N/A: Último capítulo! :O Avisos no final da fic, leiam, please.
[Harry//Draco//Harry//Draco//]
Levou mais alguns dias de cama e cuidados para Draco se recuperar. Harry ainda não sabia ao certo o que tinha causado a súbita doença do rapaz, ainda que ele desconfiasse seriamente que fosse devido à má alimentação dele. Tendo isso em mente, Harry tratou de garantir que Draco se alimentasse bem durante todas três refeições, mesmo que isso sempre fosse seguido de graves reclamações e comentários atravessados por parte do loiro. Ele levava o café para Draco no quarto, agora que ele conseguia mantê-lo na cama. Uma simples ordem de "não levante da cama amanhã de manhã" resolvia toda a questão de Draco acordar antes de Harry apenas para ficar parado no meio da cozinha, confuso. Se ele tivesse pensado nisso num primeiro momento, tudo seria mais simples desde o início. Mas Harry estava muito ocupado tentando não ordenar Draco e se acostumar à nova rotina.
Aliás, eles caíram rapidamente na rotina. Não o tipo de rotina negativa que levava ao tédio, mas o tipo de rotina confortável que fazia as pessoas esperar pelas mesmas coisas todos os dias pelo simples prazer de tê-las. Como acordar e abrir a janela para ver o sol lá fora ou se espreguiçar longamente. A rotina para os dois fora construída dentro desses limites de conforto. Não era realmente ruim tomarem café juntos no quarto de Draco todo dia ou acabarem lendo em silêncio na biblioteca pela tarde. Era claro que todos os dois tinham sua parcela de satisfação em passar aquelas horinhas compartilhada, mesmo que, de vez em quando, fizessem questão de mostrar o contrário.
Eventualmente, Harry retomara os estudos do seu teste de auror. Em pouco tempo, ele sabia que teria de fazer o teste escrito e com autorização especial do Ministro para faltar às aulas ou não, Harry ainda tinha que ter o mesmo resultado mínimo para passar. E o resultado mínimo, de "mínimo" não tinha absolutamente nada.
Cansado e sentindo-se pressionado, Harry se punha a ler exaustivamente as matérias do curso. A princípio, ele faria isso sozinho. Até que um dia, Draco simplesmente entrou na biblioteca e ficou observando.
E observando.
Depois de mais ou menos cinco minutos com o olhar de Draco queimando na nuca, Harry achou que devia dizer algo.
"Precisa de alguma coisa, Draco?"
"Hm? Não."
"Certo."
Mesmo no silêncio absoluto da sala, com apenas o som das páginas sendo viradas e o eventual arranhar da pena de Harry no pergaminho, o olhar de Draco falava volumes.
"Draco, existe algum motivo em específico para você estar criando um buraco na minha nuca com o seu olhar?", perguntou Harry, jogando a pena na mesa. Ele se virou a tempo de ver Draco dar de ombros.
"Não, na verdade não. Eu estava entediado."
"E?"
"E o quê?"
"E por que você não está fazendo algo pelo seu tédio em vez de ficar aqui, olhando?"
"Incomodo?"
Harry mexeu nos cabelos, bagunçando-os. Não era tanto como se Draco incomodasse. A palavra exata seria distrair. Ter Draco por perto era um foco de distração constante para Harry, sempre o impedindo de raciocinar adequadamente. Até mesmo os momentos onde ele estava longe do ex-sonserino o faziam pensar nele. Se estava na hora de levar mais uma refeição, se Harry devia levar um livro ou apenas sentar-se perto da janela e ter uma conversa sobre o nada. Não que eles conversassem muito. Mas em geral, quando faziam era até agradável. Até Draco dar começo às provocações e falar coisas estúpidas. Mas antes disso Draco sempre se revelava uma companhia interessante.
"Não. Não incomoda.", resmungou Harry, virando-se de volta para seu livro. "Apenas não fique aí, me olhando assim, sei lá, é chato."
"Chato como?", disse Draco, enquanto Harry se esticava para pegar a pena.
"Chato, chato, oras. Chato de não gosto de me sentir vigiado."
"Eu não estou te vigiando.", respondeu Draco. Harry não tinha percebido quando ele tinha se levantado do sofá e vindo mais para próximo dele.
"Eu sei que não.", disse Harry, rabiscando um pedaço de pergaminho, tentando manter o foco sem sucesso.
"Então?", inquiriu o loiro, sentando-se na ponta da mesa, próximo a Harry. Próximo demais.
"Então o que, Draco?", perguntou o aprendiz de auror que permaneceria na aprendizagem para sempre se não conseguisse se concentrar e rápido no que estava lendo.
Draco deu de ombros novamente e pegou o livro que Harry estava lendo. Harry tentou tirar o objeto das mãos do loiro, mas Draco já se afastara, lendo em voz alta trechos do livro.
"O auror deve ter em foco a proteção dos reféns, sempre tendo em mente os seguintes procedimentos-padrão de ação...", Draco seguiu lendo, dessa vez em silêncio, rindo ocasionalmente.
Harry se levantou e tentou ver o que Draco estava lendo.
"Do que você ri tanto?", perguntou o moreno.
"Bem, sinceramente, a pessoa que fez esse manual ou é muito estúpida ou nunca esteve em batalha. Procurar verificar e curar possíveis danos à vítima, no meio de uma batalha? Quem fizer isso vai ter muita sorte se sair inteiro. Ridículo."
"Ah, claro, valeu, senhor especialistas em batalhas.", escarneceu Harry.
"Posso não ser um especialista em batalhas, mas já estive em algumas para saber que isso é completamente impossível de ser feito, pelo menos da maneira que ele quer que seja feito."
Harry deu uma risadinha de escárnio e pegou o livro de volta das mãos de Draco, voltando em seguida a sentar-se na poltrona. Surpreendentemente, Draco pegou outra cadeira e sentou–se ao lado de Harry. O moreno pensou seriamente em perguntar o que diabos ele estava fazendo, mas pensou melhor e deixou estar.
