Nota introdutória: Esta é uma fic que foge um pouco do meu estilo. No principio não estava muito entusiasmada com ela, mas agora que a acabei de escrever axo umas das minhas mais apaixonantes fics até agora.

É uma fic que classificaria como leve, meio infantil, com alguns lapsos temporais e meio desligada dos acontecimentos descritos pela JKR ao longo da saga HP. Esta ideia surgiu há cerca de três ou quatro anos quando um amigo francês me falou de um filme chamado "Jeux d'enfants" ou em inglês "Love Me If You Dare".

A ideia , que acabou por passar longe da ideia do enredo do filme, ficou esquecida durante todo este tempo num documento de word e está agora disponível em forma de fic D/G para quem a quiser ler. Espero que gostem!!

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Não eras capaz de…

. . . PART ONE . . .

Qualquer um de nós já respondeu a um desafio, fosse ele grande ou pequeno. Também todos já se recusaram, por um motivo ou por outro, a ser desafiados. Mas a afirmação 'Não eras capaz de…' não os intimidava, nem por um segundo, não sendo eles uma Weasley e um Malfoy. Só que nem por um segundo também eles imaginaram que uns desafios entre equipas de Hogwarts e famílias se ia arrastar durante tanto tempo.

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Maldita coruja! Maldito animal que bicava a janela de vidro do seu dormitório e não a deixava dormir! Nem no Natal! Natal!

Levantou-se de rompante, atirando as cobertas para o chão, e correu até à janela. Logo Errol, a velha coruja da família, entrou acompanhada por outras duas corujas e pousou um grande embrulho nos seus braços.

Desceu as escadas, de pijama e descalça, levando nos braços não só o pacote que acabara de receber como os outros que já estavam aos pés da cama – presentes das amigas e do Trio.

"-Também recebeste Gin-Gin?" – Ouviu o irmão gritar, também ele de pijama e descalço.

Ela respondeu atirando os presentes para a carpete da sala comum.

"-Bom dia Harry, Mione." – Eles assentiram – "Ao contar de três. Um, dois… três!!" – Gritou rasgando o papel dos embrulhos com uma rapidez incrível.

Em menos de dois minutos tinha à sua frente, entre outras coisas, os habituais doces e sweater Weasley mandados pela mãe, um livro raro sobre dragões extintos do Charlie, um fio com um pendente estranho mandado pelo Bill, um saco púrpura cheio de travessuras dos Gémeos, uma Quaffle do Ron, um livro sobre elfos domésticos da Hermione e uma bonita caixa dada pelo Harry que ela ainda não sabia o que continha.

"-O que é Harry?" – Perguntou enquanto tentava captar todos o detalhes da caixa brilhante. Era de tamanho médio, um pouco pesada, de prata ou algo 

parecido, com muitas pedrinhas coloridas e brilhantes a formarem desenhos de flores, que se moviam magicamente de um lado para o outro.

"-Abre e vê." – Disse meio divertido, sabia que ela ia adorar o presente.

"-Uau!" – Não sabia do que gostava mais, se do aspecto da caixinha por fora se do seu conteúdo. Lá dentro, envoltos na melhor seda vermelha estavam uma série de bombons de chocolate, tão lindos que ela sentia pena perante a possibilidade de os comer.

"-Prova um."

"-Oh Harry, são tão bonitos que até tenho pena de os provar."

"-Faz o que eu te digo Ginny, prova um."

Ela esticou a mão, um gesto cheio de conflitos – porque ela queria provar aqueles bombons que sabia serem maravilhosos mas tinha pena de o fazer – e pegou num bombom – redondinho, do chocolate mais negro que tinha visto, com um pequeno coração desenhado a chocolate branco no topo.

"-Vá lá Ginny, prova-o."

E foi o que ela fez, mordeu o chocolate lentamente sentindo o delicado caramelo do interior a escorregar pela sua língua.

"-Hum…" – Murmurou abrindo os olhos – que sem perceber tinha fechado. – "É o melhor chocolate do mundo." – Disse com um sorriso – "Obrigada Harry."

E quando ia fechar a caixinha reparou que os bombons se mantinham intactos, as seis filas de quatro bombons cada estavam completas, cada um diferente de todos os outros. A ruiva olhou para os bombons e depois para Harry e novamente para os bombons.

"-Parabéns Ginevra, foste contemplada com um fornecimento vitalício dos melhores chocolates do mundo bruxo." – Disse Harry, num tom que beirava o dos apresentadores de concursos da TV muggle.

"-Harry! Não podias ter comprado algo assim. Deve ter sido uma fortuna!"

"-Hei! É um presente e não se fala mais nisso. Gostaste?" – Ela assentiu – "É o que interessa."

"-Obrigada mais uma vez. Foi o melhor presente de sempre."

"-E o meu?!"

"-O teu também foi muito bom Ron." – Respondeu recolhendo os presentes – " Eu vou subir agora."

"-Desces para o pequeno-almoço?"

"-Daqui a vinte minutos."

Deixou todos os presentes em cima da cama e entrou no banheiro. Quando saiu de lá, quinze minutos depois, vinha pronta a sair. Pegou na varinha e na caixa que Harry lhe dera e colocou-as nos bolsos da capa grossa.

"-Meninos?" – Chamou do topo das escadas do dormitório.

"-Cá em baixo Ginny."

Ela desceu as escadas, deparando-se com Harry e Ron em pé, prontos a sair e Hermione sentada numa das poltronas com a cara oculta por detrás de um grande livro.

"-Não lhe devíamos ter oferecido o '1001 patologias mágicas'. Ela já não me liga nenhuma." – Murmurou Ron fazendo Harry e Ginny rir.

"-Hei! Mione! Desces connosco?"

"-Eu vou depois Ginny." – Respondeu sem desviar os olhos do livro.

"-Vem lá minha…"

"-Agora não Ron!"

"-Eu não disse?" – Sussurrou fazendo a irmã e o amigo rir de novo.

. . .

"-O que é que os meninos vão fazer agora?"

"-Tentar arrancar a Hermione da sala comum parece-me bem."

"-E tu Harry?"

"-Acho que vou ajudar o Ron, ele vai precisar de toda a ajuda possível. Vens ajudar?"

"-Não acho que vou passear nos jardins ou assim. Encontro-vos mais logo, ok? E boa sorte com a vossa missão impossível."

Viu-os a afastarem-se a combinarem uma qualquer táctica para arrancar a filha de muggles da sua leitura. Caminhou até às grandes portas de carvalho e ao sentir o frio que fazia lá fora arrependeu-se e resolveu antes ir à biblioteca.

Requisitou um qualquer romance muggle - não tinha muita vontade de ler mas era melhor do que passar a tarde a olhar para os outros a divertirem-se. Onde o iria ler agora? Bem, qualquer sala desocupada teria que servir.

Não devia ter levado a caixa que o Harry lhe oferecera, porque agora pesava-lhe na capa. E foi por isso que a primeira coisa que fez quando chegou à sala vazia do terceiro andar foi colocar a caixa em cima duma das mesas. Dentro de pouco tempo estava demasiado entretida a ler para perceber o barulho de alguém a entrar na sala. Só reparou nisso quando ouviu uma mesa a ser arrastada. Era o Malfoy quem a arrastava, contra a porta, para que supostamente ninguém conseguisse entrar.

"-Hei!" – Gritou ele exaltado – "O que é que estás aqui a fazer? Como conseguiste entrar?"

"-Com uma magia muito complexa - abri a porta e entrei." – Respondeu, admirando-se a si própria de tal ousadia.

"-Não gozes comigo Weasley! Eu tranquei a porta com magia, eu até a barrei com esta mesa. Como é que sabias que eu estava aqui?"

"-Isso é tudo paranóia? Eu estou aqui há mais de uma hora, tu é que chegaste agora, todo paranóico, trancaste-te a sete chaves sem olhar para a sala como deve de ser. Estás a fugir de quem?"

"-Cala-te Weasley." – Ordenou em tom baixo olhando para os lados.

Ela pousou o livro na mesa e olhou para o rapaz. Ele era estranho, sempre o achara estranho – com aquele ar frio e superior – mas não deixava de ser atraente. Não era uma beleza estonteante, mas para a idade dele não estava nada mal. E ele apercebeu-se disso, do olhar dela, porque pôs-se mais direito e sorriu convencido.

"-Estás a gostar Weasley?"

Ela corou e desviou o olhar focando a sua atenção na caixa de bombons oferecida por Harry. A caixa parecia imensamente interessante, tão interessante que ela só desviou os olhos dela quando o Malfoy a agarrou.

"-Hei! É minha!"

"-Estou a ver que sim. Mas a questão não é essa, a questão é como arranjaste uma coisa tão cara Weasley?" – Perguntou enquanto tocava as pedras com as pontas dos dedos.

"-Devolve-me isso Malfoy!"

"-Calma Weasley, calma."

Ela viu-o a abrir a caixa lentamente e também viu a expressão de admiração a formar-se na cara dele.

"-Belo presente de Natal Weasley. Alguém com muito dinheiro gosta de ti. O Potter talvez."

"-Não tens nada a ver com isso! Agora dá-me a caixa, quero ir embora."

"-Não, não, Weasley. Dou-te a caixa quando fizeres o que quero."

"-Eu não vou fazer o que queres!"

"-Não eras capaz de sair primeiro e verificar se está ou não alguém lá fora?"

Ele não sabia, ela também não, mas aquela frase iria mudar as suas vidas, principalmente as quatro primeiras palavras. Aquela não seria a última vez que aquela situação iria acontecer, ela iria repetir-se tantas vezes que eles próprios iriam perder a conta.

"-Só isso? Eu vou lá fora e depois dás-me a caixa."

"-Sim Weasley. Despacha-te que eu não tenho o dia todo!"

Ela olhou-o irritada e caminhou até à porta.

"-Dá para tirar isto daqui?" – Perguntou sarcástica.

Ele respondeu com um sorriso superior e um movimento rápido de varinha.

"-Obrigada." – Abriu a porta lentamente e espreitou para os dois lados do corredor – "Podes vir Malfoy, as tuas fãs malucas já foram embora."

"-Engraçadinha Weasley. Desculpa lá não ter um sickle para te dar, mas podes sempre comer um chocolate destes." – Disse atirando-lhe a caixa e saindo da sala em seguida.

"-Idiota!" – Gritou sozinha.

Apanhou o livro da mesa e saiu da sala irritada. Não suportava o Malfoy, e depois daquele incidente não o podia ver à frente nem pintado de ouro e pó de fadas!

"-O que foi Ginny?"

"-Nada Ron, não foi nada!" – Respondeu bruscamente subindo as escadas do dormitório rapidamente.

"-Que bicho é que lhe mordeu?" – Perguntou recebendo como resposta um encolher de braços do amigo e um suspiro da namorada – "Mulheres!"

. . .

Festas. Bailes. Ela não gostava muito disso por três razões. Primeira, nunca sabia com quem ir. Segunda, não sabia o que vestir. Terceira, não fazia a menor questão de dançar.

Enquanto as suas colegas de dormitório se arranjavam freneticamente ela vestia o vestido rosa claro calmamente. Talvez se se atrasasse muito o seu par desistisse de ir ao Baile de Ano novo com ela. Mas não, não tivera essa sorte. Quando desceu para a sala comum, meia hora depois de todas as outras raparigas do seu dormitório, Ginny encontrou o seu par a esperar por ela – pacientemente.

"-Pensei que já tivesses ido Harry."

