Embora a dor do abandono fosse parte do passado, Bella ainda sonhava em viver uma história de amor em família...
Edward Cullen acabara de conhecer o filho e se apaixonara por ele. Mas o que faria agora? Isabella partira de sua vida havia um ano e jamais lhe contara sobre a existência do pequeno Nicky... e muito menos o verdadeiro motivo que a levara a cancelar o casamento.
Mas desta vez Edward não iria permitir que Bella fosse embora... principalmente porque agora eles tinham um bebê. E para isso Edward teria de conquistar o amor do filho e reacender a paixão que, por mais obscura que fosse, ainda ardia no coração de Bella!
*Fanfic adaptada- Os direitos autorais pertecem à Rebecca Winters pela história e à Stephenie Meyer pelos personagens *
CAPÍTULO I
Isabella trancou a porta do carro alugado, sentindo no ar fresco da manhã o cheiro úmido da chuva que estava prestes a cair, e olhou ao redor.
Vários grupos de estudantes universitários saíam de seus trailers e se espalhavam pelo sítio de escavações, perto de Warwick, Nova York. Dirigiu-se a um deles e perguntou:
— Por favor, poderiam me informar onde posso encon trar o dr. Edward Cullen? Disseram-me que ele é o geólogo e consultor deste projeto.
Haviam sido necessários vários dias de pesquisa e muitos telefonemas interurbanos caríssimos para diversas universidades até que ela descobrisse a exata localização da quela região agrícola do Estado.
Dois estudantes viraram em sua direção. Embora estivesse acostumada a olhares insinuantes, naquele momento não estava em condições de prestar atenção nesse detalhe, pois se sentia nervosa e amendrontada, com as pernas tão trêmulas que mal conseguia ficar em pé.
— Ele mora naquele último trailer — um dos estudantes prontamente respondeu.
Era quase um milagre, mas estava no lugar certo.
— Você é uma das alunas do dr. Banner, da Universidade de Nova York? — perguntou o outro estudante.
O motivo de sua presença ali não era da conta de ninguém, mas ela não poderia culpar o estudante pela curiosidade. Afinal, era início de bimestre, e as aulas mal haviam começado.
— Não, não sou, mas obrigada pela ajuda.
— Disponha. — Foi tudo o que conseguiu ouvir, antes de caminhar de volta para o carro pela longa e poeirenta trilha.
Pingos esparsos molharam o pára-brisa, logo a chuva aumentou e, dentro de pouco tempo, o lugar iria se transformar em um imenso lamaçal. Isabella sentia o coração disparar, à medida que se aproximava do trailer, onde Edward temporariamente vivia.
No campo, ele costumava madrugar e era possível que já estivesse no sítio de escavação. Ela deixara o Hotel Bluebird Inn às cinco e meia da manhã, na esperança de encontrá-lo antes que saísse para fazer mapeamentos de solo.
Isabella o conhecera no ano anterior, durante o curso de Introdução à Geologia que fizera na Universidade da Califórnia. Inteligente e fascinante, Edward, que viera da costa leste como professor convidado por ser especialista na área de estudos do solo, impressionara-a desde o início. As breves conversas que tinham antes e depois da aula não bastavam. Ela queria mais, pois se apaixonara perdidamente por aquele homem não apenas brilhante, mas também muito atraente.
Certo dia, quando Bella se encontrava muito gripada, ele se oferecera para levá-la para casa. Depois disso, convidou-a para um jantar à beira-mar e, a partir daí, não conseguiram mais viver um sem o outro. O namoro fora marcado por noites românticas e passeios pela orla. Marcaram o casamento, e ele a levou para Nova York para conhecer sua família.
Foi então que o pesadelo começou.
Ela não teve outra opção, a não ser romper o noivado.
Na verdade, Bella achou que nunca mais o veria, mas um fato inesperado acontecera e era preciso conversar com Edward sobre isso, caso contrário, não poderia mais sentir-se em paz consigo mesma.