Os dois passaram o resto da tarde lendo juntos.
Eventualmente, Draco se mostrou uma excelente companhia. A despeito dos comentários sarcásticos e provocações eventuais, Draco era excelente para se estudar. Harry não sabia ao certo se o ex-sonserino estava assim tão entediado que sentia necessidade de estudar com Harry, mas fosse como fosse, ele o fazia e era interessante. Nos últimos tempos, Harry havia guardado mais informações sobre o programa de aurores do que desde o início de seus estudos.
[Harry//Draco//Harry//Draco//]
Draco não sabia ao certo o que o levara a ir atrás de Harry na biblioteca. Ele sabia que parte daquela motivação vinha do feitiço, empurrando-o a ajudar o moreno. Era claro como água que ele estava tomando uma surra dos estudos, Draco podia sentir toda a tensão e confusão vinda de Harry pelo elo. Quando decidiu ir ver o que Harry fazia, Draco disse a si mesmo que fora simplesmente porque os sentimentos de Harry o estavam incomodando. A mesma desculpa que usou a si mesmo para justificar o porquê de descer para ver Harry cozinhar. Ou quando aceitou a proposta do outro de ensiná-lo o básico na cozinha.
Fora quase uma surpresa, se na verdade Harry não estivesse insinuando isso há algum tempo. Draco suspeitava de que ele estava cansado de cozinhar para ele.
"Então, não é assim tão difícil, sabe?", disse Harry enquanto cozinhava batatas de um lado e refogava a carne do outro.
"Na verdade, é bem fácil. Eu aprendi ainda pequeno e você é bom de Poções, até já pegou uma coisa ou outra aqui, não seria assim ruim de aprender.", comentou o moreno, enquanto Draco punha os pratos na mesa. Era a terceira ou quarta vez que Harry vinha com o mesmo papinho. Ah, por que não fazê-lo feliz?
"Ok."
"Ok o quê?", perguntou Harry, colocando um pouco do caldo da carne na mão e provando. "Olha, prova isso.", disse em seguida, esticando a colher para Draco.
O loiro provou.
"Ok, eu quero que você me ensine.", respondeu, enquanto ia olhar as panelas. "E está bom. Um pouco mais de sal e acho que fica razoável."
Harry parou de cozinhar, olhando Draco, surpreso.
"Está falando sério?"
"Por que eu não estaria? Eu não posso depender de você para cozinhar para mim para sempre."
"Eu sei, mas, olha, eu não me incomodo e..."
"Se incomoda sim. O escravo aqui sou eu e não você.", replicou Draco.
"Não seja idiota."
"Não estou sendo."
"Eu não tenho problemas para cozinhar para você, eu teria de cozinhar para mim de qualquer jeito."
"Sim, mas agora você se sente na obrigação."
"Não, não me sinto."
"Aham."
"Eu disse que não me sinto.", resmungou Harry, colocando as batatas numa travessa e olhando Draco de esguelha.
"Claro.", concordou debochadamente o loiro, enquanto ajudava Harry a pôr as batatas na travessa e depois na mesa.
"Draco!", exclamou Harry, pondo uma mão na cintura, um ar de riso nos lábios. Ele ficava engraçado, pensou Draco, segurando um pano de prato naquela pose. A perfeita dona de casa, imaginou Draco, sorrindo sem perceber.
"O quê? Eu estou concordando com você.", respondeu com um ar risonho, enquanto terminava de servir o resto do jantar.
"Cínico.", riu Harry.
"Sempre.", piscou Draco.
Draco aprendeu rapidamente as artes da cozinha ou a "pilotar um fogão", como Harry fazia questão de dizer, apenas pelo prazer de ver Draco bufar e jogar alguma coisa nele. Nunca algo que pudesse machucar o moreno, geralmente um pano, travesseiro, almofada ou algo mais duro encantando com um feitiço acolchoante previamente. Harry sempre riria e faria alguma piadinha boba sobre o quão bem Draco ficava de avental e Draco faria algum comentário maldoso sobre a posição de escravo dele.
Não que isso fosse realmente um tabu entre os dois mais. Em algum momento da convivência ambos ficaram mais ou menos confortáveis com isso: Draco por saber que Harry nunca abusaria da posição dele e Harry por saber que Draco tinha consciência de que ele era uma pessoa decente.
Em retrospecto, quando um dos dois parasse para pensar nisso, era quase engraçado o nível de conforto no qual os dois tinham conseguido de envolver.
No final, Draco se mostrara melhor na cozinha do que Harry. Ele era mais habilidoso, mais cuidadoso e, surpreendentemente, mais paciente. Harry vocalizou em alto e bom som que isso só podia ser reflexo da aptidão do loiro em Poções e nada mais. Draco rebateu que ele estava com inveja de que Draco era melhor do que ele nisso. E Harry apenas concordou e disse que como ele era melhor, devia cozinhar sempre.
No final, eles revezaram.
[Harry//Draco//Harry//Draco//]
O tempo correu tão rápido lá fora que Harry ficou surpreso quando viu que estava às vésperas do exame de aurores. O ex-grifinório nunca fora uma pessoa muito feliz com provas e afins e fazer uma prova daquela magnitude – a que finalmente tornaria Harry um auror nível C – era incrível. Aurores níveis C não eram a elite e tão pouco eram colocados em campo. Eram praticamente aprendizes. Mas aprendizes que usavam o uniforme vermelho de aurores e tinham um distintivo. E era isso que Harry queria, com todas as suas forças.
Então era bem óbvio que ele ficaria tão tenso que passaria justamente a noite que ele mais precisava dormir em claro.
Sentado na cama, lendo suas anotações da matéria, Harry tentou de todo jeito se concentrar em absorver conhecimento.
O que era complicado, levando em conta que eram duas da manhã e ele estava tão tenso que tinha certeza que se os músculos das suas costas continuassem se retesando da maneira que estavam, ele ia acordar corcunda.
