Títulos: Versos Brancos


Autora: Ryeko_Dono


Série: Final Fantasy VII


Resumo: Havia poucas regras nos anos de convivência, mas para Sephiroth e Genesis elas eram suficientes. (SephxGen. Lemon.)

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Versos brancos:

 Versos que possuem métrica, mas não utilizam rimas.

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Epílogo

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Meses.

Não era a primeira vez que Sephiroth via a face de Genesis refletida na lâmina avermelhada da Rapier. A imagem sempre o agradou durante os treinamentos, agora ardia tê-la apontada para sua face.

Os olhares se cruzaram. A ordem a Zack foi dita com o azul em foco e os passos do moreno se afastaram para perseguir Hollander. O silêncio pareceu durar para sempre.

Meses.

Os versos ardiam.

Por um longo momento nada foi dito. Sephiroth observou o soldado, quase surpreso por não haver nenhuma mudança perceptível. Genesis parecia saudável, tão são quanto nos dias que vivenciaram juntos. Este detalhe tornaria tudo mais difícil.

There is no hate, only joy
For you are beloved by the goddess
Hero of the dawn, Healer of worlds


Three friends go into battle
One is capture, One flies away
The one who`s left becomes a hero
if we were to enact it
Would I be the one to play the hero
Or would you?

A pergunta foi verdadeira. Sephiroth não sabia dizer se os últimos versos pertenciam à poesia ou se faziam parte do lirismo enlouquecido de Genesis.

"Esse papel é todo seu."

Genesis havia abaixado sua Rapier e lhe dava as costas, absolutamente certo de que o General não atacaria. Ele não estava enganado. Sephiroth tinha algo a dizer, há meses entalado em sua garganta.

"Realmente... A sua glória deveria ter sido minha."

Finalmente ver Genesis fazia as palavras se tornarem ainda mais tímidas, mais insignificantes. Apenas o ruivo buscava pelas palavras, recitando seu ódio com a mesma entonação que recitou as linhas de Loveless.

"Quão egoísta."

"Antes, talvez..."

Genesis se virou para trás subitamente. A asa acompanhou o movimento teatral, da mesma maneira que o fez na entrada dramática do ruivo. "Agora o que eu mais desejo é o presente da deusa!"

Não disseram nada por alguns instantes. Sephiroth via na expressão de Genesis uma excitação curiosa, como se o soldado há muito esperasse por aquele encontro. Como se este não lhe fosse nem um pouco doloroso.

"E você, Sephiroth, o que você quer?" O ruivo se aproximou alguns passos. "O que você realmente quer?"

"Pare com essa loucura, Genesis."

"Loucura?" Sephiroth viu o mesmo brilho no rosto do rapaz, o desafio. Este foi inesperadamente contido pela melancolia. "Soldiers são monstros. Essa é a verdade. Mas ainda assim... Eu gostaria de ser o melhor deles. O melhor monstro... Que desprezível."

Sephiroth se aproximou alguns passos, incentivado pela declaração do soldado. A reação, porém, foi imediata. Genesis ergueu os olhos, o azul desafiando a iniciativa do General quando apontou novamente a Rapier.

"Defenda-se, Sephiroth!"

O general cerrou os dentes. Genesis aguardou um momento e a Masamune foi desembainhada a tempo de receber o impacto. O golpe mantinha a mesma vivacidade e a espada brilhou de um vermelho intenso, aumentado pela matéria de fogo.

Sephiroth quase se surpreendeu de que a força do rapaz permanecesse igual. Pensou que encontraria Genesis fraco, talvez arrependido. A expressão no rosto do soldado fazia parecer que absolutamente nada havia mudado durante aqueles meses.

O que você realmente quer, Sephiroth?

Rebateu um firaga, insensível ao que a magia destruía. Desejou queimar a todos aqueles relatórios, todas as informações que enlouqueceram Genesis ao ponto de trair a Shinra.

A Masamune girou muito próxima da face ruiva, cansado de somente rebater ataques. Uma onda de adrenalina percorreu o corpo do General, saudoso das tardes no canhão de Junon, dos treinamentos seguidos de sexo. Conteve a excitação rapidamente.

"Eu não quero lutar com você."

O ruivo sorriu. Era a primeira expressão autentica, a primeira que realmente o lembrava do rapaz. De tudo o que tinham juntos aqueles momentos eram os mais memoráveis para o General, as lutas insensatas. Genesis nunca se preocupou se ele, ou se qualquer outra pessoa, desejavam ou não a batalha. O ruivo atacou como se estivesse determinado a manchar a Rapier com sangue.

