Segundo e último capítulo... Enjoy :)


Sasuke saiu da cozinha depois de lavar o que precisava e quando foi ao seu quarto, Minato estava ajoelhado no colchão e Mikoto estava meio deitada nos travesseiros. Ele seguiu pelo quarto e sentou na borda do colchão, observando a filha revirar as fotos que uma vez estavam organizadas no baú. Ela tirou uma foto de Sasuke com Itachi. Seu irmão mais velho... Ele semicerrou os olhos de leve. Nunca percebera... Mas sua família toda – exceto os dois filhos – se fora. E um deles, pela sua própria mão. Essa solidão era imensurável. Pegou a foto da mão da filha e deu uma boa olhada na imagem. Itachi havia acabado de dar um empurrãozinho na testa de Sasuke como sempre fazia e ela estava ligeiramente marcada. Itachi não sorria, mas olhava o irmão com olhos sorridentes, isso dava para ver. Já Sasuke fazia um bico de descontentamento.

- Otoosama, quem é esse?

Minato cerrou os olhos.

- Nii-san. – Disse Sasuke com uma voz meio incerta. Não chamava Itachi assim há anos. Não sabia porque aquelas palavras escaparam-lhe por entre os lábios, mas foi uma sensação boa.

- Ojisan?! – Mikoto pegou a foto da mão de Sasuke mais uma vez e deu uma boa olhada. – Ele era tão bonito. Parecido com você, otoosama.

Ele tirou a foto da mão de Mikoto e pôs de lado. Não queria ter que falar de Itachi. Falar de Naruto para ela já era dor o suficiente; imagina explicar o fato de ter matado o próprio irmão. Além do mais, não queria que a filha achasse que ele era completamente insano. Era uma história longa e complicada demais para ser explicada agora.

- Mikoto... – Sasuke coçou a cabeça. – Já está na hora de ir dormir. Eu conto a história para você outro dia, ok?

- Demo otoosama! – Mikoto fez um bico. – Você prometeu que ia contar agora!

- Eu vou contar, mas não agora... Por favor, vá dormir, você tem aula amanhã cedo.

- Otoosama – ela choramingou. – Eu posso, pelo menos, ficar com essa foto minha com o papa-san? – E sacudiu uma foto de Naruto com ela no colo, o dedo indicador no queixo da pequena bebê que ria bastante. Sasuke assentiu. – Arigato! Promete que conta amanhã?

- Hai. – Sasuke suspirou. – Agora vá dormir, sim?

- Oyasumi nasai, otoosama! – Mikoto beijou o rosto de Sasuke e saltou da cama, caminhando para fora do quarto depois de dar um beijinho na bochecha do irmão também. Houve um silêncio entre ele e Minato, e o garoto levantou da cama, parando na frente do pai, com a cabeça meio baixa.

- Você devia contar a verdade a ela.

- Qual verdade?!

- QUE VOCÊ DEIXOU O PAPA-SAN MORRER! – Minato exclamou num tom muito mais alto do que deveria e depois, reprimiu-se tapando a própria boca. Os olhos azul céu estavam marejados e Sasuke respirou fundo para não ficar nervoso. Odiava aquela afirmação ridícula que Minato fazia sobre a morte de Naruto. E odiava não poder contar a verdade para ele. Era para o próprio bem dele, afinal. Ou ao menos era o que Sasuke achava...

- Você não sabe de nada, Minato.

- Eu sei que o papa-san não está mais aqui porque você não salvou ele.

- Minato... – Sasuke lançou ao filho um olhar repreensivo. Estava sério e visivelmente aborrecido com a forma como o garoto falava com ele. – Você não tem o direito de tirar conclusões sobre o que houve naquela tarde... Não tem o menor direito disso. Agora vá deitar, você também tem aula amanhã cedo. E tem que levar sua irmã porque eu tenho que ir a uma missão às cinco, então eu preciso dormir. – Minato deu as costas ao pai e antes que fechasse a porta, a voz de Sasuke irrompeu o quarto mais uma vez. – Minato. – Ele chamou. Minato espiou por cima do ombro. O pai estava deitado na cama, com a cabeça em cima das mãos. Parecia pensar em alguma coisa. – Eu espero que você não me odeie por isso.

Minato não respondeu. Apenas deu um passo para fora do quarto, e fechou atrás de si, deixando o pai sozinho. Sasuke não esperava uma resposta, mas sabia que ele ao menos havia ouvido. Um dia ele ia entender... Ia.