Frustrado, Harry jogou o pergaminho longe e deitou de costas na cama, encarando o teto e pensando no futuro fracasso que seria sua prova. E ele provavelmente ficaria assim o resto da noite, se alguém – Draco, com certeza – não tivesse batido na porta.
"Entra.", bufou Harry, ainda jogado na mesma posição.
"Tudo certo aí?", perguntou Draco, de pijama e parecendo cansado.
"Ótimo.", disse Harry, sarcástico. "Eu só tenho a prova da minha vida amanhã e não tenho a menor idéia da matéria."
"Não seja estúpido, você passou as últimas semanas estudando. Comigo.", acrescentou Draco, como se o fato de que ele estava presente fosse crucial. Bom, era.
"E daí?"
Harry sabia que Draco deveria estar revirando os olhos. Quando ele se levantou para tirar a dúvida, viu o loiro bufando e virando os olhos para o teto. Harry riu.
"Olha aqui, seu imbecil, você sabe a mais sobre as normas de conduta e padrões e atuação dos aurores do que os próprios instrutores. Então pára de bobagem e vai dormir.", falouDraco num tom falsamente irritado. Depois de uma convivência diária intensa, não era assim tão complicado diferenciar o humor de Draco.
"Se você diz."
"Eu digo. E o que eu digo é sempre verdade universal. Agora vá dormir."
"Não consigo.", murmurou Harry coçando os olhos com os punhos, num gesto infantil. "Sem sono. E você também pelo jeito."
"Não, eu estou morto de cansaço."
"Então vai dormir."
"Não consigo.", disse Draco, encostando a porta do quarto.
"Como assim?"
Draco sentou-se na cama, empurrando sem qualquer cerimônia as pernas de Harry para o lado. Harry pegou a dica nada sutil e se ajeitou na cama, dando espaço para Draco.
"Eu acho que eu só posso dormir se você dormir ou se você me der permissão para dormir.", explicou Draco num tom inexpressivo.
"Como é que é?", perguntou Harry, sentando-se na cama.
"É. Eu reparei isso durante as sessões de estudo sabe? Eventualmente você apagaria no sofá, algo deprimente, Harry, permita-me dizer. E, se eu quisesse, eu conseguiria dormir naquele instante. Mas, se depois, com você acordado, eu tentasse dormir, eu não conseguiria. Demorou a eu associar os dois acontecimentos, mas eu percebi isso com nitidez hoje de tarde. E agora, enquanto eu tentava desesperadamente pregar os olhos depois de um dia de intensa atividade doméstica..."
"Não seja exagerado você só fez o jantar."
"Ainda assim, intenso."
Harry ficou em silêncio por um tempo, mordendo o polegar e olhando Draco. O loiro não retribuiu o gesto.
"Me desculpe. Eu não sabia dessa limitação do feitiço."
"Nem eu. E não peça desculpas, não é culpa sua."
Harry ficou quieto por um tempo. Pensando bem, deve ter sido um inferno para Draco esses últimos meses. Harry dormia muito pouco ou quase nada. E se ele não podia dormir enquanto Harry não pegasse no sono. Isso só podia dizer que ele ficara muitas, mas muitas noites em claro. Para Harry, isso era normal. Mas para Draco, dificilmente era assim.
"Eu sinto muito, mesmo assim. Eu devia ter prestado mais atenção.", Harry pôs uma mão no braço de Draco, num gesto de conforto sem motivo específico.
Draco deu de ombros, ignorando o que Harry tinha dito.
"Não é como se você tivesse a obrigação de saber tudo. E, por agora, eu já estou bem acostumado, ainda que isso tenha me derrubado no início."
"A gripe.", lembrou Harry.
"A gripe.", concordou Draco. "Péssima combinação pouca comida e pouco sono, além de estresse."
"É. Mas, bem...", Harry se levantou da cama, passando por Draco. Ele se pôs de pé, espreguiçando-se. "Eu vou para a biblioteca. E você pode ir para sua cama dormir.", ordenou o moreno, piscando com um sorriso no rosto.
Draco sorriu de volta, sem perceber.
"Agora eu já perdi o sono, idiota. Se você quer tanto assim desperdiçar sua chance de descansar para prova, eu te ajudo nisso."
Draco se levantou e saiu para o corredor, já com alguns pergaminhos e livros na mão. Harry pegou o restante e foi atrás.
"Não precisa. Pode ir dormir."
"Eu vou, assim que você for."
"Mas eu estou completamente sem sono.", resmungou Harry, enquanto abria a porta da biblioteca.
"E eu também.", respondeu Draco, pondo toda a tralha que ele carregara em cima da mesa.
"Eu já disse que você pode dormir.", rebateu Harry, ainda de pé, segurando os livros sem jeito nos braços.
Draco foi até ele e pegou os itens, ajudando Harry a colocá-los em cima da mesa.
"Que eu posso. Não que preciso ir."
[Harry//Draco//Harry//Draco//]
O orgulho que Draco sentiu quando Harry apareceu correndo pelo Flu, segurando um pedaço de pergaminho e gritando quase histérico que tinha passado parecia completamente sem sentido e deslocado. Ele sabia que não devia sentir-se orgulhoso pelo sucesso de Harry, mas ele se sentia. E mesmo repetindo de novo e de novo que ele só se sentia desta forma porque tinha auxiliado Harry a estudar, Draco sabia que não era só isso. Que no fundo, ele estava apenas feliz por Harry. Orgulhoso que todo o esforço dele tinha dado resultados, por ele ter conseguido atingir o objetivo que ele tanto desejava. Por Harry. E apenas por ele.
Draco não disse nada disso, porém, quando Harry praticamente quicava na frente dele, eufórico pelo resultado.
"Parabéns.", disse Draco, sorrindo para Harry sem realmente perceber isso.
"Eu passei! Passei!", quase gritava Harry. Talvez em outro momento, Draco pudesse ter se incomodado. Mas naquele dia, a euforia dele era simplesmente contagiante.
