- PARANÓIA -

PARTE I: TRATOS E TRUQUES

CAPÍTULO 9


Ela segurava sua mão como se a vida dela dependesse disso. Eles corriam, entre as pessoas que duelavam contra comensais. Draco viu a Ordem resistir ao ataque, enquanto os demais presentes conseguiam fugir. Alguns dos convidados, como Victor Krum, ficaram e tomaram partido da Ordem, ajudando-os a combater os comensais. Ele estava aliviado, em parte, por saber que seu pai não estava ali, entre os homens mascarados, mas sim em Azkaban – de certa forma seguro.

Margeou a floresta, praticamente arrastando Ginny, mas não ousou entrar por acreditar que comensais poderiam estar aguardando escondidos.

"Dê-me a sua varinha!", ele gritou, fazendo-se ouvir por cima dos gritos e explosões.

"Eu não-", ela começou a responder, chorosa.

"Weasley", ele parou de correr e a encarou. "Eu sei que você sempre anda com a sua varinha. Vamos! Estamos indefesos e você está nervosa demais por causa do Potter para conseguir mirar em qualquer coisa"

Ela puxou a arma que tinha prendido na perna, por baixo do vestido, e entregou a Malfoy, que imediatamente começou a lançar disparos contra os comensais, sem voltar a correr, mas ainda segurando a mão de Ginny. Só então, agora que estavam parados, percebeu que ela tremia. Colocou-se na frente dela, de forma protetora, enquanto ainda lançava feitiços contra os inimigos que uma vez foram seus aliados – e nem fazia tanto tempo.

"Corra! Vá para dentro da sua casa, creio que eles não estão daquele lado. A Ordem está fazendo uma barreira, ninguém está passando".

"Eu não vou! Eu posso ajudar!", replicou.

"Ajudar como? Não fique aqui para ser mais um alvo... Vem!", gritou, puxando-a de novo.

Ele percebeu que alguns dos comensais partiam, talvez por perceber que Harry Potter não se encontrava ali. Também notou que Ginny chorava, enquanto balbuciava, falando sozinha, coisas como "eles não tinham o direito" ou "me deixaram para trás".

"Weasley, por favor! Vá!", ele parou de novo estuporando alguém. Ela o encarou e soltou a mão dele, atendendo ao pedido. "Corra pela margem da floresta, não vá pelo meio da confusão".

E assim ela o fez. E ele correu em direção aos homens e mulheres da Ordem da Fênix... Mais do que nunca, Draco parecia ter escolhido um lado. Mas não houve muito tempo mais de duelos, pois os que ainda estavam bem, desaparataram; exceto por alguns insistentes que pareciam ainda buscar por Harry Potter ou... "Por mim", pensou. Olhou para trás e viu que Ginny estava próxima de uma barreira de proteção feita pela Ordem. A partir dali ela estaria segura, os comensais não seriam capazes de encontrá-la... Se não a pegassem antes.

Draco viu o homem que se aproximava, Ginny corria como nunca, mas estava sem a varinha. Mesmo que não pudesse usar magia, naquele momento não havia lei que a proibisse... Era em legítima defesa! Correu até ela, lançando feitiços no homem mascarado que a perseguia, mas não conseguia acertar. Draco cruzou pelo caminho mais curto e passou como um raio por ela, segurando-a novamente pela mão e arrastando-a para dentro da floresta.

"O que está fazendo?"

"Estão atrás de nós!"

"Eu não-"

"Quieta", sussurrou, quando pararam próximos à clareira na outra saída após a trilha no meio das árvores.

Os dois respiravam de forma acelerada e ruidosa, o coração parecia que ia explodir e ambos carregavam preocupação e medo no olhar. Ela tremia. A mão dela, segura na dele, tremia. Então, Ginny puxou a sua mão e apoiou as duas no joelho, tentando respirar com mais calma.

Crack. Ele ouviu.

E olhou para trás, de onde tinha vindo o som. Havia gente ali, sorrateira. Ginny percebeu o pânico nos olhos de Draco e olhou a sua volta, mas nada viu além das sombras assustadoras das árvores balançando com o vento que soprava de maneira agourenta, anunciando algo realmente ruim.

"Malfoy, eu não estou escutando nada além do vento... Acho que eles já fo-"

Crack. Ela também ouviu.

