Capítulo 12

Juntando os Cacos

Hermione entrou no café e observou ao redor, sabia bem o que precisava fazer, o que falar e ir embora.

Após tanto tempo, tantos meses de mensagens, corujas e telefonemas rejeitados de Ron e dos Gêmeos, ela finalmente aceitara ouvir Ron.

Relaxou o casaco no corpo, observando todas as mesas até encontra-lo. Vários copos e canecas flutuavam, chegando até suas mesas e Hermione respirou fundo para se aproximar da mesa. Ron se levantou e esperou-a se aproximar para sorrir, mas ao ver que ela sorria brevemente e de forma não muito convincente, deixou seu sorriso morrer.

-Oi.

Disse ela baixo e sentou-se de frente para ele. Ron fez um aceno com a mão e dois cafés com açúcar e creme flutuaram até a mesa deles. Ele se sentou e olhou firme nos olhos de Hermione, vendo que ela olhava os cafés com interesse.

-Hermione… você está diferente.

Ela sorriu enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha, seus olhos firmes nos dele agora. Precisava que ele falasse o que era e pronto, precisava colocar esse ponto final.

-Alguns meses sem nos vermos… faz diferença. - Tomou um gole de seu café e esperou.

-Faz… - Ron tomou um gole de seu café e a olhou. - Hermione, eu sei que não quer falar sobre isso, mas… eu preciso mesmo que entenda…

Ela levantou a mão fazendo Ron parar e sorriu devagar, olhando seu amigo. Sabia bem que precisava falar com ele ou ele continuaria a desculpar-se e a falar de coisas que ela não queria ouvir. Não mais. Não novamente.

-Eu entendo. - ele prendeu a respiração e Hermione tratou de continuar, o mais baixo possível - Entendo você, seus irmãos, Ginny, Harry e tudo o que houve. Perdoar é algo diferente, mas… eu entendo.

-Apenas pensei em você e em tudo que poderíamos… Você sabe…

Sim. Ela sabia, mas apenas balançou a cabeça e sorriu fracamente.

Ron encheu os pulmões. Ela percebeu que ele tinha mais algo a falar, mas ao mesmo tempo não sabia se queria ouvir. O viu deixar o ar sair do pulmões, e recostar-se na cadeira, os olhos esquadrinhando os dela a procura de algo.

Tomou mais um gole de seu café, vendo que ele ainda pensava seriamente sobre o que queria falar. Conhecia Ron bem demais, e agora com tudo que estava de volta em sua mente, Hermione sabia que Ron iria dizer algo sobre os irmãos.

-O que houve?

Ron ainda debateu alguns segundos se deveria dizer algo. Decidiu por sim.

-Os negócios vão mal. – O assunto ficou suspenso por um momento, Ron esperando que ela falasse algo. – Precisam de você.

Ela fez um movimento de displicência com a mão.

-Precisam de um administrador, Ron. Não precisa ser eu.

-É o que eles pensam também, por isso não querem pedir sua ajuda. Não acham certo te envolver num problema deles... Mas eu sei que se importa e que iria reclamar caso não a avisassem do que está acontecendo.

Ela o olhou de rabo de olho.

-É tão grave assim?

-Não tenho certeza. Mas sei que algumas coisas estão em atraso e o novo administrador diz que não tem dinheiro.

Ela levantou a sobrancelha esquerda, desconfiada.

-Como não tem dinheiro, a empresa tinha um fundo de reserva razoável, não tem como eles terem usado tudo nesse ano que eu fiquei afastada.

Ron balançou a cabeça em negativa. Tomou outro gole de café.

-Se você ao menos pudesse olhar as contas... Não precisa voltar, mas, sei lá, uma auditoria no serviço do cara. Você saberia se ele está mentindo ou não.

Hermione suspirou profundamente.

-Não quero encontra-los. – respondeu com sinceridade.

Ron acenou em positivo.

-Posso arranjar para que isso não aconteça.

Ela sorriu.

-Então eu ajudo. – tomou outro gole da própria bebida enquanto achava graça da cara animada que Ron fez – Agora me diga, como está tudo?

Olhou para o relógio e suspirou penosamente. Estava na hora. Entrou dentro das lareira e desapareceu em meio a chamas após dizer o endereço da antiga casa.