Parou o carro ao lado do trailer e, enquanto caminhava sob a chuva forte e constante, sentia a respiração ofegante e a boca seca de ansiedade. Antes que perdesse a coragem e saísse correndo dali, bateu na porta. Esperou um mo mento e, como ninguém respondeu, bateu mais uma vez. Nada. Na dúvida sobre o que fazer, virou a maçaneta e, para seu espanto, a porta estava destrancada. Ela o chamou, mas o trailer estava vazio.
Depois de cruzar o país de costa a costa, estava decidida a falar com Edward de qualquer maneira, nem que tivesse de ficar ali o dia todo. Pensou em esperar no carro, mas talvez não o visse entrar e, por isso, decidiu esperá-lo ali mesmo.
Olhou ao redor e não detectou nada pessoal, nada que revelasse algo sobre o homem que morava naquele lugar pequeno e um tanto sufocante. Por mais que sentisse o impulso de espiar o quarto dele, conteve-se, afinal, não fazia a menor idéia de como ele reagiria quando a visse dentro de seus aposentos, sem ter sido convidada. Poderia acusá-la de invasão de privacidade.
Depois de alguns minutos, levantou-se para esticar as pernas e viu um enorme mapa dos Estados Unidos, estendido sobre a mesa. Curiosa, notou a linha desenhada a lápis, que ligava San Francisco a Nova York e, sobre esta linha principal, várias outras se sobrepunham, marcadas com canetas coloridas. As cidades por onde passavam eram marcadas por círculos pretos: Warwick, Nova York; Laramie, Wyoming; Tooele, Utah; San Francisco, Califórnia. Acima de cada linha colorida, havia anotações científicas que Bella não conseguia compreender.
Intrigada, distraiu-se e só voltou a si quando viu a porta se abrir bruscamente e ela sentiu o chão tremer ao som de passos firmes que se aproximavam. Edward fechou a porta.
Ela não sabia dizer qual dos dois estava mais surpreso e, em um sobressalto, recuperou o fôlego, antes de tentar se recompor. Lá estava ele, o corpo perfeito, os cabelos cor de bronze e molhados e os músculos bem torneados. Os olhos verdes, brilhantes e incandescentes eram a única certeza de que não estava diante de um bloco de gelo.
Por um instante, ele a avaliou com um olhar que lhe desvendava as curvas sob o suéter de algodão. O ar pareceu-lhe faltar momentaneamente e, quando seus olhares se encontraram de novo, ela tremia como um orvalho denso sobre uma pétala de flor.
— Não faço a menor idéia do motivo que a traz aqui! — exclamou, com a voz ríspida. — Mas pode sair pelo mesmo caminho que entrou. — Ele cruzou os braços, como se esperasse por uma resposta.
Bella imaginara aquela cena em sua cabeça milhares de vezes, mas, por mais que tivesse previsto a reação dele, não estava preparada para tamanho rancor. Edward a desprezava.
— Posso compreender que esteja bravo por eu ter entrado aqui sem avisar, mas estava chovendo muito e...
— Saia daqui! — Não gritou, mas a voz parecia descontrolada, contida em sua garganta.
Aquela brutalidade a assustou. O homem que amava e sempre amaria havia se transformado em um estranho.
Embora ela houvesse rompido o noivado por motivos que jamais poderia revelar, não seria capaz de imaginá-lo tratando-a com tamanha crueldade.
— Sairei — murmurou —, assim que lhe contar tudo sobre as consequências da noite que passamos juntos.
De repente, uma tensão quase palpável preencheu o silêncio. Edward fechou a porta e recostou-se na parede, paralisado.
Bella juntou todas as suas forças e falou sem hesitar:
— Nós temos um filho, que nasceu dia 19 de agosto. Ele tem seis semanas e se chama Nicholas Swan Cullen. — Esta era a última coisa que gostaria de confessar na vida, mas já que havia começado, agora iria até o fim. — Acho que você tem todo direito de saber que é pai, principalmente porque devo me casar dentro de dois meses, e outro homem irá criá-lo.
Isto não era verdade, não existia homem algum. Jamais poderia existir, mas era imprescindível que Edward acreditasse que estivesse comprometida com outra pessoa. A tia dela emprestara-lhe o anel de brilhante que usava, para dar maior autenticidade àquela história totalmente inventada.
Ele ficou pálido, parecia chocado.