A Masamune conteve a ofensiva. Apesar da intensidade do golpe aquele era Genesis. O rapaz estava agindo como sempre, impulsivo e brutal. Apenas Sephiroth se sentia diferente, contendo os golpes sem compreender ao todo porquê.

"My friend, the fates are cruel..." Genesis soltou um ataque circular, interrompendo a própria voz. "There are no dreams, no honor remains" As espadas se encontraram novamente, a força tornando os versos pausados e intensos. "The Arrow... has left... the bow of the goddess."

Sephiroth calou as palavras do ruivo com um golpe definitivo. Genesis o defendeu, mas mesmo assim seu corpo foi arremessado contra uma parede. Suas costas se chocaram com o concreto e a Rapier caiu de sua mão. O momento, porém, foi inexistente. O soldado começou a invocar uma magia de fogo, sentindo a energia arder em sua palma.

O golpe nunca existiu. O General avançou, esperando contê-lo antes que fosse finalizado. Ao seu redor, porém, tudo o que explodiu foi a risada seca do ruivo.

"Mas que péssimo monstro eu sou..."

Sephiroth abaixou a Masamune e seu olhar se comprimiu com a imagem. Genesis agora amparava o próprio ombro e continha a risada. Sem a insanidade teatral do soldado sobrava apenas uma melancolia frustrada. O azul se fixou no chão por alguns instantes, controlando a própria respiração. Sephiroth nunca desejou mais forte que as coisas voltassem a ser como eram no passado.

Mais que as palavras as ações tomaram conta de si. O rapaz se debruçou sobre Genesis, atacando os lábios do ruivo. As atitudes do amigo até então o fizeram pensar que seria rechaçado. O General quase se surpreendeu ao ver que o beijo foi correspondido, uma carícia quente e breve.

"Você se sente culpado, Sephiroth?" Perguntou com os lábios muito próximos dos dele. "Você se culpou pelo meu ferimento?"

Não havia tristeza naquela voz, esta estava toda nos olhares. Junto das palavras apenas a mesma malícia estranha das últimas semanas de Junon.

"O final... Você não me contou."

"Você realmente quer saber?" Genesis abriu um sorriso maldoso. "O final... o final de um monstro? O final de um vilão?" Sua voz se tornava mais explosiva a cada palavra. "Você quer que eu crie versos pra ele???!"

O rapaz evocou toda a energia do fire, iluminando-os com a luz vermelha da magia. Apesar da intenção, Sephiroth foi mais rápido. O General prendeu o braço do rapaz na parede, calando-o com outro beijo, muito menos gentil. Todo seu corpo pressionou o do ruivo, prensando-o completamente na parede.

Sephiroth se sentiu confortável naquela posição. Era estranho procurar o que dizer, inadequado. Preferia agir daquela maneira, beijando os lábios com força, imobilizando as ações do soldado. Apenas naquele momento percebeu inteiramente como havia sentido falta das brigas por poder, dos amassos em lugares inadequados. O General colocou uma de suas coxas entre as pernas de Genesis, sua mão livre buscando uma brecha nos tecidos enquanto sentia-o responder mais avidamente ao beijo.

Genesis não parecia menos saudoso daqueles jogos. Como sempre o ruivo não se deixou dominar facilmente. O rapaz arranhou a nuca de Sephiroth, passando a mão por todo seu tronco como se o corpo do General fosse seu. As carícias tornaram-se absolutamente familiares, até o sobretudo vermelho cair no chão.

Sephiroth parou por um instante, levemente surpreso com a imagem. Antes Genesis escondia o ombro, envergonhado da degradação, agora isso não era mais necessário. Por todo o braço do rapaz era possível enxergá-la, a pele esbranquiçada e quebradiça.

"Gostou da visão?"

Genesis usou daquele momento de distração para se afastar. O orgulho ardeu mais forte, confundindo a expressão no rosto do General como repulsa. Vê-lo preocupado seria mais absurdo.

"Você não se sente enojado?" Provocou. "De ter feito sexo com um monstro?"

Sephiroth não disse nada, apenas encarou o ruivo se distanciar, os passos duros e decididos alcançaram sua Rapier.

"Você ainda deseja lutar comigo?"

Genesis fechou os olhos. A resposta tardou alguns momentos para vir, palavras lentas e baixas. Quase inseguras. "Eu não seguirei as ordens de Holllander para sempre. Ele é um tolo. Eu o farei entender que não pode me passar ordens...logo." Houve uma pausa. "Quando isso acontecer eu não terei mais tempo até a degradação se espalhar..."

Sephiroth não disse nada. Tentou se aproximar novamente, mas o ruivo se voltou para ele com o olhar tomado pela tristeza. Curioso que esta o tornasse tão atraente quando a malícia. "Respondendo a sua pergunta... Não há nada que eu deseje mais do que lutar com você." O olhar se manteve por um instante longo, então se perdeu. "...mas não hoje."