- MINATO-KUN! MINATO-KUN! – Uma voz feminina invadiu a casa dos Uchiha quando Minato esquentava água para fazer um lámen instantâneo para a irmã jantar. Ele correu para fora da cozinha e deparou-se com uma figura magra e morena, que ele não conhecia, mas que pelo jeito, conhecia ele. – Minato-kun! – A moça aproximou-se. Estava encharcada; chovia muito lá fora, coisa que não era normal, afinal estavam no outono. Minato franziu a testa e deu uns passos para trás quando ela chegou perto. – Meu nome é Ayame. Eu faço parte do time ANBU do seu pai.

- Otoosan? – Minato repentinamente, interessou-se. – O que a senhora está fazendo aqui? Aconteceu alguma coi...

- Hai. Apresse-se e pegue sua irmã, estamos indo agora.

- Mas pra onde?!

- SÓ VÁ. Não tenho tempo para explicar.

- Hai. – Minato adiantou-se e correu para o quarto da irmã; irrompeu a porta e a menina estava deitada na cama, considerando que tinha medo de trovões e estava uma chuva muito forte. – Imouto. Temos que ir. Tem uma moça aqui e...

- Demo nii-san! Eu tenho medo dessa chuva... Eu não quero sair.

- Eu vou estar com você, Mikoto. Eu prometo que nada vai te acontecer. Agora venha, estamos com pressa.

- Obachan? – Mikoto levantou da cama e Minato praticamente arrastou ela, com pressa. Assim que voltou para a sala, Kazume estava extremamente impaciente e virou-se imediatamente quando eles chegaram. – Obachan? O que está acontecendo? Nii-san... – Mikoto agarrou-se à blusa que Minato vestia e ele a pegou no colo.

- Mikoto-chan... – Ayame franziu a testa parecendo infeliz. – Eu sinto muito... Vai ficar tudo bem.

- Na... Nani? – Minato gaguejou. Aquilo não soava coisa boa. Definitivamente.

- Só apressem-se.


Eles correram todo o caminho na chuva. Quando chegaram ao seu destino – o Hospital de Konoha – Mikoto estava extremamente assustada e tremia de frio. Minato jogou a jaqueta que estava usando em cima dela e ela cobriu-se, seguindo Ayame que andava a passos rápidos pelos corredores. – Não me diga que... – Minato hesitou em continuar. Não gostava nem de pensar nessa probabilidade. Não... Não seu pai. De novo, não.

Ayame parou em frente a uma das portas e apertou os lábios com firmeza. – Minato-kun. Mikoto-chan. Por favor... Fiquem calmos...

- NÃO TENHO CALMA, EU QUERO VER MEU PAI IMEDIATAMENTE!

A moça apenas ergueu os ombros como se tivesse levado um susto. Assentiu e empurrou a porta do quarto; Sasuke estava deitado na cama e, aparentemente, gravemente ferido. Seu nariz estava ligado a um tubo de oxigênio e um de seus olhos estava tapado. Provavelmente também foi machucado ali. Minato correu até a cama após Ayame fechar a porta e ficar para fora, e agarrou o braço de Sasuke. – OTOOSAN! OTOOSAN! O que... O que... Otoosan...

Mikoto sequer conseguiu aproximar-se.

- Minato... – Sasuke falou com uma voz extremamente rouca e falha. – Onde está... A sua irmã...?

- Mikoto, Mikoto, venha aqui, venha. – Minato agachou-se e chamou Mikoto com as mãos, e a menina aproximou-se lentamente. De repente tudo fazia sentido na cabeça do garoto. A chuva fora de época. O prato que quebrou na cozinha... Era tudo um mau-presságio. Merda. Como ele não havia percebido antes. Assim que Mikoto chegou perto do irmão, ele a pegou no colo rapidamente mas a menina recusou-se a olhar para o pai. Parecia temer a imagem que possivelmente poderia ver. Não era ruim, verdade seja dita, afinal ele não estava sujo ou estourado, mas estava pálido e com o olho tapado e o tampão estava avermelhado nas bordas.

E ele nem queria imaginar o que possivelmente o lençol cobria do corpo do pai.

Sasuke esticou um dos braços com certa dificuldade e pegou o braço da filha, que se assustou à princípio mas olhou para o pai em seguida. – OTOOSAMA! – Ela exclamou escorregando pelos braços de Minato e caindo em cima da cama. Jogou-se sobre o pai e o agarrou com força no pescoço. – Otoosama, o que aconteceu com você, por que você está assim? Otoosama! – Minato a puxou pelos ombros, afinal Sasuke retorcia o rosto de dor por causa do peso que Mikoto exercia sobre seu corpo. Quando eles se afastaram, ele encarou os olhos de esmeralda brilhantes da filha e piscou o olho de leve.

- Mikoto... Eu queria... Contar uma coisa a vocês. – Sasuke olhou os filhos com a pálpebra meio caída e respirou fundo.

- Otoosan, o que aconteceu com você? Por favor...

- Minato, isso não importa agora... Mas eu estou partindo. – Ele afirmou num tom mais ou menos entristecido. – Eu quero... Esclarecer...