— Achei que uma notícia desta tinha que ser dada pessoalmente — continuou —, mas só ontem, depois que eu e Nicky fomos examinados pelo médico, tivemos autorização para viajar.
O movimento de suas sobrancelhas negras era revela dor. Edward deu um passo ameaçador na direção dela.
Bella focalizou sua atenção sobre a camiseta branca e justa, que lhe ressaltava os músculos do peito. Sob o jeans que vestia, podia perceber as pernas fortes, coxas torneadas... um corpo que conhecera tão bem no passado e que agora se voltava contra ela com tanto ódio.
— Se quisesse mesmo que eu acreditasse nesta história fantástica, teria trazido com você a criança.
Bella respirou fundo, antes de continuar.
— Eu o teria trazido, se ele não fosse a sua cara. Qualquer um, ao vê-lo, adivinharia que é seu filho, e quis evitar este tipo de constrangimento para você.
Até aquele momento ela conseguira se autocontrolar, mas se ficasse ali por mais alguns minutos, poderia se desmanchar em lágrimas, por certo sem condições de contê-las.
— Você decide o que fazer com a notícia. Estarei no Bluebird Inn até amanhã. Se... se quiser conhecer seu filho, esperarei até às onze da manhã.
Depois de fechar a porta com cuidado, correu para o carro, sem conseguir escapar da chuva. Claro, não esperava que Edward viesse atrás dela, mas certas esperanças são difíceis de evitar. Sem querer, olhou pelo espelho retrovisor na esperança de vê-lo. No entanto, nada mais havia, a não ser o trailer que desaparecia aos poucos, a distância.
Saiu dali com uma sensação de medo e excitação. A tensão daquele encontro deixara-lhe tão trêmula, que mal conseguia manter o pé no acelerador. Em uma tentativa desesperada de se acalmar, controlou a respiração.
"Você conseguiu, Isabella. Você contou a verdade. Mesmo correndo um risco enorme, fez a coisa certa. Agora está feito."
Quando chegou aos arredores de Warwick, a chuva já estava fraca, e a visibilidade era melhor.
No dia anterior, deixara San Diego sob um sol escal dante e um céu azul. Só mesmo uma missão tão inadiável a obrigaria a voltar a Nova York, onde vivera os piores momentos de sua vida. Odiava aquele lugar e não via a hora de voltar para a Califórnia com seu querido bebê.
Assim que chegasse ao hotel, confirmaria sua reserva para o vôo de volta, marcado para a tarde do dia seguinte.
Ao chegar ao Bluebird Inn, ansiosa por pegar Nicky no colo e saber se estava tudo bem, cortou caminho, entrando pela porta do fundo, bem próxima ao seu quarto, no segundo andar.
Deixar o filho com uma estranha não fora tarefa fácil, mas o gerente fizera-lhe as melhores recomendações acerca da babá, uma enfermeira aposentada com antecedentes impecáveis, de quem nunca tivera nem uma queixa sequer.
Embora insegura, Bella fora obrigada a confiar àquela senhora seu tesouro mais valioso. A visita ao sítio arqueo lógico levaria no máximo duas horas. Mesmo assim, fora uma decisão difícil, pois nunca havia se separado do seu bebê antes.
Muitos foram os motivos pelos quais Bella evitara levar o bebê naquele primeiro encontro. Seria um choque ainda maior se aparecesse, depois de muito tempo sem se verem, com um filho que obviamente era dele. E mais importante, Edward precisava de tempo para se acostumar com a idéia de que era pai. Só o tempo poderia dizer se o ódio que sentia por ela seria maior que o desejo de conhecer o próprio filho.
Edward era um homem passional, de personalidade forte, e também era a pessoa mais honesta que conhecera. Por mais rancor que sentisse em relação a ela, nunca receberia aquela notícia com indiferença.
Mas fazia quase um ano que haviam se separado e, desde o rompimento do noivado, muitas coisas podiam ter mudado. Ele deixara, por exemplo, o cargo de professor convidado na universidade, e Bella não sabia nada sobre o projeto em que estava trabalhando.
Era possível que estivesse envolvido com outra mulher, ou até mesmo casado, pensou, e apenas a idéia de isso estar acontecendo lhe pareceu insuportável.