"Claro que passou, Harry. Você estudou comigo. O que você achava, que eu permitiria seu fracasso? Sou um excelente professor.", respondeu Draco, com um falso ar de desdém. O sorriso no rosto, porém, traía-o completamente.
O próprio sorriso de Harry parecia tão grande que ocupava todo o Largo Grimmauld. Até aquele instante, Draco nunca tinha reparado como o sorriso de Harry parecia bonito. Não era nada efetivamente físico. Era apenas a sensação de alegria que ele era capaz de passar com aquela expressão. Tudo no moreno mudava quando ele sorria. Os olhos pareciam mais verdes, o rosto iluminava-se. Era algo tão pleno e completo, tão incrível, que Draco só podia acompanhá-lo e sorrir também.
Harry largou o pergaminho no chão e avançou na direção de Draco. O loiro realmente não estava esperando por aquilo.
Antes que ele pudesse realmente registrar o que estava acontecendo, os braços do moreno estavam em volta de si, trazendo Draco para frente, os corpos se juntando num abraço.
O tempo pareceu diminuir a velocidade e parar para Draco. Parte dele ainda estava completamente chocada que Harry Potter o estava abraçando e não era uma tentativa de sufocá-lo num abraço de urso. Estava abraçando-o de alegria, gratidão, amizade. E isso era tão absurdo, que Draco mal conseguia agarrar o conceito.
E outra parte de Draco estava mais do que ciente de como os braços de Harry pareciam sólidos ao redor dele, ou como as mãos de Draco se moveram sozinhas para retribuir o abraço, parando contra as costas de Harry, sentindo as definições do que um dia seriam músculos ali. Como as pontas de seus dedos pareciam embebidas pelo calor do corpo de Harry, como todo o moreno parecia simplesmente real demais. Uma âncora num mundo de irrealidade e absurdos. E o mais hilário era que Harry era o vértice de todas aquelas impossibilidades.
Os segundos se esticaram eternamente, a respiração de Harry resvalando contra o pescoço de Draco, fazendo um arrepio perpassar a coluna do loiro, um tremor agradável que há muito ele não sentia. Não houve nenhuma magia, nenhuma revelação única com aquele abraço, nada incrível ou extraordinário. Era apenas um corpo sólido contra o outro, calores trocados, emoções mixadas. Mas ainda assim, era perfeito em toda a sua banalidade. E Draco sabia disso. E não podia, nem queria, fazer nada para mudar aquilo.
Depois de uma eternidade de poucos segundos, Harry o soltou. Ele não parecia diferente para Draco, o mesmo jovem adulto magrelo e baixinho de óculos de segundos atrás. E, ao mesmo tempo, tudo tinha mudado. E Draco sabia disso.
"Desculpa. Me empolguei. É só que... Minha nossa, eu não acredito que sou um auror! Oh, Merlin, eu sou auror!", murmurou Harry, com um sorriso sem graça, tímido. Sorrisos. Era incrível como eles podiam dizer tanto no rosto de Harry Potter.
Draco pensou em um milhão de coisas para dizer ou fazer. Ele tinha um mundo de opções e, na verdade, estava preso.
Um mundo de escolhas truncadas.
"Certo, Harry. Ou devo dizer auror Harry?", disse Draco, levantando uma sobrancelha, uma normalidade fingida, um coração batendo forte demais.
"Auror Harry. Wow. Minha nossa!", riu Harry, ainda um pouco corado e sem graça. Ele pegou o pergaminho no chão. Draco fingiu não perceber que a folha tremia nas mãos de Harry. Que Harry tremia.
Um sorriso lento se espalhou pelo rosto de Draco.
"Acho que temos de comemorar, não é mesmo, senhor auror?"
Harry gargalhou.
"O que você sugere?"
"Um jantar caprichado. Por minha conta. Afinal o novo braço da lei precisa se alimentar bem.", disse Draco, caminhando para a cozinha.
Harry deu outra risada em resposta e o seguiu.
[Harry//Draco//Harry//Draco//]
As pequenas férias que Harry teria até o início de suas funções como auror foram passadas parte delas passeando por Londres e parte delas dentro do Largo Grimmauld. Harry insistira que Draco saísse com ele, mas o ex-sonserino recusou todas as propostas, preferindo ficar confinado. Harry não gostava muito desse isolamento do loiro, mas podia entender que ele não quisesse ser visto com as algemas. Como elas não podiam ser escondidas com nenhum tipo de magia, não havia como elas não serem vistas. Mesmo que Draco as escondessem sob camadas de roupa, ainda assim, dependendo de como ele se movesse, elas apareceriam. E dificilmente elas poderiam passar como um mero adereço.
Então Harry saiu sozinho e explorou a cidade. Rony o acompanhou algumas vezes, relembrando os velhos tempos de Hogwarts. Nenhum dos dois tocou no assunto Draco e Harry ficou feliz em ver que Rony estava disposto a agir com se aquilo não existisse. Tudo bem que ele agia como se Draco não existisse e isso era irritante. Mas era melhor do que ouvir o ruivo reclamar eternamente sobre Draco. Harry tinha certeza que a mudança tinha o dedo de Hermione, mas não era como se isso fosse realmente um problema.
Hermione, por sua vez, apenas saiu com os amigos uma única vez. Grávida de quase quatro meses, ela já tinha uma barriguinha visível. A gravidez era um pouco mais complicada do que se poderia ter desejado, mas ela e o bebê estavam bem, no geral.
Ou era o que todos achavam.
Harry estava no Largo Grimmauld quando a notícia chegou. Quem avisou foi George, abatido e um pouco abalado. Harry ficara pensando na próxima jogada que faria no xadrez bruxo, enquanto Draco fora atender o Flu. Ele ficou um pouco surpreso ao ver o loiro retornando pálido, dizendo que era melhor Harry ir até o Flu.
