Autora: Blanxe

Beta: Andréia Kennen

Par: Sasuke + Naruto

Gênero: Yaoi, Universo Alternativo, Amizade,Romance, Angst...

Aviso: Os trechos da música usados no decorrer do capítulo fazem parte da música NOISE, cantada pela Tsukiko Amano, cujo o PV, inspirou o desenvolvimento desse capítulo.


Between Sun & Moon

Primeiro Capítulo - Noise


A cidade parecia mais cinzenta do que nunca, naquela manhã. Seus olhos negros observavam ao redor panoramicamente, tomando desgostosamente nota do quão sem graça a vida era: aquela cor desbotada, causada pela poluição dos carros que passavam de um lado para o outro nas pistas de asfalto a sua frente.

O sol se mostrava para si como nada mais do que um ponto em uma tonalidade pastel que trazia um calor desagradável ao seu corpo pálido, que vestia nada mais do que uma blusa preta de manga comprida e a calça jeans da mesma cor, com botas de cano longo combinando.

Ele esperava o ônibus, como em todas as manhãs - de tom desbotado - em que era obrigado a ir à escola. Rotina que se repetia de segunda a sexta.

As pessoas que passavam - ou que esperavam pela condução, junto com ele - eram tão mortas e desinteressantes como todo o resto da cidade. Apáticos e convencionados, seguindo suas vidas ditadas por uma rotina estressante e sem cor.

Essas pessoas pareciam aceitar resignadamente o que viam diante de seus olhos, todos os dias. E isso chegava a lhe causar amargura.

Em suas mãos - que chamavam a atenção por causa de suas unhas manicuradas e curtas, tingidas por um esmalte preto - ajeitava os headphones, levando-os até sua cabeça, acomodando-os sobre suas orelhas, tampando-as completamente e abafando o som perturbador da cidade morta. E permitindo assim, que a música fluísse, causando-lhe um confortável alívio.

Abaixou um pouco a cabeça, fechando os olhos e prestando atenção na melodia alta que invadia agradavelmente seus ouvidos.

Uma brisa fresca chocou-se contra o seu rosto, balançando as mechas longas e escuras que pendiam ao lado de seu rosto, fazendo com que voltasse a abrir os olhos e confirmasse que havia sido apenas o deslocamento ar causado pela passagem mais do que rápida de um dos coletivos urbanos.

Ainda não fora a sua condução, mas pelo horário, sabia que esta chegaria logo.

Porém, quando o veículo de cor esverdeada - que trazia o número da linha, que passava em frente ao instituto aonde estudava – permaneceu estagnado, observando os passageiros que entravam e saíam da condução. E, com os seus olhos negros, continuou fitando sem interesse, a chance de chegar a tempo no colégio, simplesmente ir embora.

O irmão ficaria sabendo de seu atraso, mas nunca temera o mais velho. Tudo o que ele fazia era falar e falar. Já até decorara suas repreensões. Entretanto, não sentia a mínima vontade de sentar-se numa sala de aula, com outros jovens, para aprender coisas enfadonhas que não lhe despertavam interesse algum.

Decidido que o colégio não o teria presente naquele dia, ele endireitou-se e começou a se afastar do ponto.

Com os headphones ocultando o ruído exterior, permitiu que seus passos vagassem, sem rumo, indiferente ao fluxo de pedestres na calçada.

Passou a diferenciar as coisas a sua volta, aborrecidamente, enquanto cruzava uma das passarelas que o levaria para distante do centro. Mas a música em seus ouvidos começou a chiar e isso fez com que parasse.

O som tornou a ficar límpido, e ele sentiu-se um pouco aliviado por ver que o problema em seu aparelho desaparecera. Contudo, ao retomar a caminhada, um vinco surgiu em meio as suas sobrancelhas finas e escuras.

O chiado reaparecera.

Aquilo poderia ser um defeito no seu estimado iPod. No entanto, ao parar mais uma vez para checar o pequeno dispositivo, este tornou a emitir a música sem qualquer ruído.

Olhou ao redor, se achando estúpido por pensar que algo por perto pudesse causar algum tipo de interferência. Aquilo não era um rádio, logo, seria impossível alguma coisa afetar o aparelho.

Resumiu novamente os passos, e surpreendeu-se ao ouvir o chiado retornar.

Desta vez, continuou andando, intrigado, reparando que o ruído se tornou constante. Ao chegar à outra ponta da passarela, ele abruptamente parou e para a sua surpresa, o som límpido da canção se fez presente, mais uma vez.

Grunhiu frustrado, tomando uma nota mental: exigir que o irmão levasse o bendito aparelho para trocar, assim que chegasse em casa. Todavia, retornar ao lar, estava fora de questão, pelo menos por enquanto.