Se tivesse uma esposa, como a notícia inesperada da existência de um filho afetaria seu casamento? Quanto mais ela ponderava sobre as infinitas possibilidades, mais tinha a certeza de que fizera a coisa certa, ao prepará-lo antes de encontrar o filho.
"E se ele não viesse conhecer o filho?", perguntou-se, levando a mão ao pescoço. Se não aparecesse, era sinal de que achara melhor nunca nem sequer pôr os olhos sobre o menino, e se esta fosse a opção dele, Bella já tinha claro que não questionaria a decisão.
O mais importante era ter dado Edward a chance de saber que Nicky existia. Isto a deixava com a consciência tranquila. Na manhã seguinte, ela voltaria para casa junto com seu bebê e diria adeus ao passado.
Agora, Nicky era a razão de sua vida, seu amor e seu futuro. Aquela criança seria uma lembrança permanente do grande amor que um dia ela e Edward tinham compartilhado. Estava decidida a ser a melhor mãe do mundo.
Quando chegou ao hotel, bateu devagar na porta do quarto, antes de entrar, para não assustar a babá. Aliviada, viu que o bebê estava bem, confortavelmente aninhado nos braços da mulher.
— Sra. Wood, como está Nicky? Chorou para mamar?
A mulher, já de certa idade, sorriu.
— Acabou de acordar e se comportou como um perfeito cavalheiro. É uma gracinha de menino e, por mim, ficaria mais tempo com ele. Adoro bebezinhos recém-nascidos, são tão delicados e lindos, especialmente este aqui, com olhos verdes e cabelos escuros. O pai deve ser muito bonito...
— Ele é — murmurou Bella.
— Até me dá vontade de ter mais netos.
— Não sei como agradecê-la.
— Não se incomode, sei exatamente como se sente. Quando se tem o primeiro filho, a gente tem medo até de respirar, imagine perder o bebê de vista.
— Será que sou tão transparente assim?
A babá balançou a cabeça afirmativamente, enquanto entregava o bebê aos braços da mãe.
— É maravilhoso poder ajudar uma mãe inexperiente. Fico feliz por ter sido útil.
— Eu também lhe sou grata.
— Bella tirou cinquenta dólares da bolsa e deu à mulher.
— Por favor, não, querida. Vinte é suficiente.
— Eu não teria deixado meu bebê, se não fosse absolutamente necessário. Fiquei aliviada em saber que ele estava em muito boas mãos. Eu insisto, aceite, por meus sinceros agradecimentos.
— Obrigada. — A senhora tocou o braço de Bella e deu um beijo na testa do bebê, antes de sair do quarto.
— Depois de trancar a porta, Bella pegou Nicky no colo.
— Você sentiu tanta saudade de mim quanto eu de você? — Ela o cobriu de beijos. — Aposto que daqui a pouco, antes do meu almoço chegar, você já estará pedindo sua mamadeira. Venha com a mamãe.
Bella caminhou até o telefone, sobre o criado-mudo, e pediu uma refeição no quarto. Desde que chegara no dia anterior, estivera sem o menor apetite, mas agora, depois de ter encontrado Edward, como que por um milagre, sentia-se faminta.
Enquanto esperava pelo almoço, deu um banho rápido no bebê e vestiu-o com um macacão azul de malha. A esta altura, ele já dava sinais de fome e estava agitado. Por sorte, era uma criança adorável e não se importava em tomar mamadeira à temperatura ambiente, além de ter um ótimo apetite. Ela se recostou na cama e deu-lhe a mamadeira.
Enquanto o bebê devorava o leite, Bella observava cada detalhe de sua fisionomia. Não apenas tinha a cor de pele do pai, mas também seria alto como ele. Agora que revira Edward, ficava mais fácil perceber a semelhança entre os dois, os traços que podiam identificar Nicky como um dos membros da poderosa família Cullen, de Long Island, estavam todos ali.