Como combinado, Ron intermediou sua ida ao apartamento dos gêmeos, eles prometeram que não estariam presente, ou apareceriam de surpresa. Ela aceitou porque sabia, seria um transtorno tentar avaliar as contas da empresa em outro lugar, tinha certeza que faltaria documentos, perdidos no que eles chamavam de Organização Weasley, (que basicamente consistia em colocar papéis em lugares onde não deveriam estar e esquecer disso posteriormente). Chegou a ter pena do atual administrador quando lembrou disso, certamente ele tinha dificuldade para saber exatamente o que acontecia.

Se surpreendeu por ter alguém lhe esperando na sala quando apareceu. Não era um dos seus ex, não havia sardas, nem cabelos avermelhados. Era um rapaz novo, de pele morena e cabelos tingidos de uma coloração chamativa. Usava um crachá que lhe ajudou a identifica-lo antes mesmo que se apresentasse.

-Senhorita Granger, bom dia. – ela acenou em cumprimento – Sou Jonh Farrel, o seu George e o seu Fred me pediram para te esperar e ajudar no que for preciso. – ela deu uma levantada de sobrancelha questionadora e o rapaz pareceu ficar incomodado com isso – Eles... Estão ocupados na loja. – disse, se desculpando. Ao que parece ele achava muito estranho ter recebido a incumbência de receber alguém no apartamento dos chefes. Certamente isso nunca tinha sido parte de suas funções.

-Entendo. – ela fingiu compreensão. Deveria estar aliviada dos rapazes terem cumprido o acordo, mas lá no fundo, estava decepcionada.

Olhou ao redor enquanto dava mais passos para dentro da sala.

O local estava menos bagunçado do que esperava, mas estava bagunçado. Casacos onde não deviam estar, a lateral da porta servindo de sapateira. Escovas de dentes em potes esquecidos na estante da sala.

O único lugar que parecia arrumado em meio a bagunça era o sofá, que ficava de frente para uma mesinha de centro coberta por papéis. A imagem destoava tanto do ambiente como um oásis no meio do deserto.

Com um olhar rápido por cima, ela reconheceu as contas. Eram os papéis que ela deveria analisar.

Eles havia organizado o lugar para que ela trabalhasse.

Estranhou.

Por que não a deixar olhar os papéis no escritório? Afinal, é para isso que eles tinham um escritório na casa.

-A senhorita gostaria de alguma coisa? Um chá, um café?

Hermione voltou a olhar para o rapaz, percebendo, finalmente que ele ainda estava ali.

-Não, obrigada, pode ir para a loja, eu me viro sozinha agora. – sorriu, ou tentou sorrir. E, percebendo que o rapaz não se movera, apesar do seu comentário, questionou – O que foi?

-É... é que... – ele gaguejou – Os chefes disseram que era pra eu ficar aqui e lhe ajudar, no que precisasse...

Hermione estreitou os olhos para o jovem, que pareceu se intimidar com o movimento.

-Não preciso de ajuda.

-Sim, mas... Eles... Disseram que não era para deixar você sozinha.

Ok, era oficial, eles estavam escondendo algo. E agora ela queria saber o motivo.

Outra mulher? Com certeza.

O sangue ferveu lhe por dentro e ela não conteve o impulso de seguir corredor a dentro, para o quarto que um dia foi dos três.

Jonh seguiu no seu encalço falando coisas que ela nem se quer escutou. Provavelmente algo como "não pode entrar ai".

Impressionante a quantidade de coisas que passou pela sua cabeça nos poucos metros que caminhou até a porta do quarto.

Como podiam ter outra mulher? Quantas vezes cansaram de lhe dizer que ela era a única! Estavam juntos com a mesma, como faziam com ela? Ou será que algum deles estava namorando? Ou os dois, mas duas mulheres diferentes? Ou eram mais de uma para cada um? Ou, ou, ou... Ela precisava de respostas para esses "ou", com urgência.

Meteu a mão na maçaneta e a abriu, certa de encontrar um ambiente de orgia recém-praticada. Ou talvez a própria orgia acontecendo.

Mas o que encontrou a surpreendeu mais do que qualquer uma das hipóteses que tinha elaborado no curto espaço de tempo. O quarto estava intacto e vazio. Exatamente igual ao que ela havia deixado há quase um ano.

Limpo e organizado, a cama com a sua roupa de cama preferida, as fotos que ela não levou consigo ainda nos porta retratos. Tudo organizado em seus devidos lugares e... Sem vida.

Parecia que ninguém morava naquele quarto.

