Flores de Guerra

"I tell you love, sister
Love is just a kiss away"

Você vai conseguir, Harry!
A mão destemida risca a placa e o sorriso ilumina até os olhos. A moça anônima de cabelos pretos não olha para trás nem para os lados. Só escreve que Harry conseguiria porque Harry conseguiria. É de esperança e estupidez que é feita a linha de sua varinha. Mas ela se permite, por alguns segundos, uns poucos, pensar que tudo vai ficar bem.
Da moça anônima nada se sabe. Ela recolheu a varinha e se dispersou. Como se sumisse no ar. Seus passos nem fizeram barulho naquela neve fofa. Talvez ela só tenha vivido dias de paz. Talvez fosse sua segunda guerra. É certo que não dá para desdenhar a coragem que teve ao escrever o que escreveu, e sem nenhum capuz para se esconder.
Mas ela não foi a primeira nem a última a encorajar Harry Potter.
A placa estava cheia de riscos feitos à mão, a lápis, a caneta, a pena, a tinta, a sangue, a magia. Feitos por bruxos, trouxas e abortos. Gente que nunca tinha visto Harry Potter. E gente que o conhecia melhor do que ninguém. Havia melhores amigos arrependidos e ex-professores saudosos. O memorial dos Potter passou por milhares de pares inseguros de mãos.
Poucas vezes um sentimento só unificou todo um mundo.


NA: não parece, mas o título vem de Congresso Internacional do Medo, poema do Carlos Drummond de Andrade: e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.