A família inteira, composta por banqueiros riquíssimos, famosos no mundo todo, era muito bonita, em especial a mãe: uma mulher linda, de cabelos castanho-claros. Edward era parecido com ela. A altura, ele herdara do pai, de cabelos loiros e olhos verdes, descendente de ingleses. Dos Swan, Nicky parecia ter herdado o temperamento calmo e também tinha uma disposição implacável, marca registrada da mãe de Isabella.
Desde que Bella saíra do trailer, Edward ouvira muitas batidas na porta, mas ignorara todas. O barulho da chuva sobre o teto o irritava, e nem mesmo a segunda dose de uísque parecia capaz de relaxá-lo. Talvez se tomasse a garrafa inteira, um milagre aconteceria e ele deixaria de existir.
Quase um ano atrás, Bella partira seu coração e desde então raramente ele bebia mais do que uma lata de cerveja ou um copo de vinho. Depois que rompera o noivado, alegando a esfarrapada desculpa de que ele era velho de mais para ela, Edward mantinha sempre à mão uma bebida mais forte, para emergências como aquelas. No meio da madrugada, perdera o sono e estava atordoado, tão confuso e arrasado que precisava de um alívio.
Sentia-se de fato em uma situação de emergência. Como Bella se atrevia a aparecer, de repente, com uma história fantástica daquelas, exatamente quando o novo projeto em que estava empenhado lhe dava ânimo para levantar da cama toda manhã?
Edward atirou longe o copo, que bateu contra a parede, ricocheteou e atingiu o microscópio petrográfico, estilhaçando tanto o copo quanto as lentes do aparelho. Nem mesmo o fato de ter danificado um instrumento de trabalho tão caro o fez voltar a si. Ainda podia ver, como se fosse em câmara lenta, os lábios de Bella pronunciarem de modo quase maquinal: " Nós temos um filho que nasceu em 19 de novembro, ele tem seis semanas e se chama Nicholas Swan Cullen ." Seria mesmo verdade que ele tinha um filho? Edward balançou a cabeça e, inconformado, desalinhou os cabelos ruivos. Meu Deus, será que ela não estava mentindo?, pensou.
"Você tem todo direito de saber que tem um filho, principalmente porque dentro de dois meses estarei casada e outro homem irá criá-lo."
Enfurecido, ele se levantou e chutou uma pilha de revistas de geologia que estava no meio do caminho. Será que Bella achava que ele era um completo idiota, que faria qualquer coisa para tê-la de volta? Com certeza, o filho era do noivo, por quem ela o teria trocado, enquanto Edward se ausentara para ministrar um seminário em Kentucky. Agora que o bebê nascera, o safado talvez não quisesse assumir a paternidade e a houvesse ameaçado, dizendo que não pagaria nem mesmo a pensão do menino, então ela decidira procurar Edward, na esperança de conseguir algum dinheiro.
Ele agarrou a garrafa de bebida e conseguiu andar pelo trailer entulhado, até chegar ao quarto. Mas as últimas palavras que ouvira não lhe saíam da cabeça... "Estarei no Bluebird Inn em Warwick até às onze horas de amanhã. Se quiser conhecer seu filho, esperarei até esta hora."
A amargura dele chegara ao máximo.
— Pode esperar sentada, minha querida — murmurou, antes de esvaziar a garrafa até a última gota.
O sofrimento de Edward foi interrompido pelo som do telefone. Desorientado por causa da escuridão, ele se sentou e, de repente, viu tudo girar. Sentia-se um trapo, mas o telefone não parava de tocar e, já irritado, consultou o relógio. Faltavam quinze minutos para as oito horas. Recostando-se no travesseiro para se recuperar da tontura, percebeu que estava ali havia dez horas e que bebera uma garrafa inteira de uísque com o estômago vazio!
O celular estava no outro quarto. Quem insistiria tanto, a ponto de deixar o telefone tocar vinte vezes?
Isabella! Só podia ser ela, pois estava desesperada atrás de dinheiro. Edward praguejou. Ela devia ter pensado nisso antes de decidir deixá-lo por outro homem. Só tinham dormido juntos uma única vez, na noite anterior à sua inesperada viagem para dar aquela conferência. Desde o início, evitara fazer amor com ela antes do casamento, pois sabia que era virgem. Mas alguma coisa relativa àquela viagem imprevista a deixara tão insegura que ela implorara que a levasse para a cama, garantindo que seu obstetra lhe receitara pílulas anticoncepcionais quando fizera os exames pré-nupciais. Nunca lhe passara pela cabeça que Bella estivesse mentindo.
