PARTE 6

Hermione POV

Agosto, 02, 1931

Sei ver bem quando alguém quebra. E isso acaba de acontecer com Draco Malfoy. Deixá-lo satisfazer-se com meu corpo fora exatamente como quando estive presa: nada. Eu pensei nos ideais, em minha honra. Nada me impedirá de achar a base em Munique. Nem mesmo a vontade dele. Agora, já não existente. Ele coloca o corpo por sobre o meu, encaixa-se em mim. Eu deixo meu gemido de dor escapar, ele desaba contra meu corpo, fraco, perdido. A honra que ele trouxe, no peito estraçalhada. Preciso terminar de quebrá-la, mostrar a ele que talvez o lado fraco, seja o lado que pensa estar ganhando.

-Deixou que eu lhe limpasse, que eu lhe desse comida, cuidasse de seus ferimentos, tivesse sua semente dentro de mim. - abraço-o, querendo que ele ouça exatamente o que tenho a dizer. - A raça que ganha, é a raça que controla. E eu controlei você, eu venci você.

Ele morde meu ombro marcado pela foice, arranca-me sangue; porém, não o solto, continuo.

-Diga-me onde é a base em Munique. Morra com o resto de honra que carrega.

-Na floresta. - a voz baixa dele indica que desiste. - Fora da cidade. Entre os lagos. - faço com que olhe em meus olhos, veja que tem mais um par de olhos para olhos para assombrá-lo por mais algum tempo. - Mate-me.

Saio de debaixo de seu corpo, indo até a porta, a destrancando, e saindo sem importar em cobrir-me. Harry está do lado de fora, olha-me assustado. Ele deveria saber que morri há muito tempo para importar-me com o que é feito com meu corpo. O que importa é vencer.

-Entre os lagos, em Munique. - digo e estico a mão. - Dê-me a arma.

-Não precisa fazer isso. - ele disse afastando a arma que está na mão, tentando impedir que eu faça algo que tenho que fazer.

-Dê-me a arma. - digo mais alto, vendo-o fitar o sangue que escorre de meu ombro.

-Não precisa matá-lo. - ele diz enquanto observa Malfoy deitado no chão, nu.

-Ele já está morto. - respondo e entro no quarto, sem fechar a porta. A arma fria entre os dedos.

Malfoy levanta os olhos para mim, virando de barriga para cima, esperando pelo tiro no peito ou na cabeça.

-Seu destino não pertence à mim, Malfoy. - engatilho a arma. - Eu disse que lhe mataria, e o fiz. Obrigada pelas informações que deu. Venceremos a Guerra, tenho certeza. - olho por cima de meu próprio ombro, observando Harry na porta. Volto a olhar Malfoy. - Levante-se.

Vejo-o levantando-se, o corpo próximo ao meu. Ele sabe o que vem a seguir. Eu lhe disse que entraríamos pelas portas do Inferno juntos. E assim será.

-O seu sangue nada é a não ser sangue. Sua raça, não é nada a não ser raça. E é igual a minha. - viro-me, encostando as costas ao peito dele. Harry olha-me sem entender. - Seu ideal é falho, como o meu. Mas vamos morrer com nossa honra intacta.

Não há tempo de reação para Harry, aponto e puxo o gatilho. A mesma bala que atravessa meu coração, atravessa o dele. A mesma mão gelada que carrega Malfoy para a morte, é a mesma que carrega-me. Ele morre, eu morro. Essa Guerra nunca vai acabar, essa batalha nunca será ganha por ninguém. Ninguém vence, ninguém realmente vence. Sempre terão aqueles que sentem-se superiores, aqueles que sentem-se maiores. Aqueles que acham que o sangue é puro, e aqueles que pensam que o sangue é sujo. Nunca mudará. As pessoas são selvagens, e sempre serão. O meu sangue mistura-se ao de Malfoy, a minha morte entrelaça a dele. Nunca mais morreremos por honra, raça, pureza ou Führer. É frio, e as pontas dos dedos dele em meu corpo já estão frias. É lento, mas não é errado. Qual a diferença se estou morta? Qual a diferença se ele está morto? Um corpo cai, ou dois, ou milhões. Nada faz diferença. Já estávamos mortos, nossas idéias, nossas crenças, nossos corpos. Eu apenas ajudei a concretizar tal sentença. Eu lhe prometi irmos juntos, e nós vamos. As portas do Inferno nos aguardam, e nada disso importa. Ninguém vencerá essa guerra. Nem mesmo o Führer com seus ideais, nem os comandantes com suas ordens, nem mesmo os soldados. Porém, ninguém nunca vê o lado do soldado. Nunca.

Fim.