E Draco puxou-a para trás da árvore, tapando-lhe a boca. Ele sentia as lágrimas dela molharem a sua mão, mas o choro era silencioso. Ele pegou a varinha, colocou na mão dela e sussurrou:

"Corra. Eu vou despistá-los. Corra pela floresta em direção à sua casa".

Ela confirmou, balançando a cabeça, rapidamente, engolindo o choro. Draco tirou sua mão da boca dela, bem devagar, e olhou mais uma vez: só havia um.

"Agora!"

Ela correu.

Ele também.

Ginny dava passadas rápidas de forma silenciosa, tentando conter o choro e controlar a respiração descompassada. Draco correu na mesma direção, mas de forma a percorrer um caminho paralelo. Se vissem os dois fugindo, ele seria pego primeiro. Não sabia de onde surgira tamanha coragem, mas acreditava que não seria morto se fosse capturado... Depois se lembrou de que sua aparência estava modificada e o pânico se apoderou dele.

Dois vultos surgiram na clareira. Um jato de luz verde passou muito perto e Draco caiu. Levantou-se rapidamente e não teve coragem de olhar para trás: entrou novamente na floresta e, àquela altura, se seguisse reto sabia que entraria na barreira de proteção da casa dos Weasley. Saltou galhos quebrados, pulou raízes, desviou de mais jatos de luz e se abrigou atrás de uma árvore maior. À sua esquerda, correndo pela floresta viu Ginny. Quando se aproximou dele, ela parou.

"Pensei que-", ela começou, arfando.

"Eu disse para correr na direção da sua casa!", sussurrou.

"Eu sei, mas...", sua voz falhou e ela precisou respirar fundo para recuperar o fôlego: "mas tinha alguém vigiando aquele lado. Tive que contornar. Precisava achar você, porque está sem varinha... E precisamos aparatar e eu não sei, preciso de você para isso", ela se apoiou novamente nos joelhos, buscando ar e Draco viu.

Atrás dela, alguns metros adiante havia um homem encapuzado, usando uma máscara. Draco ficou parado, congelado dentro daqueles segundos que pareceram eternos. Olhou para Ginny, que o encarava curiosa e aflita: tinha percebido que havia algo estranho.

"Malfoy..."

"Cuidado, Weasley. Fique calma... E não olhe para trás".

Ela ficou de pé. A mão que segurava a varinha tremia; ela toda tremia. Os olhos, marejados pelas lágrimas, estavam fixos em Draco que não conseguia processar o que fazer. Segundos decisivos que definem quem vive e quem morre; o instante pelo qual alguém que teve uma vida de batalhas se preparou... Mas ele não era nada disso. Draco era só um garoto. Uma criança que sentia medo, mas que precisava parecer forte para não desapontar outra criança vítima de uma guerra que estava diante deles.

"Jogue sua varinha para mim e corra...", pediu baixinho, lentamente.

Ginny balançou a cabeça, negando, mordendo os lábios. "Não", murmurou. As lágrimas caindo. Ela estava congelada pelo pânico.

"Ginny, por favor", implorou, chamando-a pelo nome pela primeira vez. "Agora!"

Ela jogou a varinha e ele a apanhou no ar, Ginny saltou para o lado, correndo de forma alucinada na direção de sua casa. Sua vida dependia daquela corrida. Draco ficou para trás, lançando feitiços contra o homem que revidava e corria em sua direção. Draco correu e se escondeu. Havia mais gente! Ele não daria conta de mais de dois comensais... Precisava correr! Atirou-se em direção à casa dos Weasley, em um único fôlego, gritando feitiços lançados sobre os ombros a cada dois ou três passos – com sorte derrubaria alguém. Ouvia passos vindos de todas as direções... Até mesmo diante dele.

"Não...", murmurou parando. Estava cercado.

Respirou profundamente correu para esquerda. Ficou preocupado com Ginny, pois ela correra diretamente para onde estavam os comensais... Teria ela conseguido escapar antes que eles fechassem o cerco? Teria ela-

Caiu.

Bateu a cabeça em uma raiz e sentiu o sangue quente se misturar ao que já estava seco em sua face. Sua vista embaçou, mas, antes de tudo ficar escuro, ele viu que três sombras se aproximavam com as varinhas erguidas.