O rosto sardento de George, envolto em chamas verdes, estava marcado por linhas de tensão. Harry só se lembrava de tê-lo visto assim tão sério uma única vez. E a lembrança serviu apenas para apavorá-lo.
"O que aconteceu?", perguntou Harry, ajoelhando-se na frente da lareira, o coração aos pulos.
"Harry...", disse George, a voz um pouco instável. O coração de Harry parecia impossivelmente mais acelerado. "Eu tenho más notícias."
"Ah, meu Deus.", gemeu Harry. "O que aconteceu? Pelo amor de Merlin, o que aconteceu, George?"
George engoliu seco várias vezes, o pomo-de-adão subindo e descendo sucessivamente acusando o movimento. Harry sentiu uma vontade súbita de atravessar o Flu e fazer o ruivo falar logo, nem que fosse com os próprios punhos. Não que isso fizesse qualquer sentido.
"Hermione.", murmurou George, olhos fixos no chão. "Ela perdeu o bebê. Ela está bem, mas... Não tiveram como salvar a criança"
Harry sentiu como se seu coração tivesse parado de bater por alguns segundos. Não que isso realmente tivesse acontecido, mas a sensação de sufocamento era tamanha que era como se seu coração simplesmente tivesse deixado de bater e seus pulmões tivessem parado de trabalhar. Uma dormência gélida correu o corpo de Harry ao mesmo tempo em que a verdade daquelas quatro palavras faziam-se valer.
Hermione tinha perdido o bebê. O primeiro filho de seus dois melhores amigos nunca viria ao mundo. Ele nunca seria padrinho daquele bebê. Rony e Hermione nunca seriam chamados de pais, não por aquela criança.
Porque ela tinha morrido.
Harry deixou o peso de seu corpo relaxar, caindo sentado no piso frio, os olhos mirando o vazio. Ele registrou marginalmente George comentando o estado de saúde e mais alguém falando na sala. Ele olhou, sem realmente ver, George sumir nas chamas esverdeadas e uma mão guiando-o para o sofá. Nada daquilo tinha a menor importância, nada daquilo faria a menor diferença. Hermione tinha perdido o bebê.
Fechando os olhos com força, Harry afundou o rosto nas mãos, sentindo o peso da perda nas costas. Aquilo era tão injusto! Depois de tudo o que seus amigos tinham passado, todos os sacrifícios feitos na Guerra, das derrotas, lágrimas e feridas, eles ainda tinham que passar por mais aquele momento de dor, por mais perda. Harry não tinha idéia real do que era um filho, mas o pouco que ele tinha idealizado junto com Rony, os sonhos compartilhados de ver a criança ir a Hogwarts, ensiná-la Quadribol, mostrá-la um mundo que ela não chegaria a ver, todas aqueles pequenos projetos construídos visando o futuro estavam destruídos e isso doía. Doía mais do que Harry poderia jamais ter imaginado, doía como se uma parte dele tivesse sido arrancada, esperanças roubadas.
E não era exatamente isso que tinha acontecido.
Harry realmente não se deu conta de quando as lágrimas tinham começado a cair, mas isso dificilmente importava. As lágrimas dele, a dor, eram de pouca importância. Como ele poderia se importar com o próprio sofrimento, quando sua dor era apenas uma amostra ínfima do que Rony e Hermione deviam estar sentindo? Era egoísmo dele afundar na própria decepção de um futuro destruído que nem ao menos era realmente dele. Hermione e Rony precisavam de apoio e lá estava o grande Harry Potter chorando e se lamentando quando ele devia estar n'A Toca, apoiando os amigos, segurando a mão deles.
Não. Mais do que isso. Harry devia ter feito algo. Ele sabia que Hermione precisava de cuidados, mas ele também sabia que ela continuava trabalhando no Departamento de Auxílio às Vítimas da Guerra. Harry sabia muito bem que ela continuava indo todo o santo dia ao Ministério organizar papéis e agendar audiências para auxiliar famílias que haviam sido afetadas pela Guerra, fosse pela perda de bens, fosse pela perda de membros. E Harry sabia, ah! Como ele sabia, que ela só estava fazendo isso por causa do dinheiro.
Ele devia ter impedido.
A culpa o lavou de cima a baixo pelo egoísmo. Onde ele estava que não impedira Hermione de trabalhar? O que ele estava fazendo que não fizera alguma coisa, qualquer coisa, para proteger Hermione de passar por essa tragédia?
Desesperado, Harry se levantou, sem saber ao certo por que e o que fazer. Ele tinha que fazer alguma coisa. Se ele não tinha podido – ou seria querido? – impedir aquela infelicidade de acontecer, ele tinha a obrigação de minimizá-la.
E provavelmente Harry teria saído Flu a fora, sem rumo certo, se Draco não o tivesse segurado com palavras.
"Harry, acalme-se.", murmurou Draco, de algum lugar atrás de Harry.
Ele não percebera a presença do loiro até aquele instante, mas era óbvio que tinha sido ele a dispensar George e a sentar Harry no sofá. Ele era grato, de algum modo, pelo cuidado, mas ele não merecia nada daquilo. Ele tinha falhado miseravelmente com seus dois melhores amigos. Ele não merecia nada.
"Eu devia ter feito alguma coisa, Draco.", disse Harry, de modo febril. Ele estava febril. Enfurecido com o próprio egoísmo.
"Feito o quê? O que você possivelmente poderia ter feito para impedir um aborto espontâneo, Morgana, explique?"
Harry sacudiu a cabeça negativamente, ainda andando a esmo pela sala. Uma mão forte, porém gentil o segurou no lugar.
"Harry, o que você poderia ter feito?"
"Eu sabia que ela estava trabalhando por dinheiro, que ela estava preocupada que ela e Rony não conseguiriam manter o bebê. Eu devia ter feito algo para impedi-la de trabalhar."
"Não seja idiota, isso dificilmente tem a ver com o que aconteceu.", rebateu Draco, num tom ríspido.