- Otoosan, não seja besta, você não está partindo para lugar nenhum, nem devia falar agora, eu...

- Minato. – Sasuke disse com aquela voz mais firme do que o costume. – Me ouça.

- Hai...

- Minato, você sabe que o Naruto faleceu... Praticamente diante dos meus olhos... Mas a sua idéia sobre esse acontecimento, é extremamente equivocada... Eu nunca deixei ele morrer... Ele me obrigou a deixar... – Sasuke interrompeu-se, de repente sentindo um nó na garganta, uma dor aguda horrível e não pôde interromper o pranto. Minato sentiu o coração doer. Jamais vira o pai chorando. Jamais. – Se eu não o fizesse... Você... Morreria... Eu quis ajudar ele, eu quis de verdade, mas ele me obrigou a te trazer de volta para Konoha. Você estava ferido, inconsciente... Eu queria... Eu queria tanto...

- Na... Nani...? – Minato gaguejou, pestanejando. Nem conseguia raciocinar direito tentando digerir a informação. Mikoto prestava atenção nas palavras chorosas do pai. – Otoosan...

- Ele se sacrificou pra eu te salvar, Minato... – Sasuke chupou o nariz. Era um fim de tarde que ele, Naruto e Minato voltavam de um passeio qualquer que faziam pela floresta e inimigos os atacaram. Nem Sasuke nem Naruto previram isso, afinal não estavam preocupados com isso em especial... Foi uma luta difícil e longa e Minato foi ferido diversas vezes. Ele tinha uma cicatriz nas costas para comprovar. E eventualmente, Minato estava assustado, machucado e com a respiração falha, e Naruto obrigou Sasuke a levá-lo para Konoha. Não queria saber de desculpas. Dizia que poderia se virar sozinho, mas que Minato precisava de cuidados especiais. E que jamais iria perdoar Sasuke se ele deixasse algo acontecer ao seu filho.

E no mesmo dia, Naruto morreu lutando, mas levou todos os inimigos consigo.

E deixou Sasuke e Minato sozinhos... Sozinhos. Sasuke chorou mais do que jamais havia chorado em sua vida naquela noite.

- Então a culpa foi minha... – Minato resmungou. Ele tinha lágrimas nos olhos e escorrendo pelo rosto.

- Não. Não foi... Por isso eu nunca contei a verdade a você. Eu sabia que se culparia. Mas eu não posso ir embora deixando você achar que eu deixei o Naruto morrer... Eu jamais faria isso, Minato... Mas eu tive que te proteger. – Sasuke fechou o olho visível e respirou fundo, engolindo as lágrimas. Respirar estava difícil e os seus batimentos cardíacos não estavam lá os mais regulares. Era só uma questão de tempo... – A culpa foi de quem nos atacou.

- Mas eu insisti para irmos naquela tarde! O papa-san não queria, lembra? – Minato soltou a irmã, que se ajoelhou na cama com a testa ligeiramente franzida. Estava confusa, mas tentava ao máximo prestar atenção. Minato tinha lágrimas nos olhos azul-céu e Sasuke parecia forçar a própria mente para manter-se acordado. Estava muito mais do que claro que o garoto começava a sentir-se extremamente culpado pela morte de Naruto.

- Minato, não se culpe, a culpa não foi sua, o que você poderia ter feito? Estávamos eu, ele e você contra várias outras pessoas e você era apenas um menino... Por favor, eu quero ir com a certeza de que você não vai chorar por culpa.

Minato calou-se. – Você não... De novo não, otoosan!

O garoto segurou a mão do pai e Mikoto se arrastou pela cama, deitando a cabeça sobre o peito de Sasuke e abraçando o que conseguia da cintura dele com gentileza, coisa que não causou dor no Uchiha. Sasuke piscou o olho pesadamente tentando com todas as forças focar a imagem de Minato, mas simplesmente sentia sua mente esvair-se como estivesse prestes a pegar no sono e não conseguisse controlar.

- Eu acho que nunca disse isso... – Sasuke relaxou os músculos. – Mas eu amo vocês.

Minato estremeceu. – Otoosan! OTOOSAN! – O loirinho sacudiu o braço do pai, mas foi em vão; os olhos de Sasuke cerraram-se e o piiiiii da máquina invadiu os ouvidos dos irmãos.

Sasuke se fora.

Mikoto ergueu a cabeça e encarou o rosto encharcado de lágrimas de Minato que, apesar do choro, não fazia um barulho sequer. – Nii-san... O que houve? – Ela encostou o ouvido no peito do pai e olhou para o irmão. – Eu não escuto mais o coração do otoosama bater forte como de costume... – E só nesse momento Minato afogou-se em lágrimas ruidosas.


