem?

- Quando nos apaixonamos isso de mulher ou homem deixa de existir. São apenas pessoas. Amamos pelo que há dentro do peito e não pelo que há dentro da roupa íntima. Já não costumo olhar as pessoas e diferenciá-las pelo sexo. Diferencio pela personalidade, pela voz, o sorriso... pelo olhar. Talvez ficar cego não fosse tão ruim, sabe? Assim eu também deixaria de me iludir pelas expressões faciais e pelo jeito de andar. Seria algo apenas do contato sentimental... mas já fiz muitos progressos, se quer saber.

- O que te faz crer que está se apaixonando? Foi como Touya, ou como Souka? Foi antes ou depois do beijo?

Sai ficou extremamente corado. A voz de Itachi era firme e direta. Se pudesse, se esconderia dele. Porque mesmo ele estando com os olhos vendados, parecia conseguir ver a sua alma. Apenas olhar para aquele rosto o fazia sentir calafrios.

- De certa forma, o beijo que Souka deu em Touya foi o jeito que ele arranjou de descobrir se aquele sentimento que começava a surgir no peito era de fato real. Os beijos dizem muito... As sensações que eles transmitem... Fui como Souka. Tentei entender o que eu sentia ao... beijar.

Itachi quase perguntou se foi a ele quem Sai beijou, mas sabia que isso só iria cortar a conversa que estavam tendo. Ele não queria isso. Daí então pensou em talvez agir no escuro, como lhe era permitido. Agir cegamente, como Sai lhe dissera. Pôs-se de pé e estendeu a mão para Sai – guiando-se pela voz – e sorriu com suavidade. O rapaz segurou-lhe a mão e ficou de pé, tentando entender a atitude do Uchiha.

- Preciso compreender uma coisa, Sai... por favor... se eu estiver errado... apenas me guie para longe do seu quarto.

Sai não entendeu a mensagem até que Itachi fizesse o que pretendia. Pegou as mãos do escritor e levou-as ao rosto, fez com que os dedos dele tocassem seus lábios que se curvavam num meio sorriso. Depois tocou a nuca do rapaz e o puxou para perto. Assim como Sai lhe ditara no trecho de seu livro, não recebeu resistência. Então os lábios se tocaram, tomados de um acanhamento sutil e de um calor que crescia progressivamente em seus corpos. Não demorou e o cheiro de eucalipto chegou às narinas de Itachi e o sabor daqueles lábios carnudos e gentis, as mãos com um leve cheiro de tinta tocaram seu rosto e toda a vergonha se foi, junto com as palavras, suposições e pensamentos. As línguas sôfregas e úmidas tocavam-se com sensualidade. As mãos de Itachi desceram pelo corpo de Sai, contornando as costas, parando nos quadris e puxando-o para colá-lo ao dele.

Não notaram por quanto tempo ficaram naquele beijo, mas foi o próprio Itachi que o interrompeu.

- Leve-me até a porta – pediu friamente.

Atônito e com o coração disparado, Sai o fez. E fez mais, levou-o até a porta do quarto do Uchiha e de lá voltou a passos tontos para o seu próprio. Porém, antes de deixá-lo, obrigou-se a perguntar:

- Estava errado, Itachi-san?

- Não – respondeu com certa surpresa.

Sai sorriu e o deixou sozinho.

Itachi não dormiu aquela noite, nem parou de roçar os dedos pelos lábios. Sai, por sua vez, riu por algum tempo sozinho no quarto, depois dormiu e teve alguns sonhos que jamais contaria a alguém depois. Mas internamente agradecia por não precisar olhar nos olhos de Itachi na manhã seguinte.

Continua...

--x--

N/A: OMFG! Minha primeira Itachi/Sai! Certo, se ficou nonsense eu não sei... talvez! E com certeza é a fic com os mais longos capítulos que eu já fiz na vida! O.O

Yeahrebecca. espero que esteja bom para você! Aguarde os próximos capítulos. ;)

ps.: Sei que Itachi e Sasuke estão um pouco OOC, mas acho que consegui manter suas personalidades fortes, embora que com um senso de humor bem... tosco. XD

ps2.: Àos outros campeões, podem começar a reclamar suas fics. Eu e Bianca estaremos disponíveis e fugindo de vossos gritos, com certeza. o/

ps3.: Esse s2 do segundo PS ficou muito gay. (Momento O Diário de um Uchiha mode on)