Abriu o armário apenas para confirmar o que já imaginava, estava vazio e, por um instante se perguntou se os gêmeos havia se mudado.

Piscou algumas vezes diante da imagem enquanto ouvia alguma exclamação de Jonh.

-A senhora não pode entrar ai...!

Ela o ignorou novamente, saiu do quarto e abriu o banheiro. Estava bagunçado, como a sala. Havia indícios de que alguém morava ali, diferente do quarto principal. Então, empurrando o jovem que teimava em ficar em seu caminho para o lado, ela foi até o escritório e o abriu.

Ou tentou abrir.

A porta estava trancada.

Bufou e puxou a varinha. Fez um feitiço para destrancar e tomou um leve choque de retorno, o contra feitiço deles. Tentou outra coisa, novo choque.

-Moça, por favor... – choramingava Jonh atrás dela – Eles vão me matar.

Ela voltou-se para ele irritada. Os olhos faiscando de raiva.

-Sinceramente, eu não me importo.

E dizendo isso fez novo feitiço, e, esse sim, destrancou a porta sem dificuldade.

Vendo que ela conseguira entrar no ultimo reduto dos chefes, Jonh desistiu de tentar impedi-la e, ao que parece, resolveu avisa-los, já que saiu para a sala, em direção à porta que daria para a loja.

E ela não se importou. O que encontrou dentro do escritório era bem mais interessante e elucidativo.

Tudo estava revirado, roupas, colchões, sapatos, revistas, lenções, cobertas, travesseiros.

Deu alguns passos para dentro e sentiu o cheiro característico de pólvora.

Havia comida espalhada, pedaços de pizza que certamente tinham sido consumidos ontem, fagulhas de biscoitos... Ela se perguntou mentalmente que tipo de alimentação os gêmeos estavam tendo.

Deparou-se com a resposta a encara-la da porta do quarto, em duas feições igualmente bonitas, mas bem mais magras e com olhos envoltos em olheiras profundas.

O cabelo de ambos estava bagunçado, ou melhor, mau penteado. As roupas amassadas, típicas de tecidos que não foram passados antes de serem vestidos.

Seu coração mal teve tempo para se apertar ao vê-los após tanto tempo, sua preocupação saltou na frente.

-O que aconteceu aqui?

Houve um curto silencio antes que eles se pronunciassem.

-Não sabemos...

-...explicar.

Disse um e depois o outro e deram de ombros juntos.

-Por isso trancamos...

-...a porta. – Fred deu um passo para dentro do cômodo e continuou – Para que você...

-...Não se preocupasse. – George fez o mesmo, antes de concluir – Estamos bem.

-Bem? Vocês chamam isso de bem? – ela abriu os braços como que se referindo a bagunça do ambiente.

Os dois acompanharam o movimento, com os olhos. Depois se encarara, deram de ombros de forma sincronizada e voltaram-se novamente para ela.

-Sim. – falaram em unissom.

Hermione levou a mão a têmpora, tentando conter o acesso de raiva que teria. Os dois eram adultos, sabem se cuidar. Ela não devia se meter nisso, nem se importar.

-Por que não estão dormindo no quarto? – voltou a encara-los e a forma como o olhar deles se anuviou a fez entender o motivo sem segundos.

-Só tem... – começou Fred.

-...uma cama. – concluiu George.

Ela cruzou os braços, numa forma de se proteger da sensação quase magnética que seu corpo tinha a proximidade dos dois. O comentário deles era uma direta alusão ao fato de que eles não dormiam juntos, e sim com ela.

-O quarto é de vocês, poderiam ter trocado a cama por duas.

-O quarto não é nosso... – Fred fez sinal com a mão apontando dele para o irmão.

-...É nosso. – concluiu George, incluindo ela na indicação que fazia com o dedo, girando-o no ar – Não vamos mexer em nada.

-Ele vai ficar como está.

Ela respirou fundo antes de mudar o assunto, optando por ignorar o comentário de George.

-Bom, eu viu olhar as contas, estão na sala, não é? – eles concordaram simultaneamente – Certo, vamos para lá.

E passou pelos dois, ainda de braços cruzados, seguindo para o primeiro cômodo. Os gêmeos foram atrás.

-Prefere que nós...

-..nos retiremos? – perguntaram enquanto ela sentava no sofá – Rony disse que...

-...Você preferia não nos ver.

Ela fez que não com a cabeça, enquanto puxava os primeiros papéis da montanha.