A noite que passaram juntos fora a última vez em que a vira, até aquela manhã... Se havia mentido sobre a pílula, poderia estar mentindo sobre o filho. O pai da criança poderia ser qualquer um. Se o filho fosse mesmo dele, pediria um exame de DNA para provar a paternidade.
Pulando da cama, cambaleou até o chuveiro, na esperança de que o jato refrescante de água clareasse suas idéias. Só saiu do banho quando teve certeza de que conseguiria chegar até a cozinha sem tropeçar em nada.
Só de pensar em comida, sentiu náuseas, mas mesmo assim se obrigou a comer uma fatia de pão e tomar duas xícaras de café. Pensou que deveria esclarecer aquela história, senão ficaria remoendo para sempre em sua cabeça qual seria o verdadeiro motivo daquela visita tão descabida.
Por mais que abominasse a simples idéia vê-la de novo e de permanecer no mesmo quarto com a única mulher que lhe despertava uma atração incontrolável, não poderia viver se deixasse aquele assunto pendente.
Estava claro que nunca conhecera a verdadeira Isabella. Ela provavelmente mentira desde que haviam se conhecido, para levá-lo às profundezas do inferno com luvas de pelica confeccionadas sob medida para este fim. Mas intuitivamente sabia que ela não estava mentindo sobre a existência do bebê.
Só depois de ver a criança, Edward poderia pôr uma pedra definitiva sobre o passado e apagar da memória todas as lembranças dessa triste história.
Após escovar os dentes, vestiu calça limpa e uma camisa pólo e saiu do trailer.
— Dr. Cullen, espere!
Ao virar para trás, sentiu uma súbita tontura e teve de se segurar no trinco da porta para recuperar o equilíbrio.
— Alô, srta. Stanley, o que deseja? — A atraente loira, aluna de graduação, estava esbaforida.
— Tentei encontrá-lo, liguei muitas vezes. Hoje é sexta-feira, vamos fazer uma reunião no trailer de Peter, e fiquei incumbida de convidá-lo.
— Foi muita gentileza de vocês me convidarem, mas infelizmente tenho um compromisso.
Não se dando por vencida, ela insistiu.
— A festa deve durar a noite toda. Pode aparecer a qualquer hora, quando voltar.
— Não pense que não gostei do convite, mas deixei de ir a festas há muitos anos e não pretendo voltar a frequentá-las. Boa noite, srta. Stanley.
Ela o seguiu até o carro.
— Por que não me chama de Jéssica?
— Nunca me dirijo às minhas alunas pelo primeiro nome durante o trabalho. — Edward entrou no carro e fechou a porta.
— E fora do trabalho? — perguntou de maneira insinuante, pelo vão da janela.
— Para mim, não existe fora do trabalho, quando se trata de alunas.
A única exceção fora Bella e, tarde demais, percebeu que se tornara o maior erro de sua vida, pelo qual pagaria até o fim dos seus dias.
Edward se endireitou no banco do carro e pisou fundo no acelerador, como se quisesse que a poeira cobrisse o rosto da ousada srta. Stanley. Talvez assim ela percebesse que não adiantava insistir. Com Bella, a situação fora totalmente oposta. Ele tomara toda a iniciativa, até que ela deu o sinal verde e se deixou conquistar.
Isabella faltara ao primeiro exame e telefonara para ele com a desculpa de que sentira uma forte indisposição, por causa de uma gripe. Acostumado com as artimanhas de alunas que usavam a beleza para barganhar favores, não acreditara na história e a intimara a fazer uma prova oral na sala dele.
A aluna ofegante, de cabelos revoltos, cerca de dez ou doze anos mais jovem do que ele, comparecera no horário marcado e, de fato, estava muito gripada. Parecia meio zonza e tinha as faces vermelhas, resultado da febre.