Genesis se aproximou de um dos experimentos falidos. Diferente do que Sephiroth imaginava, o rapaz viu no seu reflexo sem o sobretudo algo ainda mais terrível. "Eu costumava me orgulhar do meu corpo... veja o que eu me tornei... Eu que nunca encontrei quem conseguisse me ferir. Huh.. quão irônico é descobrir que o verdadeiro inimigo estava nas minhas próprias células."

"Eu vim para levá-lo de volta. Se pretende deixar Hollander por que não faz isso agora?"

"O grande herói da Shinra, voltando para casa com o traidor arrependido?"

O pensamento lhe trouxe outro sorriso autêntico. Estava de costas para o General, sorrindo da maneira que os vilões sorriem quando flertam com a loucura. Genesis se aproximou com passos largos, a mão bem firme na empunhadura da espada.

"Me levar de volta? Para onde? Para os monstros que me criaram?" Genesis cerrou os dentes fortemente. "Me responda o seguinte... Soldier 1a classe... se você tivesse na sua frente um traidor, um homem que causou centenas de mortes por motivos egoístas... que vendeu segredos da Shinra e não sente nem um pingo de remorso." Genesis se aproximou mais e agarrou no sobretudo do General com ambas as mãos. "O que você faria?"

Sephiroth não disse nada, apenas rebateu o azul. Genesis o julgou impassível, incapaz de perceber todo o incômodo que suas palavras traziam a face do General. "Responda! O que eu faria, Sephiroth? O que Angeal ou qualquer outros de nós seria instruído a fazer?"

Mesmo com aquela pressão a resposta lhe foi negada. A face de Genesis estava muito próxima da sua, a ameaça clara nos olhos azuis. A tensão se manteve por um minuto inteiro, até o vilão abrir um sorriso suave.

"If this world seeks my destruction..." O ruivo aproximou os lábios para sussurrar. "...It goes with me"

Sephiroth não se importou. O sussurro lhe causou um calafrio por dois motivos absolutamente distintos. Beijou-o como se pudesse calar aquela insanidade para sempre, roubando junto com o oxigênio todas as idéias revolucionárias. Afundou os dedos na pele machucada, querendo tirar dela todo o caos e a dor. O General queria arrancar de dentro de si cada incômodo, cada célula e lembrança que de fato se importava com a insanidade de Genesis.

Forçou novamente o corpo do soldado para a parede, escorrendo com o ruivo para o chão. Seus dedos se fechavam na gola do rapaz, puxando o corpo do ruivo contra si. Genesis, antes tão intenso, usou da delicadeza com extrema malícia. O toque foi absolutamente suave sobre a face do General. Intocável por suas palavras, Genesis segurou com ambas as mãos o rosto do herói. Com a respiração agitada, obcecada com sua própria angustia, o ruivo foi insensível às palavras que sussurrou.

"Soldiers são monstros, Sephiroth...
E você é o mais perfeito de todos nós."

O toque desceu para seus lábios, apenas a ponta dos dedos, como se quisessem ter certeza de que as palavras penetrassem a pele fina. As bocas se encontraram novamente e os beijos, apesar de saudosos, eram diferentes. Sephiroth sentiu um calafrio percorrer seu corpo, por dois motivos igualmente intensos.

Sozinhos pela última vez, o General tomou aquela boca com fúria. A imagem o acompanharia para sempre, - uma gota de sangue brotando nos lábios macios. Naquele momento seu rosto não demonstrou, mas os últimos versos nunca seriam esquecidos. Se lembraria deles em Nibelheim e diante da verdade sobre seu próprio nascimento daria razão à poesia caótica de Genesis Rhapsodos. Ainda mais intensamente que as lembranças, seriam os versos brancos que acompanhariam a loucura de Sephiroth.

Até o fim.

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Nota: Pois o final definitivo todos conhecem, não? O Genesis ignora o Sephiroth buscando 'sua própria salvação' e esse faz o mesmo assim que descobre sobre Jenova. Dois amantes egoístas e maravilhosos na cama. No último parágrafo o título se justifica, mas essa fic não tinha como intenção trazer um único argumento. Os reais 'Versos Brancos' buscados aqui são os primeiros parágrafos de cada cena, uma poesia cotidiana, regada a sexo, sangue e gayness.

Espero que tenham gostado! Escreverei mais sobre esse casal, porém o que eu realmente imagino do relacionamento deles está aqui. As próximas serão menos densas e one-shots (yay!).

Beijos,

Ryeko