Desceu a passarela, ainda irritado por aquele chiado o acompanhar. Queria encontrar um lugar isolado, onde pudesse sentar-se tranquilamente para ouvir sua música, afinal, deduzira que o defeito de seu aparelho só surgia quando se colocava em movimento.

No entanto, não demorou muito para notar que a oscilação do barulho em seus fones - aquele arrastar sonoro - às vezes diminuía e às vezes se elevava quase como se fosse um padrão.

Os picos mais altos de interferência pareciam aumentar, conforme adentrava por vielas e becos, que utilizava para cortar caminho e sair na área menos movimentada da cidade. Tinha a intenção de alcançar o parque que, naquele horário, deveria estar vazio.

Contudo, o chiado se tornou tão alto e insuportável, que levou a mão até o headphone direito, fazendo uma careta quando este praticamente guinchou numa estática ininterrupta. Foi obrigado a parar, sendo presenteado pela música em seus ouvidos e ficou por alguns minutos parado, olhando ao redor, estava a um passo de entrar em uma das poucas áreas verdes e de lazer do grande centro.

Por algum motivo tolo, se colocou a perguntar mentalmente, se aquilo era algum tipo de castigo por estar matando um dia de aula.

Balançou a cabeça negativamente, afastando a idiotice que acabara de pensar, e rodou os olhos quando, ao dar o primeiro passo, o chiado retornou.

Poderia ter, simplesmente, retirado os headphones, ou apenas desligado o aparelho, porém, não o fizera em momento algum, e o mais estranho, não sabia explicar o porquê.

Dessa vez, seus passos o levaram até mais adentro do parque. O lugar realmente ficava deserto àquela hora da manhã. Era o momento em que todos estavam presos as suas obrigações semanais.

O engraçado era que o local, calmo e, podia arriscar-se dizer, silencioso, para ele também só passava de mais um ponto corrompido e desbotado da área urbana onde vivia.

Repentinamente, o chiado sumiu. Ele não havia parado de andar, apesar de ter diminuído as passadas, mas o ruído em seus headphones desaparecera totalmente e a canção desta vez se manteve límpida e sonora em seus ouvidos.

Algo, subitamente, quebrou a pintura morta que seus olhos sempre viam a sua frente.

Alguém estava sentado em um dos balanços, que havia em um pequeno playground construído para as crianças que visitavam o parque. Porém, aquela figura, não brincava.

Estava sozinho… Apenas sentado no balanço, abatido… Solitário.

Triste.

Nunca fora de se importar com a desolação de terceiros, pois ele acreditava que cada pessoa deveria ser responsável por sua própria carga de sofrimento. Ele mesmo tinha uma boa mala de angústia que carregava consigo todos os dias. Por isso, estranhou a si mesmo quando se pegou intrigado com o garoto sentado no balanço e, principalmente, como ele contrastava com tudo o que já vira até então.

O problema que estava tendo com seu player, foi completamente esquecido, afinal, a música fluía normalmente, criando uma atmosfera quase fictícia para a cena a sua frente: como estar dentro de um filme mudo, que acabara de ganhar cor e uma trilha sonora.

Estava longe de ser o tipo que gostava de socializar, ainda assim, se aproximou do garoto, como se tivesse sido atraído por uma força maior.

Ele deveria ter no máximo a sua idade, se não a tivesse, provavelmente teria menos. Ficava difícil de diferenciar, já que o garoto estava com a cabeça baixa enquanto impulsionava quase imperceptivelmente o brinquedo onde se sentava. No entanto, o jovem chamava a atenção por causa da cor de seus cabelos: loiros, certamente mais chamativos do que o sol pálido daquela manhã de inverno.

Para um dia frio, mesmo com o sol apagado, o desconhecido usava roupas que não condiziam com a temperatura: uma camiseta de meia-manga, onde o tecido tórax era branco e as mangas laranja, assim como o capuz que caia na parte das costas; um bermudão preto e um tênis simples, também branco. E isso o fez questionar se o infeliz não estaria sentindo frio.

Percebeu que sua presença foi notada, assim que o jovem ergueu o rosto direcionando-o diretamente para si. Sem saber dizer o que havia denunciado sua presença ali – quem sabe o barulho de suas botas no cascalho, ou o zumbido da música em seus headphones – parou imediatamente de se aproximar, completamente estupefato com a intensidade dos olhos que o encaravam, atentamente.

Eram tão azuis… Mais azuis do que o céu que sempre via do seu jeito, sempre sem graça.