"-E deixar a rapariga mais bonita da festa para trás?"

Ela riu e agarrou o braço que ele lhe estendia.

"-O Ron e a Mione já desceram há muito?"

"-Há pelo menos dez minutos. Estamos atrasados, sabias?"

"-Tinha uma vaga noção."

O salão estava lindo, todo decorado em tons de prata e ouro, com velas a projectar sombras fantásticas nas grandes paredes e no chão luzidio.

Dali, da entrada, conseguiam ver inúmeros pares a dançar ao som de uma música agitada e tantos outros alunos e até professores sentados em pequenas mesas ao redor da pista de dança.

"-O que achas de irmos dançar?"

"-Se prometeres não ficar zangado quando eu te pisar os pés, pode ser."

Ele sorriu e levou-a para a pista de dança, para o meio de todos aqueles alunos. Divertiu-se, como não se divertia há muito – talvez dançar não fosse tão mau assim. Até se surpreendeu por querer continuar quando Harry já se tinha dado como vencido.

"-Tu não te cansas hoje? Não queres beber nada?" – Perguntou com a respiração um tanto descompassada, depois de uma dança mais movimentada.

"-Não sei o que se passa. Mas tens razão, vamos beber alguma coisa."

"-Procura uma mesa que eu levo as bebidas. O que queres?"

"-Sumo de Abóbora ou algo assim."

Ele assentiu e afastou-se, deixando-a sozinha. Ela por sua vez também se afastou do local, caminhando em direcção a uma das mesas.

"-O testa rachada com mania de herói deixou-te sozinha?"

Ela tentou ignorar aquela voz irritante que a afectava o seu sistema nervoso de tal forma que nem conseguia explicar. Ela esperava que daquela vez, tal como outras que já tinham passado, ele dissesse um ou dois insultos para a provocar e depois desaparecesse dali. Mas não, cinco ou seis insultos depois ele continuava ali. Talvez não o tivesse ignorado bem o suficiente ou talvez ele fosse apenas chato. De qualquer maneira Harry chegaria dentro de segundos – tinha a certeza.

"-E será que é esta noite que o Potterzinho te vai beijar finalmente? Não, se não fores tu a fazê-lo…Mas tu não eras capaz pois não?" – Sussurrou ele bem perto do seu ouvido.

Ela ouviu até ao fim, cerrando os punhos à medida em que ele falava. Quando ele acabou ela voltou-se furiosa para trás, só para o ver a andar para longe.

"-Idiota!"

"-Quem?" – Perguntou Harry que acabara de chegar com as bebidas.

"-Um rapaz qualquer…" – Inventou – "…que me convidou para dançar e não entendeu a resposta."

"-É o que dá em seres tão gira."

"-Mentir é feio, Sr. Potter."

"-E não aceitar um elogio também, Srta. Weasley."

"-Vamos voltar à dança?"

E ele não respondeu e, como fizera no início da noite, levou-a para o meio dos alunos que se amontoavam na pista de dança. O estilo de música mudou sem aviso, e de agitada passou a calma. Num gesto, ousado da sua parte, mas natural 

naquele ambiente, cruzou os braços em torno do pescoço dele e apoiou a cabeça no seu ombro.

Não muito longe dali ela viu-o, com aquele sorriso irritante voltado para o lugar onde ela estava. Estava a vigiá-la, tinha a certeza, só para se certificar de que ela não era capaz. E ele bem que podia continuar com aquele sorrisinho idiota que ela não iria fazê-lo. Ajeitou melhor a cabeça no ombro dele, no momento em que a música se alterava, para uma balada tão ou mais calma que a anterior.

Já não via o sorrisinho irritante dele, e agradecia por isso, mas o que a atormentava agora eram as palavras dele. Talvez o idiota tivesse razão, talvez o Harry nunca desse o primeiro passo. Mas ela pouco se importava, já se tinha conformado com a situação, com o estatuto de 'só amigos', e não tinha razões para tentar alterar isso e correr o risco de ser rejeitada.

"-Aconteceu algo?"

"-Hã?" – Perguntou desentendida.

"-Paraste de dançar de repente, aconteceu algo?"

Foi então que reparou, continuava agarrada a Harry, mas os seus pés, algures num passado próximo, tinham parado de se movimentar.

"-Não, nada. Estou só cansada Harry." – Disse olhando em volta, para ter a certeza que aquele traste não a observava.

"-Procuras alguém?"

"-Só o Ron e a Mione." – Mentiu avistando o Malfoy do outro lado do salão.

Ele continuava a observá-la, com aquele ar desafiador e convencido de quem ia ganhar uma aposta. Se bem que aquilo não era uma aposta porque ela não a tinha aceite. O loiro piscou-lhe o olho de forma desafiadora e a partir desse momento tornara-se uma questão pessoal tirar aquele ar de vencedor da cara daquele idiota.

"-Harry acho que vou embora."

"-Tão cedo Ginny?"

"-Estou cansada…" – De onde haveria de tirar a coragem para o beijar? Só se fosse do sorriso idiota do Malfoy.

"-Eu levo-te."

"-Não é preciso, aproveita a festa."

"-Sem par não tem piada."

"-Não te preocupes, há montes de garotas dispostas a trocar os pares delas para dançar contigo, tenho a certeza. Até amanhã Harry."

Voltou costas e começou a caminhar em direcção à saída. Porém, ainda não tinha dado meia dúzia de passos quando se virou de rompante e caminhou até Harry beijando-o rapidamente nos lábios.

"-Até amanhã Harry." – E puxando o vestido um pouco para cima, saiu do salão quase a correr.

"-O que é que eu fui fazer?" – Lamentou-se enquanto entrava no dormitório vazio.

Durante o difícil processo que foi despir o vestido ela reparou na caixinha de chocolates que Harry lhe oferecera no Natal. Era tudo o que precisava – chocolates.
E foi isso que fez, logo que acabou de trocar o vestido pelo pijama confortável, sentou-se na cama e deliciou-se com um dos bombons da caixa. Assim que sentiu a calda de morango a espalhar-se pela língua esqueceu completamente a atitude 

doida de há minutos atrás. E foi assim, cansada e com o sabor da calda de morango e do chocolate amargo que ela adormeceu na última noite daquele ano.

Acordou com um sabor azedo na boca, era o do chocolate. O dormitório estava vazio e a luz entrava forte pela janela, o que queria dizer uma de duas coisas: ou era demasiado tarde e já todas tinham saído ou era demasiado cedo e nenhuma delas tinha chegado ainda. Achando a primeira razão mais plausível levantou-se com preguiça e arranjou-se demoradamente. Foi quase uma hora depois que desceu, com a ideia de se escapar até à cozinha para um pequeno-almoço muito atrasado. Mas algo a deteve, bem no meio da sala comum.

"-Boa tarde."

"-Hum… Oi Harry. Sobre ontem eu…"

"-Um beijo de boa noite?" – Sugeriu.

"-Isso, um beijo de boa noite."

"-Foi o que me pareceu."

"-Eu vou…hum…descer para comer qualquer coisa."

"-Queres companhia?"

"-Não! Quer dizer…não é preciso." – E sem dar tempo ao moreno de dizer o que quer que fosse saiu da sala comum quase tão depressa como saíra a noite passada do baile.

Ela caminhou até à cozinha e tal como os gémeos lhe tinham ensinado e fez cócegas na pêra até que a porta se abrisse.

"-A roubar comida para mandar à família esfomeada?"

Oh não! Aquele irritante de novo.

"-Vi o espectáculozinho de ontem. O teu Potter ficou bastante impressionado. E eu devo admitir que também fiquei. Nunca pensei que uma Weasley…Tu estás a ignorar-me?"

"-Estava a tentar. Mas tu arruinaste tudo e agora tenho de começar de novo."

"-Não falas assim comigo." – Disse irritado enquanto a via falar com um dos muitos elfos domésticos – "Olha para mim Weasley!"

"-Deixa de ser irritante e mal-educado Malfoy." – Respondeu chateada, o seu humor não era dos melhores – "Não suportas que alguém te ache indiferente, pois não?"

"-Mas aí é que está! Tu não me achas indiferente. Tu tentas fazer parecer que sim, mas não me achas indiferente, tanto que me tentaste contrariar duas vezes nestes últimos tempos. Estou errado?" – Concluiu triunfante.

"-Tu…tu…"

"-Menina Wezzy, o seu pequeno-almoço." –Disse o pequeno elfo doméstico.

"-Obrigada Dobby."

"-'Obrigada Dobby'." – Troçou – "Quem é que agradece a um elfo doméstico?"

"-Todas as pessoas bem-educadas."

"-Eu tive os melhores tutores de boa educação e etiqueta!"

"-Não foram lá muito bem sucedidos."

"-Uma Weasley a falar de educação. Daqui a pouco entra o 'Cabeça de Fósforo' a falar de dinheiro."

"-Não tem piada Malfoy."
"-Tens razão, deve ser triste ser pobre."

A ruiva ignorou o último comentário dele e preparou-se para sair da cozinha.

"-Hei Weasley!"

"-Nem mais um 'Não eras capaz de…'!"

E quando ela saiu a porta fechou-se num estrondo deixando um Malfoy perplexo lá dentro.

. . .

Os livros amontoavam-se à sua volta. Em cima das mesas e das cadeiras era possível contar algumas dezenas de livros, alguns antigos, outros até recentes, mas todos sobre o mesmo – Poções.

Ainda não sabia como se tinha esquecido daquele trabalho importantíssimo. Snape tinha frisado bastante bem, com algumas palavras assustadoras, que o trabalho valeria metade da nota final e que tinha de ser entregue no primeiro dia de aulas. Normalmente o trabalho estaria feito ainda antes do Natal, mas por lapso o trabalho de cinquenta centímetros – "E o engraçadinho que fizer letra grande tem direito ao trabalho anulado" - sobre venenos naturais não estava feito. Era por isso, que às três da tarde do último domingo de férias ela estava ali, na biblioteca, havia mais de cinco horas, rodeada por livros, tinteiros, penas e pergaminho – muito pergaminho.

"-As folhas carnudas da gollia são bastante venenosas quando aquecidas." – Leu de um dos muitos livros e preparou-se para escrever nos vinte e cinco centímetros de pergaminho que ainda tinha para preencher.

"-E são ainda mais venenosas quando misturadas com pó de dixies."

Ela levantou o olhar e pousou a pena na mesa. Foi quando o viu, aquele olhar e aquele sorriso sarcástico. E logo o ignorou - o trabalho era demasiado importante para perder tempo com ele.

"-Fala do bezoar, que é o anti-veneno mais poderoso que se conhece."

"-O que é que estás a tentar fazer Malfoy? Desconcentrar-me?"

"-Não. Mas também era uma boa ideia Weasley."

"-Deixa-me em paz. Tenho de escrever mais vinte e cinco centímetros sobre venenos e não estou com paciência para te aturar."

"-Fico ofendido Weasley." – Disse num tom claramente falso – "Eu a tentar ajudar e é isto que recebo em troca."

"-O que é que tu queres? Que faça um escândalo e seja expulsa pela bibliotecária? Que me farte de ti e vá embora? O que é que tu queres?"

"-Irritar-te."

"-A tua presença irrita-me. O teu olhar irrita-me. A tua voz irrita-me. Tudo em ti me irrita. Satisfeito? Agora podes ir embora. Eu, ao contrário de ti, tenho de trabalhar."

"-Calma, calma Weasley. Eu sei tudo sobre venenos."