Sem pensar no que fazia, levou a mão ao rosto dela, afastando os cabelos que lhe caíam sobre os ombros e constatou que ela estava febre alta. Aquele simples toque fora suficiente para fazer com que os olhos marrons e surpresos de Bella se encontrassem com os dele. No mesmo instante, Edward sentiu como se uma descarga elétrica lhe atravessasse o corpo.
— Desculpe-me por não ter acreditado em você — sussurrou, enquanto abaixava a mão. — Quando percebeu que estava com febre?
— Hoje de manhã.
Edward conteve a respiração.
— Você deve estar se sentindo muito fraca e deveria repousar. Como conseguiu dirigir neste estado?
— Peguei um ônibus.
Chocado com a insensibilidade da atitude que tivera com ela ao telefone, emendou:
— Foi culpa minha! Eu já acabei as minhas aulas de hoje e posso levá-la para casa.
— Oh, não! — Bella balançou a cabeça, negativamente. — É muita gentileza de sua parte, mas não há necessidade. Já que estou aqui, deixe-me fazer o teste, e então irei para casa.
Embora percebesse o constrangimento de Bella por estarem a sós, sabia que, quando a tocara, uma chama se acendera dentro dela também. Uma corrente de energia invisível os unira naquele instante.
Ela respirava com dificuldade. Ao ver que seus lábios se entreabriram, em um esforço para respirar melhor, Edward sentiu um impulso irresistível de beijá-la.
— Esqueça o teste. Vou levá-la para casa.
— A casa dos meus pais fica a uns vinte quilômetros do campus. É muito longe, não poderia deixá-lo fazer isso.
Quanto mais Bella recusava, mais Edward insistia em levá-la.
— Se não me permitir que repare o meu erro, ao menos deixe que eu chame um táxi.
— Por favor, não. Não trouxe dinheiro.
— Claro que eu pagaria.
Frustrada, ela deu um leve suspiro de rendição, e isso o deixou satisfeito.
— Dr. Cullen...
— Meu nome é Edward. Se se recusa a receber qualquer tipo de ajuda, deixe-me ao menos telefonar para seu pais virem buscá-la.
— Minha mãe está com o carro. Ela é professora em uma escola de ensino fundamental e nem me passaria pela cabeça a idéia de interromper uma de suas aulas.
Edward levou as mãos à cintura.
— Então, só existe uma solução. Vou acompanhá-la de ônibus.
Nervosa, Bella engoliu em seco, reação que não passou despercebida aos olhos atentos de Edward.
— Por que faria isso?
— Porque a gripe pode causar desmaios e, no caso de você de sentir mal, quero estar por perto com meu celular para chamar a ambulância. Você tem de admitir que mal está conseguindo ficar em pé. Pode cair a qualquer momento.
As lágrimas embaçaram-lhe os olhos, e Isabella balbuciou:
— Eu... eu admito.
Depois daquela cena completamente absurda, ele caminhou até a porta e apagou a luz.
— Vamos. Meu carro está estacionado atrás do prédio. Vou levá-la para casa agora.
No momento em que Bella passou, roçando sem querer seus quadris contra os dele, Edward sentiu o mundo girar. Aquele simples acaso fora suficiente para acender nele uma chama que mudaria seu destino.
À medida que se aproximava de Warwick, Edward voltou ao presente, junto com os pensamentos que o torturavam. Era como se, de repente, fizesse um pouso forçado na realidade.
Os músculos tornavam-se tensos, o rancor invadia-lhe o corpo junto com as lembranças. Como uma covarde, Bella terminara aquele caso de amor por telefone, sem nenhuma explicação plausível. Para aumentar ainda mais seu sofrimento, desaparecera sem deixar rastro. Ao evitar um último encontro, ela o deixara sem a possibilidade de dar o assunto por encerrado, e causara-lhe uma ferida que permaneceria aberta para sempre.
Ao reaparecer daquela maneira em seu trailer, ela cometera um erro fatal. Mas Edward estava determinado. Antes do final da noite, Bella conheceria o verdadeiro significado da palavra crueldade, e então seria ela que lamentaria o dia em que seus destinos haviam se cruzado.
Edward estava completamente pálido, tomado de rancor, quando chegou ao hotel e manobrou o carro no estacionamento, em frente ao Bluebird Inn.