Harry se voltou para ele, vendo-o pela primeira vez.
"Não tem a ver? Ela perdeu o bebê! Eu tinha que ter feito algo!"
"Feito o quê? Revivido o bebê?", perguntou Draco, gesticulando amplamente com as mãos.
Harry queria quebrar os dedos dele.
"Eu devia ter dito que os ajudaria com o dinheiro! Você não entende? Foi o trabalho!"
"O que um trabalho burocrático num escritório, onde ela passava quatro horas sentada, poderia ter a ver com isso? Harry, ela teve um problema na gestação, não se pôde fazer nada!"
Harry urrou de ódio. Ele sentiu uma vontade insana de machucar Draco, machucá-lo até haver sangue no carpete mui antigo e nobre dos Black, até que ele não pudesse sequer gemer de dor. Como ele o odiava, como ele odiava o mundo!
"Você não sabe o que diz. Você não entende. Eles sequer são seus amigos!", berrou Harry, o rosto vermelho de fúria.
"Não, não são, mas você é e está sendo abissalmente idiota!", sibilou Draco de volta. Quanto mais alto Harry falava, mais baixo Draco replicava. Seu rosto estava vermelho de raiva contida, os punhos fechados ao lado do corpo.
"É minha culpa!", berrou Harry, a voz falhando com o choro engasgado. Todo seu corpo, sua mente, sua alma, repetia a mesma canção macabra de "é sua culpa, é sua culpa".
Draco cruzou o espaço entre os dois, pondo-se perigosamente perto do alcance das mãos de Harry. Ele parecia determinado como Harry nunca o tinha visto antes, mas isso não importava. Nada importava. Apenas a culpa e a morte.
"O bebê morreu!", sussurrou Draco, próximo o suficiente para Harry sentir sua respiração. "O bebê morreu porque o coração dele simplesmente parou de bater. Foi um problema na gestação algo que ninguém, ninguém poderia prever ou impedir, muito menos você, Harry. Você ouviu Weasley dizer isso, nem os medibruxos poderiam ter previsto isso. Eu sei que você acredita que pode salvar o mundo, mas não pode. Algumas coisas têm de acontecer. Essa é uma delas. Você não pode parar a natureza. Não seja tão prepotente a ponto de achar que pode.", continuou Draco.
Harry sentiu os joelhos fraquejarem. Ele sabia que estava demonstrando fraqueza, mas Draco não recuou. Ele continuou falando e falando e Harry não podia fazer mais nada, senão ouvir.
"Você não pode prevenir as pessoas de sofrerem aquilo que elas têm de sofrer, nem de impedir as coisas ruins que tem de acontecer. Só o que você pode fazer é o que todos os outros mortais na Terra fazem que é se manter firme e apoiar a quem precisa! Eu não entendo tudo sobre o mundo, nem sei quem ou o que faz com que as coisas aconteçam, mas se esse bebê tinha que morrer, se não havia outro jeito, só podemos lamentar e estar lá para Granger e o Weasley. E é isso que você pode fazer. Apoiá-los. E não chafurdar em culpa sem sentido e achar que poderia tê-los salvado. Não havia ninguém a ser salvo aqui. Apenas uma fatalidade. Aceite isso."
A respiração de Harry saía com dificuldade pela boca dele, a garganta queimando queria gritar, mas sua voz tinha sumido.
Ele tinha que ter feito algo, mas as palavras de Draco tinham apelo. Razão. O que ele poderia ter feito? Ele não podia estar lá para todos, nem impedir as fatalidades de acontecerem. E ele queria ter feito algo, Merlin sabe como ele queria, mas ainda assim, aquilo poderia ter acontecido.
O bebê teria morrido mesmo assim, não teria?
Ele não sabia e a dúvida o corroia.
"Você não entende...",murmurou ele por fim, os joelhos finalmente deixando de suportar seu peso e fazendo com que ele desabasse de volta no sofá.
"O que eu não entendo? Que você acha que pode salvar o mundo? Bom, realmente não entendo. É tão estúpido que é difícil aceitar."
"Cala a boca, Draco, por favor."
"Eu posso me calar e provavelmente você pode me forçar a fazê-lo. Mas isso não impede que eu pense que não é sua culpa. Não é sua culpa.", falou Draco, pausadamente.
Ele estava de pé, diante de Harry, parecendo muito maior do que jamais fora ou seria em qualquer outro momento dali para frente. Naquele instante, Draco era a única pessoa que podia salvar Harry, impedi-lo de carregar uma mágoa, uma culpa, que não era dele.
E Harry sabia disso.
No fim, tudo se resumia a uma escolha. Aceitar que nem sempre a vida é justa ou pode ser controlada. Que não era culpa dele. Que muitas coisas não eram e não foram culpa dele. Era se libertar de lembranças que ainda se esgueiravam por seus sonhos, que empesteavam seus pesadelos. Que o destino não podia ser domado e que todos os mortais estavam meramente a seu dispor. E Harry não era nenhuma exceção.
Harry sentiu as mãos de Draco em seu joelho. O loiro tinha se abaixado no chão, ficando no nível de Harry. Os olhos dele eram honestos, limpos, cinza como um dia nublado. E eram uma salvação, algo que Harry não tinha realmente em Draco, mas só em si mesmo. Tudo estava em si mesmo. Mas ele precisava de Draco para ver, para refletir, para externar. E lá estava ele, olhos francos que apenas eram o primeiro passo de um caminho pessoal para a liberdade.
"Algumas vezes, Harry," disse Draco baixinho. Tão baixo que poderia ter sido a imaginação de Harry. "são os heróis que precisam ser salvos."
Quando os lábios se colaram, em meio ao sabor amargo da dor, a resposta já tinha sido dada.