"-Já que 'sabes tudo sobre venenos' podias fazer o trabalho por mim." – Disse sarcástica começando a recolher os seus materiais.

E foi então que a ideia a atingiu. Aquele jogo podia ser jogado a dois.

"-Mas tu não eras capaz… pois não?" – Comentou casualmente enquanto colocava alguns dos livros nas estantes – "Quer dizer, tu nunca ajudarias uma Weasley, nem para cumprir um desafio."

Ele não respondeu nos primeiros segundos que se seguiam. A sua cara não demonstrava nenhuma reacção até se formar o já habitual sorriso sarcástico.

"-Passa-me o pergaminho Weasley."

Ela olhou-o desconfiada.

"-Vamos lá ruiva, não tenho o fim-de-semana todo."

"-Não me chames ruiva." – Disse irritada passando-lhe o pergaminho.

"-A pena."

Ela revirou os olhos e passou-lhe a pena. No mesmo momento ele começou a escrever e só parou vinte minutos depois, com cinquenta centimetros sobre venenos, já escritos.

"-Wow! Malfoy isso foi… simpático da tua parte."

"-Não vais conferir?"

"-Pior do que estava não pode ficar." –Guardou o material na sacola e preparou-se para sair – "Ah!" – Exclamou voltando-se para ele – "Desta vez ganhei eu" – E remexendo da mala abriu a caixa de prata e atirou-lhe um bombom.

"-Isto não fica assim Weasley." – Murmurou ao vê-la sair da biblioteca, sem saber o que lhe esperava.

. . .

Acordar naquela manhã tão cedo, tendo como primeira aula do ano Poções, não sabia nada bem. E foi mal disposta que se levantou, praticamente arrastando-se para sair do dormitório.

"-Bom dia." – Disse-lhe Harry sorridente. Era óbvio que ele não ia ter Poções.

Ela assentiu-lhe levemente e deixou-se afundar numa das poltronas fofas da sala comum. Quando estava quase a cair no sono foi chamada por Hermione.

"-Estás atrasada Gin. Já só tens dez minutos para o pequeno-almoço." – E a ruiva levantou-se, não tão rapidamente como seria de esperar para uma pessoa com aquele atraso.

E foi também atrasada que chegou à primeira aula da manhã, e para dizer a verdade Snape tinha ainda uma cara mais desagradável do que o costume.

"-Weasley, importa-se de explicar a razão do atraso?"

"-Professor…" – Começou, a sua cara a ficar vermelha de vergonha.

"-O trabalho na minha secretária já. E menos vinte pontos para os Gryffindor." – Disse fazendo os alunos dos Slytherin rir alto e os alunos dos Gryffindor suspirar em sinal de derrota.

Sentou-se na sua bancada ainda menos animada do que antes – aquele não era, definitivamente, um bom dia.

"-Leiam a página duzentos e cinco e preparem a poção em grupos de três. A poção vai ser avaliada, quero-a no final da aula dentro de um frasco de vidro devidamente identificado."

Ginny estava aérea, tão aérea que nem ouviu a ordem de Snape.

"-Ginny, se o Snape te apanha assim são menos cinquenta pontos para os Gryffindor." – Sussurrou-lhe Colin Creevey.

"-Desculpa, estava distraída. O que é que disseste?"

"-Weasley!" - A ruiva assustou-se perante a voz ameaçadora do professor. Ele estava realmente chateado. Muito chateado!

Seria a razão de tanta irritação o pergaminho que ele tinha na mão, que se parecia assustadoramente com o que ela tinha entregue minutos antes? Ou seria o facto de ela estar tão distraída como uma criança num parque de diversões?

"-Eu já sabia que os Weasley não eram muito fortes de inteligência…" – Comentou maldosamente fazendo os Slytherin rir alto – "… ainda mais sendo dos Gryffindor. E para comprovar isso só tinha de ler metade deste trabalho. Mas a outra metade parece escrita por um troll das montanhas. Estava assim tão desesperada Srta Weasley?"

Ela corou tão violentamente que Colin chegou a duvidar do estado de saúde dela.

"-Se bem que o troll das montanhas que fez esta última parte do trabalho tem uma caligrafia bastante apresentável. Requintada até. Não vai falar em sua defesa Srta Weasley? Não? Então muito bem, menos cinquenta pontos para os Gryffindor por copiar e um trabalho de 1 metro sobre venenos para a próxima aula. Amanhã!" – Disse triunfante.

"-Sim Professor." – Respondeu com a cabeça baixa. Os seus colegas iam matá-la por ter perdido setenta pontos em menos de meia hora.

. . .

"-Luna?" – A garota loira olhou em volta, espantada.

"-Oh! Pensei que fosse um dos fantasmas." – Disse aparentemente decepcionada.

"-Luna, viste a Ginny?" – Perguntou Hermione.

"-Ela disse algo sobre a biblioteca, um grande trabalho do Snape e menos setenta pontos."

"-Obrigada."

A loira olhou Harry e Ron de maneira estranha e depois começou a correr até que os seus passos se deixaram de ouvir.

"-Ela é um bocado estranha, não é?" – Perguntou Ron respondendo um olhar reprovador de Hermione.

"-É a maneira dela ser. Agora vamos procurar a Ginny na biblioteca, ela não apareceu durante o almoço e também não a vimos nos corredores durante a tarde."

Não demorou muito para que a encontrassem, e mesmo sendo Hermione a pessoa que mais gostava de estudar em todo o castelo, estranhou ao ver a ruiva rodeada de livros logo no final do primeiro dia de aulas.

"-Ginny o que aconteceu?"

"-Foi o Snape."

"-Foste tu que perdeste os setenta pontos?"

"-E ganhei um metro de trabalho sobre venenos. Logo no primeiro dia!"

"-Mas o que se passou?" – Perguntou Hermione lendo rapidamente o que a ruiva já tinha escrito – "O que escreveste agora não está nada mal, ou seja, o outro também não devia estar assim tão mal."

"-Pelo menos metade… A última parte não devia estar lá grande coisa… Foi feita à pressa." – Inventou – "Bem, ainda tenho muito que fazer, falamos mais logo."

"-Não vens jantar?"

"-Passo pela cozinha assim que a biblioteca fechar."

"-Se precisares de alguma coisa eu e os rapazes vamos estar na sala comum depois do jantar, não é rapazes?"

Eles acenaram com a cabeça, contrariados. Tudo o que eles menos queriam era trabalhos extra de Poções.

. . .

"-Mas Madam…"

"-Sem mas menina. A biblioteca vai fechar."

"-Eu precisava de um último livro para fazer o trabalho! Se não o fizer o Professor Snape vai dar-me detenções até ao meu último dia em Hogwarts."

"-Não tenho nada a ver com isso, menina. Agora se me dá licença." - E sem que a ruiva tivesse tempo de responder a bibliotecária fechou com força a porta da biblioteca.

Andou com passos pesados pelos corredores vazios. Estava aborrecida, não tinha jantado para poder aproveitar o máximo de tempo na biblioteca que agora estava fechada. Entrou na cozinha observando os elfos atarefados, arrumando tudo depois do jantar. Logo dois pequenos elfos se aproximaram dela, com tabuleiros carregados de comida.

"-Eu só queria uma maçã." – Não tinha tempo para comer, tinha de se apressar para poder pedir ajuda a Hermione.

"-De dieta Weasley?"

Como é que ele a tinha encontrado ali não sabia, mas aqueles 'encontros' estavam a tornar-se cada vez mais irritantes.

"-Não. Estou com pressa para acabar o trabalho de poções que tu destruíste!" – Disse irritada fazendo-o sorrir.

"-Não achavas que te ia dar o trabalho de mão beijada, pois não?"

Ignorou-o, como devia ter feito no princípio e caminhou para a saída da cozinha. Foi então que a ideia lhe ocorreu.

"-Tanto não me ias dar o trabalho de mão beijada, que não eras capaz de ir buscar um livro que eu preciso à biblioteca."

"-E que livro seria esse Weasley?"

"-'Como utilizar um veneno sem ser descoberto'."

"-Mas esse livro está na secção restrita e não te ajuda em nada no teu trabalho."

"-Tal como eu disse, não eras capaz."

Ele murmurou qualquer coisa e passou por ela em passos apressados.

"-Vens comigo ou não?" – Perguntou irritado.

Ela riu e seguiu-o até à biblioteca.

"-Espera aqui e não faças barulho. Avisa-me se alguém se aproximar."

Ela assentiu, vendo-o entrar sorrateiramente na biblioteca. Ouviu um barulho estranho, uns estalidos e um som abafado. Sem saber o que fazer entrou na biblioteca e chamou-o.

"-Malfoy!" – Murmurou – "Malfoy!"

Viu uma luz ténue ao fundo do corredor e seguiu-a. Foi dar com o loiro empoleirado sobre umas escadas tentando alcançar um livro na última prateleira do corredor três da secção restrita.

"-Malfoy desce daí!"

"-Já tenho o teu livro Weasley!"

"-Desce daí Malfoy! Ouvi um barulho lá fora!"

"-Que tipo de barulho?" – Perguntou aproximando-se dela.

"-Não sei acho que…" – Não teve tempo de terminar a frase.

A porta da biblioteca abriu-se e um feixe de luz iluminou o espaço. Draco abraçou a ruiva rapidamente e baixou-se puxando-a consigo.

"-Não te mexas." – Murmurou-lhe ao ouvido.

Ela assim o fez. Permaneceu imóvel, presa nos braços dele, com o coração a bater rapidamente, pedindo a Merlin que a porta se fechasse.

"-Ainda não." – Disse-lhe Draco, quando ela se tentou mover.

"-A porta já se fechou…"

"-Mas podem voltar…" – Retorquiu.
"-Já me podes soltar." – Disse remexendo-se nos braços dele.

Ele soltou-a, tal como o livro que segurava que caiu no chão com um estrondo.

"-Finalmente." – Murmurou irritada afastando-se dele.

"-Hei Weasley! O teu livro."

"-Já não o quero, podes guardá-lo."

"-Nem penses! Querias o livro e agora vais ter de o levar!"

"-E como é que eu o entrego depois, inteligência?"

"-Não quero saber. Vais levá-lo e pronto."

"-E amanhã chego cá e digo: Olhe, o meu amigo Malfoy veio cá buscá-lo ontem à noite…sim, quando não estava cá ninguém e agora eu vim cá devolve-lo. Obrigada e bom dia."

"-Primeiro, eu não sou seu amigo. Segundo, o problema é teu. Quem te mandou pedir o livro? Agora vais ter de o levar. Não vim aqui perder o meu tempo para nada."

"-Faz o que quiseres Malfoy. Eu vou embora."

Ela caminhou até à porta e ele nada fez. Podia tê-la segurado por um braço ou podia tê-la chamado, mas não o fez. Apenas a deixou ir.

Ginny saiu da biblioteca apressada, não queria ter de falar mais com o Malfoy nem queria ser apanhada. Os corredores estavam vazios e silenciosos quando alcançou o retrato da Dama Gorda. Mas a noite ainda não tinha acabado por ali.

"-Weasley!" – Era um murmúrio apressado e meio irritado.

"-O que raio fazes aqui e porque é que trazes o livro contigo?"

"-Não eras capaz de o entregar na biblioteca amanhã, pois não?" – Desafiou com um ar triunfante.

"-Oh não! Tu nem penses! Não me venhas cá com esses 'não eras capaz' que eu já estou farta."

"-Como eu disse, não eras capaz."

"-Aliás, como é que tu encontraste a minha sala comum?"