Viu a boca do garoto se movimentar, porém, as batidas da música que escutava, fizeram com que não escutasse o que fora dito. Por isso, tratou de deslizar os headphones para o pescoço e, sem qualquer constrangimento, indagou:

- O que disse?

O loiro então sorriu, fazendo com que os olhos negros se mostrassem surpresos pelo gesto. Num minuto o desconhecido tinha aquela aura de tristeza e, no instante seguinte, ele expressava um sorriso daqueles, capaz de deixá-lo completamente mesmerizado.

- Perguntei se você 'tá bem. – o garoto lhe disse. - 'Tá muito pálido, 'ttebayo.

Ele ficou alguns segundos encarando o loiro, nem tanto processando o que havia sido questionado, mas admirando o rosto bonito, reparando agora com mais atenção nos seis riscos que o outro tinha – três em cada face – que fizeram com que os comparasse com a imagem dos bigodes de um coelho ou gato, mas que, no final da inspeção, certificou-se se tratarem de cicatrizes.

- Eu sou assim mesmo. – replicou, evitando levar em consideração que a pergunta pudesse ter vindo de uma ironia, por ser muito branco. Sendo assim, desviou o assunto para algo mais óbvio. - Não deveria estar na escola?

- E você, não? – ele rebateu, imediatamente, mantendo o sorriso.

- O que está fazendo sozinho aqui? – quis saber, no entanto, o outro treplicou:

- A mesma coisa que você.

O jovem de cabelos escuros ergueu uma das suas sobrancelhas de mesmo tom, reparando que o garoto não lhe dera, nenhuma das vezes, uma resposta concreta. Ou o loiro preferira deixar nas entrelinhas que estava matando aula também, ou queria evitar dizer a verdade. Apostava na segunda opção, afinal, era isso que as pessoas faziam: mentiam ou omitiam; sempre se escondendo atrás de alguma falsidade.

Aproximou-se, sendo acompanhado pelos fascinantes olhos azuis do loiro, e sentou-se no balanço ao lado do dele.

- Qual é o seu nome? – perguntou, olhando para frente, evitando encará-lo.

- Não vai me dizer o seu primeiro?

E segurando nas correntes do balanço, virou o rosto para fitar o outro adolescente, ficando ainda mais intrigado. O loiro mais uma vez driblara uma pergunta sua. Estava começando a achar aquilo um pouco esquisito. Porém, de qualquer forma, sua boa educação dizia que apresentar-se vinha antes de qualquer coisa, sendo assim, o fez.

- Sasuke Uchiha.

O loiro ampliou o sorriso, silenciosamente, sem oferecer seu nome como o moreno previra que aconteceria.

- O que estava escutando?

Sasuke piscou, não demorando a compreender sobre o que o garoto se referia. Sendo assim, num gesto simples, levantou-se do balanço e deu alguns passos até o loiro. Viu que ele ficou um pouco confuso, principalmente quando se agachou a sua frente. Causou surpresa nos orbes azuis ao retirar os headphones do pescoço, encaixar o arco preto sobre os fios dourados e posicionar o acessório confortavelmente na cabeça dele, tampando-lhe as orelhas com os fones cujo interior era revestido por uma proteção macia.

Enquanto isso, ficou observando a expressão estática do loiro, sem saber se esta se dava pela altura da música, ou por seu gesto. No último caso, nem ele próprio entendia o motivo de sua ação, mas se pegava impulsionado a estar um pouco mais perto do outro jovem, e não se importava de dividir uma das coisas que mais gostava com ele.

"I want to give you answers when you're lost
and get you out of where you are.
If it's an unforgivable punishment, you don't have to forgive it.
I'm gazing right at you."

Conseguia escutar a voz que cantava aquela canção, mesmo não sendo ele a usar os headphones. O som transpassava a proteção dos fones por causa do volume exagerado em que costumava ouvir.

Todavia, o loiro demonstrou que a altura da música não o incomodava, pois levou as mãos aos globos que cobriam suas orelhas e deixou que descansassem lá, enquanto seus olhos azuis se fechavam como se experimentasse a sensação da melodia e das batidas em seu ser.

Um quase imperceptível repuxar surgiu no canto dos lábios de Sasuke. Sem se mover, ficou admirando a expressão do garoto, enquanto este escutava a música.

Porém, o vibrar do celular no bolso traseiro de sua calça interrompeu o momento para si, e Sasuke se ergueu, pegando o telefone, fazendo uma careta aborrecida para o nome que aparecia no display:

Itachi.

Percebendo que o garoto não abrira os olhos e continuava a escutar a música, Sasuke pegou o iPod e colocou levemente sobre as pernas dele, para assim poder se movimentar, sem incomodar o outro adolescente.