[Harry//Draco//Harry//Draco//]
Draco nunca soube ao certo quando as coisas mudaram, nem mesmo quando ele próprio tinha mudado. Ele só sabia que os lábios de Harry tinham o gosto salgado de lágrimas e que aquele era o gosto mais viciante que ele já tinha provado na vida. Era como uma dor da qual se pode gostar, nada e ao mesmo tempo tudo. Era tão comum quanto qualquer outro beijo que ele já tivesse dado na vida, apenas lábios, línguas, saliva, um ângulo errado, alguns momentos para realmente encontrarem o ritmo certo. Mas era especial como tudo em Harry, era ruim e bom, era incrível e banal. Era um mundo de paradoxos do qual Draco nunca se cansaria.
As bocas traçavam contornos, lambiam, sugavam, marcavam, possuíam. Não que Draco ainda precisasse ser possuído. Ele já era de Harry desde o início. Eles apenas estavam expandindo a posse, tornando completo. Os dentes mordiam com uma delicadeza enlouquecedora, fazendo Draco se arquear e implorar por mais.
Os lábios se aliaram às mãos. Incertas, atrapalhadas, trêmulas. Mas elas eram quentes como nenhuma outra, ásperas e não muito experientes. Mas Draco gostava assim mesmo, dedos calosos traçando as suas vértebras, as costelas, a boca.
Simplesmente comum e tudo o que Draco queria. E era perfeito sem ser.
A pele de Harry tinha pequenas imperfeições. Cicatrizes mínimas, outras nem tanto. Draco sabia que cada uma delas contava uma história, não muito diferente da cicatriz que tornava Harry Potter quem ele era para o Mundo Mágico. Mas para Draco, mais importante do que aquela em forma de raio, eram as outras. As que contavam um Harry que ninguém conhecia e que, talvez, somente ele pudesse vir a conhecer. E que talvez, nem mesmo ele um dia pudesse realmente saber quem era. Não importava realmente. Draco suspirou ao sentir um dedo traçar as suas próprias cicatrizes, com um carinho inesperado, cuidado, afeto. Não como se elas fossem máculas, imperfeições. Mas apenas sinais do que eles foram, de quem eles eram.
Draco estava queimando lentamente, tão lento que doía. Ele sempre achara que quando encontrasse algo como o que ele tinha ali, ele fosse queimar tão rápido, tão intensamente que ficaria marcado para sempre. Mas as verdadeiras marcas vinham num processo lento, gradativo, pelo qual agora, olhando para os olhos de Harry enquanto ele preparava Draco – um, dois, três dedos – eles tinham passado. Levara tempo, fora se construindo, conhecendo, aprendendo a querer. Um processo espelhado do desejo que ia se acumulando dentro dos dois. Na mesma velocidade excruciante que Harry entrava em Draco, enquanto murmurava incessantemente o nome do loiro, fazia promessas, entregava um futuro.
Eles se moviam devagar, sem pressa nenhuma, sem objetivo a alcançar. Eles tinham a tarde inteira, o dia, o ano, uma vida até mesmo para chegar ao ponto em comum. Eles poderiam correr, mas isso não mudaria o tempo de chegar ao final. Nada mudaria. Por que, na verdade, de qual final se poderia estar falando?
Os gemidos ecoavam pelas paredes, reverberavam pela pele dos dois, entranhavam em seus corações. Batidas desencontradas, movimentos que procuravam se familiarizar. Não era perfeito. Nada era. Mas era intenso e era único e era bom. Draco gemeu baixinho o nome de Harry, apenas para ver o som ser engolido pela boca do outro. Línguas famintas, mãos incessantes, movimentos ininterruptos.
Talvez, se eles pudessem, eles tivessem ficado naquele mesmo ritmo lento, de conhecer, trocar, receber e dar, para sempre. Mas o desejo é mais forte e a necessidade venceu. Os gemidos tímidos viraram arfadas desesperadas. Os murmúrios se tornaram quase gritos, nomes ditos pela metade, respirações ofegantes. A mão de Harry estava em todos os lugares, empurrando Draco para aquele abismo de prazer que ele sabia estar esperando no fim daquela estrada, mas ele não se importava. Ele queria cair, levando Harry junto.
Harry acabou afundando primeiro, o nome de Draco morrendo no meio de um gemido gutural de prazer. Pouco depois
Draco acompanhou, levado pelas mãos de Harry e pelos movimentos ininterruptos de seu quadril. Ele se arqueou, peito com peito, sentindo o peso de Harry sobre si, o corpo estremecendo de prazer, os lábios entreabertos num gemido mudo, mas não menos verdadeiro.
Os dois ficaram uns tempos quietos, ouvindo as respirações voltarem ao normal, o prazer ir sumindo, enquanto apenas o cansaço e a satisfação ficavam. Harry era um pouco pesado, mas não muito e, de qualquer forma, Draco gostava. Ele envolveu um braço em torno das costas de Harry, a mão repousando espalmada ali, quieta, confortável. Harry se aninhou melhor, o rosto enterrado na curva do pescoço de Draco. Draco descobriu que gostava disso também. Engraçado, como em alguns minutos se podia descobrir mais sobre si mesmo do que durante anos e anos. Um sorriso preguiçoso de espalhou pelo rosto do ex-sonserino, enquanto o sono reclamava seu lugar.
[Harry//Draco//Harry//Draco//]
As semanas que se seguiram foram um misto de alegria e dor. Dor por Rony e Hermione. Harry fora ficar com os amigos ainda naquela noite, deixando Draco no Largo Grimmauld. Harry sentiu-se um pouco mal de ter de deixar Draco sozinho aquela noite, mas o loiro repetiu várias vezes que realmente não se importava de dormir sozinho e que ele detestaria ter de aturar um Harry afundando em culpa, então que era melhor ele ir. Harry foi, não antes de encostar Draco na primeira superfície disponível – que calhou de ser a mesa da cozinha – e beijá-lo até que eles tivessem excitados e ofegantes. Usando toda a coragem Grifinória, Harry foi embora, uma promessa de mais pairando no ar.