"-Fazes mais barulho que um troll a andar. Se aquela gata imunda do Filch não estivesse tão velha e surda já tinhas sido apanhada."

"-Agora que já te asseguraste que eu não fui apanhada podes ir embora e levar contigo o livro que roubaste da biblioteca."

"-Sabes que eu posso deixá-lo no teu dormitório e mandar um bilhetinho à Madame Pince a revelar o paradeiro de um certo e determinado livro."

"-Tu não eras capaz disso!"

"-Cuidado com o que dizes Weasley!"

"-Tu és irritante Malfoy."

"-Afinal, és ou não capaz de levar o livro à biblioteca?"

"-Tu vais pagar por isto Malfoy." – Disse num tom baixo e ameaçador tirando-lhe o livro das mãos com brusquidão.

"-Cuidado Weasley, esse livro é valioso. Não sei se sabes mas veio da secção reservada." – Comentou afastando-se da porta da sala comum.

Apertou o livro com força nas mãos e voltou-se para o retrato da Dama Gorda. Esta, irritada, demorou a ceder-lhe passagem.

"-Qual é a senha menina?!"

"-Já lhe disse, manteiga de amendoim e geleia de amoras!"

"-Sabes que devia deixar-te a dormir no corredor! Era o castigo ideal para uma transgressora como tu!"

"-Eu adormeci numa sala, ok? Foi por isso que cheguei atrasada."

"-Só desta vez e porque o teu amigo era muito bonito."

"-Ele não é meu amigo!" – Murmurou irritada entrando na sala comum.

Subiu as escadas, sem diminuir a força com que segurava o livro. Não sabia como o havia de entregar sem receber uma detenção brutal ou até ser expulsa.

"-Vejo isso amanhã…" – Murmurou sozinha ao pousar o livro na sua cabeceira.

Mas dormir revelou-se difícil naquela noite. Quando não se estava a revirar de um lado para o outro estava a ter terríveis pesadelos com a Madame Pince, a secção reservada e o Malfoy.

"-Não por favor! Eu não quero ser expulsa… Mas não fui eu… eu … não!"

Acordou assustada. O seu corpo estava suado e a respiração estava descompassada. As suas colegas de quarto já tinham saído, ela estava totalmente sozinha.

"-Tenho de o ir entregar." – Murmurou para si mesma pegando no livro.

A vontade não lhe faltava, porque tudo o que mais queria era ver-se livre daquele livro, mas faltou-lhe a coragem. O que é que ela diria à sua mãe se fosse expulsa por causa de um livro? Seria a vergonha da família, o motivo de riso em toda a escola. Se dissesse que não ao Malfoy ele próprio enviaria um bilhete à Madame Pince. De qualquer uma das formas o seu destino não era bom.

Saiu do dormitório apressada, se pudesse chegar à biblioteca antes da Madame Pince e deixar o livro à porta estava salva.

"-Afinal sempre vieste."

"-Não fales comigo Malfoy!" – Respondeu num tom irritado.

"-Ora, ora Weasley. Só te estou a retribuir o favor. Eu vim buscá-lo tu vens trazê-lo."

"-Muito obrigada Malfoy, nem sei como te retribuir." – A sua voz estava carregada de sarcasmo.

"-Não tens de quê."

"-Podes ir andando agora Malfoy."

"-Não, acho eu me apetece esperar pela Madame Pince. Oh! E ali vem ela."

"-Meninos, o que fazem aqui tão cedo? A biblioteca só abre daqui a meia hora."

"-Hum… Madame Pince… eu vim entregar este livro."

"-Oh! Ginevra! Não é esse!" – Disse Draco com um tom inocente, espantando a ruiva – "Desculpe-a Madame Pince, parece que ela não dormiu o suficiente. Este livro é meu." – Continuou retirando o livro das mãos de Ginny – "O que tens para entregar é o de Transfiguração, não te lembras?"

"-Transfiguração…?"

"-Sim, Transfiguração. Nós vamos indo agora Madame Pince. Obrigado pela disponibilidade e tenha um óptimo dia." – Concluiu com um sorriso encantador que fez a bibliotecária sorrir também.

"-De nada meus queridos."

"-Ela está muito simpática hoje, não está?" – Disse com o mesmo tom inocente, depois de arrastar a ruiva ao longo do corredor.

"-Que brincadeira idiota foi esta Malfoy."

"-Ora! Salvei a tua pele, o que queres mais?"

"-Eu passei quase toda a noite acordada e quando dormia tinha pesadelos horríveis em que era expulsa, tudo por causa desse maldito livro. Quase tenho um ataque de coração ao entregá-lo e tu simplesmente interrompes tudo com o teu tom mais falso e trazes o livro contigo!?"

"-Devias agradecer-me."

"-Só se eu fosse louca."

"-Eu salvei-te de uma detenção ou de uma expulsão, o mínimo que podes fazer é agradecer-me."

-Nem penses! E nem tentes fazer-me ficar com o livro de novo!" – Ameaçou – "Arranja-te como quiseres Malfoy porque eu já não quero ter nada a ver com isto."

"-Nunca ouviste falar em corujas Weasley? É só utilizar uma da escola e pronto, nunca saberão que foste tu."

"-Fomos nós, nunca saberão que fomos nós."

"-Ou isso."

"-Como é que soubeste o meu nome?" – Perguntou desviando-se totalmente do assunto.

"-A Lovegood está sempre a dizê-lo."

"-Ela nunca me chama Ginevra, ninguém chama."

"-O que importa isso agora?"

"-Sabes que mais? Tu és muito…"

"-Ginny! Gin-Gin!"

"-Luna?"

A loira corria em direcção a ela, com um ar bastante afogueado.

"-Ginny, onde estiveste? Eu procurei por ti em toda a parte."

"-Desaparece Lovegood, não vês que estamos a ter uma conversa?"

A aluna dos Ravenclaw estacou, olhando fixamente para Draco. Depois, com um gritinho histérico e um soluço afastou-se a correr.

"-Luna!" – Gritou vendo a amiga desaparecer no fundo do corredor –"Olha o que fizeste!"

"-Ela intrometeu-se na conversa."

"-Nós não estávamos a conversar, estávamos a discutir. Ela saiu daqui a chorar seu insensível! Vai pedir-lhe desculpas."

O Slytherin gargalhou alto.

"-Eu, pedir desculpas àquela maluca? Nem que Merlin apareça aqui e me lance um Imperius."

"-Porquê, não eras capaz?"

"-Ah! Vejo que alguém anda a aprender algumas coisas."

"-Isso é um não?"

"-Achas que eu me deixo manipular tão facilmente quanto tu?"

"-Não, claro que não. Agora eu vou andando. Suponho que não queres o chocolate que mereces pela proeza da noite passada."

"-Traz dois." – Respondeu relutante - "Pode ser que a tua amiguinha se deixe convencer por um chocolate."
"-Vais pedir-lhe desculpas?" – Perguntou triunfante.

"-Não fiques convencida. Estou só a zelar pela minha reputação."

"-Obviamente." – Respondeu afastando-se dele.

Draco ficou parado vendo-a ir embora. Estava ligeiramente preocupado com o pedido de desculpas que tinha de fazer à Lovegood. Não estava acostumado a pedir desculpas mas não deixaria que a Weasley se ficasse a rir dele. Agora só tinha de encontrar a doida.

Não foi um trabalho difícil o de diferenciar a Lovegood no meio da multidão de raparigas histéricas. Ela era a única rapariga loira com uma tiara de caricas de sumo de abóbora.

"-Hei! Lovegood!" . A loira voltou-se e olhou-o com um ar tanto ou quanto assustado.

"-A Ginny disse que me querias pedir desculpa." – Disse baixinho.

"-A Ginny disse?" – Perguntou enfatizando o nome da rapariga, que ao lado da loira ria satisfeita.
"-Aqui estão os teus chocolates Malfoy." – Disse dando-lhe dois pequenos bombons – "Boa sorte." – Acrescentou em tom baixo.
"-Olha Lovegood… Eu… A Weasley disse… que tu…" – As palavras saiam soltas, quase gaguejadas, fazendo Ginevra rir – "Cala a boca Weasley! Lovegood… olha…Come o chocolate e não se fala mais nisso."

E antes que as raparigas pudessem pensar algo para dizer, Draco passou um dos bombons a Luna e desapareceu entre as outras alunas que conversavam alegremente.

"-Aquilo não valeu! Ele não pediu desculpas!"

"-Oh! Mas deu-me um chocolate! Isso é muito melhor que pedir desculpas!"

"-Tu não podes ser normal Luna…" – Murmurou entrando na sala de aulas.

Não podia deixar de pensar no Malfoy e em como ele sempre levava a melhor, de um jeito ou de outro ele sempre saia a ganhar. Teria de pensar em algo verdadeiramente elaborado para lhe propor, talvez assim ele a deixasse em paz. E foi então que ela teve uma ideia brilhante, algo com que o Malfoy nunca concordaria.

"-Eu já volto."

"-Mas a aula vai começar."

"-Não importa." – Respondeu correndo na direcção que Draco tinha tomado – "Hey! Malfoy!" – Gritou, vendo-o descer as escadas em direcção às masmorras.

"-O que é que foi Weasley?"

"-Não eras capaz de me levar às masmorras dos Slytherin, pois não?" – Perguntou afogueada.

Ele fez uma expressão estranha, um misto de espanto e confusão.

"-Tal como tu não eras capaz de me levar à Torre dos Gryffindor." – Respondeu calmamente vendo a cara da ruiva ganhar um tom avermelhado.

"-Isso não vale… eu disse primeiro!"

"-E eu disse depois."

"-Não te vou levar à nossa sala comum!"

"-Problema o teu então, porque eu também não te levo às masmorras."

"-Mas isso não vale!"

"-Estas a tornar-te repetitiva." – Respondeu retomando o seu caminho.
"-Espera…"

"-Estás a reconsiderar?"

"-Fazemos um acordo."

"-Eu não faço acordos com os Weasley."

"-E eu normalmente não faria com um Malfoy…"

"-Que acordo é afinal?"

"-Tu levas-me às masmorras e eu levo-te à torre."

"-E que tal tu levares-me à torre e depois eu pensar se te levo ou não às masmorras?"

"-Eu não confio em ti."

"-Fico mortalmente ofendido com essa declaração Weasley."

"-Aceitas ou não?"

"-Não me parece."

"-O que queres mais afinal?"

"-Quero deixar-te irritada. Estou a conseguir, não estou?"

"-Não, nem por isso…" – Disse cerrando os pulsos.

"-Vamos às masmorras então."

"-Agora? Mas eu tenho uma aula de Transfiguração e…"

"-Agora ou nunca Weasley."

"-Mas…"

"-Foi um prazer perder tempo contigo." – Disse afastando-se.

"-Ok."

"-Ok? Estás assim tão entusiasmada para o melhor dia da tua vida?"

"-Vamos Malfoy."

"-Primeiro diz-me, quando é que vou conhecer a deprimente sala comum dos Gryffindor."

"-Assim que calares a boca e me mostrares as vossas masmorras."

"-Uh! Agressiva! Tens de aprender a controlar essa raiva Weasley. Ainda ficas com rugas antes de chegares aos dezoito."

"-És sempre assim tão idiota?"

"-Não, só quando estou ao pé de ti. Tu despertas o melhor que há em mim." – Respondeu sarcástico.

"-É para hoje ou para amanhã?"

"-Dá para estares calada um segundo? Não é como se eu quisesse ser visto a andar pelos corredores com uma Weasley histérica ao meu lado."