Fazendo isso e percebendo que o loiro continuava alheio a tudo a sua volta – imerso na música – Sasuke se distanciou, ficando de costas para a direção dos balanços, para só então atender a chamada.

Estava preparado psicologicamente para ouvir a voz apática e até mesmo severa do irmão mais velho, mas nunca para escutar o timbre preocupado e ansioso que chegara a sua audição.

- Sasuke? Você está bem?

O moreno recordou-se da pergunta feita pelo loiro que estava a alguns metros no balanço. O que estava acontecendo para que todos resolvessem perguntar se estava bem? E por que Itachi aparentava um certo nervosismo na voz? Seu irmão era um homem que raramente demonstrava se abalar por qualquer coisa e isso fazia com que Sasuke tomasse um pouco da preocupação do mais velho para si.

- O que você quer, Itachi?

Escutar a sua voz parecia ter feito o moreno do outro lado da linha se livrar do que fosse que o estivesse atormentando, mas Sasuke ainda podia notar o estresse no timbre dele.

- Houve um desastre. – Itachi começou a explicar monotonamente. - O ônibus da linha que você pega para ir ao instituto sofreu um acidente. Eu liguei para o colégio para ter certeza que você tinha chegado bem, mas a diretora informou que não estava presente. Eu pensei que… - foi então que este se interrompeu, como se abatido por uma absurda constatação e indagou: - Onde diabos você está?

Sasuke rodou os olhos. Estava até demorando para que Itachi se desse conta de sua condição.

- Não estava aliviado por eu estar bem? – tentou, mesmo sabendo ser inútil, desvirtuar o assunto em questão.

- Está matando aula, Sasuke? – Itachi inquiriu, mais soando como uma afirmação.

- Pensei que o fato de não estar no tal ônibus fosse algo que o tivesse deixado feliz, Itachi. – ironizou, mantendo a voz indiferente.

- Isso não significa que eu esteja satisfeito por saber que está matando aula. – o mais velho retorquiu, demonstrando sua insatisfação.

Sasuke suspirou. Negando-se a passar mais uma vez pelo sermão do irmão mais velho, decidiu cortar o mal pela raiz.

- Minhas notas são ruins?

- Não.

- Alguma vez já repeti de ano?

- Não.

- Então, me deixa. – finalizou, constatando pelo silêncio do irmão que havia ganhado o argumento.

- Esteja em casa cedo. – o mais velho ordenou.

- Vou pensar no seu caso. – deu por encerrada a conversa e desligou o celular.

Itachi poderia não confessar ou demonstrar abertamente, mas era superprotetor. Jamais o recriminara e, por mais que acalentasse o fato, também nunca diria em voz alta que apreciava o cuidado e preocupação que ele lhe dedicava.

Guardou o telefone de volta no bolso de trás de seu jeans escuro, pronto para voltar para perto do loiro e tentar conversar mais com aquela figura que era estranha, mas ao mesmo tempo interessante.

Porém, qual não foi sua surpresa ao se virar para trás e ver que os balanços estavam vazios. Ainda olhou ao redor, mas não havia nenhum sinal do garoto.

Caminhou de volta ao estático balanço, onde o loiro estivera sentado e que agora, apenas jazia seu iPod com os headphones. Pegou os itens nas mãos, ainda vasculhando com o olhar o perímetro, com esperança de localizar o loiro, mas não, isso não aconteceu.

O garoto esquisito fora embora e sequer se despedira…

Nem, ao menos, lhe dissera seu nome.

E, sem saber o porquê, aquele lugar vazio, refletiu exatamente o estado em que muitas vezes se sentia.

Sem dar muita importância para a partida do loiro, Sasuke ajeitou os headphones sobre as orelhas e sentou-se no balanço que anteriormente o garoto desconhecido ocupara. Fechou os olhos, enquanto impulsionava levemente o corpo para frente e para trás, deixando que a música invadisse seus sensos.

"I'll fade out with the illusions, if that is your will
And on the edge,
Stain me white, send me back to zero
From the oblivion, a NOISE echoes out."

oOo

Continua…


Notas:

Tradução dos trechos da música:

"Quero dar as respostas quando você estiver perdido
e tirá-lo de onde você está
Se for um castigo imperdoável, você não tem que perdoá-lo
Estou olhando diretamente para você."

"Eu desaparecerei com as ilusões, se essa é a sua vontade
E ao final,
Manche-me de branco, leve-me de volta ao zero
Do esquecimento, um ruído ecoa."

Esse projeto já estava escrito há algum tempo e resolvi postar. Para quem acompanha as outras fics de Naruto que eu escrevo, haverá atualizações delas em breve.