Cinco anos depois

O vento soprava forte naquele fim de tarde quente. Minato caminhava pelos corredores do cemitério de Konoha e Mikoto vinha alguns passos atrás, de mãos dadas com o irmão. Minato já tinha 17 anos e Mikoto, dez – eles estavam vivendo com Haruno Sakura desde algumas semanas após a morte de Sasuke; ao contrário do que o Uchiha pensava, ela não sentia ódio algum dele. Muito pelo contrário. Mikoto observava o local com seus olhos atentos e Minato apenas encarava o chão, como costumava fazer quando iam àquele local. Era o dia do aniversário (de nascimento) de Sasuke e ele trazia na mão um buquê de girassóis. Quando eles alcançaram o túmulo que Sasuke dividia com Naruto, Minato largou a mão de Mikoto e pôs-se a fazer o processo que fazia sempre; limpar o vaso que ficava preso ao túmulo, encher de água e colocar novas flores.

- Nii-san – Mikoto engatinhou pelo túmulo até parar na frente das fotos deles, uma ao lado da outra, mas separadas. Naruto sorria piscando o olho direito, cobrindo-o com um V nos dedos. Sasuke, por sua vez, estava sério encarando a câmera como se fosse tirar uma foto para algum registro ou algo assim, mas seus olhos brilhavam sorridentes. – Por que o otoosama sempre era tão sério? Ele era assim antes de o papa-san morrer?

- Sim – Minato agachou-se diante de uma torneira para encher o vaso com água. – Papa-san uma vez me contou que o otoosan era muito solitário. Sua família foi toda assassinada, os Uchiha... – O loiro levantou-se e caminhou de volta até o túmulo, separando os girassóis dentro do vaso, e depois jogando ramos verdes para preencher o pouco espaço vazio. – Mesmo depois de eles se conhecerem, ele era muito fechado e só mudou um pouco sua personalidade após alguns anos. E depois que o papa-san morreu... – Minato escorregou o dedo por uma pétala de girassol. – Otoosan passou meses recluso, nem eu conseguia falar com ele direito, mas você era muito pequena para lembrar. Só depois de você dizer suas primeiras palavras é que ele voltou ao... Normal?

Mikoto soltou um "hummm" e saiu de cima do túmulo. Minato esfregou os olhos azul-céu e respirou fundo, sem perceber que Mikoto havia se afastado dele e corria para trás do túmulo.

A menina olhou para cima e tinha a perfeita visão de Naruto e Sasuke e os dois estavam de braços dados, e ambos sorriam para ela. Era como ver os dois com uma luz branca cegante invadindo-lhe os olhos, vindo por trás do corpo dos dois. Ela abriu a boca para falar, mas Naruto fez um sinal para que ela se calasse e prontamente, Mikoto obedeceu; ele baixou a mão para encostar no rosto dela, mas a única coisa que Mikoto sentia era uma forte presença espiritual, não um toque. Os olhos da menina pestanejaram.

- Mikoto, vamos indo.

Ela virou o rosto para olhar o irmão e quando voltou para onde Naruto e Sasuke estavam, já não havia mais nada ali.

- Nii-san, o papa-san e o otoosama... Eles...

- O quê?

Ela lembrou-se do sinal que Naruto lhe fez para que não falasse nada e suspirou, mordendo o lábio inferior. – Eles se amavam muito... Tenho certeza que eles estão juntos agora.

- Eu sei. E eles nos amavam muito, também... Eu só queria que o otoosan soubesse que eu não nunca senti raiva dele... – Minato fechou os olhos e respirou fundo. – Mas eu creio que ele saiba disso.

- Tenho certeza que sabe! – Mikoto agarrou a mão de Minato. – Agora vamos... A Sakura obachan deve estar preocupada. Ja ne, otoosama, papa-san! – Mikoto acenou para o vazio e arrastou Minato, que cambaleou enquanto tentava olhar para trás para ver se via algo que Mikoto possivelmente era a única que podia ver.

- Mikoto...

- Sim?

- O otoosan tinha razão quando escreveu isso no epitáfio do papa-san.

- O quê? – Mikoto franziu a sobrancelha de leve e olhou para Minato por cima dos ombros.

- É horrível amar algo que pode ser tocado pela morte.

Mikoto parou de andar e encarou os olhos do irmão.

- Não se preocupa, nii-san. O amor dos dois superou a morte.

Minato pestanejou e um vento frio gelou seu corpo de uma hora para outra, tomando o lugar do vento abafado de antes e essa corrente gelada logo se dissipou. Ele respirou fundo e encarou a irmã, que olhava para ele com um meigo sorriso nos lábios.

- É... Eu posso sentir.


Final triste, eu sei; mas eu gostei muito dessa fic, espero que vocês também tenham gostado. Mandem reviews, please. ;)