"-Eu não sou histérica…" – Murmurou irritada.

Ele sorriu convencido seguindo o caminho que tomava anteriormente.

"-Demora muito?"

"-Deixa de ser impaciente. Já és chata normalmente não preciso de mais."

"-Olha lá Malfoy tu…"

"-Eu o quê?" – Perguntou voltando-se para trás de repente.

Ela, desprevenida, chocou contra ele. Demorou uns segundos para entender que estava encostada a ele, mas assim que chegou à conclusão que estava praticamente no colo de um Malfoy afastou-se como se ele tivesse uma doença contagiosa.

"-Era eu que me devia afastar." – Disse-lhe com um ar enjoado.

"-Ninguém te agarrou." – Ripostou.

"-Hoje estás muito respondona Weasley. É o síndrome dos mal amados a fazer efeito?"

"-Isto é que são as masmorras? Sinceramente pensei que tivessem muito melhor gosto."

"-Isto é um pedaço de parede Weasley! Pelo menos não temos uma mulher horrível a guardar a nossa sala."

"-Claro, falar com uma parede é muito melhor."

"-Importas-te?" – Disse gesticulando para ela se afastar.

"-Como queiras…" – Respondeu afastando-se.

Ele murmurou algo e a parede afastou-se cedendo-lhes a visão de um espaço grande e pouco iluminado.

"-Esqueceram-se de comprar as velas perfumadas, foi?"

"-Desculpa não rir das tuas piadas fracas Weasley."

"-É aqui que vocês dormem? Este sítio é assustador."

"-Claro, já cá faltava a tão afamada coragem Gryffindor. Achas que isto é assustador? Nunca te viste ao espelho?"

"-Deixa de ser idiota Malfoy! Só estava a comentar o facto de vocês dormirem num local frio e quase sem luz. Não é lá muito acolhedor."

"-Claro, como aquela casa podre onde tu vives. Realmente acolhedora."

"-Não dá para parares de ser assim por uns segundos?"

"-Talvez pare quando conhecer a patética torre dos Gryffindor. Quando isso acontecer vou estar ocupado de mais a rir para poder falar."

"-Vamos ver os dormitórios."

"-Para que raio queres tu ver os dormitórios?"

"-Quero ver se são muito piores que os nossos ou não."

"-Obviamente que os nossos são melhores."

"-E como é que sabes se nunca estiveste na nos nossos dormitórios?"

"-Os Slytherin têm tudo da melhor qualidade e isso inclui os dormitórios."

"-Isso é o que vamos ver. Onde são?"

Draco gesticulou vagamente em direcção a duas portas ao fundo da sala, praticamente ocultas nas sombras.

"-Lençóis de seda!"- Ouviu-a gritar do interior dos dormitórios masculinos.

"-Não faças barulho." – Murmurou correndo até ela – "Se te apanham aqui não duras para contar esta aventura."

"-Até parece que tu deixavas que algo me acontecesse!"

"-Digamos que os Slytherin odeiam pessoas como tu e eu não os ia impedir de nada. Mas isso não é nada que tu já não saibas."

"-É por isso que dá tanto gosto estar aqui." – Disse atirando-se para uma das camas – "Queria ver a cara do dono desta cama ao saber que estive aqui."

"-Se não queres morrer ou ficar severamente aleijada para o resto da tua vida acho melhor saíres daí."

"-Porquê?! Ninguém vai saber que eu aqui estive."

"-Excepto eu, que por acaso costumo dormir aí. Mas este é um óptimo momento para pedir transferência para um lugar bem longe."

"-Esta é a tua cama Malfoy? Sempre imaginei algo bem mais imponente."

"-Contigo aí em cima a última coisa que essa cama será é imponente."

"-Ao menos é confortável. Acho que vou pedir uma destas para mim."

"-Agradece a Merlin não teres de dormir no chão. Já chega por agora. Estamos a perder o meu precioso tempo."

"-Deixa-me aproveitar só mais um pouco." – Disse divertida estendendo os braços.

"-Anda Weasley, sai da minha cama."

"-Essa deve ter sido, muito provavelmente, a primeira vez que disseste isso a uma rapariga."

"-Salta daí!"

Ela revirou os olhos entediada e levantou-se por fim.

"-Ok, ok."

"-Finalmente. Agora a torre dos Gryffindor."

"-Não sei…"

"-Não tentes ser mesquinha Weasley. Acordo é acordo e eu cumpri a minha parte. Se não tens dinheiro ao menos que tenhas palavra. Quero conhecer a sala comum dos Gryffindor agora."

"-Cuidado com o que me dizes. Eu sou a única pessoa de Hogwarts disposta a deixar-te entrar na nossa torre. Sem mim vais ficar curioso para sempre."

"-Vamos Weasley, não vais deixar de cumprir um acordo, vais?"

"-Não, a menos que me tragas aqui novamente."

"-Não abuses, o acordo incluía uma visita à sala comum dos Slytherin, nada mais. Agora vais honrar a tua palavra."

"-Tudo bem, tudo bem. Vamos antes que os alunos saiam das aulas e voltem para a sala comum."

Rapidamente Ginevra guiou o rapaz dos Slytherin pelos corredores, naquele momento vazios, do castelo.

"-Qual é a vossa palavra passe? 'Adoramos o Potter testa rachada'?"

"-Não é mais 'Odiamos o Malfoy irritante'."

"-Sinto-me lisonjeado."

"-Não sintas…" – Murmurou a palavra passe e esperou a que a Dama Gorda lhe desse passagem.

"-Oh! Vejo que trouxeste o teu amigo bonito aqui de novo. Mas não sei se o devo deixar entrar. Sabes que os alunos de outras equipas não são bem-vindos aqui."

"-Mas costuma deixar entrar a Luna."

"-É verdade… se posso deixar entrar essa menininha também posso deixar entrar este jovem tão distinto. Tenham juízo."

E Ginny podia jurar que ao passar pelo retrato, mesmo atas do Malfoy, tinha ouvido um murmúrio da Dama Gorda '…que sorte que ela tem…'.

"-É este buraco que vocês chamam de sala comum? É deprimente."

"-Falou o Slytherin que dorme praticamente debaixo da terra."

"-Ao menos não é tudo vermelho e dourado! Parece o maldito balneário dos Chudley Cannons, prestes a pegar fogo a qualquer momento."

"-É acolhedor!"

"-É acolhedor!" – Imitou – "Qual dos dormitórios é das raparigas?"

"-Eu se fosse tu não fazia isso."

"-Mas felizmente não és eu. É o da direita?"

Ela assentiu e Draco avançou. Porém, antes que pudesse alcançar o topo das escadas estas transformaram-se num escorrega, que o fez cair no chão.

"-Mas que raio é isto?! Vocês são idiotas ou quê?!"

"-Protecção anti-rapazes. Eles não têm permissão para entrar no nosso dormitório."

"-Só mesmo os Gryffindor para arranjarem um coisa retorcida como esta."

"-Não vale a pena perguntar se vocês têm algo como isto. Já percebi que não."

"-Claro que não, isso é ridículo! Afinal o que é que há de tão especial lá em cima? Um bando de raparigas, que nem bonitas são!"

"-Eu nem sei como é que alguém…"

Mas ela não chegou a terminar a frase, o barulho do quadro da Dama Gorda a abrir fê-la calar-se.

"-Rápido." – Disse puxando Draco pela mão até aos dormitórios masculinos.

"-Weasley!"

"-Shiu! Não te mexas!" – Disse puxando-o para dentro do dormitório dos alunos do primeiro ano.

"-O que é que foi Weasley?"

"-Alguém entrou na sala comum. Se te apanham aqui atiram-me para o lago!"

"-E o que é que eu tenho a ver com isso?"

"-Tu também não ias ficar numa boa situação."

"-Não quero saber."

"-Então se não queres saber porque é que não sais daqui e vais ver quem lá está em baixo, talvez dar-lhe os bons dias."

"-E achas que não vou?"

"-Não eras capaz."

Ele não lhe respondeu. Abriu a porta e saiu fechando-a com um estrondo. Ginny assustou-se quando segundos depois ele entrou no dormitório a correr.

"-O que foi?" – Perguntou estranhando o semblante dele.

"-Eu pensava que ia exterminar alguns Gryffindors do primeiro ano mas foi o Cicatriz que entrou."

Ginevra riu alto, tão alto que Draco teve de a mandar calar.

"-Queres que o teu namoradinho nos encontre?"
"-Estás com medo?"

"-Claro Weasley. O meu maior medo é encontrar o Potter sentado num cadeirão na sala comum dos Gryffindor. Estou aterrorizado Weasley."

"-Deixa de ser idiota Malfoy. O que vamos fazer agora?"

"-Pensa bem… eu sou um Malfoy, tu és uma Weasley, estamos trancados no dormitório do primeiro ano dos Gryffindor. O que é que achas que podíamos fazer?" – Perguntou fazendo-a revirar os olhos.

"-Tens de sair daqui."

"-Porquê?! É tão acolhedor." – Respondeu com evidente sarcasmo.

"-Temos de arranjar uma maneira de te tirar daqui."

"-E que tal tu ires lá abaixo… agarrares no teu namoradinho e fazeres o que vocês costumam fazer, seja lá o que isso for."

"-Não sejas idiota, não vou lá a baixo, ele vai ver-me a sair dos dormitórios dos rapazes."

"-Ora, diz-lhe que estavas com saudades dele e que foste vasculhar as coisas dele à procura de algo que pudesses guardar para sempre debaixo do teu travesseiro, um par de meias ou assim."

"-Tu és sempre tão idiota?"

"-Só quando tu és assim tão chata. Então, não eras capaz de ir lá a baixo distrai-lo?"

"-Essa coisa do 'não eras capaz…' outra vez não!"

"-Logo vi que não eras capaz."

"-Vais pagar-mas Malfoy."

"-Que eu saiba tu é que tens de me pagar, um bombom. Há pouco fui lá abaixo, lembraste?"

"-Eu odeio-te." – Murmurou irritada.

"-Grita quando eu puder sair."

Ela respirou fundo e saiu do quarto. Harry estava sentado num dos cadeirões da sala comum, pode vê-lo através da pequena abertura da porta dos dormitórios.

"-Ai!" – gritou fazendo o rapaz saltar no lugar.

"-O que foi Ginny? Está tudo bem? O que se passa? Não devias estar nas aulas?"

"-Oh Harry… eu não sei o que se passa! Eu… eu estou cheia de dores…ai!"

"-Dores? Mas que dores? Onde?"

"-Dores por todo o corpo. Eu não sei o que se passa…"

"-Já foste à enfermaria?"

"-Não… eu não fui à aula porque… ai!... porque me estava a sentir mal… voltei para aqui… e até fui procurar nos dormitórios por ajuda, porque me estou a sentir pior…Será que tu… se pudesses… levavas-me à enfermaria?"

"-Claro. Vamos."

"-Ai!"

"-O que foi? Estás pior?"

"-VAMOS PARA A ENFERMARIA!"

"-Porque é que estás a gritar?"

"-Eu… eu não estou a gritar…ai!"

"-É melhor irmos…"

"-Rápido." – Pediu.

"-Sim, rápido."

Da entrada do dormitório dos rapazes Draco assistia à cena divertido. Assim que o Potter e a Weasley desapareceram o loiro precipitou-se para fora dos dormitórios.

"-O que fazes aqui Malfoy?" – Inquiriu Hermione quando o viu a afastar-se do retrato da Dama Gorda.