Abriu os olhos e não agüentou a claridade. Sua cabeça doía e seu corpo parecia flutuar... Levantou rapidamente ao recordar onde deveria estar, mas alguém colocou a mão em seu peito e o fez deitar novamente. Abriu os olhos mais uma vez, tentando se acostumar com a luz e viu Molly Weasley de pé ao lado de sua cama, administrando alguns ingredientes de uma poção; Ginny estava sentada, segurando a sua mão para trocar um curativo; Arthur Weasley estava de pé. Tinha hematomas no rosto.

"É melhor não se mexer muito, Malfoy", falou Arthur, aproximando-se.

"Como...", a voz de Draco saiu rouca e ele tossiu. "Pensei que eles tinham conseguido me pegar".

"Por um momento também achamos", disse Molly, misturando alguma coisa e oferecendo para ele. O rapaz fez menção de pegar a caneca, mas a senhora Weasley fez que não e deu a poção na boca, devagar, enquanto explicava: "Ginny voltou correndo, em prantos, dizendo que você tinha ficado para trás. Havia comensais na floresta..."

"Debandaram quando conseguimos aumentar o cerco e adicionar os feitiços de proteção tornando o perímetro seguro maior. Muitos aparataram, mas outros não conseguiram. Nós conseguimos expandir a área que impede aparatação para além da floresta e eles ficaram presos, precisaram correr".

"Obrigada", Ginny falou baixo.

"Você salvou a vida da nossa filha", Molly falou emocionada, terminando de dar a poção. "Seremos eternamente gratos".

"Quanto tempo eu dormi?", questionou desorientado.

"Poucas horas. O suficiente para conseguirmos consertar a sua cabeça", falou Ginny, sorrindo de forma reconfortante.

"Vamos nos reunir mais tarde, tentar entender o que houve", começou Arthur. "Você está convidado a se juntar a nós no almoço, Malfoy".

"Ontem, você provou que está do nosso lado", Molly sorriu, meio sem jeito, nervosa.

"Arthur? Molly?", alguém chamou em de algum lugar no jardim. Ginny finalizou a atadura de uma das mãos de Draco e se levantou para espiar através da Janela.

"Lupin e Tonks chegaram", informou.

"Oh! Preciso terminar o almoço", falou apressada, recolhendo os utensílios usados no preparo da poção e fazendo-os flutuar pelo quarto. Abriu a porta e Arthur a seguiu.

"Ginny, assim que você terminar de trocar os curativos, por favor, desça para me ajudar".

"Sim, mamãe", falou obediente, mas Draco notou o tom de tristeza em sua voz.

Ginny voltou a se sentar na cama e pegou a caixinha com ataduras, remédios e pomadas. Em silêncio ela passou uma com cheiro esquisito na parte de cima da outra mão de Draco, que tinha apenas alguns arranhões, até que ela levantou a manga da camisa do braço esquerdo e viu a marca negra. Draco puxou o braço e cobriu novamente a tatuagem.

"Esse braço está bem, obrigado".

"Ainda preciso trocar o curativo da sua cabeça", disse se aproximando.

"Cuidado!", reclamou, assim que ela tocou sua testa.

"Sua cabeça dura estava rachada, Malfoy. Um pouco de dor você vai sentir por enquanto", falou ríspida. Voltando a se concentrar em sua tarefa. Draco tinha a impressão de que ela queria terminar tudo rápido e sair correndo. Ainda estava magoada pelo que tinha acontecido. Não havia trauma pelo acontecido da noite anterior, pois a raiva pelo que Harry Potter tinha feito parecia muito maior.

"Você está chateada com eles, não é?"

Ginny não respondeu.

"Eu sei que você queria ter ido", insistiu.

"Malfoy, eu não me sinto confortável falando sobre isso com você"

"Mas devia, porque você precisa falar sobre isso e não vejo outra opção aqui... Ai!"

"Se você quiser começar a falar sobre isso, garanto que vai doer ainda mais", falou com raiva, seu rosto ficando vermelho.

Ele sentia as mãos dela tremendo enquanto trabalhava no curativo. Ele a encarou em silêncio, realmente entendia o que ela sentia... Suspirou. Sabia exatamente do que ela precisava:

"Pode chorar", ele falou baixo.

Ela tirou as mãos da testa de Draco e cobriu o rosto, levantando-se em seguida, apressada, enquanto enxugava as lágrimas, tentando escondê-las.

"Eles não tinham o direito", disse com raiva. "Agem como se eu fosse uma criança e como se eles fossem os salvadores do mundo..."