-Já nos vimos... E vou precisar perguntar algumas coisas para vocês de qualquer forma.

O rosto dela estava duro, impassível. Ela não havia dado nenhum sorriso desde que os vira. Os irmãos se encararam, enquanto decidiam mentalmente se enfrentariam a bateria de perguntas ou não. Acenaram em positivo e se sentaram nas poltronas próximas.

Fariam qualquer coisa para ficar um pouco ao lado dela, mesmo que isso fosse aturar uma sabatina sobre as contas da loja.

Ela voltou os olhos enfezados para os dois.

-Onde esta o fechamento do ultimo mês?

-Ah... – George indicou a pilha com a cabeça – Acho que ai.

Ela fechou os olhos e soltou um leve bufar. Mexeu em alguns dos papéis, levantou um deles que estava todo manchado do que parecia ser café. Outro, chamuscado.

Olhou-os mais brava.

-Como o administrador de vocês trabalha? É impossível se achar nessa bagunça.

-Foi o que, o anterior disse... – comentou Fred.

-...E o anterior do anterior... – ponderou Gerorge.

-E o que veio antes desse ai... – tornou Fred mais uma vez.

E quando George já abria a boca para, provavelmente, disser que "o anterior do que veio antes desse também", ela os cortou perguntando quantos administradores já haviam passado pela loja.

Fred fez uma das caras pensativas engraçadas deles, colocando o dedo no queixo.

-Algo entre seis e... vinte? – perguntou ao irmão que concordou com a cabeça, lhe imitando a expressão.

Se ela não estivesse tão irritada, teria rido.

-Vinte?! Como conseguiram ter vintes administradores em menos de um ano?

-Ah, bom... Alguns nem chegaram a aceitar o trabalho...

-...quando viram a situação em que deixamos a papelada.

Ela olhava incrédula de um para o outro.

-Como conseguiram chegar nesse ponto? Eu tinha tudo organizado.

George respondeu enquanto Fred dava de ombros.

-Quando você entrou em coma, largamos a loja a deriva. E ai, você acordou e...

-...Precisamos mudar tudo as pressas.

-Para me enganar. – ela disse.

Fred tomou a frente da explicação.

-É. Para lhe enganar. Foi isso mesmo que fizemos, afinal. – deu de ombros novamente, tentando esconder o tanto que doía admitir isso - Fomos para o escritório às pressas e... Acabamos estragando o que você tinha arrumado... Como tudo que botamos a mão. – suspirou.

Ela reconheceu a sensação de impotência que tanto o feria por dentro, estampada nos olhos dele.

-Você são grandes criadores e donos de uma loja de muito sucesso. – ponderou – Não acho que estragam tudo que colocam as mãos. – desviou o olhar, para não parecer que o comentário tinha conotação sexual.

-Uma loja quase falida, agora. – completou George.

-Daremos um jeito nisso. – ela respondeu firme – Já organizei a bagunça de vocês uma vez, posso fazer de novo.

Levantou-se, parecendo decidida. Eles acompanharam o gesto.

-Está dizendo que...

-...Está reassumindo a administração da empresa?

-Sim. Se vocês me quiserem de volta, é claro.

Os dois sorriram.

-Sabe que queremos você de volta. – disse Fred, e o olhar intenso que ele lhe deu, fez com que Hermione se desconcertasse.

-Bom, acho melhor eu ir... – ela desviou o olhar e puxando a varinha. Iria minimizar a papelada, coloca-la no bolso e ir para casa, analisar tudo.

-Não quer conversar com o administrador atual? – perguntou George com certa urgência – Podemos chama-lo.

Ela voltou a encara-los, incerta.

Estava difícil ficar próxima. Muito difícil.

Queria ajudar, mas não queria que eles entendessem isso como um recomeço... Não queria que seu coração entendesse assim também.

-Estamos com a loja cheia, - continuou o ruivo – Você teria tempo para tirar as duvidas com ele enquanto atendemos lá em baixo...

Ao que parece ele percebeu o seu incomodo, sorriu agradecida por isso.

-Certo, então, se ele puder vir agora eu espero.

Os rapazes sorriram em concordância e ela também.

Era bom estar de volta a ativa.


E estamos de volta!

Um comentário nos fez reavivar a fic, por isso, não subestimem seus comentários, isso pode trazer os mortos de volta a vida!

Então, comentem!

=]

Mira e Fla