"-Não que tenhas alguma coisa a ver com isso Sangue de Lama. Mas mandaram-me procurar a Weasley, parece que ela andou a faltar às aulas de Transfiguração."

"-E porque é que te pediram a ti para a vir procurar? Nem se quer és da equipa dela."

"-Se calhar a professora confia mais em mim, o que não é de admirar. Parece que já não és a queridinha dos professores Granger." – Disse-lhe afastando-se com um sorriso no rosto.

Draco tinha acabado de ultrapassar a confusão que fora o visitar a sala comum do inimigo e Ginny só agora começava a sofrer as consequências da ideia maluca que tivera.

"-Mas diga-me o que sente."

"-Eu já estou muito melhor. Não é preciso nada… Vamos embora Harry."

"-Mas ainda há pouco estavas cheia de dores. Deixa a Madame Pomfrey examinar-te."

"-Oh, não é preciso… a sério, estou muito melhor."

"-Afinal o que é que ela sente?"

"-Ela estava cheia de dores… por todo o corpo…"

"-Caiu de algumas escadas?" – Perguntou ingénua fazendo a ruiva rir mentalmente.

"-Não."

"-Ok, então bebeu ou comeu algo que não seja habitual?"

"-Também não…"

"-E esteve em algum sitio onde não costuma estar?"

"-Não… quer dizer… não, eu fui para a sala de aulas, senti-me mal e voltei para a sala comum. Mas porquê?"

"-Podia ser uma reacção alérgica. Fez alguma magia que não devia?"

"-Não… não…"

"-Tem a certeza que não fez nenhum feitiço em si própria, um feitiço encaracolar o cabelo talvez?"

"-Não… nada recente pelo menos…"

"-Bem, fazemos assim, se voltar a sentir dores novamente volta aqui, sem esperas. Não quero alunos a passar mal pelos cantos do castelo."

"-Certo Madame Pomfrey. Obrigada e desculpe o incómodo. Vamos Harry?"

"-Sim, claro…" – Respondeu vagamente.

Não tinha entendido como é que alguém com tantas dores como ela dizia ter podia estar tão bem dois ou três minutos depois.

"-Tens a certeza que estás bem?" – Perguntou assim que saíram da enfermaria.

"-Sim…"

"-Foi estranho Ginny. Tu parecias tão mal e agora…"

"-Eu não quis contar à Madame Pomfrey mas eu fiz um feitiço sim." – Inventou – "Para alisar o cabelo sabes, mas não funcionou."

"-Porque é que não lhe constaste?"

"-Nem um feitiço básico consigo fazer? Que vergonha…"

"-Não precisas de ter vergonha… coisas dessas acontecem…"

"-Obrigada por teres vindo comigo."

"-De nada… e para a próxima não precisas de fazer feitiços para esticar o cabelo, ele fica perfeito assim."

Ela sorriu sem jeito, corando. Mas mais corada ficou quando vislumbrou o Malfoy no fundo do corredor.

"-Harry! Não estás atrasado para a tua aula?"

"-Sim, na realidade estou muito atrasado, para poções."

"-Então é melhor ires."

"-Queres que te leve até à tua sala de aulas?"

"-Não vale a pena, eu vou voltar à sala comum, descansar um bocado."

"-Então vemo-nos mais tarde."

"-Até mais logo e obrigada por tudo."

"-De nada…"

"-Bela actuação Weasley…"

"-Por tua causa vim parar à enfermaria."

"-Foi uma excelente mentira, o Potter acreditou que nem um patinho."

"-Ao menos conseguiste sair sem problemas?"

"-Encontrei a Granger cá fora, mas não foi nada de especial."

"-Não achas que é altura de pararmos com o 'não eras capaz…' ?"

"-Porquê? Não achas divertido?"

"-Divertido?! Tu hoje quase foste apanhado na sala comum dos Gryffindor. Da próxima vez podemos apanhar uma detenção ou ser expulsos!"

"-Não exageres Weasley!"

"-Não é exagero! Não quero ser expulsa por uma parvoíce!"

"-Tudo bem Weasley… para aproxima não te peço nada arriscado."

"-Não vai haver próxima Malfoy."

"-Não eras capaz de me fazer uma coisa dessas, pois não Weasley?"

"-Cuidado com as palavras Malfoy."

"-Não sejas desmancha-prazeres Weasley."

"-Queres continuar com este jogo idiota?"

"-Porque não?"

"-Então tenho algo para ti. Tu não eras capaz de…" – Semicerrou os olhos tentando concentrar-se – "… já sei! Tu não eras capaz de beijar a Hermione!"

"-Obviamente que não."

"-Eu sabia! Agora vais deixar-me em paz!"

"-Não! Eu exijo outro desafio! Este é simplesmente um golpe baixo."

"-Foste tu que não quiseste parar com o jogo."

"-Tu disseste que não querias nada arriscado, algo que não levasse a uma detenção ou a uma expulsão! Então este desafio não é válido."

"-E o que é que eu tenho a ver com isso?"

"-Vá lá Weasley, eu sei que tu não és tão vingativa assim!"

"-Sabes, hã?"

"-Sei sim…"

"-Ok, eu proponho outro desafio, mas com uma condição."

"-Que condição?"

"-Tens de o cumprir e não podes pedir por outro desafio."

"-Não tenho a certeza de que vou fazer a coisa certa mas nada pode ser pior que beijar a Granger!"

"-Não eras capaz de deixar de me propor desafios até ao final das aulas."

"-Tens noção que estamos em Janeiro e as aulas só acabam em Junho."

"-Disseste que concordavas com o que eu propusesse. Culpa-te a ti próprio por teres começado este jogo idiota."

"-Fica sabendo que não concordo com isto nem um pouco."

"-As tuas opiniões foram ouvidas Malfoy, agora deixa-me em paz."

"-Isto vai ter volta Weasley! Oh se vai!"

. . .

Sorriu satisfeita como há muito não acontecia. O facto do Malfoy ter parado com aquele joguinho idiota tinha melhorado em muito a sua vida.

"-Porquê esse sorriso idiota?"

"-Não és só tu que tens direito Luna… Eu estou feliz, não posso?"

"-Podes mas… bem, não é natural. Andas sempre chateada pelos cantos, sempre a reclamar com os trabalhos e a dizer mal do tempo…"

"-Mas hoje nada disso me preocupa, os trabalhos acabaram, o tempo está perfeito, hoje é o último jogo de Quidditch do ano e daqui a duas semanas vamos estar de férias. Não achas que tenho razões para estar feliz?"

"-Não mais do que eu!"

"-E porquê?"

"-Porque eu conheci o rapaz mais maravilhoso de todo o castelo!"

"-E que rapaz é esse, tão maravilhoso que eu nunca o vi?!"

"-Digamos que é uma surpresa!"

"-Ora! Eu contei-te o motivo da minha felicidade."

"-Não era lá um grande motivo…"

"-Vá Luna, eu sei que estás mortinha por me contar quem é o rapaz. Quem é?!"

"-Não podes contar a ninguém… É um segredo só nosso."

"-Sim, um segredo só nosso…"

"-Nem te podes rir, ou fazer comentários tontos…"

"-Nem rir nem fazer comentários tontos, prometo."

"-É o rapaz mais lindo, mais divertido, mais maravilhoso e mais simpático de todo o castelo."

"-Ele é tudo isso, hã?"

"-E muito, muito mais. O Blaise é o melhor de todos!"

"-Blaise, quem é o Blaise? Eu conheço?"

"-É aquele amigo do Malfoy, o amigo giro dele!"

"-Tu disseste que ele é simpático? Ele está sempre com um ar mal-humorado, passa o tempo a gritar com os alunos do primeiro ano e nunca, mas nunca o vi ser simpático com uma rapariga."

"-Mas ele foi simpático para mim."

"-Se tu o dizes…"

"-Ele disse que eu era a rapariga mais bonita que ele já conheceu e convidou-me para assistir o jogo de Quidditch nas bancadas dos Slytherin!"

"-Pensei que ias ver o jogo na bancada dos Gryffindor, torcer por mim. Este é o meu último jogo sabes… Depois que o Harry for embora eu vou desistir da equipa."

"-Desculpa Ginny, o Blaise convidou-me primeiro."

"-Tudo bem… Eu entendo…"

"-Não ficas zangada?"

"-Não… eu vou estar a jogar, ias ficar sozinha de qualquer maneira."

"-Boa! Então vou-me preparar!"

"-Mas ainda faltam duas horas para o jogo!"

"-Nós vamos encontra-nos antes do jogo, para podermos estar sozinhos durante um pouco."

"-Ok, ok."

"-Boa sorte. Espero que ganhem!"

"-Obrigada. Até logo."

"-Até logo…"

Ginny suspirou ao ver a amiga sair. Esperava que o tal Blaise soubesse cuidar dela, não a queria ver magoada.

"-Hei Ginny!" – Gritou Luna entrando na sala de rompante – "Esqueci-me de te dizer. O Malfoy disse ao Blaise que me disse a mim que tu não eras capaz de deixar os Slytherin ganhar hoje."

"-Hã?"

"-Foi o que o Blaise me disse. Acho que o Malfoy é um bocadinho tonto… As ideias dele devem andar trocadas porque tu não ias deixar os Slytherin ganhar nem que Merlin mandasse."

"-Hum… pois… Obrigada pela mensagem Luna."

"-De nada."

Ela definitivamente odiava o Malfoy. Irritada saiu da sala comum, sem sequer prestar atenção aos chamados insistentes de Harry.

"-Ginny! Espera!"

"-Chamaste?"

"-Umas quinhentas vezes, sim. Não vais para o campo?"

"-Não, precisava de ver umas coisas antes do jogo."

"-Mas nós conseguimos reservar o campo antes do jogo só para podermos fazer um aquecimento melhor."

"-Não pode ser mais tarde?"

"-Se não nos despacharmos podemos perder o campo para os Slytherin."

"-Onde está o resto da equipa?"

"-A caminho do campo. Voltei para trás para te avisar."

"-Ok, vamos lá então."

Tratava do assunto do Malfoy mais tarde. Ou assim pensou até o ver cruzar um dos corredores à sua frente.

"-Harry, preciso de ir buscar uma coisa à sala comum."

"-Mas não pode esperar?"

"-É o meu amuleto da sorte, preciso dele para o jogo."

"-Não te demores, é importante treinarmos um pouco antes do jogo."

"-Dois minutos e estarei no campo."

"-Sem atrasos." – Concluiu com um sorriso continuando o caminho de antes.

"-Malfoy!" – Chamou irritada.

"-Estás a falar comigo?"

"-Vês aqui mais algum Malfoy? Não cumpriste a tua parte do desafio!"

"-Como é que é Weasley?!"

"-Ouviste muito bem! O desafio era não me desafiares mais até ao final do ano!"

"-E quando é que eu te desafiei?"

"-Sabes muito bem! O teu amiguinho disse à Luna que lhe tinhas dito que eu não era capaz de deixar os Slytherin ganhar!" – Disse muito rápido – " Pois tens razão, não sou!"

"-Bem, tu querias acabar com a brincadeira e que maneira melhor de terminar do que desistir?"

"-Eu não estou a desistir!"

"-Oh, mas estás! Se consideraste um desafio o que a tua amiguinha te disse e não o vais cumprir então estás a desistir!"

"-Mas foste tu a não cumprir primeiro."

"-Eu estou a cumprir. Disseste-me que não era capaz de deixar de te propor desafios e até agora não te propus nenhum. Foi o Zabini que disse à aluada e ela que te disse a ti. Tu é que assumiste que fui eu, logo tens de cumprir."