"Mas eles são os salvadores do mundo", Draco falou, mas ela não deu ouvidos às suas palavras e apenas continuou:

"Harry primeiro termina comigo para me proteger... Grande piada! Como se eu não estivesse correndo perigo só por ser filha dos meus pais. Minha família inteira está na Ordem, meu irmão caçula é o melhor amigo do Menino-que-Sobreviveu...", ela tomou fôlego e continuou: "Ele era meu namorado!"

"Weasley-"

"Eles me tratam como uma criança que não pode enfrentar as coisas, quando eles são apenas um ano mais velhos. Se escondem de mim, traçam planos... Essa guerra também é minha! Minha!"

Ela andava de um lado para o outro, vermelha, furiosa. Não chegava a gritar, e isso deixou Draco realmente intrigado. Ginny Weasley não gritava, mas a raiva parecia transbordar em cada uma das palavras que ela falava.

"Weasley..."

"Você é que começou, Malfoy, agora vai escutar até o final-"

"Weasley, por favor", ele pediu com calma. "Sente aqui", falou apontando para a ponta da cama. Ele encolheu as pernas para dar mais espaço. E ela o encarou e encolheu os ombros.

"Que seja...", sentou-se, cruzando os braços e as pernas.

"Já pensou que você ainda tem o rastreador?", ele começou. "E que se o Ministério quisesse acharia você no mesmo instante?"

Ela não respondeu, apenas fez um muxoxo e ficou emburrada.

"Você sabe que sim..."

"Certo, mesmo que eu não pudesse ir, Malfoy... Eles tinham todo um plano arquitetado. Tem um vampiro no sótão praticamente transfigurado em Ron, os livros de Hermione, as roupas dos três... Desapareceram. Eles já estavam preparados, só esperavam Harry fazer dezessete anos e não me falaram nada. Quando eu os vi desaparecer ontem eu..."

"Eu vi como ficou. Eu estava lá, esqueceu?"

"Não, eu não esqueci... Obrigada, você salvou a minha vida, Malfoy".

"Gostaria de poder dizer que você faria o mesmo por mim", respondeu angustiado.

Ginny sorriu e se aproximou, voltando ao trabalho de trocar o curativo da cabeça de Draco.

"Não sei se antes de ontem eu me arriscaria tanto por você, Malfoy, mas, querendo ou não, agora eu tenho uma dívida", então ela parou e o encarou, desconfiada: "Só não entendo por que se arriscou tanto por mim. Você poderia ter morrido. Por que fez isso?"

"Por que você foi a única pessoa que pareceu se importar comigo aqui", falou com um meio sorriso. "Você é o mais próximo de um amigo que eu tenho, Weasley".

"Ginny", ela falou. "Pode me chamar de Ginny, Malfoy. Você conquistou esse direito", disse, espalhando alguma pomada com cor e cheiro duvidoso na testa de Draco para preparar o novo curativo.

Eles não falaram mais nada até que o garoto se levantou para tomar um banho e trocar de roupa. Tudo doía. Até mesmo a água batendo em seu corpo, mas o fez com todo cuidado para não estragar os curativos. Também se vestiu com cuidado para não desfazer todo trabalho que Ginny tivera e saiu do banheiro carregando a toalha e a roupa suja que usara no casamento para o quarto. Quando abriu a porta e jogou as coisas em cima de uma cadeira, foi em direção à janela para olhar a movimentação no jardim, mas parou ao ver que, em cima da cama, havia uma carta.

Não havia remetente e apenas seu nome constava no envelope, na janela, como se esperasse uma resposta, estava uma coruja parda. Draco abriu o envelope e encontrou um bilhete, simples e direto:

"Suas informações foram imprecisas, porém preciosas. Você ainda deve voltar para Hogwarts. Há muita coisa que precisa ser feita e você deve estar lá".

Não havia identificação.

Seu coração falhou uma batida e ele rabiscou qualquer coisa para mandar de volta, mas não o fez. Colocou o envelope vazio para que a coruja levasse e guardou a carta embaixo do colchão, sentando na cama em seguida. Draco passou levou a mão ao rosto, preocupado. "Suas informações foram imprecisas", dizia o bilhete.

Suas informações foram imprecisas;

Suas informações foram imprecisas;

Suas informações foram imprecisas;

"Meu Deus, o que foi que eu fiz?", questionou a si mesmo, sentindo o desespero crescer dentro dele.


N/A: REVIEWS por favor \o/