Hermione eventualmente se recuperou da perda. Harry sofreu intensamente ao vê-la com os olhos vermelhos, uma expressão de vazio e dor que ele nunca vira antes do rosto da amiga. Para a sorte dela, Harry estava lá, sorrindo, abraçando e confortando. E Rony também. Harry amava a Rony como um irmão, mas depois de ver o amor que ele estava tendo com Hermione, a compreensão e o carinho, ele só podia sentir orgulho. A maturidade que ele estava demonstrando em toda aquela situação era única.
Harry estava grato por ter ele ao lado da amiga e mais grato ainda por ser amigo de Rony.
Os meses correram. Entre sexo por todos os cômodos da casa, o trabalho como auror e seus amigos, Harry podia dizer que a vida era boa. Draco era um excelente amante e uma companhia surpreendentemente interessante. Ele sempre tinha algo a dizer e, quando eventualmente não tinha, havia o sexo para preencher o vazio.
A única parte difícil daqueles meses fora Ginny. Ela não aceitara muito bem o término do relacionamento, muito menos as desculpas esfarrapadas de Harry. Ele não tivera coragem de assumir Draco e o moreno suspeitava que o ex-sonserino tampouco queria que o que eles tinham fosse exposto. Um dia, talvez isso fosse inevitável. Mas agora, eles ainda tinham muito para trabalhar, acertar e conhecer. Não era a hora de lidar com as pressões que certamente viriam.
E tinha o fim da sentença dada aos Malfoy, rondando como uma besta pronta a atacar, uma nuvem de medo constante. Lucius e Narcissa continuavam suas vidas na Mansão, segundo Rony, fingindo que não eram condenados. Harry entendia e, pelo olhar de Draco quando repassou a informação, ele também não estava surpreso coma a atitude dos pais. Era quase previsível e nem um pouco surpreendente.
Os dois sabiam que uma o sonho ia acabar. Que, em algum momento, um oficial do Ministério bateria a porta e diria que a pena estava cumprida. E Harry teria de desfazer o Feitiço. E Draco iria embora.
Pensar nisso doía e Harry preferia se concentrar na maneira como Draco se movia sob si, do que na noção de perdê-lo.
Até lá, ele o manteria junto de si, o mais próximo que pudesse. Porque ficar longe doía demais.
Amor era uma coisa estúpida, pensava Harry.
E machucava. Muito. E ele provavelmente devia abrir mão de toda aquela loucura, cair em si e acordar, mas ele não podia.
E também não queria.
E se o sorriso de Draco ao acordar e ver Harry o observando dormir tinha algum significado, era que ele também não queria.
Independente do que o futuro reservasse, eles estavam juntos. E isso bastava.
[FINIS]
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Aviso Importante:
Eu vou aproveitar que a fic acabou, e sabendo que tem gente que lê Loveless e TMH também e dar umas notícias não muito boas.
Meu laptop deu problema no domingo e fui obrigada a formatar o HD e reinstalar o Windows. Fiz 6 DVDs de backup dos meus dados e reinstalei o sistema operacional. Até aí, lindo.
O problema é que nenhum dos 6 DVDs abrem. Todos eles apresentam falhas de gravação, que eu só posso atribuir a algum vírus que tenha atrapalhado o processo.
Então, é, eu perdi absolutamente tudo que eu tinha. E isso inclui as fics.
Imperfeição não teve problema, porque ela já tinha sido postada no PSF, então eu só tive de copiar de lá e colar aqui (daí os problemas de formatação). Mas o extra chapter de TMH e o novo capítulo de Loveless se perderam.
Eu lamento imensamente que isso tenha acontecido, acreditem, perder mais de 5.000 páginas escritas no extra chapter de TMH é horrível. Eu vou checar nos meus backups mais antigos se eu tenho alguma versão mais antiga do capítulo para salvar o dia e o mesmo vale para Loveless.
Farei o possível para não atrasar ainda mais as postagens, mas levando em conta isso e alguns problemas pessoais pelos quais estou passando, bom, eu só peço a todos um pouco mais de paciência. As fics estão sendo atualizadas com mais regularidade do que o normal, principalmente no período durante o PSF Tournament e eu pretendo manter isso, mas vou precisar de algum tempo.
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Notas e um pouquinho de falação
Notícia ruim dada, continuemos.
Então, essa é a última parte de Imperfeição. Agradeço a todos que me acompanharam por essa pequena viagem.
Um rápido recado: eu vou responder as reviews por logado ou quem deixar e-mail. Não, eu não vou vender seu e-mail pra mandarem spam. É só que aqui já é zoneado o bastante com o meu blábláblá!
O efê efê ponto net estava com o serviço de reply com problemas hoje e assim que normalizar, eu respondo ao pessoal com perfil aqui, ok?
Ah, e eu esqueci totalmente de dizer! Imperfeição tem capa! SIM! Desenhada por mim XD
HTTP : // .com / alis_clow/ pic/ 0001xws1
Só tirar os espaços, galera. Eu não me lembro agora se ela está em F-locked, mas se estiver, dá pra ver a imagem no meu DeviantArt se você tiver profile (http: // alisclow. deviantart. com/) e em último caso, eu usei a mesma imagem pro meu banner de f-locked do meu Livejournal (HTTP: // alis-clow. livejournal. com).
Comentários são amor, viu?
Ah! Tenho uma perguntinha super básica para vocês:
Imperfeição deve ou não ter continuação?
EDIT: Tem uma enquete aberta no meu profile aqui do ff. É só abrir meu profile, tá no topo da página, abaixo do menu. Votem. E DEIXEM COMENTÀRIOS! ºolhar pidãoº
Mais uma vez, muito, mas muuuuuuuito obrigada a todos que leram, deixaram reviews e também aos que não deixaram (mas deixem )! Vocês fazem o meu dia, de verdade! ºsai agarrando todo mundoº\i.i/
E lembrem-se Review é amor!
Kisses e espero ver vocês nas minhas outras fics (porque elas também precisam de amor i.i)!
Alis~~