"-Vai desistindo Malfoy, este ano a taça será dos Gryffindor!"

"-Tu é que sabes Weasley… tu é que sabes…" – Respondeu-lhe afastando-se.

Ele e a mania dele de fazer as suas saídas "em grande"! Mas isso também pouco importava, agora tudo o que pensava resumia-se ao jogo que tinha de ganhar.

Correu em direcção ao campo de jogo, onde a equipa ouvia um discurso nervoso de Harry.

"-Ginny! Finalmente! Estava a dizer aos outros… Bem! Nós temos absolutamente que ganhar por uma margem de duzentos pontos ou então nada feito."

"-Achas que ainda temos esperanças? A equipa dos Slytherin é forte."

"-Só preciso que a equipa consiga manter uma diferença de cinquenta pontos até que eu consiga apanhar a snitch." – Respondeu Harry.

"-E se o Malfoy a apanhar primeiro?"

"-Como se ele conseguisse." – Interpôs Ginny rapidamente.

"-Bem, se ele conseguir…" – Retomou Harry – "…espero que o jogo esteja trezentos e cinquenta a zero, só para prevenir. Vamos jogar uma partida rápida de treino. Às vossas posições!" – Ordenou.

Os gritos ocasionais de Harry comandaram o treino até que as bancadas começaram a ser preenchidas pelos primeiros espectadores.

"-Vamos parar." – Avisou Harry.

Ginny aproveitou para correr até aos balneários e deixar-se cair numa cadeira num dos cantos escuros do local. Estava baralhada. Queria ganhar o jogo, queria que os Gryffindor fossem campeões, mas o desafio do Malfoy estava a irrita-la. Pensava que já tinha ultrapassado o facto de não ser capaz de dizer não a um desafio, mas agora percebia que continuava com uma enorme vontade de mostrar ao Malfoy aquilo que era capaz de fazer.

"Mas isso é exactamente o que ele quer." – Pensou irritada – "Nós não podemos perder…. Não podemos!"

"-Ginny estás aí?!" – Era a voz de Harry que ecoava pelos balneários femininos.

"-Já vou…" – Gritou de volta.

Suspirou profundamente e dirigiu-se para a saída dos balneários.

"-Está tudo bem?"

"-Hã… sim, tudo óptimo."

"-É que saíste do campo a correr..."

"-Só nervos… Não podemos perder este jogo."

"-É verdade, mas não precisas de ficar preocupada."

"-E o discurso do 'nós temos absolutamente que ganhar por uma margem de duzentos pontos ou então nada feito'?"

"-Bem, a equipa precisa de ânimo!" – Disse com um sorriso – "Agora prepara-te. Vamos ganhar a taça!"

"-Sim… ganhar a taça. Até já."

E à medida que ele se afastava os pensamentos sobre o desafio do Malfoy voltavam. Tinha de arranjar uma maneira de escapar ao desafio do Malfoy sem efectivamente desistir ou deixar que a sua equipa saísse derrotada. Podia dizer que estava a sentir-se mal e que por isso não podia jogar – sem ela em campo Draco não poderia afirmar que ela tinha impedido os Gryffindor de perder – podia dizer que tinha visto alguém a lançar feitiços em direcção à caixa das bolas de jogo e que por isso o resultado não poderia ser válido e em caso de necessidade extrema poderia sempre enfeitiçar a Madame Hooch para que esta não pudesse arbitrar a partida.

Mas em que é que ela estava a pensar?! Enfeitiçar a Madame Hooch?! Estava desesperada e só conseguia ter ideias inúteis e assustadoramente arriscadas?! Não! Teria de arranjar outra solução e uma que não a obrigasse a mentir e acarretasse o risco de ser expulsa.

"-Tem de haver outra solução…" – Murmurou olhando em volta, à procura de inspiração para a ideia perfeita.

Mas nada a inspirou, nada a ajudou a ter uma ideia brilhante que lhe salvasse a pele. Teria de enfrentar o Malfoy em campo e decidir em pleno jogo do que queria desistir – se de ganhar ou se de contradizer o loiro.

"-Ginny!" – Gritou Harry do lado de fora do balneário.

"-Estou a ir!"

E em menos de nada estava em cima da vassoura, em pleno voo rodeada por gritos de apoiantes e adversários e sem qualquer ideia do que fazer. O seu dilema acabou nos instantes que seguiram o início da partida, quando – sem qualquer aviso – foi atingida fortemente na cabeça pela bola mais letal em campo.

. . .

"-Ela abriu os olhos! Abriu os olhos!"

As vozes excitadas pareciam longe, como ao fundo de um túnel demasiado longo. Pestanejou com dificuldade, com a luminosidade a magoar-lhe a vista. Tinha a boca seca e a sua cabeça doía como se tivesse sido atropelada por uma bludger.

"-Onde estou?" – Murmurou, a voz a sair mais fraca e rouca do que estava à espera.

Por estar deitada só conseguia perceber a face sorridente de Luna bem perto.

"-Na enfermaria Ginny. O jogo tinha acabado de começar e uma bludger apareceu do nada do lado dos Slytherin e atingiu-te em cheio na cabeça. E sabes o mais estranho? Foi o Malfoy que te agarrou pelo tornozelo antes que te esborrachasses no chão."

"-Não que o que ele fez não tenha sido útil…" – Cortou Hermione que aparentemente estivera ali durante toda a conversa – "…afinal podias ter-te magoado muito mais. Mas ele só te agarrou porque caíste em cima dele e assim que ele desceu até a uma altitude segura deixou-te cair como se fosses uma pedra. Não foi lá muito amigável."

"-Claro que não foi amigável!" – Disse Ron, num tom excessivamente alto – "Ele é um miserável de um Malfoy. Devia ter sido ele a levar com a bludger na cabeça e…"

"-E cair como um gnomo de jardim, espalmado no chão!" – Completaram em conjunto Harry e Hermione – "Sim Ron, já sabemos! Não tens dito outra coisa a semana inteira." – Concluiu Hermione.

"-A semana inteira?" – Perguntou com dificuldade.

"-Oh! Desculpa Ginny. O jogo foi a semana passada, tens estado desacordada desde então. Como te sentes, dói-te algo?"

"-Ganhámos?"

"-Sim. Claro que o idiota do Malfoy não deixou de fazer a sua confusão do costume! Pediu a anulação do jogo! Diz que só perderam porque ele se viu incapaz de apanhar a snitch depois de lhe teres caído em cima! Como se alguma vez na vida dele ele conseguisse apanhar a snitch num jogo a sério!"

"-Já chega Ron! Pára com isso!" – Ordenou Hermione – "A Ginny precisa de descansar, não de se preocupar com as tuas desavenças com o Malfoy."

"-Mas…"

"-Sem mas. Vamos para a biblioteca. Caso não saibas as aulas duram até à próxima semana e o Snape não se vai esquecer do trabalho que tens para lhe entregar." – Disse a Ron num tom baixo – "Harry, vens connosco ou ficas mais um pouco?"

"-Eu já vos encontro." – Disse vendo Ron, Hermione e Luna a sair da enfermaria – " Como te sentes?"

"-Esquecida." – Respondeu sem saber o que mais dizer.

A realidade era que a última coisa que ela se recordava era de pensar o que faria para se escapar ao desafio do Malfoy.

"-Não te preocupes." – Respondeu alcançando-lhe a mão – "Não perdeste nada. Apesar de termos ficado com a equipa desfalcada, conseguimos ganhar. E o que importa realmente agora é que estejas bem, que te sintas bem."

"-Quando é que posso sair daqui?"

"-Isso não sou eu que decido… Vais ter de esperar até que a Madame Pomfrey te examine e te deixe ir."

"-Aposto que não vou sair daqui tão cedo."

"-Pensa positivo, se não saíres daqui não tens de ir às aulas."

"-Por falar em aulas, que trabalho de poções era esse que a Hermione estava a falar."

"-Uma nova de torturar os alunos que o Snape arranjou. Um metro de pergaminho sobre poções banidas pelo ministério, que tenho de terminar ainda hoje se não quero detenções na última semana de aulas."

"-Ainda te falta muito?"

"-Sensivelmente um metro." – Respondeu fazendo a ruiva rir – "Vou indo agora. Vê se descansas. E se a Madame Pomfrey te deixar sair ainda hoje procura-nos na biblioteca, que é onde estaremos até que seja hora de fechar."

"-Adeus Harry."

"-Até mais logo Ginny. E antes que me esqueça, a Hermione trouxe a tua caixa de bombons." – Disse apontando para a caixa prateada em cima de uma pequena mesa.

"-Agradece-lhe por mim." – Disse obtendo como resposta um sorriso.

Depois da saída de Harry apressou-se a chamar a Madame Pomfrey, para que pudesse ver-se livre da enfermaria o mais rápido possível.

"-Não pense que a vou deixar sair hoje." – Disse depois de examinar a ruiva – "Uma pancada na cabeça pode ser muito perigosa, principalmente depois de ter ficado uma semana desacordada."

"-Mas eu sinto-me perfeitamente bem. Não me dói nada."

"-Ainda assim. Quero observá-la pelo menos esta noite, para ter a certeza que as suas faculdades mentais estão normais."

"-Eu estou óptima Madame Pomfrey. Posso recitar-lhe de cor cem venenos naturais, trinta equipas de Quidditch e quarenta e cinco formas de utilização de pó de dixie no dia-a-dia. Por favor, deixe-me ir embora."

"-Querida, nada do que possa dizer me vai fazer mudar de ideias. E se insiste muito vou ter que a fazer ficar amanhã também."

"-Tudo bem…" – Murmurou contrafeita, afundando-se nas almofadas.

"-Agora diga-me, há algo que possa fazer por si?"

"-Posso ao menos enviar um bilhete?"

"-Pode sim. Trago-lhe já pergaminho e uma pena."

"-E a coruja?" – Perguntou vendo a enfermeira entrar no seu pequeno escritório.

"-Oh, não se preocupe, o pergaminho está enfeitiçado. Tudo o que tem de fazer é escrever o nome de quem quer que receba o bilhete e ele vai lá ter sozinho assim que o atirar ao ar."

"-E é seguro? Quero dizer, só essa pessoa é que vai conseguir ler o bilhete."

"-Desde que o nome não seja comum, o bilhete encontra o caminho até à pessoa certa." – Respondeu passando-lhe um pedaço de pergaminho azulado e uma pena de pavão.

"-Obrigada Madame Pomfrey."

"-De nada querida. E assim que acabar de escrever o bilhete tente descansar."

"-É o que vou fazer." – Disse rapidamente, fazendo a enfermeira afastar-se.

Se ia ficar trancada naquela enfermaria, ao menos ia divertir-se com isso. Rabiscou rapidamente uma série de palavras, sempre com um sorriso nos lábios e quando terminou dobrou o pergaminho em quatro, escreveu o nome do receptor do bilhete e de seguida atirou o papelinho azul ao ar. Ficou surpreendida quando este se transformou num bonito cisne de papel que voou para fora da enfermaria num ápice.

"-Agora é só esperar…" – Murmurou para si ajeitando-se nas almofadas.

. . .

"-O meu chocolate?" – Murmurou-lhe ao ouvido fazendo-a saltar.

"-Idiota!" – Murmurou irritada com a mão sobre o peito.

Olhou em volta e não viu nada, estava escuro de mais.

"-Onde é que estás?"

"-Aqui Weasley, onde mais poderia estar?" – Disse bem perto do ouvido dela – "Agora dá-me o meu chocolate, para que me possa ir embora."

"-Não podes ir embora assim!"

"-E quem é que disse isso?"

"-Ora, eu digo!"

"-Que eu saiba o teu cisne idiota só dizia que eu não era capaz de ver cá ter contigo. Não dizia que eu tinha de te aturar numa enfermaria escura durante toda a noite."

"-Mas agora que aqui estás podias sempre fazer-me companhia."

"-Podia, mas não vou. Se queres companhia chama um daqueles teus amigos idiotas. Eles que arrisquem apanhar uma detenção por andar a visitar uma Weasley aleijada fora de horas."

"-Antes que te vás embora responde-me a uma coisa." – Disse, olhando na direcção onde supunha que ele estivesse – "Porque é que me agarraste quando fui atingida no jogo?"

"-Olha Weasley, não sei o que te disseram, mas eu não te agarrei como dizes. Tu caíste em cima de mim como um pedregulho e eu não tive outra hipótese se não agarrar-te."

"-Hum…sei…"

"-Foi mesmo! Bem podes ter a certeza que se dependesse de mim te tinhas esborrachado no chão."

"-Claro Malfoy."

"-E se bem me lembro eu mereço dois bombons e não um."

"-Dois? Desde quando?"

"-Desde que tu não cumpriste o meu desafio."

"-Por amor de Merlin, eu fui atingida na cabeça!"

"-Sinceramente, isso não é desculpa."

"-E se bem me lembro o desafio nem tinha feito por ti, pois não Malfoy?"

"-Feito por mim ou não…" – Respondeu apressadamente "… tu não o cumpriste."

"-Se a pancada não afectou a minha memória o desafio era eu deixar que os Slytherin ganhassem. E eu deixei, se vocês não conseguiram, a culpa é vossa."

"-Mas…"

"-Tens direito a um chocolate e não mais." – Concluiu obtendo como resposta um murmúrio irritado entre dentes – "E agora vais ajudar-me a sair daqui."

"-O quê?!"

"-Vais ajudar-me a sair da enfermaria, estou farta daqui estar."

"-E ser expulso por ajudar uma Weasley? Nem morto."

"-Não eras capaz de fazer isso por mim?"

"-Não, não era!"

"-Óptimo, parece que acabei de conseguir um bombom para mim e uma desistência de um Malfoy."

"-Isso é um golpe baixo."

"-Golpe baixo seria se eu te desafiasse a beijar a Hermione de novo."

"-Quero mais do que um bombom para te tirar daqui."

"-Dois e nem mais uma raspa de chocolate!"

"-Feito." – Respondeu puxando-a por um braço.

Ginevra, que fora apanhada de surpresa, escorregou da cama, caindo no chão de joelhos.

"-Shhhh Weasley!" – Sibilou irritado – "A tua sorte é que a enfermeira é mais surda que a gata do Filch!" – Disse continuando a puxá-la por um braço.

"-Espera Malfoy." – Pediu – " Preciso de algo para vestir."

"-Esquece isso agora Weasley!"

"-Mas não posso ir com estas roupas da enfermaria para o meio do corredor!"

"-É tarde, ninguém te vai ver."

"-Tu vais!"

"-Como se me fizesse diferença. Anda logo." – Ordenou com um puxão violento.

A ruiva deixou-se arrastar, caminhando o mais rápida e silenciosamente que conseguia. Suspirou de alívio quando cruzou a esquina do corredor da enfermaria.

"-Tinhas razão, precisavas mesmo de algo para vestir. Estás ainda mais horrível do que o costume." – Comentou maldosamente ao vê-la vestida com uma bata verde escura, bastante gasta – "Até as tuas roupas de Weasley são melhores que isso."

"-Pára seu idiota!" – Gritou cruzando os braços na frente do peito, em pose defensiva.

"-Pior do que ser apanhada pelo Filch era ser apanhada pelo Filch assim vestida. Continua a gritar feita idiota e é isso que te vai acontecer."

"-Para onde vamos agora?" – Perguntou ignorando o comentário dele.

"-Eu vou para as masmorras, tu, não tenho ideia nem faço questão de ter."

"-Mas…"

"-Boa noite Weasley." – Cortou afastando-se dela.

"-Espera!" – Pediu.

"-O que foi agora?"

"-Eu… eu deixei a caixa de chocolates lá dentro."

"-Nem penses…"

"-Tu não eras capaz de a ir buscar, pois não?"

"-Já te disse hoje o quanto te odeio Weasley?" – Perguntou caminhando em direcção à enfermaria.

Não demorou muito para que ele voltasse com a caixa prateada nas mãos e uma expressão de aborrecimento na face.

"-Aqui tens Weasley" – Disse atirando-lhe a caixa para os braços – "Que seja a última vez que eu tenha de cruzar contigo!" – E com isto afastou-se irritado.

"-Mas eu não tenho onde dormir!" – Disse caminhando atrás dele.

"-Volta para a tua torre ou arranja uma sala vazia, não quero saber." – Respondeu sem se voltar ou parar de caminhar.

"-Mas e se for apanhada…?"

"-Não é problema meu."

"-Malfoy…"

"-Já disse que não quero saber!" – Respondeu voltando-se para ela.

Foi então que a observou bem eu que percebeu que ela não passava de uma rapariga magricelas, vestida com uma bata três vezes maior que ela, descalça, a carregar uma caixa de bombons, prestes a chorar.

"-Anda daí Weasley." – Disse resignado retomando o caminho que seguia segundos antes.

"-Hã?"

"-Vem rápido antes que alguém te veja."

Decidiu que não era tempo de fazer perguntas, isto se não queria ficar perdida num dos corredores até ser de manhã.

"-Entra Weasley." – Disse abrindo uma porta num corredor à sua esquerda.

Ginny entrou e ele seguiu-a, fechando a porta e certificando-se que ficava fechada através de magia.

"-Onde estamos?"

"-Já que precisas de saber, estamos numa antiga sala de professores."

"-Ok…" – Murmurou olhando em volta.

Algumas velas e a luz proveniente de uma janela iluminavam fracamente o local, desenhando na parede sombras assustadoras de cadeirões, mesas pequenas e tapeçarias enrugadas.

"-E agora?"

"-E agora o quê Weasley? Já fiz mais do que devia esta noite. Tens um sítio para dormir e não vais ser descoberta por ninguém. Agora dorme ou deixa-me dormir" – Respondeu sacudindo com uma expressão de nojo o pó de um dos cadeirões.

Depois de um feitiço murmurado à pressa para trancar a porta, Draco sentou-se num dos cadeirões, com as pernas por cima do braço deste, sempre sob o olhar atento da ruiva.

"-Vais ficar aí especada?"

"-Não."

Tentou imitá-lo, mas o cadeirão era mole de mais, deixando-a afundada, demasiado desconfortável para conseguir adormecer.

"-Acho que não vou dormir hoje." – Murmurou mais para si mesma do que para ele, levantando-se do cadeirão e caminhando até à janela.

No caminho parou e atirou dois bombons ao loiro.

"-Estes são teus."

"-E foram mais do que merecidos." – Respondeu vendo-a andar até à janela.

Ficou a observar a ruiva, que se tinha sentado no parapeito da janela. Ela era estranha, pequena de mais para a idade, com um cabelo excessivamente vermelho e uma quantidade exorbitante de sardas a cobrirem-lhe a face.

Definitivamente estranha – Decidiu fechando os olhos e caindo no sono.

Resolveu voltar a tentar o cadeirão, depois de ter percebido que Draco dormia sonoramente. Depois de voltas e mais voltas que fizeram levantar o pó que havia no tecido grosso do cadeirão, Ginevra parou lutar contra a peça de mobília e deixou-se ficar na posição menos desconfortável que conseguiu encontrar.

Quando acordou, já o sol ia alto no céu, não encontrou Draco na sala, nem sinal de que ele alguma vez lá tivesse estado. Fez o melhor feitiço de transfiguração que se lembrou mas tudo o que conseguiu foi transformar a sua bata de enfermaria numa pesada capa de Inverno.

"-Melhor que nada…" – Murmurou sozinha enrolando-se bem na capa.

Chegou à sala comum minutos depois, após ter sido olhada de forma estranha por vários alunos nos corredores, e foi de imediato confrontada com o seu irmão.

"-Onde é que estiveste? Fomos ter contigo e não estavas na enfermaria! E que raio de roupa é essa? Porque é que não nos avisaste que ias fugir da enfermaria? E porque raio é que…"

"-Ron!" – Cortou Hermione – "O que o teu irmão quis dizer é que estávamos preocupados contigo. Ninguém sabia onde te encontrar e a Madame Pomfrey parecia bastante preocupada por teres desaparecido durante a noite."

"-Eu estou bem…"

"-Tens a certeza?"

"-Sim. Só não voltei para a sala comum porque era muito tarde e a Dama Gorda não me ia deixar entrar. Acabei por adormecer numa sala vazia, mas já aqui estou."

"-Tens mesmo a certeza que estás bem?"

"-Não te preocupes Mione, estou bem. Vou subir e tomar um banho. Vemo-nos mais tarde."

"-Vê se aproveitas hoje, enquanto tens dispensa das aulas. Amanhã tens de voltar a assistir a todas as aulas."

"-Sim, vou descansar, obrigada."

Subiu as escadas para o seu dormitório, pouco se importando com os dias de aulas que se seguiam. Em menos de uma semana estaria livre das aulas e de todas as preocupações de Hogwarts.

. . . END OF PART ONE . . .


N/A - Esta é a primeira de quatro partes da fic. Inicialmente a fic era para ser One-Shot, mas a realidade é que as palavras foram crescendo e crescendo e quando a terminei tinha 100 páginas escritas!

Como sabem as reviews são sempre bem-vindas! Espero que tenham gostado e que me escrevam sobre isso! Quero que me deixem saber se estão entusiasmados por mais e o que esperam que vá acontecer!

A segunda parte da fic será postada em breve!

Uma pequena preview para vos aguçar a curiosidade:

"-Não foi à toa que tive nota máxima em Transfiguração."

Ginny permaneceu especada em frente ao espelho, sem palavras. O seu cabelo mudara de ruivo vivo para um loiro pálido e o seu normal uniforme fora trocado por um indecente vestido negro e umas sandálias perigosamente altas.

"-Agora segue as minhas deixas."- Disse entrelaçando o braço dela no seu – "E não fales." - Acrescentou desfazendo o feitiço que trancava a porta.

No mesmo instante um bando de primeiranistas entrou no quarto aos tropeções, encarando Draco e Ginny num misto de choque e receio.

"-Saiam do meu caminho." – Disse num tom baixo e ameaçador que fez os alunos correrem para fora do quarto, para riso geral dos alunos que ocupavam os cadeirões da Sala Comum.

"-O que aconteceu pirralhos? Viram o Barão Sangrento?" – Perguntou um dos finalistas olhando para as faces aterrorizadas dos primeiranistas.

Foi então que o rapaz reparou em Draco, à entrada do dormitório masculino.

"-Se não é o famoso Malfoy!" – Comentou levantando-se para cumprimentar o loiro.

"-Raleigh." – Pronunciou apertando a mão do rapaz –" Sempre a dar lições aos primeiranistas."

"-É uma forma de vida Malfoy! Mas conta-me, o que fazes aqui? E se me permites, tão bem acompanhado."

Boas Leituras e Boas Reviews! Beijos a todos!

Kika Felton87

24/09/08